sábado, abril 23, 2005

Os esbanjadores

É pá, Zé Alho, é pá, Sérgio Ribeiro, vejam lá se fazem alguma coisa para correr com esta cambada da casa amarela.
As contas mostram como delapidam o dinheiro de que dispõem.
As acções mostram como destroem o pouco de bom que restava de Ourém.
Sugam-nos tudo. É lamentável ter de recorrer a estes argumentos, mas vejam isto, a factura da água da minha humilde casinha:


Consumo de água, 2m3..................... 0,57
Tarifas fixas de água........................... 5,56
RSU variável......................................... 2,40
Tarifas fixas de RSU........................... 1,20
IVA.......................................................... 0,31
------------------------------------------------------
Total....................................................... 10,04

O total multiplica o consumo real por quase 20. Isto é um roubo!!!
Corram com eles. Mandem-nos para Fátima explorar os crentes, porque aqui já ninguém acredita neles. Exijam o impossível!
Canções que Abril nos trouxe (4)
Portugal Ressuscitado

José Carlos Ary dos Santos

(Caxias, 26 de Abril de 1974)

Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.

Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Vi nas bocas vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.

Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.

Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.
E porquê? (4)

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Ary dos Santos - Antologia Poética

sexta-feira, abril 22, 2005

Canções que Abril nos trouxe (3)
Eu vim de longe

Zé Mário Branco

Quando o avião aqui chegou
quando o mês de Maio começou
eu olhei para ti
então entendi
foi um sonho mau que já passou
foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão
uma flor vermelha n'outra mão
tinha um grande amor
marcado pela dor
e quando a fronteira me abraçou
foi esta bagagem que encontrou

Eu vim de longe
de muito longe
o que eu andei p'ra'qui chegar
Eu vou p'ra longe
p'ra muito longe
onde nos vamos encontrar
com o que temos p'ra nos dar

E então olhei à minha volta
vi tanta esperança andar à solta
que não exitei
e os hinos cantei
foram feitos do meu coração
feitos de alegria e de paixão

Quando a nossa festa s'estragou
e o mês de Novembro se vingou
eu olhei p'ra ti
e então entendi
foi um sonho lindo que acabou
houve aqui alguém que se enganou

Tinha esta viola numa mão
coisas começadas noutra mão
tinha um grande amor
marcado pela dor
e quando a espingarda se virou
foi p'ra esta força que apontou
O posto de vigilância



...inspirado obviamente na Mega-Fauna.

"Vejo uma zebra ao longe,
Que recusa vir ao Ourem
Pirou-se para Almodovar
Não passa cartão a ninguém"
Canções que exigiam Abril (4)
Menina dos olhos tristes

Poema: Reinaldo Ferreira
Música: José Afonso

Menina dos olhos tristes
O que tanto a faz chorar?
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Senhora de olhos cansados,
Porque a fatiga o tear?
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Vamos, senhor pensativo,
Olhe o cachimbo a apagar.
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Anda bem triste o amigo,
Uma carta o fez chorar.
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

A Lua, que é viajante,
É que nos pode informar.
O soldadinho já volta
Do outro lado do mar.

O soldadinho já volta
Está quase mesmo a chegar.
Vem numa caixa de pinho.
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se fez ao mar.

Nos álbuns
"Menina dos olhos tristes" de Adriano Correia de Oliveira, 1964 e
"De capa e Batina" de José Afonso, 1996 (tinha surgido em 1969 em single da Orfeu)
Será que esta conversa existiu?

Preparem-se.
Falta pouco mais de dois dias...
Temos de aproveitar para libertar o Sérgio e o Zé Quim.
Temos de criar condições para o Luís Nuno poder regressar de França.
Maia, parece que tens alguém porreiro para comandar um pelotão quando avançares. É de Ourém e...
Mas que se passa, camarada Luís? Parece triste, nostálgico, pouco confiante...

Não é isso, meu major. Tive uma visão do que vai ser isto daqui a trinta anos: corrupção, fuga ao fisco, tráfico de droga, insegurança, mentira, terrorismo de Estado...
Comparada com isto, a exploração capitalista, aquela em que o patrão paga o salário para obter mais-valia, parece uma santa. Mesmo o meu major vai ser perseguido e acusado de coisas horríveis...

Eu, perseguido? E achas que é a primeira vez? Tu próprio vais escrever sobre uma história um tanto semelhante que ocorreu quase há dois mil anos. O nosso povo padece de um défice, não aquele com que ela1 vos vai torturar, mas educacional. Mas eu vou tratar já disso, das perseguições políticas...
Aspirante Sampaio, vá pensando numa lista de homens de confiança porque temos que extinguir a dita...

A verdade é que o Luís Nuno (que aqui representa o português incoformado que resistiu até à última relativamente à integração na tropa colonial) pôde regressar e o Sérgio (o preso político) e o ZéQuim (militar detido por ter participado no golpe que antecedeu e anunciou o 25 de Abril) foram libertados. Um pelotão de Salgueiro Maia que avançou para Lisboa foi comandado por um oureense.
Curiosamente, aquele que preparou tudo isto ao pormenor (e que o fez com o sentido de gerar o que gerou), acabou por ser preso e perseguido. Tantas vezes as revoluções devoram os seus heróis!


1-Referência à política de Manuela Ferreira Leite no governo de Durão
E porquê? (3)

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ary dos Santos - Obra Poética
Via TóColante

quinta-feira, abril 21, 2005

Encomenda-me um estudo...

Há que pacificar as hostes. As verbas distribuídas em termos de estudos, pareceres, proj. e consultadoria tiveram um incremento de 46,7%(!). Não é muito, mas, nos próximos anos, melhorará.
A fábrica de David

Esta câmara espanta-nos mais e mais. Imaginem que os gastos em matérias primas e subsidiárias cresceram 100%. Será que era para impulsionar a retoma?
As contas da casa amarela, a gastadora

Abril trouxe-nos a liberdade, mas também o esbanjamento.
A casa amarela publicou, no seu sítio, as contas relativas a 2004 que mereceram o abstenção do PS apesar de alguns indícios de problemas.
Agrava-se a tendência para o esbanjamento e para a previsão de receitas superiores às que efectivamente são cobradas
O ano de 2004, regista um défice orçamental (?) ligeiramente (na versão deles, claro) superior a 13 milhões de euros, (e, do meu ponto de vista) mais de 5 vezes o verificado em 2003 e evidencia um agravamento do seu volume.
Em termos de representatividade, o défice ocorrido significa 49 % do total da receita, sendo que 33% da despesa realizada, não dispõe de cobertura por parte da receita liquidada.
O facto acima disposto, resulta de um elevado volume de rubricas classificadas como investimento que o relatório não esclarece em que se materializaram, podendo tratar-se de monumentais elefantes brancos.
Para onde vai Ourém com uma gestão destas?
Adorava esta Ourém (2)



Também costumo atravessar naquele sítio. O problema é que agora o estacionamento dos automóveis e os caixotes do lixo obrigam-me a saltitar de um lado para o outro. Aqules dois amigos, lá ao fundo, está-se mesmo a ver, deram o mote para a passadeira. E quem seriam aquelas esbeltas oureenses que se atreviam a atravessar tão perigoso espaço?
Ourém deixou-me um tremendo vício. Muitas vezes dou comigo a deambular, no meio da estrada, como se não houvesse trânsito. Apesar de tudo, esse prazer posso desfrutá-lo, por vezes, aos fins de semana, aqui pela Parede...
E já repararam naquele monumental candeeiro? Não me lembro do mesmo. E a arvorezinha de copa bem redonda... será que resistiu ao assalto camarário?
Creio que esta fotografia é anterior à minha passagem por Ourém, pois não recordo aquelas paredes escuras. Mas recordo esta loja aqui ao lado esquerdo. É uma pena isto não ser tridimensional e poder ver bem o que ali está. Acho que é a loja do sr. Oliveira para onde veio muito jovem o Manuel Cartuxo...
Liberdade, ar puro...



Convém não esquecer a visita matinal ao Mega-Fauna...
25 de Abril: há tanto tempo!

Vou ouvindo...

Rugas

Já começo a ter as primeiras rugas
Rugas
Começam-me a
nascer as primeiras rugas

Ruas de chorar
Rugas de sorrir
Rugas
de cantar
Começo a franzir
Rugas de chorar
Rugas de sorrir
Rugas
de cantar
Rugas de sentir
Rugas…

Rugas
Já começo a ter
algumas rugas
Rugas
Começam-me a nascer algumas rugas

Ruas de
chorar
Rugas de sorrir
Rugas de cantar
Começo a franzir
Rugas de
chorar
Rugas de sorrir
Rugas de cantar
Rugas de sentir
Rugas…
Canções que exigiam Abril (3)
Ó cavador do Alentejo

Ó cavador do Alentejo
Quem te viu e quem te vê
Há muito tempo que te não vejo
Cantar sem saber porquê

Ó terras do sossego
Baleizão meu bem querer
Há muito que te não nego
Os meus olhos pra te ver

O povo Catarina o povo
Sem ter pão para comer
E o grão do teu trigo novo
Baleizão a apodrecer

Manhãs de sol no chão sagrado
- Catarina há-de saber -
Ó terras ao campo amado
Quem vos puderá valer

Da compilação "As primeiras canções" - Zeca Afonso
Textos reciclados por Abril (2)

Eis um texto do mesmo período do anterior sobre a vida dos cadetes nas casernas em Mafra e que, se bem me lembro, tem um cheirinho à semana de campo. Já não recordo os pormenores que lhe estão associados. Sei que não foi publicado e não tenho a certeza se o cheguei a enviar a algum dos jornais e depois me foi devolvido, pois disponho do manuscrito. Talvez aquela parte final, sobre a guerra e a paz, um pouco chocha, me tivesse levado a optar por esperar por melhor inspiração. Agora, segue como estava...
Há um pormenor engraçado e constante a estes grandes ajuntamentos: geralmente, surge uma viola e há alguém que sabe alguma cantiga engraçada. Recordo que, na caminhada para a semana de campo, alguns cantávamos aqueles versos.

A vi(o)la da loucura
Praguejante, a viola ouvir-se-ia em toda a vila, contando da tensão das vidas dos que nela se empenhavam (e não eram poucos admitindo estarem neles também os que a escutavam), não fossem as conventuais paredes brancas, abertas ao meio por quebras que as separavam de outras iguais (vidas), numa simetria rígida que só as consciências de tão desiguais podiam quebrar, apesar do empenhamento entendido como meio de chacota, libertação, frustração…
Viola, ó vila, ouvi-la.
Os corpos, sequestrados e doridos, lançavam para o ar o que no passado aprenderam, por no presente o interesse ser reduzido, testemunho da sua aversão às novidades oferecidas, as quais, contudo, os dominavam numa inutilidade só aparente para alguns e bem real para todos os outros que eram os que lá estavam por conta desses, violando na vila sem ouvi-la, lá, onde as paredes eram mais grossas e vigiadas por gendarmes cuja missão era não deixar entrar ou sair sem todos os preceitos bem dedilhados agora em cordas que não se partiriam a não ser por revoltosos e vitoriosos.

Não há machado que corte
a raiz ao pensamento
porque é livre
como o vento
porque é livre…

Libertas, as vozes conduziam sonâmbulos para mundos bem diferentes cujos povos eram a antítese daquilo que eles eram, povos que paz-avam, onde a rádio quase diariamente diria "Rebentou a paz" e as crianças brincariam não com pistolas e tanques mas trocando frases de amor que, num Natal que só não se comemorava a 25 do 12, os pais lhes ofereceriam. Tristes viram então: só rebenta a paz onde haja a guerra.
E a minha voz bem real trouxe-os ao momento que todos queríamos abandonar: "está na hora". Fomos em direcção ao presente.

E porquê? (2)

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ary dos SAntos - Obra Poética
Via TóColante

quarta-feira, abril 20, 2005

Adorava esta Ourém



Via Ourém Outrora
Obrigado, NA.
Complemento ou contradição?

O candidato José Alho referiu no dia 19 de Março que seria irracional a remoção total do aterro e agora, quando apresentou a solução para resolver o imbróglio, defendeu a relocalização do empreendimento dentro da área legal de construção disponivel e o tratamento a dar à parte do aterro que tem de ser removida, no cumprimento do PDM em vigor - o que complementa e não contradiz a posição assumida na apresentação da candidatura.


In comentário da Candidatura PS a artigo do Notícias de Fátima apresentado em O Castelo

A questão é: poderá o promotor, arrastado para esta situação pelo executivo camarário, ficar satisfeito com tal constrangimento?
Canções que exigiam Abril (2)
Lágrima de Preta

Música: José Niza
Letra: António Gedeão

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhai-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

Do album: Fala do homem nascido, 1972
Canções que Abril nos trouxe (2)

Erguer a voz e cantar
é força de quem é novo
viver sempre a esperar
fraqueza de quem é povo

Não vás ao sabor do vento
aprende a canção da esperança
vem semear tempestades
se queres colher a bonança

Canta, canta amigo, canta
vem cantar a nossa canção
tu sozinho não és nada
juntos temos o mundo na mão

Já que me chamas amigo
prova-me lá que o és
vem para a ceifa comigo
na terra sujar teus pés

Eu vou contigo para o campo
eu vou colher o teu pão
tu dás-me a força da vida
e eu dou-te a minha canção

É de Luís Cília, tão esquecido por todos. Ainda se lembram da música?
Canções que exigiam Abril (1)
Coro dos caídos

Cantai bichos da treva e da aparência
Na absolvição por incontinência
Cantai cantai no pino do inferno
Em Janeiro ou em Maio é sempre cedo
Cantai cardumes da guerra e da agonia
Neste areal onde não nasce o dia

Cantai cantai melancolias serenas
Como trigo da moda nas verbenas
Canta cantai guisos doidos dos sinos
Os vossos salmos de embalar meninos
Cantai bichos da treva e da opulência
A vossa vil e vã magnificência

Cantai os vossos tronos e impérios
Sobre os degredos sobre os cemitérios
Cantai cantai ó torpes madrugadas
As clavas os clarins e as espadas
Cantai nos matadouros nas trincheiras
As armas os pendões e as bandeiras

Cantai cantai que o ódio já não cansa
Com palavras de amor e de bonança
Dançai ó Parcas vossa negra festa
Sobre a planície em redor que o ar empesta
Cantai ó corvos pela noite fora
Neste areal onde não nasce a aurora

Da compilação "As primeiras canções" - Zeca Afonso
Textos reciclados por Abril (1)

Estávamos em Mafra entre Outubro de 1973 e Janeiro de 1974. A instrução processava-se em ritmo normal. Como já referi, tive a sorte de me calhar alguém com uma boa formação humana pelo que as coisas até correram bem ao contrário do que ocorreu a outros. As saídas diárias, a esperança numa especialidade mais ou menos de acordo com a formação, a companhia de alguns amigos com preocupações idênticas, faziam-nos pactuar com o sistema.
Mas havia algo que mordia interiormente e isso manifestou-se no que escrevi na altura1. Texto escondido, com auto-censura, onde não tive coragem de dizer a que se referia. E era simples: durante a manhã, após a instrução, fazia-se uma paragem e surgiam algumas senhoras com cestos à cabeça carregados de sandes e bebidas que nos permitiam passar um momento de descontração.
A questão é que estavam a fazer negócio com aquilo que nos era imposto, com uma espécie de cadáver das nossas consciências. Por isso, chamei-lhe “Os Abutres”. Eis uma versão com pontuação corrigida:

Estavam por trás do muro, oferecendo o que tinham para vender, numa ânsia que lhes arregalava os olhos não os deixando pensar em porque estariam ali, onde seres esfomeados e necessitados de humanidade procuravam pão e algo como o leite materno para se alimentarem e continuarem numa senda repetitiva que faria voltar os abutres.
O negócio era fabuloso e eles teriam assim forma de encontrar na cidade os géneros que necessitavam para a sua auto-subsistência muito embora maldissessem os impostos que pagavam, percebendo que eram para obras colectivas e não das prontas só para eles.
Eram seres cujos filhos também iam à escola, talvez de má vontade, ansiando pela liberdade de se tornarem úteis e servirem um povo sofredor e amante do trabalho produtivo, para assim poderem estar participando na repartição do bolo2.
Eram dez minutos e o seu decorrer, cheio de palavrões e boca cheia, saltitando de vala em vala, do muro para ali, dali para o muro, onde estavam os pães as bebidas e tudo o mais que o esfomeado consumiria pensando estar a fazer algo pelo seu corpo para desenvolver uma formidável musculatura enquanto os olhos arregalados e as vozes livres os procuravam numa confluência de fins que se materializava no exposto.
O dinheiro brilhou e à falta de trocos uma carteira de fósforos serve para aumentar o negócio.
O abutre tinha na realidade algo de estranho.

1 - Anjinho como sempre, tinha informado o NO da minha condição de militar e que me era vedado escrever na imprensa, pretendendo limpar a minha responsabilidade, como se os textos não fossem assinados. Isto, mais ou menos em 1975, em momento mais exaltado, foi utilizado pelo jornal contra mim.

2 - Referência a um texto, entretanto cortado pela censura, que via a inflação como uma força de os grupos sociais influenciarem a partilha do que produzia, designado por bolo

E porquê?

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Ary dos Santos - Obra Poética
Via TóColante

terça-feira, abril 19, 2005

O 25 de Abril na Som da Tinta



Há pouco, deambulando pelo blog da Som da Tinta, deparei com esta bela descrição que não resisti a transcrever:

Um dia, sentado à minha frente, o Roberto Chichorro ouvia-me contar coisas da prisão e do 25 de Abril. E ia desenhando...
Quando se foi embora, deixou ficar o papel sobre que estavam os seus traços. Recolhi esse papel, com a intenção de o guardar junto a outros que tenho como recordações e sinais de amizade. Só que não resisti a utilizar o desenho do Roberto como "logotipo do 25 de Abril do Som da Tinta".


Eis o que a Som da Tinta tem programado:
No dia 22, às 18Jorge Lino dirá poesia alusiva

No dia 25, às 17 – pré-lançamento de "Somos todos netos de Abril" de Sérgio Ribeiro com apresentação de DVD e convívio e representação de cenas por elementos do grupo JCP&VCF
O 25 de Abril da casa amarela

Aproxima-se mais um aniversário da Revolução dos Cravos que, como é usual, vai ser celebrada em Ourém.

Assim, às zero horas do dia 25 de Abril, cantar-se-á o Hino Nacional e a Grândola (!!!!... granda frete...) em frente à Câmara Municipal. Às 10 horas da manhã vai, também em frente à sede do município, hastear-se a bandeira, numa cerimónia repleta de simbolismo, que antecede actuação e desfile da banda e fanfarra dos bombeiros.

Seguir-se-á a Corrida da Liberdade, com prémios para os primeiros de cada escalão.
Canções que Abril nos trouxe (1)
O Namoro

Letra: Viriato da Cruz
Música: Fausto
Viola: Fausto
Viola Baixo: Paulo Godinho
Metalofone: Sérgio Godinho
Fotografia: Mega-Fauna



Mandei-lhe uma carta
em papel perfumado
e com letra bonita
dizia ela tinha
um sorriso luminoso
tão triste e gaiato
como o sol de Novembro
brincando de artista
nas acácias floridas
na fímbria do mar

Sua pele macia
era suma-uma
sua pele macias
cheirando a rosas
seus seios laranja
laranja do Loge
eu mandei-lhe essa carta
e ela disse que não

Mandei-lhe um cartão
que o amigo maninho tipografou
"por ti sofre o meu coração"
num canto "sim"
noutro canto "não"
e ela o canto do "não"
dobrou

Mandei-lhe um recado
pela Zefa do sete
pedindo e rogando
de joelhos no chão
pela Sra do Cabo,
pela Sta Efigénia
me desse a ventura
do seu namoro
e ela disse que não

Mandei à Vó Xica,
quimbanda de fama
a areia da marca
que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço
bem forte e seguro
e dele nascesse
um amor como o meu
e o feitiço falhou

Andei barbado,
sujo e descalço
como um monangamba
procuraram por mim
não viu ai não viu ai
não viu Benjamim
e perdido me deram
no morro da Samba

Para me distrair
levaram-me ao baile
do Sr. Januário,
mas ela lá estava
num canto a rir,
contando o meu caso
às moças mais lindas
do bairro operário

Tocaram a rumba
e dancei com ela
e num passo maluco
voamos na sala
qual uma estrela
riscando o céu
e a malta gritou
"Aí Benjamim"

Olhei-a nos olhos
sorriu para mim
pedi-lhe um beijo
lá lá lá lá lá
lá lá lá lá lá
E ela disse que sim

Do album: De pequenino se torce o destino (1976), Sérgio Godinho
Entretanto, na casa amarela, os das brumas...



Já nem sei onde li isto: "...como nem sabem a letra, eles só mexem os lábios".

segunda-feira, abril 18, 2005



Ourém precisa de mudança no poder autárquico (5)

A política autárquica oureense tem sido, e continua, rica em episódios.
A notícia, vinda a lume em jornais da região, de que se vai criar mais uma empresa municipal, nas quase vésperas de umas eleições autárquicas, é reveladora de muita coisa.
Antes de mais, de como o PSD-Ourém utilizou, e continua a utilizar a seu bel-prazer – mesmo quando um mínimo de respeito pelos processos eleitorais o deveria moderar –, métodos e votos que o levaram a ser poder desde 1985. Sempre a “inventar” e a reforçar formas de domínio e de distribuição desse poder tão-só delegado, sem olhar a leis, regulamentos, PDR, o que quer que seja que possa servir de constrangimento.
O caso Intermarché é exemplar, e o verdadeiro imbróglio em que a autarquia está mergulhada resulta dessa postura do PSD-Ourém perante a gestão autárquica que lhe está cometida, e apenas por ter recebido representação e não por qualquer outro mandato derivado de direito divino ou de uma estrutura de Estado ditatorial.
Na semana que passou foi a questão da criação de empresas públicas que veio à baila. De forma absolutamente lamentável, os munícipes souberam que se vai criar uma Sociedade de Reabilitação Urbana da Cova de Iria, já com estatutos e tudo, como a Assembleia Municipal vai, decerto, aprovar… mas esse é, para os detentores do poder, pormenor de somenos!
Tudo expedito, tudo em processo célere, assim se fugindo a todos os tais constrangimentos, para não dizer às “chatices” da democracia e suas regras.

É que, entre variadíssimas competências, a dita “sociedade” pode vir a licenciar e a autorizar operações urbanísticas, expropriar bens imóveis e os direitos a eles inerentes, proceder a operações de realojamento; pode, também e além do mais, elaborar estudos e projectos relativos à urbanização ou reabilitação urbana, seleccionar os investidores e celebrar com eles todos os contratos necessários para a concretização do seu objecto social. Estão-lhe ainda cometidas funções de fiscalização, e a garantia de criação de infra-estruturas adequadas e de elevados níveis de mobilidade e de segurança.
Por este caminho, se o pudessem fazer, tudo o que é relevante na gestão municipal seria distribuído por empresas municipais, onde se colocariam homens de confiança, concretizando um clientelismo desabusado e uma fuga ao controlo, tal como é indispensável em democracia, da gestão de todos os recursos, inclusivé dos humanos.

Estamos certos que os oureenses, ao saberem disto, não concordam e consideram necessário mudar…

Ora os vereadores do PS abstiveram-se… porque só teriam sabido da decisão de tal criação no próprio dia da reunião! Tal como, em outros momentos – em todos os que conhecemos – não foram oposição… por outras razões.

Quando Sérgio Ribeiro esteve na AM, entre 1997 e 2001, ele foi oposição!
Se a CDU tivesse vereadores, seriam oposição. O que não quer dizer que tivessem de estar sempre contra!

Na batalha política que se aproxima, a concelhia de Ourém do PCP está, como em todas, com a CDU, coligação com o Partido Ecologista os Verdes, a associação cívica Intervenção Democrática, com todos os independentes que, sem preconceitos, concordem com o projecto autárquico da CDU e com os objectivos que se afirmam. E se cumprem!

Sérgio Ribeiro de volta à Assembleia Municipal

Uma vereação em que haja oposição

Regresso a Abril

Pois é, meus amigos, cá estamos outra vez.
Sem programa, tirando a tradicional comemoração, e agora com muito trabalho (e ainda bem, é excelente sinal, pode ser que venha aí a retoma...)
Eu julgo que isto de falarmos do 25 de Abril vem em espiral. Este ano, tenho poucas ou nenhumas ideias, mas pode ser que isto mude. Então, ponhamos a questão: o que há, desde já, programado para o Ourem?
Vamos esperar que chegue o documento das autárquicas da CDU número 5 e, a partir daí, falaremos exclusivamente sobre o 25 de Abril. Quer isto dizer que vamos iniciar um período de tréguas com o presidente David, vamos deixá-lo em paz por uma semana...
E que vamos fazer ou falar?
Temos algo sobre o 25 de Abril na Som da Tinta para divulgar e que integra um livro do Sérgio Ribeiro (será que alguém tem noção dos livros que o Sérgio tem produzido?).
Encontrarão, a partir desta página, um blog onde se divulga um conjunto de auto-colantes só possíveis após o 25 de Abril. Creio que são poucos, mas, como não tenho nenhuns, já me dou por satisfeito. E há, lá, pérolas como esta:
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Deixo uma proposta ao Fred: que divulgue em formato post a contribuição de Uerun que o ano passado saiu no Castelo, mas em forma de comentário. Acho que ganharia outra dimensão.
Deixo um desafio ao NA: como é que a imprensa da época de Ourém viu o 25 de Abril?
Vou procurar mais algumas fotografias da época.
Vou reciclar alguns textos (4-5) já publicados no Ourem, alguns sem aparente relação com o 25 e vou publicá-los de novo, eventualmente, com alguma nota explicativa.
O cerco aperta



Amigos oureenses, algures aqui pelo meio desta multidão que assistiu à sessão com o Rui Pimentel, está o Skywatcher, cuja identidade eu tento descobrir já quase há um ano.
Quem será ele?
Será que algum dos que lá esteve o consegue identificar?
Haverá prémios...
Gabinete do munícipe

Ontem à tarde, levaram-me a passear pelo Oeiras Park, um mar de gente horroroso todos com cara de alucinados à procura de coisas. Dei alguma atenção à Bulhosa, à Valentim de Carvalho e, de repente, a surpresa...
Ali, no meio daquela confusão toda, perto do cidadão, ali, dizia eu, estava o gabinete do munícipe de Oeiras. Todo bonito com um aspecto bem moderno.
Lá dentro, uma gentil menina respondia às perguntas de quem se lhe dirigia. Tinha livros, brochuras, imensas coisas para distribuir às pessoas.
Oeiras é o exemplo que não é preciso ser da CDU, do BE ou do PS para se ter uma atitude mais correcta com o munícipe, com as árvores, com a memória das coisas...
Merecia um estágio (sem poder de decisão!) do presidente David.
Utilização das tecnologias de informação e comunicação nas Câmaras Municipais

O ano passado, surgiram os resultados provisórios de um estudo realizado por CIES/Universidade do Minho relativa à presença de câmaras municipais na Web. O estudo restringiu-se ao Continente e o número de respostas obtias foi de 305 o que significa uma taxa de resposta na ordem do 99%.

Tem algum interesse comparar os resultados verificados a nível nacional com o que se passa com o site da nossa câmara. Analisemos, por exemplo, o quadro C3 – Funções disponíveis no Website da Câmara Municipal. Após a designação da função, apresentamos a média para o Continente e o último dígito significa a ausência (N), a presença (S) ou a presença pontual (P) da função:

- Download e impressão de formulários (34%), P
- Consultas aos cidadãos (na página, via e-mail, etc.) (28%), P
- Utilização personalizada do site (menu personalizado, notícias, etc.) (13%), N
- Subscrição electrónica de jornais ou notícias seleccionadas (11%), N
- Preenchimento e submissão on-line de formulários (8%), N
- Encomenda de material referente ao município (ex., brochuras, planos locais, mapas, etc.) (7%), N
- Fóruns de discussão entre o executivo camarário e os cidadãos (6%), N
- Visionamento de dados pessoais em bases de dados administrativas (ex., livros emprestados, listas de espera, impostos, registo de edifícios) (5%), N
- Pagamentos on-line através do website (1%), N
- Transmissão, através de videoconferência, das reuniões e sessões camarárias (1%), N


É admirável como a Câmara de Ourém que se diz sempre na vanguarda dos vários processos de desenvolvimento da vida social, apenas em alguns casos tem uma ligeira aproximação à função.
Amigos oureenses, que se propõem os candidatos para o executivo camarário a fazer neste aspecto? Tomemos desde já uma decisão como esta: nenhum levará o voto se não puser o conjunto das funções activas ate ao final de 2006.

domingo, abril 17, 2005

Porque não? O desafio ao bispo do Porto, ao Fred e ao Sérgio



Já temos uma resposta ao inquérito que estendemos aos nosso três amigos acima referidos.
Que se passa com os outros?
Estarão a rebuscar a resposta? Tementes do resultado do leão que se conhecerá lá mais para o fim do dia?
O Sérgio, esse, já passou o testemunho. O que é que isto irá dar?
Estatutos aprovados

Eis uma notícia do último Região de Leiria:
O sítio da Câmara nada diz

A Câmara Municipal de Ourém aprovou na passada segunda-feira em reunião do executivo os estatutos da Sociedade de Reabilitação Urbana da Cova da Iria. A deliberação, que contou com a abstenção dos vereadores do Partido Socialista, carece agora de aprovação em sede de Assembleia Municipal, o que deverá acontecer sexta-feira próxima, dia 22.
A nova empresa municipal, com um capital social de um milhão de euros - a realizar no prazo de dois anos -, tem por objecto a promoção da reabilitação urbana da área da Cova da Iria que o Conselho de Ministros ainda há-de declarar como crítica. Esta compreende as ruas paralelas ao Santuário de Fátima, estende-se da rotunda Norte à Sul e termina na área da Cova Grande, entre a praça de portagens da Auto-estrada 1 e os Valinhos.

Competências. Já viram o poder que estão a atribuir-lhe? Será que os recursos humanos da nova sociedade garantem a isenção necessária a uma sã concorrência?

Entre variadíssimas competências, a sociedade pode vir a licenciar e autorizar operações urbanísticas, expropriar bens imóveis e os direitos a eles inerentes, e proceder a operações de realojamento. A empresa municipal pode ainda elaborar estudos e projectos relativos à urbanização ou reabilitação urbana, seleccionar os investidores e celebrar com eles todos os contratos necessários para a concretização do seu objecto social.
À Sociedade de Reabilitação Urbana da Cova da Iria estão ainda acometidas as funções de fiscalização e a garantia de criação de infra-estruturas adequadas e de “elevados níveis de mobilidade e de segurança”

Processo célere - ele acredita
O presidente David afirmou ao REGIÃO DE LEIRIA que a empresa não pode para já tomar qualquer decisão porque a criação da área crítica de Fátima ainda não foi objecto de aprovação pelo Conselho de Ministros. Ainda assim, o responsável acredita que o processo vai ser célere.

“Tenho indicação por parte da Direcção-Geral do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Urbano que a declaração da área crítica de Fátima já recebeu todos os pareceres favoráveis e que está pronta para ir a Conselho de Ministros”.

Quadro de pessoal

Os estatutos da sociedade, que tem para já a sua sede nos Paços do Concelho, não contêm nenhuma indicação sobre o quadro de pessoal. O presidente David explica que essa é uma matéria que será tida em conta posteriormente, pelo que nada acrescentou sobre a possibilidade de a empresa vir a afectar trabalhadores actualmente a desempenharem funções na edilidade.
O PS absteve-se na votação que visou a criação da Sociedade de Reabilitação Urbana da Cova da Iria porque o documento foi inserido no próprio dia na agenda da reunião de Câmara.

Artigo assinado por Sílvia Reis © REGIÃO DE LEIRIA, Edição nº3552 de 15/04/2005
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