sábado, fevereiro 15, 2020

Nos cinquenta anos do Luís Nuno

Em 1998, o Luís Nuno fez cinquenta anos e tive o privilégio de ser convidado por ele para uma festa comemorativa desse evento a qual teve o seu lugar em Conímbriga.
O que o Luís fez nesse momento foi reunir no mesmo espaço pessoas provenientes de muitos locais onde deixou amizades e passar ali uns bons momentos a recordar com eles muitas peripécias.
Recordo a presença nessa festa de um grupo onde estava também o encenador Helder Costa da Comuna. Percebi, mais tarde, que esse grupo tinha estado com o Luís em França e que, em determinado momento, tinham sido uma espécie de núcleo duro da organização OCMLP, «O Grito do Povo».
Para que os meus amigos tenham uma ideia acerca da formação e natureza destas organizações deixo-vos um diagrama que já não sei a quem roubei (talvez às memórias do embaixador Seixas da Costa, não garanto), onde se destaca a formação de três das principais: PCP (m-l), UDP e MRPP.
Tenho de dizer que, na altura do 25 de Abril, todas estas organizações, mais o MES, me atraiam muito. No ISEG, o ambiente também tinha muito a ver com elas e, para mim, era uma tristeza ver MES e UDP a digladiarem-se (para certas disciplinas, chegou a aparecer um programa de cada uma das organizações). Isto é, antes de o Livre aparecer eu já defendia os princípios de união das esquerdas que este partido veio a encabeçar.
Cabe por fim acrescentar que esses amigos do Luís Nuno desenharam um painel com os cinco ideólogos do marxismo a que acrescentaram um esboço com uma imagem do Luís. Ele teve a amabilidade de oferecer um exemplar a cada um dos amigos. Mas eu fiquei danado: porque eu é que queria ser o sexto da representação.

sexta-feira, fevereiro 14, 2020

Terror no acampamento

A Guida e a Livinha chegaram aterrorizadas ao acampamento em alta correria, ficando os outros muito surpreendidos.
- Que se passa? – perguntou o Jó. – Não havia pilhas?
A Livinha sufocava, mas ainda pôde balbuciar:
- Somos perseguidas por uns bandidos que têm armas. Temos de fugir.
Alguns rapazes saltaram logo para cima do burro e tentaram pô-lo a andar. Mas este não se deslocou do mesmo sítio.
- Anda, alimária, anda – gritava o João cheio de raiva.
Nesse momento, chegaram os bandidos que lhes apontaram as armas.
- Quietos todos! – gritou um deles.
Mas a Luzinha não estava pelos ajustes. Colocou-se à frente deles, de costas para o burro, com as mãos na anca e ripostou.
- O que é que vocês querem? O melhor é largarem esses brinquedos imediatamente.
Ante a coragem dela, um deles hesitou:
- Não queremos fazer mal a ninguém, mas queremos saber o que essas duas viram – e apontou para a Guida e a Livinha.
Toda irritada, a Guida respondeu:
- Vimos um depósito de coisas roubadas…
- Malvada! Vou dar cabo de ti – disse o outro bandido.
E apontou a arma para ela. Mas a voz do João desviou-lhe a atenção.
- Calma! Calma! Acho que podemos chegar a um acordo…
- Que acordo? Fala! Confesso que não me agrada matar tanta miudagem de Ourém.
- É porque não és má pessoa. Olha, deixa-nos pegar nas nossas coisas e ir embora. E vocês vão à vossa vidinha. Nós prometemos esquecer tudo.
Mas a Guida não estava pelos ajustes
- Não esquecemos nada. Eles têm que devolver o que roubaram.
O bandido voltou a irritar-se e virou a arma para ela. Parecia disposto a disparar. Nesse momento, ouviu-se o ruído de dois jeeps e quatro GNR saltaram do interior dos mesmos rodeando os dois bandidos.
- Larguem as armas.
- Olha quem eles são. Os irmãos Catitinha… há quanto tempo andávamos à procura deles…
Sorridentes, a Mari’mília e o Estorietas chegaram junto dos amigos.
- Nós vimos elas começarem a ser perseguidas e fomos de imediato à GNR conduzindo-os até aqui. Foram impecáveis.
Nesse momento, o comandante do posto olhou o João e a Teresinha.
- Eu já os conheço de algum lado, não é verdade?
- Sim – respondeu o João. – Durante um ou dois dias fomos seus hóspedes.
- É notável como o neto do Dr. Preto e a filha da Dona Estefânia, que nos faz bolinhos tão bons, conseguem sempre meter-se em sarilhos…
- Desta vez, foi por uma boa causa – disse a Guida. – Há uma espécie de depósito de coisas roubadas num dos moinhos abandonados.
Um dos bandidos gritou:
- Não é verdade. Aquilo são coisas nossas. Compradas honestamente…
- Todos dizem o mesmo – respondeu o comandante.
Esta aventura foi muito falada por toda a Ourém e ainda hoje muitos oureenses recordam o momento em que o João e dois amigos queriam fugir de burro e a Luzinha fazia frente aos bandidos com toda a coragem tal como está registado numa foto da época…

quinta-feira, fevereiro 13, 2020

O encanto do roseiral

A Mari’mília e o Estorietas chegaram à loja da Lourinhã. Atendeu-os a mesma senhora que tinha atendido as miúdas.
- Boa tarde. Estiveram aqui duas meninas a comprar pilhas?
- Estiveram, sim – respondeu a senhora. – Duas meninas muito simpáticas de Ourém. Foram embora há cerca de meia-hora.
- Mas como é possível se não as encontrámos no caminho para aqui.
- Sabem, eu disse-lhes para irem ver as lindas flores que há ali à direita e elas foram por lá.
- Isso explica que as não tenhamos encontrado.
Pouco depois, o Estorietas e a Mari’mília caminhavam na direção do roseiral.
- Gosto de passear contigo pelas terras altas de Ourém. – dizia ele.
- Sim, isto é muito agradável. É ar puro, são flores silvestres. É um perfume inebriante. E o Sol ainda está tão quente. Parece que um amor tórrido nos inunda a alma…
- O amor… sempre o amor...
O Estorietas contemplou o roseiral e, sem se conter, cortou uma rosa e ofereceu-a à miúda.
- Aceita esta flor como prova…
Não pôde continuar. Um carro branco fez uma travagem com enorme ruído na estrada ali ao pé. Dois homens saltaram lá de dentro, sacaram de uma arma cada e desataram a correr na direção do moinho mais perto do acampamento.
- Que coisa estranha! O que se passa? – perguntava ela.
Nisto viram as duas miúdas, a Guida e a Livinha, a fugirem a toda a velocidade.
- Eles vão a persegui-las e vão na direção dos outros.
- Que podemos fazer?
- Nicha, temos de descer esta colina a toda a velocidade e avisar a GNR. Esses dois têm armas, temos de ser muito rápidos.
E, com a sensação de que eram perseguidos por um urso, desataram a correr por ali abaixo. Quase que rebolaram pela colina estando em poucos minutos atrás da casa do Ferraz. Dali à GNR foi uma corrida de mais uns duzentos metros. Pouco depois, um jeep com três GNR e um jeep com um GNR e os nossos amigos partiam em alta velocidade na direção do Fernão Lopes, passando por trás do ginásio perante a surpresa de todos aqueles que ali se deliciavam a fumar um cigarro.




E agora? A nossa estória aproxima-se do fim. Será que se salvarão os amigos do Estorietas? Não deixe de ler amanhã a conclusão desta estória…

quarta-feira, fevereiro 12, 2020

O tesoiro da colina

A Guida e a Livinha saíram de junto do grupo, caminhando em linha recta na direção da Lourinhã. Pouco depois, estavam na terreola e numa pequena loja adquiriram as pilhas necessárias ao gira-discos.
A dona da loja conheceu-as.
- É a filha do senhor Fernando Rodrigues e a filha do senhor Lains. Nunca mais me esqueço que vieram à minha loja. Querem alguma coisa para comer?
- Não – respondeu a Livinha – A senhora é muito amável. Vamos voltar para o pé dos nossos amigos, mas vamos ver umas flores que, ao longe, parecem muito bonitas.
- Têm toda a razão. Se desviarem um bocadinho à direita, encontrarão um roseiral único. Nunca no concelho se viu algo assim.
Com as pilhas partiram na direção indicada e, em breve, contemplavam as rosas mais bonitas que algum dia lhes tinha sido dado ver.
- Que bonito! – dizia a Guida.
O cheiro das rosas misturava-se com o cheiro do alecrim criando um ambiente quase místico.
- Que bem cheira! – dizia a Livinha. – Parece-me que estou em Fátima em dia de oferta de flores…
Seguramente, estiveram uma meia-hora a apreciar as flores. Depois, iniciaram a viagem de regresso.
- Já devem estar preocupados connosco.
- Eles? – respondeu a Guida. – Estão bem a jogar às cartas. Não se ralam com ninguém.
Passaram junto aos moinhos e contemplaram aquele espetáculo deprimente. Sem velas, sem portas, quase a cair…
- Tudo abandonado! É uma pena que as pessoas não preservem o que foi a sua vida ou a dos seus pais há uns anos atrás.
Quando chegaram junto do terceiro moinho, notaram uma pequena diferença.
- Olha! Aquele tem uma porta que até parece nova. Vamos ver…
Encaminharam-se para o moinho e, pouco depois, estavam junto dele. A Guida empurrou a porta e esta abriu-se sem um esforço de maior. Ela aproveitou para entrar no moinho e proferiu logo uma exclamação de assombro.
- Oh! Parece um tesouro.
Efetivamente, pelo interior do moinho, viam-se objetos de prata, de ouro, televisores, gira-discos, tudo coisas com valor…
A Livinha deu uma sugestão.
- Parece mais um depósito de coisas roubadas.
Nesse momento, ouviram um ruído horroroso, terrivelmente agressivo.
- GGGRRRRRRRR!!!!!!!!!
Da parte superior do moinho, com o nariz engelhado, os dentes de fora, vinha um cão enorme ainda com olhos de ter estado a dormir.
- Foge! – gritou a Guida.
A Livinha deu um salto para o exterior e a prima imitou-a, puxando a porta com toda a força que se fechou atrás delas. Ainda sentiu o bafo do cão junto da mão.
- E agora? Que fazemos?
- Temos de avisar os outros do que aqui há e possivelmente a polícia.
Lá dentro, o cão ladrava e atirava-se contra a porta com uma ferocidade incrível.
- Ai se ele nos apanhasse. Não restava nada de nós.
Mas o perigo não tinha passado. Nesse momento, vindo da estrada, ouviram o ruído da travagem de um carro. Dois homens saltarem lá de dentro e começaram a correr na direção delas. A distância ainda era grande pelo que decidiram voltar ao acampamento.
- Vamos embora. Corre!
Os dois homens gritavam um para o outro.
- Não podemos deixá-las escapar. Se isso acontecer estamos perdidos.
E cada um deles puxou de uma pistola…


(continua amanhã)

terça-feira, fevereiro 11, 2020

Em busca das meninas

Estorietas e Mari’mília partiram na direção dos moinhos. Pouco depois, o grupo deixou de os ver.
- É estranho elas não terem aparecido.
- Possivelmente, a loja não tinha pilhas e foram procurar noutra.
Junto a um dos moinhos, olharam Ourém. Era impressionante a paisagem com o Castelo do outro lado.
- Ainda um dia, poderemos ir de teleférico daqui para o castelo.
Continuaram a caminhada na direção da Lourinhã e das miúdas não encontraram qualquer sinal.
- Tu, que consegues subir às árvores, podias subir àquela oliveira e ver se as avistas.
A Mari’mília não se fez rogada. Parecia uma gazela, toda ela fibra, a subir pela árvore acima. O Estorietas apreciou o seu belo movimento.
- Tens muita classe – disse ele.
- Faço isto desde pequenina. Aos sessenta ainda vou apanhar azeitona a tua casa.
Ela olhou o horizonte.
- Então?
- Não vejo nada e já ali estão as casas da Lourinhã.
- Vamos até lá.
Ela começou a descer da árvore.
- Dá-me uma ajudinha. É mais fácil subir que descer.
O Estorietas aproximou-se da árvore e ela deixou-se cair na sua direção. Ele amparou-a, impedindo-a de cair, sentindo a sua respiração um pouco ofegante. Teve de a puxar para si para que ela não se estatelasse.
- Cuidado! Ainda cais…
A preocupação deles começava a ser grande. Que se passaria com as duas meninas? Ter-se-iam perdido?
(continua amanhã)

segunda-feira, fevereiro 10, 2020

Uma demora estranha


Numa tarde primaveral, a Luzinha chegou ao café Avenida com um ar bastante animado.
- Meninos e meninas, o Zé Carlos emprestou-nos o burro. Podemos levá-lo com o nosso farnel e os nossos discos carregados nos alforges e ir fazer um piquenique.
Alguns resmungaram.
- Outra vez, os castelos? Já estou farto…
- A ideia é outra. Há um caminho pouco íngreme para os moinhos que passa por trás do Colégio. Vamos por ali acima e fazemos o acampamento já lá no alto. Tenho um postal de como aquilo era há uns anos. Até lá andavam rebanhos.
- Que bucólico! – disse a Teresinha visualizando o belo postal que ela mostrava.
Alguns continuavam a preferir uma tarde de jogo de cartas, mas a Luzinha foi perseverante.
- Conto contigo, Estorietas, para fazeres a reportagem. Que dizes?
- Claro que podes contar comigo. Daqui a uns cinquenta anos serei o cronista de Ourém e muito mais famoso que o Fernão Lopes. Até vou sugerir uma mudança de nome: em vez de Colégio Fernão Lopes, deverá chamar-se Ruínas do Estorietas…
Aos poucos, ela conseguiu mobilizar um grupo razoável. A Livinha prontificou-se quase de imediato:
- Vou a casa preparar umas sandochas para levarmos. Daqui a um quarto de hora estarei aqui.
O Jó e a Guida também tiveram de concordar, pois eram eles quem levava o equipamento musical. A Luzinha contou os voluntários para o piquenique e disse:
- Precisamos de mais uma menina para o bailarico.
Do outro lado da rua ia a Maria Emília que raramente os acompanhava e ela correu a convidá-la para o piquenique.
- Tu podes conduzir o burro, pois tens mais experiência.
A Nicha riu-se e, daí a pouco, estava um bom grupo à frente do Avenida à espera da Livinha, do Jó e da Guida. Pouco depois, uma estranha excursão, percorreu a Avenida: um burro com dois alforges bem carregados e uma menina a puxá-lo e um grupo de rapazes e raparigas atrás deles a cavaquearem. Junto ao Zé Canoa, viraram à esquerda e, mais acima, penetraram no pinhal. Pouco depois, passaram atrás do ginásio do CFL por um caminho estreito com uns dois metros de largura e continuaram por ali acima embora com suave inclinação.
Já estavam um pouco cansados quando chegaram a um planalto. Lá adiante via-se o esqueleto de três moinhos abandonados. A atmosfera estava maravilhosa, respirável. O som do silêncio era inebriante.
Montaram duas mesas de campanha e o Jó encarregou-se do som. De repente, ouvimos uma exclamação de desespero:
- Bolas! Que chatice!
Olhámos naquela direção e vimos o Jó visivelmente irritado com a irmã.
- Trouxeste as pilhas que estavam gastas! Agora não temos gira-discos. A culpa é tua, eu disse-te onde estavam as novas.
- Deixa. Eu vou a casa buscá-las – respondeu a Guida.
- Nem penses, é muito longe.
A Livinha lançou uma sugestão.
- Há uma pequena loja depois dos moinhos na Lourinhã. Eu posso lá ir comprar as pilhas num instante. É muito mais perto que a casa da Guida.
Esta ofereceu-se logo.
- Eu vou contigo, priminha…
E as duas miúdas completaram a subida da colina, fizeram a travessia junto aos moinhos. Pouco a pouco, as suas figuras foram desaparecendo cada vez mais pequenas.
O João, o Jó, a Teresa e a Luzinha encetaram um jogo de cartas. O Estorietas falava junto a uma árvore com a Emília. Mais abaixo, o Jó Alho e o Rui Themido davam uns toques numa bola.
E o tempo foi passando. Meia hora, uma hora, hora e meia…
- Que estranho! Já deviam cá estar há muito tempo…
- Se calhar, não as devíamos ter deixado ir sozinhas…
A preocupação começou a invadir o grupo. O Jó era o mais despreocupado.
- Não se ralem. A minha irmã gosta muito de ver flores. Deve andar a apreciar os jardins silvestres.
Foi então que o Estorietas resolveu agir.
- Eu vou ver o que se passa. Nicha, vens comigo?
E partiram os dois à procura da Guida e da Livinha. Que se passaria com as duas miúdas?
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