sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Um hino para Golden City



A voz quente, pausada, dominadora, por vezes trémula, propositadamente comovedora, de Läss Carina apoderou-se num instante do espaço da assembleia:
Hino das conferências da cidade dos pioneiros

Golden City, terra forte
Onde cheguei, onde vim
Gado ao sol , vento norte
Quero-te comigo ou sem mim

Terra de estórias dos sem lei
Rainha de luz e esplendores
Golden City, aqui passei
Por tantas lutas e amores

Todos:
Golden City, destruir, destruir
Golden City, cidade maravilha
Golden City, destruir, destruir
Golden City nas mãos da camarilha

Houveram guerras, sonhos, morte
Batalhas e ilusões
Golden City bela e forte
Tens palácio e aldrabões

Tens desfiladeiros rasgados por cavalgada suprema
São sinais de tantas estórias
Onde o povo que já não ordena
Increveu as suas memórias

Todos:
Golden City, destruir, destruir
Golden City, cidade maravilha
Golden City, destruir, destruir
Golden City nas mãos da camarilha

Tens mulheres lindas e belas
Princesas do nosso futuro
O povo cria as suas novelas
Com beijos inscritos no muro

Um muro de amor e vontade
Onde em sangue e tempo novo
Será inscrita a verdade:
Abaixo os que licham o povo!

Todos:
Golden City, destruir, destruir
Golden City, cidade maravilha
Golden City, destruir, destruir
Golden City nas mãos da camarilha

No final, uma lágrima furtiva, traiçoeira apareceu na face de Läss Carina. Alguém esboçou um tímido aplauso. Mas uma voz não deixou as coisas avançarem:
- Quem é que escreveu esta porcaria? - perguntou furibundo Ó Bössta.
Farison não sabia o que havia de dizer.
- Bom, foi um papel que eu encontrei e pensei que se adaptava...
- Pensaste? Mas tu pensas, alimária? Já viste o que está ali escrito? Tu nem sabes ler, certamente. Aliás, eu não acredito que o tenhas encontrado. Diz-me lá quem to deu...
- Foi o Serge Small River...
- Small River... Big Mind - murmurou Would Do.
Mas Ó Bössta não estava contente.
- O agitador. Já estava à espera dessa. Não veio à assembleia, mas esteve presente através da tua pessoa. Por que não me disseste logo? Esse Small River faz-se nosso amigo mas, na primeira oportunidade, tira-nos o tapete. Ele quer correr connosco. Não viste a actuação dele no festival de country no Art Saloon? Aquilo mais parecia uma sessão de propaganda de comunas com mensagens contra a corrupção...
Farison engoliu em seco. Pouco a pouco, a assembleia foi desmobilizando. O final não tinha sido muito feliz para Ó Bössta, mas duas propostas fundamentais tinham sido aprovadas e poderia dar uma lição aos habitantes de Castle Street.

A paz parece estar definitivamente quebrada em Golden City. Ó Bössta prepara-se para correr da cidade pacatos cidadãos cujo único crime foi o de manifestarem-se contra ele. Haverá resistência? E os rancheiros? Nunca tomarão consciência de como foram conduzidos àquela decisão pelo governador?

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Planos sinistros


Recuperado do mau bocado, Ó Bössta reuniu-se com Linda e decidiram realizar uma assembleia extraordinária dos criadores de cabeça de gado já que a ordinária não tinha concluído normalmente e o governador pretendia influenciar nova decisão da mesma.
A assembleia foi convocada com três pontos na ordem de trabalhos:
1. Os acessos ao palácio do governador
2. As feiras de gado de Golden City e
3. O ciclo de conferências da cidade do pioneiro.
No dia da assembleia, para além dos rancheiros, muitos populares resolveram comparecer para assistir.
Linda abriu a sessão e Ó Bössta tomou de imediato a palavra:
- Como sabem, o palácio do governador está concluído. Nele, para me servir, trabalham muitos dos vossos familiares nas mais diversas actividades. Acontece que os acessos ao palácio são francamente maus e um conjunto de barracas que existe nas proximidades retira ao mesmo toda a dignidade que ele merece. A minha proposta é que corramos com os indivíduos que vivem nessas barracas e construamos um acesso decente ao palácio do governador.
Esta entrada de Ó Bössta tinha a sua razão de ser. Ele tinha identificado alguns dos indivíduos que tinham participado na vaia de que fora alvo e sabia que grande parte deles vivia na Castle Street, sendo esta um dos seus principais focos de oposição.
Alguns populares não puderam conter alguns murmúrios de reprovação, mas a assembleia aceitou com agrado e sem oposição significativa a proposta do governador. Videra não estava presente por não ter sido convocado e alguns oposicionistas conhecidos não levantaram qualquer entrave a Ó Bössta. Assim a proposta foi aprovada.
Zeca Marth, que assistia à reunião, e sendo um dos afectados pela decisão, saiu da mesma, extremamente intranquila. E mais ficaria se conhecesse o segundo ponto da ordem de trabalhos introduzido por Linda Simon...
- Meus amigos, penso que tenho a solução para a nossa feira mensal de gado. Como sabem, tradicionalmente temos grandes dificuldades para realizar a feira e ter apoio logístico em termos de bebidas e refeições. Tudo mudaria se passássemos a realizá-la frente ao Central Saloon, naquele local ocupado por um jardim inútil...
Mais uma vez, esta proposta trazia água no bico. Sabia-se que os principais admiradores do jardim eram exactamente os habitantes da Castle Street que tinham brindado Ó Bössta com a vaia. Linda tinha pensado no assunto e resolvera estragar-lhes o foco de admiração.
A proposta foi aprovada por aclamação. Estranhos à vida em Golden City, a grande maioria dos rancheiros não via necessidade em manter aquele jardim, privilegiando a utilização daquele espaço em algo com utilidade para eles.
Finalmente, Farison tomou a palavra a pedido de Ó Bössta:
- Como sabem, o governador atribuiu-me recentemente a gestão dos assuntos culturais. Temos em marcha a realização das conferências da cidade dos pioneiros. Inicialmente, pensava-se realizar todas as sessões em Peaceful City, mas resolvemos concretizar alguns módulos nesta terra devido a um conjunto de calúnias que nos levantaram e diziam que só beneficiávamos os interesses dos outros... Conseguimos a colaboração de alguns vultos de prestígio: a professora Blacksmith, a solicitadora Near Water e o próprio Small River mostrou boa vontade. Vamos ocupar aquele edifício junto ao Central Saloon onde funcionou o Golden City General Bank e posso garantir-vos que tudo será um êxito.
Alguns rancheiros não percebiam bem a utilidade das conferências, mas o grande aplauso que se seguiu à intervenção de Farison convenceu-os da inutilidade de qualquer intervenção.
Ouviu-se então uma voz proveniente da assistência:
- Devíamos ter um hino para a conferência. Um hino!
A face de Farison abriu-se num largo sorriso.
- Com certeza! Tem toda a razão. E já tenho esse hino comigo. Um hino não da conferência mas da nossa cidade. Um hino à altura de ser lido pela nossa Läss Carina...
A assembleia ficou abafada sob o forte aplauso que se fez ouvir. Farison tinha um hino para a cidade. Onde é que tal coisa se tinha visto no velho Oeste? Que alegria para toda aquela gente. Os chapéus foram pelos ares...
Todos queriam ouvir o hino e desataram a gritar:
- Läss Carina! Läss Carina! Vem dizer o hino...

E agora, amigos oureenses? Como vamos sair desta? Há planos sinistros para a Castle Street e a frente do Central Saloon, mas toda aquela gente está entusiasmada com a promessa de Farison. E Zeca Marth? E os outros habitantes da Castle Street? Acham que vão deixar-se tramar pelo governador Ó Bössta e seus comparsas? E o Hino? Onde vamos arranjar um hino para Golden City?

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

É assim...
Não aprenderam nada, não esqueceram nada



Era com este pensamento a martelar-lhe sistematicamente a consciência que Ó Bössta, deitado sobre o altar do sacrifício, contemplava o sacerdote que iniciava a cerimónia perante o ar ávido de centenas de guerreiros que, ali encerrados nas novas fronteiras que a presença do homem branco obrigava, assistiam, mais uma vez, à concretização dos seus costumes ancestrais.
Sábios pensamentos os seus que não testemunhavam qualquer forma de arrependimento. São assim os convencidos da razão. Vão até ao fim, teimando nas suas malvadezas mesmo que o bom senso os procure avisar que algo estão a fazer errado. Mas o seu instinto é compulsivo, obriga-os a agir daquele modo desejosos de deixar marca histórica.
O sacerdote ergueu lentamente o cajado sagrado e preparou-se para invocar o grande Manitu...
- Aceita esta humilde cerimónia...
Claro! Tinha de ser. Lá estragaram a festa aos índios. De repente, ouviu-se um toque de clarim e, imediatamente, uma coluna militar abateu-se sobre os índios, sabres em punho, fazendo-os fugir.
Videra saltou do cavalo e correu para o local do sacrifício. Deu uma coronhada no sacerdote e libertou Ó Bössta.
- Você aqui?
- É verdade. Vi o que lhe aconteceu e não podia deixá-lo morrer...
Pouco depois, após ter libertado os outros rancheiros que partiram para suas casas, entregou-lhe um cavalo.
- Tome. Pode regressar a Golden City...
E, assim, o governador voltou à cidade. Em cima de um cavalo, mas em cuecas. Pelo caminho ainda encontrou Farison que rastejava e sangrava abundantemente do ombro...
- Anda, sobe para o cavalo.
E lá voltou aquele par de jarras a Golden City perante o olhar divertido dos cidadãos.
- Olha, o governador vai nu...
Mas nenhum deles estava contente.
- Alguém vai pagar isto - pensava Ó Bössta.
Não se referia a Videra que o tinha salvo, chamando o exército. Mas a vaia continuava a incomodá-lo.
Os dias seguintes foram de recuperação física e psíquica para as três notáveis personagens de Golden City. Depois, alguém foi arquitectando um plano de vingança

Que fará Ó Bössta para se vingar dos que o vaiaram? Aperceber-se-á da traição de Farison? E Linda? De quem é o braço que aponta na direcção do altar do sacrifício? (a resposta está no número 169...)

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Candidato a governador



E Farison?
Escondido na floresta, assistiu a todo o combate, à refrega com Ó Bössta e ao seu aprisionamento. Resolveu esperar...
- De certeza que ele não vai escapar...
Esfregou as mãos de contente. Aquela era a sua oportunidade. Ele era o ajudante de governador que queria ser governador. Com Ó Bössta morto, seria o principal candidato.
- Basta esperar que tudo aconteça. Vou regressar como um dos poucos que escapou...
Continuou entrincheirado na floresta enquanto os guerreiros índios se afastavam com o governador e mais três prisioneiros. O seu coração batia apressado pelo receio, mas também com as novas perspectivas que se lhe abriam.
Quando o sossego voltou, resolveu regressar à cidade, mas decidiu ir pelo meio da floresta para não dar nas vistas. Puxou da sua faca para cortar algum mato que lhe barrava o caminho e deu vários passos.
Nisto, os seus olhos quedaram-se aterrorizados.
À sua frente, com ar de poucos amigos, um cão enorme, nariz franzido, fitava-o e parecia que estava pronto para atacar. Rápido, tentou atirar-lhe a faca, mas o cão não lhe permitiu. Num instante, estava em cima dele e sua faca rolou poelo chão.
Farison sentiu-se perdido enquanto os dentes do cão dilaceravam o seu ombro esquerdo.
- Que hei-de fazer?
Não queria morrer daquela forma. Logo naquela ocasião em que podia assumir o cargo do governador...
Tentou recuperar as forças e num derradeiro esforço pegou numa pedra e deu com ela na cabeça do cão. Este recuou, ganindo. Farison aproveitou aquele momento para apanhar a faca e desferir um golpe definitivo na fera que lhe acertou sobre o coração. O cão rolou pelo chão e Farison sacudiu-se enquanto estancava algum sangue que lhe corria do ombro.
Era o momento para voltar a Golden City. Ia chegar rastejante, ferido, mas seria visto como um herói. Depois, seria esperar pela nomeação...
Com alguma dificuldade iniciou a caminhada de retorno.
Lá ao fundo, os tambores índios indicavam-lhe que Ó Bössta estaria a passar um momento nada agradável.

Farison regressa a Golden City abandonando o homem que lhe pagava o salário. Conseguirá chegar? Conseguirá assumir o cargo do governador? Os habitantes da cidade serão ainda mais masoquistas para o aceitar? E Ó Bössta? Por que torturas estará a passar?

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Igualdade de oportunidades à portuguesa

De acordo com um estudo hoje divulgado na imprensa, "um quinto das crianças portuguesas está exposta à pobreza" o que coloca o país num vergonhoso penúltimo lugar entre os que foram estudados.
Ó Bössta em apuros


Num instante, a confusão tornou-se indiscritível. Dois rancheiros cairam trespassados pelas setas dos índios. O cavalo de Farison tropeçou e este foi projectado sobre a sua cabeça, ficando inanimado. Foi talvez a sua sorte. Os índios passaram por ele sem lhe ligar mais. Ao recobrar a consciência, rastejou na direcção da floresta e ali se quedou silencioso enquanto o combate prosseguia.
Um grupo de sete cavaleiros conseguiu romper o cerco índio e fugir na direcção da cidade. Ó Bössta não teve essa sorte. Disparou contra os índios enquanto era perseguido em terreno com uma inclinação relativamente acentuada. Fez cair um, dois, mas breve foi alcançado. Um índio saltou sobre ele e atirou-o ao chão. Pouco depois, estava imobilizado completamente cercado.
- É ele mesmo, o malvado governador - ouviu dizer a um índio com monumental toucado de penas - Vamos levá-lo ao sumo sacerdote.
Ataram-lhe as mãos e atiraram-no de bruços para cima de um cavalo.
O governador teve a sensação que não sairia dali com vida. Por um instante, ocorreram-lhe todas as malvadezas que fizera ao povo de Golden City. Mas não sentiu arrependimento. Graças a elas conseguira uma vida boa para si e para os seus amigos...
- Vamos sacrificá-lo ao grande Manitu... - ouviu ainda dizer.

E agora? Será o governador martirizado? Ficará Golden City definitivamente livre dele? Os próximos posts trarão uma resposta...

domingo, fevereiro 24, 2008

Lencinhos brancos para a tia Milu

Mas que injustiça!
Que teria levado aquela gente a fixar-se em tão adorável senhora, tão preocupada que ela está em pôr estudantes a avaliar professores, numa semana recheada de acontecimentos negativos?
Então e os outros?
Aquele senhor do ambiente que culpa a autarquia pelas cheias?
Aquele outro que asfixia as universidades negando-lhes financiamento para os salários?
Aqueles dois jornalistas que facilitaram a autopromoção de sua Excelência, o engenheiro?
O autarca Morgado que troca ditadores e aprendizes?
O oposicionista Meneses sem ideias e sem palavra?
Todos, todos mereciam ver o lencinho. Por isso aquela gente lá em cima no Porto pecou por defeito...
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