sábado, março 08, 2008

80000?

Eles vão calar-se!
Eles vão calar-se primeiro que eu!
Oiçam o senhor ministro da propaganda tão cioso da liberdade ganha pela luta de Soares, Alegre e Sampaio! A liberdade de manter os outros calados...
Felizmente, ninguém lhe deu ouvidos e a manif foi um êxito. Imagino o que este homem faria se tivesse as polícias às ordens.
Mas para os lados do governo nada melhorou. A senhora ministra já veio afirmar que a política é para continuar tal como foi definida. Não acredito que esteja assim tão segura. Aliás, gostaria de ser uim espião do Contra Informação no seio da equipa de Sócrates. Por lá as coisas devem ferver.
Mas é lamentável!
É lamentável que um partido socialista tenha obtido uma maioria absoluta e não tenha conseguido resolver qualquer problema. Mais, agravou os problemas que existiam pela total incapacidade em dialogar. Pior, tornou-se parte do problema de tal modo que a única saída possível parece a demissão...

sexta-feira, março 07, 2008

Golden City a ferro e fogo



Ao amanhecer, Ó Bössta mandou reunir os seus pistoleiros e cavalgaram direitos à casa de Zeca Marth. Esta já os esperava...
- Então, pensaste na minha oferta? - perguntou o governador.
- Vá para o diabo com as suas migalhas. Ninguém me tira daqui.
Ó Bössta fez um sinal aos seus homens e estes puxaram das armas. Farison puxou da sua faca e tentou visar a mulher com ela. Mas eis que as janelas da casa questionada se abrem, dela surgem dezenas de espingarda e disparam sobre os pistoleiros do governador. Três homens rolaram imediatamente pelo chão. Os cavalos assustaram-se e encabritaram-se. Zeca fechou a porta e correu para uma janela com uma arma na mão. O tiroteio tornou-se ensurdecedor e alguns cavalos rebolaram pelo chão.
Ciente daquilo de que ó Bössta era capaz, nos dias anteriores, ela tinha contratado pessoas para a ajudar na defesa do seu património. Naquele momento, estavam ali todos entrincheirados prontos a vender muito caro a satisfação dos desejos daquele verme.
O governador sentiu que não dominava a situação. Um balázio que lhe roçou a cabeça mostrou-lhe que estava demasiado exposto. Fez os seus homens recuar e pôs-se em fuga.
Dentro de casa, Zeca e os seus apoiantes saudaram aquela primeira vitória...
Mas o governador não se dava por vencido.
Enquanto voltava ao palácio tecia mil planos de vingança. Tinha de destruir aquela casa e aquela mulher que se atrevera a desafiá-lo. Agora, já nada o deteria. Não faria mais ofertas de dinheiro. Ela não tinha aceite, iria ter razões de sobejo para se arrepender... é que, apesar de tudo, a desproporção de forças era enorme.


Epílogo: O imperador que mandou incendiar a Castle Street

Termina aqui o manuscrito encontrado por acaso no sótão da casa vermelha onde se inicia a Rua de Castela e que nos conta algo sobre o que se terá passado numa geminada povoação do Oeste selvagem. Uma estória em que quase não há heróis, mas apenas vilões.

Small River andava demasiado assoberbado com a criação de uma célula marxiana de acordo com manifesto recentemente editado e com a preparação do próximo rodeo da cidade.

Serge Would Do, talvez desiludido com tudo o que se lá passava, anunciou que iria abandonar a escrita de notas sobre os factos relevantes ali vividos e que tanto gostava de publicar numa folha pessoal quase diária. Videra raro aparecia e era por demais individualista.

O que se passou em seguida não nos é revelado. Talvez haja um segundo manuscrito entre o volumoso espólio que aquela casa nos legou... De qualquer forma, isso não nos impede de fazer um breve juízo sobre o que aqui foi relatado.

Enganam-se os que dizem que Ó Bössta agiu no interesse do desenvolvimento de Golden City. O governador cometeu pelo menos três erros imperdoáveis.

Primeiro, sendo uma figura a quem tinha sido transmitido algum poder político, usou e abusou da arrogância e do físico em vez de utilizar o poder de que dispunha para servir o povo. Ele era uma besta que não dialoga, que olha todos os outros como um inimigo, que se mune de todos os meios para impor a sua lei mesmo que esta contrarie a legalidade estabelecida e reafirmada em tribunal.

Segundo, Ó Bössta não tinha necessidade de destruir a Castle Street e correr com os seus habitantes. Ele podia ter contribuído para a requalificação da rua e ali ter mantido as características que esta sempre tinha tido embora com novas ou reconstruídas habitações.

Terceiro, ele não actuou para o desenvolvimento da cidade mas para o desenvolvimento da minoria que detinha ali o poder económico: alguns dos membros da associação de criadores de cabeças de gado. Na verdade, o governador não era mais do que um boneco nas mãos dos que dominavam esta associação, embora convencido de ter algum papel e alguma capacidade de decisão. Ele detinha aquele lugar porque interpretava e punha em prática fielmente os seus interesses.
Golden City, sob a capa de desenvolvimento, continuou assim a definhar e não nos admira que notícias posteriores nos informem que o seu papel foi completamente apagado passando algum tempo depois a ser assumido por alguma cidade rival...






FIM

quinta-feira, março 06, 2008

O repasto do abutre



Nessa noite, ao jantar, Ó Bössta não pôde deixar de pensar no que se tinha passado nas horas anteriores. Finalmente, estava quase livre dos que constituiam a raia miúda que se lhe opunha e tinha terminado com qualquer veleidade de alguém se estabelecer no mesmo local aproveitando as antigas habitações. Agora, tudo era seu. Podia construir ali novas habitações. Devidamente actualizadas. Com todos os requisitos como a sua educada alma de governador exigia.
Contemplou o quadro de parede que tinha conseguido salvar daquela destruição. Gostava de ver aquela figura óssea totalmente descarnada. Que bom gosto tinha tido e que sorte ter entrado naquela casa antes de a destruir. Possivelmente os ossos dos miseráveis que lá viviam e o tinham vaiado já estariam expostos como aqueles.
Suspirou profundamente. Como estava enriquecido o seu património com as acções desencadeadas no dia.
Mas aquela mulher... aquela mulher enervava-o. Tinha-lhe oferecido 100 dólares para sair e ela tinha recusado. Finalmente, havia uma pessoa que recusava as suas ofertas em dinheiro.
Deu monumental garfada no pedaço de carne que tinha à frente...
Amanhã, ela veria como teria sido preferível aceitar a sua oferta...

Aproxima-se o desenlace desta estória. Quem vencerá? Ó Bössta? Zeca Marth? Manterão os restantes habitantes de Golden City total indiferença em relação ao que se passa na Castle Street?

quarta-feira, março 05, 2008

Fumo negro sobre Golden City


Passados três dias, Ó Bössta voltou à Castle Street. Mais uma vez, convocou os habitantes utilizando disparos para o ar e rodeou-se dos seus pistoleiros. Acompanhavam-no ainda trabalhadores munidos de instrumentos para a destruição das habitações e resíduos.
Um a um, os moradores da Castle Street entregaram as chaves de sua casa ao governador, receberam uns miseráveis dez dólares, entraram num wagon já com cavalos atrelados onde tinham depositado os seus bens e ao qual tinham preso os seus animais, partindo sem destino, muitos com lágrimas nos olhos...
Ó Bössta não esboçou qualquer sinal de piedade por aquela gente. Mal recebia uma chave, os homens às suas ordens, deitavam as casas abaixo, faziam um monte com as mesmas e pegavam-lhes fogo.
Já longe, alguns dos antigos moradores, a partir da caravana em que seguiam, podiam contemplar a extensa nuvem de fumo que se formava. A Castle Street ardia e soçobrava debaixo do poder de Ó Bössta.
Mas eis que este encontra inesperado obstáculo. Zeca Marth surge à porta da sua casa e afirma alto e bom som:
- Governador, esta casa é minha. Ninguém nos tira daqui.
Ó Bössta olhou-a com um sorriso sarcástico e ao mesmo tempo preocupado. Apesar dos seus poucos escrúpulos, repugnava-lhe disparar sobre uma mulher.
- Sai da minha frente, Zeca. Eu quero limpar tudo isto. Foi uma decisão da nossa assembleia.
- Nenhuma assembleia tem poder sobre o que me pertence. Suma-se daqui...
Alguns pistoleiros de Ó Bössta esboçaram puxar pelas armas, mas o governador fez-lhes sinal para permanecerem quietos.
- Ouve, se queres mais dinheiro, posso subir a minha oferta até aos 100 dólares.
- Nem por um milhão venderia a minha casa.
- Então, vais arrepender-te. Dou-te um dia para pensares. Quando voltar, tu e a tua casa serão passados a ferro e fogo...

Aproxima-se um desfecho trágico para alguns moradores da Castle Street. Conseguirá o governador concretizar o seu plano sinistro? E Zeca MArth? Que providências terá tomado?

terça-feira, março 04, 2008

O avanço de Ó Bössta



Não foram precisos muitos dias para o governador, acompanhado dos seus pistoleiros, aparecer na Castle Street e mostrar as verdadeiras intenções.
Ali chegados, dispararam vários tiros para o ar e, quando reuniram um número significativo de habitantes do local, Ó Bössta berrou:
- Vaiaram-me à saída da assembleia de criadores de gado. Vão ver quanto isso vos vai custar, miseráveis. Anda por aí um anedota que diz que na nossa terra quem se trama é a classe média. Vocês, gente miserável de Golden City, vão verdadeiramente sentir na vossa pele "quem se trama". Têm três dias para fazer as malas e abandonar as vossas casas. Pagarei a cada um 10 dólares pela habitação...
Um dos visados experimentou esboçar uma leva resistência:
- Isso não pode ser. Isso é um roubo...
Ouviu-se um tiro e o chapéu de quem contestava a ordem do governador voou pelos ares com um buraco no topo.
- À próxima, atiro mais para baixo... – afirmou o governador soprando o cano do revólver.
Os habitantes de Castle Street ficaram chocados com a visita do governador e não conseguiram dizer mais palavra. Ó Bössta prosseguiu:
- Vou deixar em cada uma das casas uma intimação para a abandonarem. Voltarei daqui a três dias. Nessa altura, pagarei aos que colaborarem e podem partir imediatamente. Trarei os meus homens para reduzir a cinzas este espaço miserável. À noite quero todo este espaço limpo...
E partiu, perante o ar aterrorizado daquela gente.
Era assim este miserável. Uso e abuso da força sempre que fosse necessário. Compensações mínimas para as pessoas. Total ausência de respeito pelo passado, pelos direitos que a história e a tradição poderiam trazer.

Aproxima-se um momento decisivo para a Castle Street. Haverá algum meio para preservar a história daquela rua e os interesses das pessoas que lá habitam? E Zeca Marth? Ninguém a viu neste confronto com Ó Bössta. Que providências iria tomar?

segunda-feira, março 03, 2008

Fazer as malas



O regresso de Zeca MArth à sua casa na Castle Street foi particularmente doloroso. Como era aquilo possível?
- Nasci aqui há cinquenta anos. Construí a minha casa. Expandi o meu espaço sempre honestamente e vem aquele abutre dizer que vai correr connosco.
Nas horas seguintes, desdobrou-se em contactos com os outros residentes. Mas ficou incrédula com a sua predisposição para aceitarem o destino que Ó Bössta lhes preparava.
- Que podemos nós fazer? O melhor é prepararmos tudo para partir.
- Nunca! -gritou Zeca - Nasci aqui. Quero ficar no espaço onde sempre vivi.
- Nós compreendemos-te... mas a vida não nos tem sido nada fácil neste local. Se o homem nos tomou de ponta, vai transformar-nos o dia a dia num inferno ainda pior.
Zeca ficou sozinha e não deixou de pensar no assunto.
- Não posso acreditar que isto me esteja a acontecer. Deve ser um sonho.
Quando se deitou nessa noite, não conseguiu dormir. Os seus pensamentos eram dominados pela ideia de resistir.
- Aquele malvado não há-de levar a melhor.
No dia seguinte, quando se levantou, disse para o marido:
- Prepara-te para uma viagem. Vamos tomar providências para resistir e lutar pela memória dos nossos...

Que iriam fazer? Haveria alguma forma de resistência possível a Ó Bössta? A narração aproxima-se de um ponto fulcral...
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