sábado, dezembro 11, 2004

AS MINHAS MEMÓRIAS - 2
Por Zé Rito

Antes de entrar na época dos "Estúdios Trine" não queria deixar passar em claro a época do Fernão Lopes.

Durante a chamada instrução primária fomos "instruidos", e muito bem, diga-se, pela D. Aninhas durante quatro curtos anos.

Tínhamos como sala de aula o primeiro andar do edifício do Colégio com acesso exterior pelo recreio, em frente ao ginásio, através de dois lanços de escada.

Era nessa sala de aulas que aprendi muito do que ainda hoje sei, como se diz "de cor e salteado". Rios e afluentes, Serras ou linhas de caminho de ferro.

Era no recreio que jogávamos, sobretudo, à bola e em que eu, habituei-me a ir para a baliza talvez porque, para mim, dominar o esférico não era grande atributo.
Passei de seguida para o domínio do Dr. Armando. E o que deveria ser cinco risonhos anos tornaram-se, para mim, sete anos muito compridos.

Em termos de aproveitamento escolar fui um aluno q.b.. O pior era a voz autoritária, a mão pesada e a presença intimidatória do Dr. Armamdo.

Foi um excelente professor. Com ele, como professor de história, parecia que vivíamos os acontecimentos. Estou a ver o Gungunhana não querendo ajoelhar-se argumentando que o chão estava sujo ...

Passei por outros excelentes professores como a D. Nazaré, professora de matemática, alta, magra, sempre de bata branca, que lhe valeu o nome de "pau de giz". Em dada altura ela saiu por, alegadamente, problemas de vencimento. Sei que, manifestámos a nossa vontade em que ela voltasse. E apesar da rigidez do sistema os alunos acabaram por vencer. No ano seguinte voltava a ser a nossa professora. Penso que quem, na altura, a substituiu foi o Dr. Preto.

Passei também por um professor que só sei o none porque ficou conhecido. Veio de Àfrica e ensinava português. Vivia na Avenida, junto do Melo. Era o "Zebú". Para começar uma frase tinha que usar a expressão "Da..da..."

Em relação a ele lembro-me de quando chamou o Amílcar ao quadro e lhe disse "Da...da..., Amílcar escreve aí" . E o Amílcar escreveu "Da...da... Amílcar escreve aí!.

Também há que contar que era um excelente ... fotógrafo. Só que não vimos qualquer fotografia. Tirava, com a sua máquina fotografias a toda a gente. Em grupo ou separado. E quando pedíamos para ver essas fotografias,respondia invariavelmente. "Da... da perdi as chaves da gaveta onde as meti."

Quero lembrar, sem menosprezo para os outros alunos, o Barroso. Talvez porque quando chegava ia logo à sua procura. Talvez porque era o meu colega de carteira. Lembra-me que adivinhava sempre a altura exacta em que o Sr. Nunes tocava a campainha para sairmos. Talvez porque nunca mais o vi. Já lá vão quarenta anos.

Quero recordar ainda a Sâozinha Nunes. Por um facto que entristeceu a sua família. Decorria uma aula, na sala do lado do recreio, quando a sirene tocou. Passado algum tempo o Sr. Nunes bateu à porta solicitando a saida da Sãozinha. Viemos a saber que a avó tinha morrido carbonizada. Vivia numa casa entre os armazéns dos Pereira e a casa do Dr. Amândio.

Em acontecimentos elejo uma situação que se passou comigo e o meu irmão. Estávamos a fumar, às escondidas, por trás do ginásio. Ao atirar as beatas fora para junto de um silvado que ali havia originou o inevitável. Começou a arder. Fugimos para a encosta dos moinhos. Sorrateiramente démos a volta e chegámos ao local do crime vindo do lado oposto. Toda a gente com baldes conseguiu apagá-lo. Alguém nos viu e denunciou-nos. Démos uma desculpa e atribuimos a autoria ao "Natureza" rapaz que vivia na Rua da Castela. Durante muito tempo estive sempre à espera de ser chamado ao gabinete e prestar contas, que seriam pesadas, ao Dr. Armando.

Rio Torto, Gouveia 2004-12-11
José Manuel Rito

sexta-feira, dezembro 10, 2004

O PE em (mais ou menos) 2000 caracteres por semana (mais ou menos) - Dez I
Por Sérgio Ribeiro

Se desde que estou no Parlamento, neste regresso, me “tenho dedicado à pesca”, a semana que termina veio justificá-lo. Pelo trabalho que me deu.

Na verdade, a Comissão – aquele órgão institucional que é presidido por um português que foi 1º ministro de Portugal – anunciou, depois de ter pré-anunciado, a TAC e as quotas de 2005 para Portugal.

Um desastre. Passagem de 28 dias de trabalho por mês para 20 dias e reduções de quotas de pescado autorizado em muitas espécies – lagostim, linguado, sarda, carapau – e em condições que até impedem a pesca nalgumas zonas com consequências muito graves para quem, neste País, ainda vive da pesca.

Não que os meios laboral e empresarial ligados à pesca contrariem a necessidade de salvaguardar os recursos dada a sua exiguidade e risco de desaparecimento mas o facto é que as actividades atingidas são precisamente as menos predadoras, e as que mais impacto social e regional têm, enquanto as de dimensão industrial aproveitam todas as abertas… nos nossos mares e é um “ver se te avias”.

O que esses meios laborais e empresariais não aceitam é a dureza das medidas proposta, a que chama drásticas. E é contra estas medidas que me bato na convicção de que defendo interesses nacionais, de trabalhadores e populações que vivem da pesca e de actividades que têm, ao longo dos tempos, conseguido o equilíbrio entre o aproveitamento dos recursos e a sua salvaguarda e do ambiente marinho.

O que é espantoso é que Portugal, tendo a maior Zona Económica Exclusiva da União Europeia, por efeito das “mares” açoreano e madeirense e da longa linha de costa continental, tem visto perder essa vantagem comparativa e riqueza potencial.
Porquê?

Por ausência de capacidade e de força negociais, sendo o percurso da “construção europeia” um processo de negociação permanente. Estou na expectativa de ver como é que o Governo, no Conselho de Ministros da UE, se vai comportar face a estas propostas da Comissão. Partindo elas de tão drásticas medidas ainda se virá, decerto, vangloriar, como é costume, de que ganhou por perder menos do que seria desastroso e foi proposto pela Comissão Barroso.

Pelo meu lado, no Parlamento, faço o que me é possível com a força que tenho.

Voltar atrás
Parafraseando A grande Fauna, às vezes, é preciso voltar atrás... e, como os meus amigos calcularão, isso não me custa nada, aliás ao menor pretexto, aí vou.
Vem isto a propósito de uma recordação musical datada dos finais de setenta. Os seus executantes chamavam-se Spriguns, ela Mandy Morton. E a minha estupefacção é de tal ordem que, nesta maravilhosa sociedade de consumo, não consigo encontrar a sua obra, designadamente, o magnífico Time Will Pass.
Mas a paixão tem coisas maravilhosas. Um admirador da Mandy e dos ditos legou-nos esta magnífica página a eles dedicada na qual encontramos, inclusivamente, excertos das canções.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

... e enquanto o Vitorino pensa e redige o programa, recordemos algo que o seu homónimo em boa hora nos deixou...


O Maltês

Poema de Manuel da Fonseca

I


Em Cerro Maior nasci

Depois, quando as forças deram
para andar, desci ao largo.
Depois, tomei os caminhos
que havia e mais outros que
depois desses eu sabia.

E tanto já me afastei
dos caminhos que fizeram,
que de vós todos perdido
vou descobrindo esses outros
caminhos que só eu sei.

II

Veio a guarda com a lei no cano das carabinas.

Cercaram-me num montado;
puseram joelho em terra;
gritaram que me rendesse
à lei dos caminhos feitos.
Mas eu olhei-os de longe,
tão distante e tão de longe,
o rosto apenas virado,
que só vi em meu redor
dez pobres ajoelhados
perante mim, seu senhor .

III

Gente chegou às janelas,
saíram homens à rua:
- as mães chamaram os filhos,
bateram portas fechada!

E eu, o desconhecido,
o vagabundo rasgado,
entrei o largo da vila
entre dez guardas armados;
- mais temido e mais amado
Que o deus a que todo rezam.

IV

...E vendo que eu lhes fugia
assim de altiva maneira
à sua lei decorada,
lá,
longe do sol e da vida,
no fundo duma cadeia,
cheios de raiva me bateram.

Inanimado,
tombei por fim a um canto.

E enquanto eles redobravam
sobre o meu corpo tombado,
adormecido
eu descansava
de tão longa caminhada! ...
Eles não percebem...
... por que razão o Presidente os despediu.
Isto é, além de broncos e incompetentes, armam-se em anjinhos.
Mas não acreditem no seu ar compungido ou na sua fraqueza. Acabam de colocar pessoal da sua confiança no SIS.
Estranha ausência
Começa a ser longa a ausência relativa às crónicas do Sérgio.
Apesar de, por vezes, ele surgir num tímido comentário, sentimos a falta daquele texto bem construído sobre as causas ou os problemas do nosso povo ou da nossa terra.
A propósito, gostei do artigo que ele publicou no NO sobre a "praça dos carros" o qual, ou parte do qual, ficaria aqui muito bem se ele mo enviasse.
E também gostaria que ele nos brindasse com alguma nota sobre as próximas eleições.
Isto já permitiria que eu descansasse um bocado perante as dificuldades de manutenção deste espaço...

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Voto útil
Confesso que embirrei sempre com esta ideia. Entendo que as pessoas devem votar nas organizações com quem mais se sentem em sintonia. O voto útil é o primeiro passo para o desencanto, pois a política prosseguida nunca será de acordo com o que se deseja, mas um mal menor.
Votando em sintonia, mesmo que se perca, e é o mais certo, há sempre a convicção de que à próxima será melhor. Isso não quer dizer que não se flutue: neste momento, ainda não faço a menor ideia de qual a organização a quem vou atribuir a minha confiança, mas mantenho aquela ideia de que seria interessante poder repartir o voto por várias organizações de tal modo que as proporções somadas atingissem a unidade.
Mais eficazes que Saddam
98000 civis mortos...
É o número impressionante (apurado por uma organização conceituada) desde que começou a agressão ao povo iraquiano.
Imagine-se que não iam com objectivos de libertação.
Saudosismo
Na primeira das suas crónicas no Ourem, o Zé Rito, o nosso venerado "Avião", diz-nos que não pretende despertar saudosismos.
Mas será o saudosismo uma coisa assim tão má, tão negativa?
Pessoalmente, não me importo nada de olhar para trás e afirmar quanto apreciei uma dada vivência, que inclusivamente gostaria de a repetir ou voltar a ela.
Por exemplo, o dia de hoje...
Foi, quase sempre, para mim o dia da mãe.
Vivi-o até àquele dia em que parece que tudo acaba por desaparecer quem nos dá a sensação de nos segurar a este universo. Apesar das mudanças burocráticas que o transferiram para a zona de Maio nunca deixei de o sentir nos mesmos moldes que os primeiros anos me ensinaram. E lá vem a saudade, o pessimismo quanto ao presente, ... enfim, é melhor estar calado...

terça-feira, dezembro 07, 2004

Um amigo tranquilo

 A partir de certa altura, em Ourém, quando as férias terminavam, tornava-se difícil arranjar companhia para partilhar a passagem, porque muitos amigos iam estudar para outras terras.
Era aí que ganhavam importância aqueles que, obstinadamente, encontravam na sua terra, a razão de viver.
Um deles acompanhou-me naquelas noites frias pela ruas de Ourém dias sem conta. Jogávamos bilhar no Central, depois passávamos ao Grémio do Comércio.
Era uma pessoa muito tranquila com a qual de tudo se podia falar, pois sabia ouvir e sabia dar a sua opinião.
Um dia, deixei de o ter por companhia. Quando passava direito à casa da Rua de Santa Teresinha, via-o num escritório mais ou menos frente ao sítio onde era o café Parreirinha. Lá estava a aprender a viver, a fazer algo de útil, a fazer aquilo a que hoje chamaríamos, indignados, trabalho infantil, enquanto muitos de nós andávamos por ali a passar tempo.
Voltei a encontrá-lo muitas vezes e, também, no último Poço. Sei que vem muitas vezes ver este espaço e que conhece alguns posts pelo nome. Falámos sobre tudo isto e sobre a minha fixação no passado. De um modo tranquilo... mas com imenso gosto por recordarmos anos de uma saudável amizade que parece reforçada à medida que o tempo vai passando.
Especiarias na Som da Tinta


Na hora da despedida: elogio dos sem-vergonha
Por sua excelência, o Ministro do bago

Aprender com a prática
Aprendi muito com a elaboração e discussão na praça pública deste Orçamento.

Tem que vir sempre o autoelogio
Percebi como é um privilégio arriscar ser violentamente criticado apenas porque se decide, se opta e se escolhe com convicções, com rigor e com esperança.

É dos livros: mal chegam ao poder, o seu interesse é universal
Senti, como nunca, como é que certas pessoas fazem, de um modo falso e quase angélico, o discurso do interesse geral, para tentar ganhar nos interesses corporativos ou mesmo particularistas.

Mas a um ministro pede-se mais que capacidades aritméticas
Senti como alguns arautos da consolidação tentam contrariar as mais elementares regras de aritmética orçamental. Isto é, exigindo mais nas parcelas (entenda-se despesa), ao mesmo tempo criticando o ministro das Finanças por a soma não ser inferior.

E viva a bagunça que assim não dão por mim...
Senti por que é que alguns interesses parecem preferir a instabilidade e a indisciplina para que melhor medrem os respectivos proveitos.

Seria o sr. Ministro tão ingénuo?
Senti como alguns se servem da discussão pública do Orçamento como palco para dissimular as suas incapacidades, despeitos e pequenas «vendettas».

Nomes, por favor, nomes...
Senti como é coerente a incoerência de tantos paladinos do rigor que, por certo, já se esqueceram do que não fizeram ou do que deixaram fazer, por acção ou opmissão, em cargos e ocasiões passados.

Repito: nomes... senão quem se licha é o mexilhão...
Senti como é fácil para certas mentes enunciar princípios de aceitação universal, como a luta contra a evasão e fuga fiscais, desde que não passe disso mesmo: mero enunciado de intenções.

Se calhar, nem ler sabem
Percebi que é «dispensável» a leitura do Orçamento para sobre ele se dissertar eloquentemente.

Vá, seja mais explícito. Quem o tramou?
Percebi que o medo também orienta a crítica.

(in Expresso de 3.12.2004)


segunda-feira, dezembro 06, 2004

AS MINHAS MEMÓRIAS
Por Zé Rito

As minhas memórias são escassas e têm um tempo definido.
Para além do Fernão Lopes o que poderei contar são episódios vividos até ao ano de 1969, altura em que a minha vida profissional me retirou do Poço e de outros locais, como o Café Avenida onde pontuava o Ezequiel e o Fernando Forte.
Passei, sobretudo, depois da fase escolar com a D. Aninhas, como professora, em que eu me deslocava Rua da Castela acima, Rua da Castela abaixo, na tal motorizada virtual, que até tinha marcha atrás, e que me valeu, na altura, o cognome de "Zé Avião", e depois, na fase seguinte, com o Dr. Armando, o Zebú, a Pau de Giz, a Botija e outros, não esquecendo o Sr. Nunes. Passei, dizia, pelos "Estúdios Trine", o conjunto "Os Escaravelhos", a fase jornalística, em que utilizava o pseudónimo de Ego Cauny, entre outras.
Este espaço não tem mais do que dar um, ainda que pequeno, contributo para que todos que o visitem relembrarem tempos vividos em determinada época sem, espero eu, despertar saudosismos.
Contar por contar.
Despertar outros a fazerem o mesmo.
Contribuir para, no fim, juntar as peças e constituir uma história que será a história das nossas vidas em Ourém.
Dado que os "Estúdios Trine" foram vividos de forma particular, na companhia do Zé Alberto, na segunda metade da década de 60, vou a partir dos estúdios recordar "as minhas memórias".
Até lá..

Mais uma colaboração para o Ourém
Iniciamos hoja a publicação das crónicas do Zé Rito acerca da nossa Ourém. É um momento particularmente feliz pela pessoa que é e por representar uma aderência num círculo onde o recrutamento é difícil.
Continuamos assim a escrever "Ourém em estórias e memórias". Em momento oportuno, quando o número o justificar, abriremos novo blog, uma aba do Ourém, onde reuniremos todo o trabalho do Zé dando-lhe o relevo que ele merece e não o deixando perdido na confusão que este espaço já é.
Obrigado, meu caro Zé Rito, agora já não podes parar...
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...