quinta-feira, dezembro 06, 2007

Figuras Secundárias II

E, enquanto o tempo não melhora, voltemos a saborear aquilo que ainda não nos conseguiram apagar: as recordações da juventude.

Decerto o conhecem: Pancho, o inseparável companheiro de Cisco Kid. Na vinheta que apreciam ele tinha acabado de fugir a uns bandidos, mas, sujeito ao seu fogo quase contínuo, mergulhou para dentro de uma pipa a partir do cavalo. Depois, a barriguinha não autorizou a sair e teve de esperar por ajuda.
Mas não pensem que o Pancho não tinha papel activo nas histórias. Várias vezes salvou a vida ao seu amigo e, quando ele pensava em abandonar as aventuras para se dedicar a alguma formosa menina, não tardava em arranjar uma motivação para o levar para as formidáveis cavalgadas e para o descanso ao luar, apreciando o uivo dos coiotes.

Era famosa a barriga do Pancho. Aliás, a sua figura algo atarracada, obesa sempre se distinguiu pelo contraste relativamente a Cisco. O qual não ficava por aí. Como podem apreciar, nesta outra vinheta, enquanto Cisco pensa nas deliciosas Flor Vermelha e Lucy dos cabelos de ouro, Pancho sonha com uma boa refeição...

terça-feira, dezembro 04, 2007

O último dia de Sol em Ourém



Saio da aula e tirito de frio nesta manhã de neblina, sol escondido. Recordo um dos últimos dias que passei em Ourém. A manhã também não estava convidativa, mas o Sol tinha entrado casa dentro e acordado toda a gente.
Lá para as onze a disposição mudou. O dia aqueceu e durante algumas horas pudemos desfrutar aquele magnífico calor na paz que é quase sempre Ourém. Paz falsa, deve dizer-se. Escondida nela, aproveitando os circuitos do poder, muitos conspiram e organizam-se para nos destruir a Ourém que vivemos. Da qual quase nada resta...
Lá para as cinco, o Sol escondeu-se por trás do Castelo exactamente como a foto documenta apesar dos horrorosos fios que persistem em nos acompanhar. Rapidamente, a temperatura desceu e os agradáveis 18 graus da tarde converteram-se em pouco mais de 7. Fechei-me em casa, acendi lume e pensei que a manhã traria melhor dia. Qual quê? A manhã parecia não querer chegar. Veio sombria, chuvosa, friorenta. Veio lúgubre fazendo-me lembrar a acção do Orelhas Moucas, o autarca que desafia as decisões dos tribunais (até tem uns 20 meses, vejam lá o desplante...). Não fosse excelente repasto no Pirilampo nada a animaria. Depois, foi o regresso... com a recordação daquele dia soalheiro cuja imagem ainda não se repetiu até hoje.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Rei na cidade menor



Na pequena aldeia, as pessoas tinham uma vida humilde, mas reviam-se no seu espaço e na sua convivência que para elas se tornou uma referência. Nenhum dos que por lá passaram a esqueceu.
Um dia, a cidade onde era a pequena aldeia foi tomada pelo rei laranja. E logo a descaracterização começou. Formidável prédio que não respeitava as mais elementares normas de urbanismo avançou sobre o largo que era o centro da pequena aldeia e a todos sufocou, escureceu e humidificou a existência. Alguns reagiram. Mas a chegada de tão indesejado vizinho logo fez lembrar a muitos os benefícios da especulação.
O que era emanação de tribunal deixou de se cumprir. O rei laranja em breve fez os seus cortesãos elaborar e aprovar normas em que o ilegal correspondia ao que lá estava há décadas. Apreciem este trecho retirado do Crónicas recentes da cidade menor: “corrigir agora o erro como deve ser não é gastar recursos públicos a demolir um prédio que está no sítio certo e com a altura certa, mas sim retirar as casas que estão no sítio errado...”.
Acabou-se a esperança. O rei laranja virou o bico ao prego. O formidável mamarracho não virá abaixo, não recuará para os limites onde era o Albergue da Dona Aurora. A aldeia, essa, será certamente arrasada.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...