sábado, julho 13, 2019

Associação MIAU

Vamos amenizar que o ambiente está pesado…
(aviso: os mais susceptíveis não devem prosseguir, pois há linguagem imprópria…)
Nesta aldeola maravilhosa de pé descalço e lodaçal, alguns dão atenção à bicharada de quatro patas. E, num momento em que os humanos parece que andam à trela puxados por uma praga de caninos que se divertem a deixar excrementos pelas ruas, um bocadinho de atenção aos felinos é saudável.
Aqui deixo um poster espelho de uma terra onde, saltitando distraída à porta de um supermercado cujos funcionários a alimentavam a fiambre, descobri a terrível Pipoca que tantas alegrias me deu. 
E, neste caso, há três exemplares que me prenderam a atenção: o Papacavalas, mais ou menos uma versão gatina do «trepanacueca», o Zorbas com um verdadeiro ar helénico e o Faísca sempre pronto para esperar a dona debaixo da cama e espetar-lhe monumental unhada.

sexta-feira, julho 12, 2019

O meu irmão


Também tive um irmão.

Era uma pessoa afável, honesta, trabalhadora, equilibrada, imaginária e sempre disponível.

Também gostava de comidinha e ficaram famosas as patuscadas que organizava para deliciar a família e amigos de tal modo que era conhecido pelo «Abelito das comemorações». Diz-se que, lá no Paraíso, quando souberam da sua chegada, os cordeiros, cabritos, leitões, coelhos, frangos, etc., etc. fizeram reunião de emergência e proclamaram estado de sítio, tentando em vão impedir-lhe a entrada.

Foram dele os primeiros livros que ajudei a destruir-lhe na saudosa casa da rua de Castela, livros que ele guardava secretamente na mesinha de cabeceira, com cadeado, e que eu, já promissor rato de biblioteca, procurava e devorava.

Foram dele também as palavras de orientação que me marcaram definitivamente e o esforço para prosseguir estudos para além do normal naqueles tempos longínquos onde a subsistência era o supremo objectivo das famílias de poucas posses.

Foi o meu ídolo quando, no Atlético cá da terra, desafiava os avançados de equipas fortíssimas a passar por ele.

Foi também sempre uma luz aberta ao regresso em qualquer momento que as coisas dessem para o torto, um verdadeiro porto de abrigo.

Separados há mais de cinquenta anos, a sua maravilhosa recordação ficou e é como se permanecesse vivo, apesar de já não estar naquela casa onde tanta vez o procurava.


quinta-feira, julho 11, 2019

Hoje, rapinei um texto ao Público

Não resisti…
Por razões óbvias fiquei comovido ao ler este texto de MEC.
Resolvi faná-lo ao jornal Público e integrá-lo no meu espaço, espero que não me levem a mal.

O meu irmão








Miguel Esteves Cardoso

Ainda ontem



O meu irmão chama-se Paulo e é a pessoa masculina que mais amo nesta vida.

Hoje almocei com ele na Praia das Maçãs e fartou-me de fazer rir. O meu irmão é o meu cúmplice mais antigo, o meu amigo mais velho, se eu medisse os meus amigos por velhice. O meu irmão é o riso que nasce de ser ele, o riso que nasce de sermos nós, o riso que nasceu só da sorte de nos encontrarmos. Só tenho um Irmão - deveria dar-lhe mais valor. Isto sou eu a dar-lhe mais valor; só tenho um irmão, estou a dar-lhe mais valor.

Num dia aceso, feito dos nossos desejos, as pessoas que estão próximas de nós deveriam ser devidamente agradecidas. Não são. Somos nós que pagamos a irresolução.

Eu adoro o meu irmão. A única coisa que me limita é que quase nunca estou com ele: desgraça-me uma deficiência de comparência.

Na vida, afinal, é sempre melhor exigir. Ser desiludido é o nosso estado natural. O meu irmão Paulo faz-me rir.

O meu irmão Paulo faz-me pensar. O meu irmão Paulo enche-me de palavras e de amor.

O dia é sexta-feira e o mês é julho. Estou na Praia das Maçãs com o meu irmão Paulo e como Chico, o nosso melhor amigo desde 1970. Estou feliz e cheio de riso. É tudo graças ao meu irmão e ao Chico.

É uma grande tristeza da vida não conseguirmos dar valor ao que já temos, sem mérito algum da nossa parte. Metade da alegria da vida é reconhecer que se teve sorte.

É a sorte de ter tido este irmão e não outro, é a sorte de ter escolhido bem os amigos que se têm. A alegria é sempre mais simples do que pensamos: é estar com as pessoas que. amamos, a fazer as coisas que mais nos apetecem.

terça-feira, julho 09, 2019

Poema da ossada desencantada

Quero passar para o outro lado
Tenho medo de avançar
Barqueiros com pouco juízo
Não sei como atravessar

A formosa criatura que me chama em toda a parte
Fez-me promessas, acreditei
Afastei tentações de fugir e,
de tanto esperar, assim fiquei

Ontem, pela tarde, o telefone tocou.
Era ela. Decerto me queria na outra margem.
Não atendi, não devolvi a chamada.
Afinal, esperar até sabe bem.

domingo, julho 07, 2019

Leituras para férias


Resolvi munir-me de alguns livros para preencher aqueles tempos que ficam depois de abandonar a praia e ao lautos almoços de peixinho fresco. Uma curta passagem pela Note, já que a Feira do Livro me está cada vez mais distante, permitiu arranjar algumas boas companhias para as tardes repousantes.

Tenho medo de partir de Fernando Pessoa
Um texto menos falado, mas com passagens muito interessantes. Também eu tenho medo de partir, mas um dia terá que ser e só espero encontrar-me em boa companhia, porque os melhores já lá estão…

Uma antologia de Literatura Tradicional Portuguesa de José Viale Moutinho
Um conjunto de textos algo bizarros, mas por vezes divertidos e que me transportam aos tempos fantásticos da infância.

O tesouro do Cisne Negro de Paco Roca e Guillermo Corral
Uma novela gráfica recentemente editada pelo jornal Público que nos mostra o conflito entre o estado espanhol e um reconhecido caçador de tesouros em torno da carga riquíssima de um navio naufragado depois de bombardeado pela marinha britânica.
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