sábado, setembro 07, 2019

A prioridade primeira do CDS é baixar o IRS em 15%


gosto desta foto da Assunção
é gordinha, mas risonha


… para todos acrescenta a menina Cristas.
Eu acho que até é pouco. Se descesse em 15 pontos percentuais, podia dar umas esmolas aos pobrezinhos devido ao IRS negativo. E se despedisse um bom lote de funcionários públicos que nada fazem e mandasse abater uns reformados, ainda ficava com mais uns tostões para a classe média de que tanto gosta e levar efetivamente o salário médio para a zona dos 2500 euros. 
Assim essa classe podia pôr os filhos nas privadas a competir com os ricos e deixar os pobres a lutar com muito mais condições de sucesso por um lugar nas públicas.
A menina Cristas é fértil em ideias e argumentos, é atrevida de longa data, mas, quando teve o seu lugar no Governo através do seu partido, perdeu a aceleração toda… mais, travou a fundo as justas reivindicações dos portugueses, abalançando-se a uma lei do arrendamento que só fez estragos.
Sabem o que vos digo?: não acredito em nada do que ela promete. Até prefiro o André Ventura, um grande benfiquista...

sexta-feira, setembro 06, 2019

Versos do Rio para o Costa

Conheci Rui Rio na década de 80. Na altura, eu funcionava mais na área de Informática do que na do ensino ou economia e a resposta a um anúncio levou-me até às instalações do GTI (Gabinete Técnico de Informática).
Aí fui recebido e entrevistado por Costa Freire e por um sujeito que parecia estar sempre a rir-se e a gozar comigo. Algum tempo depois, a resposta foi de que «não servia», e, avaliando pelas realizações de Costa Freire no Ministério da Saúde, é bem verdade que não servia mesmo para aquilo.
Algum tempo depois, recordei aquela figura risonha quando das eleições para a Câmara do Porto e estranhei muitos aspetos do seu comportamento, a sua mentalidade de contabilista.
Não deixo de simpatizar com a pessoa, mas pergunto-me se é quem o PSD precisa para recuperar o fulgor antigo. 
Estou longe desse partido, mas alguns aspectos do seu programa eram-me simpáticos e não me admira que uma figura como Pacheco Pereira faça parte do mesmo.
Há dias fui surpreendido pela veia poética de Rio. Olhem-me esta pequena maravilha:


PS governa mal,
Só o presente lhe interessa.
O futuro de Portugal
É coisa que não tem pressa.

O circo monta e desmonta,
Dramatiza e sobressalta.
Tem sempre a novela pronta,
Espetáculo nunca falta.

Não são dadas a rigores
As políticas socialistas.
Foi assim com os professores,
E agora com os motoristas.

Mas o teatro montado
Que o povo irá julgar.
Por certo será derrotado
E o PSD vai ganhar.
E como pode o PSD ganhar com um homem que, quadra a quadra, só diz disparate? O homem cuja principal medida é transformar o «Ministério da Saúde» em «Ministério da Promoção da Saúde»...

Balada das três flores silvestres


Eis o belo e mais que cinquentenário edifício dos Correios, fruto de uma arquitectura bem característica. 
Nas traseiras do mesmo, não existia o soberbo edifício que hoje se pode ver, mas uma casinha com um quintal amplo onde o Pássaro e a Luzinha passavam deliciosas férias aproveitando para confraternizar com o maralhal.  
Reparem naquela varanda.
Lembro-me que, por vezes, àquele local assomavam três lindas meninas, três moiras encantadas, três formosas oureanas que podiam, assim, contemplar algumas maravilhas de Ourém: a igreja, o castelo, sei lá que mais.
E nós, distintos oureenses, da esplanada do Avenida, contemplávamo-las mordidos pela inveja de não nos ligarem nenhuma. Por que estariam ali? Por que não vinham até à esplanada? Seriam flores silvestres fora do seu habitat natural?
Ourém é, assim, uma terra cheia de insanáveis interrogações. E algumas nunca ficaram esclarecidas...

quinta-feira, setembro 05, 2019

Postal de Kiev (3)


Aquela daquela mão...
decerto pensa que me domina
amor é a arma da ilusão
oh! quanto ela me fascina!...


quarta-feira, setembro 04, 2019

Água por água


Água por água

Chegam duas mulheres ao restaurante. A mais nova diz: "Posso comprar uma água para a minha mãe usar a casa de banho?"

"Que estranho", disse eu à Maria João. Ela diz que não é estranho, que é o que toda a gente faz. Assim acontece que à porta dos meus 65 anos aprendo que me tenho portado mal toda a vida. A minha prática é pedir plangentemente licença para usar a casa de banho para se perceber que estou in extremis.

Um breve inquérito entre as gentes estabeleceu que a forma correcta de pedir para usar uma casa de banho é dizer: "Dá-me licença que use a casa de banho que eu já venho beber um café/uma água/uma imperial? É que estou aflito." É um quid pro quo: eu compro-lhe uma água para compensar a água do autoclismo (e da limpeza) que lhe vou gastar.

A parte bonita — que logo observei no caso das duas mulheres — é que o autorizador depois liberta o utente da casa de banho da obrigação de comprar uma água.

Esta cordialidade existe, porque ainda são muitas as bestas que entram pelos cafés e pelas pastelarias adentro e vão directos à casa de banho, sem pedir licença ou dizer "boa tarde". Será por esta razão que antigamente as casas de banho tinham uma chave que era preciso pedir? Pensava eu que era para desmotivar os heroinómanos, mas, na volta, era para as pessoas terem um mínimo de respeito.

Infelizmente há cada vez menos casas de banho públicas, mas, pelos vistos, há maneiras civilizadas de lidar com a transferência dessa responsabilidade para as pessoas que não têm nada que ver com isso: os pobres proprietários dos cafés e dos restaurantes.

terça-feira, setembro 03, 2019

A aula de inglês

Não quero ser injusto com o Dr. Laranjeira que me fez desenvolver os conhecimentos de inglês e sempre ensinou com notável profissionalismo. Mas houve um momento antes dele que preparou o terreno onde os seus magníficos ensinamentos tiveram lugar...
E recordo uma das fabulosas manhãs primaveris de Ourém, em que estávamos embevecidos na contemplação da belíssima imagem da Boazinha. Era linda, pequenina, bem torneada, doce e falava maravilhosamente «o Inglês». Nem preciso de recordar o nome para me lembrar dela...
Naquele momento, ela fazia notável esforço para nos dotar com mais alguns vocábulos da língua inglesa. 
O problema era o "só". E ela recomendava: 
- Lembrem-se daquela canção, o "Only You", dos Platters. Sabem como se traduz o título?
E nós, nos nossos virginais treze anos, ainda sem maldade mas prenhes de desejo, absorvidos por aquela figurinha maravilhosa, respondíamos:
- Só tu...
Nunca mais esqueci o momento nem a canção.

Louco de amor


Louco...
Dizem-me que estou louco por te amar tanto.
Em vão te procuro no povoado.
Fugiste-me, deixando-me num mar de pranto.

segunda-feira, setembro 02, 2019

O atentado

«Chamem Inês, digam-lhe para vir imediatamente.» A voz de Lenine é fraca, mas o tom é firme. Está no seu quarto no Kremlin, as duas balas que o atingiram causaram danos na garganta e nos pulmões; os médicos acabam de lhe dizer que se trata de uma ferida feia, poucos milímetros salvaram-lhe a vida. Agora vai precisar de muitos cuidados e de um longo período de convalescença. Para lhe permitir um pouco de repouso, e por precaução, ninguém pode aproximar-se.

Lenine está cansado, assustado, algumas horas antes a morte passou por ele, vê-se obrigado a obedecer aos médicos e a permanecer naquele quarto longe de tudo e de todos, ao menos por algumas semanas. Fá-lo-á, mas quer que Inês esteja perto dele.

O atentado aconteceu no final de uma assembleia de trabalhadores da Mickelson Plant. Marija, a irmã que vivia com ele no apartamento do Kremlin atribuído à família Ulyanov, desaconselhara-o a participar naquele encontro. O chefe da Ceka de São Petersburgo tinha sido morto e Marija não achava prudente que o irmão se deslocasse a um lugar público sem escolta. Lenine não lhe deu ouvidos. Desde que regressara a Moscovo, depois de assinar a paz com os alemães, queria encontrar-se o mais frequentemente possível com os trabalhadores militantes para limpar, através daquelas relações diretas, uma imagem negativa e a desconfiança que ainda sentia viva em parte do povo, já que o chefe dos bolcheviques regressara num comboio do inimigo, assinara a paz com este e, depois da Revolução, para fugir ao processo escapara para a Finlândia.

O pressentimento de Marija revelou-se acertado: quando, depois de falar com os trabalhadores, se dirigia ao automóvel, foi atingido por duas balas disparados por uma jovem de nome Fanny Kaplan. Caiu, com as mãos na garganta, a camisa suja de sangue. Quem, até ali, o ouviu, aplaudiu, e seguiu com o olhar os seus passos, temeu pela sua vida. Mas Vladimir Ilyich ergueu-se imediatamente e, mantendo as mãos na ferida, entrou no carro e ainda conseguiu fazer sinal para arrancar. Foi o motorista, Stepan Gil, quem decidiu a direção: diretamente para o Kremlin. O hospital não era um lugar seguro, eram muitos — pensou o fiel Stepan — os que desejavam a morte de Lenine, qualquer um poderia aproveitar facilmente. Chegados ao edifício vermelho, Lenine conseguiu subir as escadas, chegar ao quarto e ao seu leito. Aí Marija e Nadja fizeram o que puderam; foram elas a prestar-lhe os primeiros socorros porque não confiavam em ninguém. Os cirurgiões chegaram apenas na manhã seguinte.

Inês chega rapidamente. Já sabia do atentado, mas conseguiu conter o impulso para ir logo ao seu encontro. Conhecia bem as regras que disciplinavam a vida do chefe do Estado soviético e sabia que era difícil, num momento daqueles, aproximar-se da sua cabeceira, até mesmo ela que ainda mantinha uma relação de intimidade com ele. Agora, apressa o passo, as poucas centenas de metros que deve percorrer são mais rápidas do que o habitual. Acompanhada pela filha Varvara, chega ao apartamento de Lenine e entra no seu quarto. Presentemente, aquela divisão com o resto do apartamento foi transferida, na íntegra, do edifício do senado do Kremlin para uma pequena dacia a trinta quilómetros de Moscovo, nos arredores da localidade de Gorki Leninskie. Não é grande e está modestamente mobilada. O mesmo apartamento inclui os quartos de Nadja e de Munja, depois há uma salinha com um piano e uma cozinha sem adornos com chávenas lascadas, panelas remendadas e o mínimo necessário. O quarto de Vladimir Ilyich é quase todo ocupado pela cama de ferro forjado, com o cobertor aos quadrados, uma cómoda e uma poltrona. Três pessoas naquela divisão serão demais, pensa. Talvez por isso Marija e os médicos saem rapidamente deixando espaço para Nadja, Inês e Varvara.

Nos primeiros minutos do encontro, Vladimir Ilyich e Inês estão nervosos e acanhados, não conseguem falar muito: a emoção, o medo e o perigo da morte libertaram os seus sentimentos mais profundos, mas as palavras — as únicas possíveis perante a presença de Nadja e de Varvara — só podem ser de cortesia afetuosa. Nadja percebe o embaraço, sabe o que desejaria Vladimir Ilyich e está habituada a secundar os seus desejos, mesmo quando a magoam, dizendo a Varvara que quer mostrar-lhe algumas fotografias de família, convidando-a a sair do quarto.

Vladimir Ilyich e Inês ficam a sós, as mãos que se apertaram num cumprimento afetuoso procuram-se de novo para um contacto mais intenso. Os sentimentos, até ali postos de parte em nome de «questões mais importantes», no silêncio daquele pequeno e austero quarto do Kremlin voltam a encontrar os seus valores. A partir daquele momento, renasce uma intimidade que estava suspensa e inicia-se um novo capítulo da sua história.

Apenas a algumas centenas de metros daquele apartamento, Fanny Kaplan, a atacante, a jovem que disparou dois tiros de pistola, é interrogada pela Ceka. A polícia secreta sabe que é uma anarca e que durante o regime dos czares passou alguns anos nos campos de trabalho. Agora é uma socialista revolucionária, mas — como afirma — agiu na ignorância dos seus companheiros, isolada e por vontade própria. Fanny Kaplan considera Lenine um traidor. «Quanto mais tempo viver», diz, «mais se afasta a ideia do socialismo».

Enquanto Inês e Lenine reatam a sua relação, o comandante do Kremlin, Pavel Malkov, continua a interrogá-la. Depois, sem investigações ulteriores, interrogatórios ou processos, aniquila--a. Para não dar azo a rumores entre os habitantes do edifício, na garagem, onde decorre o interrogatório, ligou o motor de um automóvel, e depois fez desaparecer o corpo. Não se saberá mais nada dela: quem era na realidade, para além das suas afirmações, a jovem que queria assassinar Lenine? Será que não haveria verdadeiramente instigadores? Teria agido sozinha? Ou seria uma emissária dos socialistas-revolucionários? O atentado terá sido organizado por homens insuspeitos e organizações próximas do chefe do Kremlin?

domingo, setembro 01, 2019

Hoje podes tratar-me por TU

ou Queixas das almas torturadas que sangravam

Devido aos muitos pecados que se faziam, na altura eram administrados diversos cursos de cristandade, procurando tornar as pessoas mais bondosas, tolerantes... caritativas...
Todos os homens que o desejassem poderiam frequentar estes cursos. Engenheiros, doutores, soldados, marinheiros, operários ou camponeses todos se podiam inscrever e ir bater com a mão no peito. Contrariamente à instância política, a religiosa era eminentemente democrática.
E, quando saiam, com as almas aliviadas e muito mais puros, tratavam-se com um "tu cá, tu lá", mesmo que antes o tratamento fosse por você ou mesmo por Sr. Doutor ou Sr. Engenheiro. Assim, ficaram conhecidos por "Curso dos Tus". 
Em determinada altura estes cursos tornaram-se extensivos às Senhoras. 
Então... 
… numa tarde em que estávamos a jogar às Damas no nosso canto e o Conde(1) se exibia ao bilhar, fazendo rodar a porta giratória da entrada do Café, entrou esbaforido o P.(2), um distinto comerciante da nossa praça estabelecido quase em frente ao adro da Igreja. Deu com o Ezequiel, o empregado de hotelaria mais paciente que alguma vez Ourém conheceu, e, entusiasticamente, afirmou alto e bom som: 
- Ezequiel, meu amigo, a partir de agora a minha mulher também é "TUa"







Notas:
(1). Seria Conde ou Duque?
(2). Abreviatura por respeito. Se querem saber a identidade, leiam as memórias do Avião
Este post foi adaptado das memórias do nosso querido Avião aqui publicadas há mais de dez anos.

Woyaya - Garfunkel



 We are going, heaven knows where we are going,
We'll know we're there.
We will get there, heaven knows how we will get there,
We know we will.

It will be hard we know
And the road will be muddy and rough,
But we'll get there, heaven knows how we will get there,
We know we will.

We are going, heaven knows where we are going,
We'll know we're there.

Um conselheiro musical pouco recomendável

Desde muito novo manifestei forte tendência para dominar as minhas preferências musicais e tentar influenciar os outros que, em geral, as não apreciavam muito. 
Ainda vivia na Rua de Castela e já tinha um belo espólio dos Beatles em EPs que fazia a malta amiga ouvir num gira-discos em formato mala de viagem e, claro, todos detestavam pois não serviam para os bailaricos que eu considerava saloios. Sim, a minha música é que era a boa...
"Lady Jane", dos Stones, é uma canção que está ligada a um daqueles episódios em que fui fértil. Imaginem que algum amigo vos pergunta:
- Que disco hei de comprar?
Isto aconteceu no terceiro ou quarto ano do curso. O Vitória Fernandes comprou um gira-discos e queria iniciar a coleção. Caiu na patetice de me perguntar. Nessa altura, ouvia-se a dita música e claro que eu lha recomendei imediatamente. Não sei porquê, esse meu amigo não gostou, ia partindo o disco aos bocados:
- Por que é que eu fui na tua opinião? Ainda tu parto na cabeça...
Para compensar o meu «mau gosto» comprou um álbum dos Credence que me obrigava a ouvir todos os dias.
O mais engraçado é que esta minha tendência para aconselhar os amigos «sem fazer concessões ao comercial» ocorreu com um outro a quem recomendei "Tubular Bells" de Mike Oldfield, aquele em que há uns quinhentos instrumentos (em momentos diferentes) a tocarem os mesmos acordes, mas, em que, lá por dentro, o homem explora todos os sons inclusivamente os que se produzem em casa de banho. Claro que mais uma vez fui censurado... 
O meu amigo Bastos acabou por trocar o disco por "Gracias a la vita" da Joan Baez.
Hoje deixo uma recomendação ao pessoal que vem ao «Estórias de Ourém»: não oiçam estas músicas… elas deprimem. É que antes apareciam como cerejas, agora não se ouve nada decente...

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