quarta-feira, setembro 04, 2019

Água por água


Água por água

Chegam duas mulheres ao restaurante. A mais nova diz: "Posso comprar uma água para a minha mãe usar a casa de banho?"

"Que estranho", disse eu à Maria João. Ela diz que não é estranho, que é o que toda a gente faz. Assim acontece que à porta dos meus 65 anos aprendo que me tenho portado mal toda a vida. A minha prática é pedir plangentemente licença para usar a casa de banho para se perceber que estou in extremis.

Um breve inquérito entre as gentes estabeleceu que a forma correcta de pedir para usar uma casa de banho é dizer: "Dá-me licença que use a casa de banho que eu já venho beber um café/uma água/uma imperial? É que estou aflito." É um quid pro quo: eu compro-lhe uma água para compensar a água do autoclismo (e da limpeza) que lhe vou gastar.

A parte bonita — que logo observei no caso das duas mulheres — é que o autorizador depois liberta o utente da casa de banho da obrigação de comprar uma água.

Esta cordialidade existe, porque ainda são muitas as bestas que entram pelos cafés e pelas pastelarias adentro e vão directos à casa de banho, sem pedir licença ou dizer "boa tarde". Será por esta razão que antigamente as casas de banho tinham uma chave que era preciso pedir? Pensava eu que era para desmotivar os heroinómanos, mas, na volta, era para as pessoas terem um mínimo de respeito.

Infelizmente há cada vez menos casas de banho públicas, mas, pelos vistos, há maneiras civilizadas de lidar com a transferência dessa responsabilidade para as pessoas que não têm nada que ver com isso: os pobres proprietários dos cafés e dos restaurantes.

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