sábado, maio 30, 2020

A inevitável paragem

Queridos amigos, chegou a hora de anunciar a efetiva suspensão de produção de novos conteúdos para o Estórias de Ourém. A próxima estória, a mais longa, se a conseguir terminar, marca o fim de um período que, para o autor, foi desafiador, divertido e gratificante pela quantidade de amigos que reuniu.
Se, por qualquer motivo imprevisto, ela não surgir no Facebook, ficam a saber que o seu conteúdo está agendado para o blog Ourem ao longo das próximas três semanas. O autor também não pode garantir a inclusão de ilustrações e a formatação final com que eram produzidos os conteúdos antes. De qualquer forma, o texto estará disponível para vos contar mais uma maravilhosa aventura do terrível João Passarinho e da fera Deolinda.
Foi pena outros amigos não se terem juntado ao grupo, pode ser que numa próxima série de estórias isso aconteça.
As razões para esta paragem têm a ver com um certo cansaço e a necessidade de sair do local onde é mais fácil e viável proceder à elaboração de posts.
O Estórias permanecerá aberto para todos postarem o que muito bem entenderem. Podemos continuar a falar uns com os outros, podemos inclusivamente discutir como poderemos prosseguir daqui a uns tempos. É preciso ter consciência que o caminho por onde viemos já estava um pouco saturado, há que mudar a abordagem.
E agora um grande abraço para todos pelo apoio que deram ao Estorietas e pelo imenso gozo que algumas horas proporcionaram.

sexta-feira, maio 29, 2020

Um braço ergue-se acima dos destroços

Noite cerrada.
O silêncio abateu-se sobre o local onde existira uma cabana.
Agora, não passava de um monte de destroços, depois de ter sido o cenário de um estranho caso passional.
Tudo parecia parado, morto…
Parecia que os ventos, as aves e a restante bicharada se tinham posto de acordo para se calar.
Mas eis que no meio desse silêncio tétrico, algo parece ganhar vida.
Naquele escuro tenebroso, uma ou duas telhas começam a mover-se. E, de repente, uma mão, um braço aparecem. A vida voltava à cabana…
Pouco a pouco, uma figura começou a movimentar-se, a levantar-se lentamente. E o corpo da Deolinda surgiu do meio dos destroços.
«- Malvados! Destruíram tudo! Malvado Estorietas…»
Procurou algumas coisas suscetíveis de recuperar.
«Ainda me aparecem aí com a polícia. Tenho de me pirar. Mas voltarei… juro que voltarei para me vingar. Aquele Passarinho duma figa vai pagar-mas todas. E a lascarina do Castelo…

*

Rompia a manhã quando o jeep da GNR chegou às imediações da casa da Deolinda a qual tinha sido cercada por um cordão policial.
- Guarda Ernesto, procure se existe algum corpo no meio dos destroços…
A busca foi infrutífera.
- Ninguém, não há ninguém, meu comandante.
- Então, essa rapariga selvagem fugiu. Esperemos que não volte.
E os guardas voltaram para Ourém onde deram notícia dos resultados da busca aos nossos amigos…
«-Talvez a volte a encontrar – pensou o João. – E então não me escapará. Jejjjejjjjjjejjjejejej»





FIM

quinta-feira, maio 28, 2020

A força do prisioneiro

Conheceram então a fúria selvagem da rapariga. O João foi o primeiro. A forquilha acertou-lhe no traseiro, ele sentiu uma dor lancinante e só pensou em se pirar dali para fora. Em seguida, a rapariga atacou a Mari’mília acertando-lhe na cabeça com uma pancada fenomenal. Vendo isto, as outras desataram a fugir.
Lá dentro, o Estorietas ouviu as vozes e o ruído da luta.
«Os meus amigos… – murmurou – Ela está a maltratar os meus amigos…»
Como por encanto, sentiu-se a recuperar as forças. E fez monumental esforço para se libertar enquanto os gritos continuavam lá fora. Não podia consentir que os seus amigos fossem maltratados.
Naquele momento, o Estorietas faria inveja ao Sansão quando derrubava o templo. Com monumental força, conseguiu que a coluna desse de si, e o telhado começou a inclinar.
Lá fora cessara a luta. A Mari’mília estava caída no chão e os outros corriam para as bicicletas para se porem a caminho de Ourém com o João a sangrar do traseiro. Tinha-lhe saído cara a tentativa de conhecer a Deolinda.
Esta entrou em casa no momento em que o Estorietas atingia o seu objetivo. De um momento para o outro, a coluna deu de si, o telhado caiu com estrépito e uma telha atingiu a Deolinda que desmaiou. O Estorietas refugiou-se debaixo de uma mesa, depois, quando tudo terminou saiu de casa.
Viu a Mari’mília caída e amparou-a.
- Vamos, fujamos daqui.
Ela deixou-se envolver e ele conduziu-a à bicicleta. Depois, montou-a à sua frente e foi conduzindo com alguma dificuldade até Ourém. Mas sentia-se compensado sentindo o perfume dela.
Pouco depois encontravam-se com os amigos e o jeep da GNR.
- Eles estão salvos – gritou a Ciete.
- Mas precisam de assistência hospitalar. Vamos regressar a Ourém. Estes três jovens feridos vão no jeep e vamos trazer reforços para ver o que se passou na cabana.
- A cabana está derrubada e a Deolinda sepultada com ela – disse o Estorietas.
- Estabeleceremos uma cerca ao local e, amanhã, veremos como tudo está. Agora é o momento de descansar e tratar dos feridos.
E assim o Estorietas pôde voltar à sua terra e ao convívio com os seus amigos de sempre…


E a fera? Teria perecido sob o telhado caído?

quarta-feira, maio 27, 2020

Frente a frente com a fera

Chegaram agitadas a Ourém e procuraram os outros miúdos.
- A Ciete descobriu que o Estorietas está lá sequestrado. Que devemos fazer?
- Eu acho que o melhor é fazermos uma visita inesperada à Deolinda – disse o João. – Estou ansioso por conhecê-la e, decerto, não será difícil dominá-la.
- Mas já pensaram – redarguiu a Teresinha. – que o Estorietas pode querer estar ali com ela? Quem são vocês para dizer que ele está sequestrado?
- Então por que não apareceu? – perguntou a Mari’mília. – Que receio tinha de que o víssemos?
- Eu acho que devemos ir já. – dizia o João, ardendo por ver a Deolinda. – A Teresinha pode acompanhar-me e a Luzinha pode avisar a GNR para qualquer coisa.
- Era muito mais giro sermos nós a salvá-lo em vez da GNR – protestou a Ciete.
O João decidiu-se.
- Vamos os quatro e a Luzinha só avisa a GNR passada meia-hora. Isso dá-nos tempo para o libertar. Embora…
Partiram por ali acima levando lanternas pois a noite não tardaria muito a cair enquanto a Luzinha se dirigiu a pé para cumprir a sua parte da missão.
Quando chegaram à cabana, a Mari’mília afirmou:
- Olhem! Há luz naquela janela. Vamos espreitar…
Deixaram as bicicletas e foram por ali fora tentando não fazer ruído. A Ciete foi a primeira a aproximar-se da janela. Mal olhou lá para dentro, recuou, sufocando um grito de terror.
- Oh! Meu Deus! Já viram aquilo?
O João espreitou logo. Lá dentro, o Estorietas estava amarrado à coluna central, meio adormecido, com todo o ar de ser maltratado. Ao lado dele estava uma tela completamente partida, despedaçada, espalhada pelo chão.
- Não a vejo, não a consigo ver – resmungava o João.
Mas o destino iria fazer-lhe a vontade.
Ainda nem todos se tinham apercebido do estado do Estorietas quando uma voz feminina, mas bastante dura, soou por trás deles.
- Quietos todos! Isto é uma invasão de propriedade. Vou dar cabo de vocês.
Voltaram-se aterrorizados. À sua frente estava uma Deolinda furiosa com uma forquilha na mão e pronta a atacar.
O João ficou abismado.
«-É mais bela do que eu pensava.»


E agora? Será que a Deolinda vai atacar os nossos amigos?

terça-feira, maio 26, 2020

A camisa delatora

No dia seguinte, pelas quatro da tarde, a Mari’mília e a Ciete saíram do colégio, partindo na direção do Olival. A meio caminho, a Ciete já dizia:
- Bolas! Isto custa a subir…
- Tu és uma mulher de coragem. Anda, faz mais um esforço.
A subida terminou e puderam moderar um pouco o esforço. Mais abaixo a Mar’mília disse:
- Olha! Está aqui o caminho para casa dela.
Pouco depois, estavam em frente à cabana. Viram a bicicleta da rapariga encostada à casa. Do lado direito, uma corda sustinha alguma roupa estendida a secar. No lado esquerdo, encontrava-se um automóvel já com alguma idade.
Da chaminé da casa, saia fumo e um belo cheirinho a comida invadia o ar.
- Hum! Deve estar a cozinhar.
Mas, entre os vidros, a Deolinda já as vira e preparou-se para as receber. Quando bateram à porta, ela demorou um bocadinho a perguntar:
- Quem é?
- Pessoas amigas - responderam.
Ela abriu a porta e saiu, não as mandando entrar.
- Olá. Não me lembro de as conhecer. O que querem dos meus domínios?
- Eu conheço-te. Estive no mesmo casting que tu no salão da banda.
- Ah! Já me lembro. És a garotinha que desmaia perante uma cena mais forte da vida real.
A Ciete ruborizou-se, mas a Mari’mília atalhou a conversa:
- Não é isso que interessa. O nosso amigo Estorietas desapareceu e andamos à procura dele. Sabes alguma coisa?
- Eu? Pfffff! Nunca mais quero ver esse crápula. Não sei nem quero saber.
- Pronto. Mas se souberes alguma coisa informa-nos. Este cartaz tem as indicações para esse efeito. Nós vamos continuar as buscas.
Ela recebeu o cartaz e despediu-as.
- Ok! Espero que tenham sorte com a busca…
As duas miúdas iniciaram o caminho de regresso e ela voltou ao interior da cabana depois de fechar a porta:
- Ouviste, Estorietaszinho? As tuas amigas já te procuram. A lagartixa do castelo e a serigaita de Peras Ruivas… mas eu enganei-as bem. Agora vou tirar-te a mordaça.
Com cuidado, tirou-lhe a mordaça com que o mantivera calado e foi ver o cozinhado.
- Hoje, vais ter um jantar de reis.
Entretanto, cá fora, as duas miúdas chegavam à estrada:
- Voltemos a Ourém – dizia a Mari’mília – Não conseguimos nada…
- Tem calma, não te precipites. Ela tentou enganar-nos, mas não conseguiu.
- Mas que descobriste tu, minha cara Mrs. Watson?
A Ciete riu-se e explicou:
- Ela tinha roupa estendida cá fora, não é verdade? E a camisa que o Estorietas tinha vestido no dia do desaparecimento estava lá. Portanto, ela sequestrou o Estorietas.
- Que horror! Que vamos fazer?
- Vamos a Ourém falar com os outros e pedir a ajuda deles. Esta noite ainda vamos voltar cá… mas sem ela saber.
- Ainda bem que vieste. Eu nunca me aperceberia desse pormenor. De certeza, vais para investigação criminal.
Daí a pouco desciam a caminho de Ourém.

segunda-feira, maio 25, 2020

Prisioneiro pela arte

A bela Deolinda circulava na sua bicicleta na estrada em direção ao Olival e, quinhentos metros após o cruzamento definidor das direções Pinheiro / Caxarias, meteu por um caminho estreito detendo-se frente a uma cabana relativamente recente toda feita em madeira e com algumas janelas de vidro.
Pegou nas compras, abriu a porta de entrada e saudou:
- Então como está o meu lindo Estorietas?
No centro da sala, com mais de trinta metros quadrados, podia ver-se o Estorietas em estado andrajoso. Estava atado à coluna central da cabana, em tronco nu. Não podia mover os pés e a própria cintura estava rodeada por cordas, permanecendo os pulsos amarrados atrás do tronco.
Ela aproximou-se e deu-lhe um beijinho evidenciando alguma ternura:
- Estorietaszinho, sabes o que te trouxe? Olha…
E mostrou-lhe as telas e o material de pintura.
- Sabes o que vais fazer à tua pombinha que gosta tanto de ti? Vais fazer o retrato dela. Tal como fizeste da outra… também quero parecer como a Adjani…
- Não tens hipótese – redarguiu ele com voz rouca – És loura e a Adjani tem uns belos cabelos negros.
Ela esbofeteou-o.
- Eu posso ser o que quiser, ouviste?
Era uma selvagem aquela rapariga, uma selvagem perigosa.
- Se queres que te liberte, vais pintar-me e fazer de mim uma artista de classe.
- Eu pinto-te, mas serás mais uma Bardot, uma France Gall ou uma Meg Ryan. Mas nunca se parecerá contigo. A arte é uma representação do real sublimada por uma introspeção latente. E tu nunca conseguiste olhar para dentro de ti…
Pensando que ele estava a ficar maluco, ela foi buscar um cavalete, colocou lá uma das telas e aproximou dele o material de pintura.
- Estorietaszinho, agora vou libertar-te as mãos para poderes cumprir o nosso contrato. Não faças disparate, senão o castigo ainda será maior…
- Está bem, venceste.
Ela libertou-lhe as mãos e foi pôr-se em posição, sentada numa mesa um pouco em frente dele. E ele pintou aquela rapariga do modo que a via naquele momento.
Passada meia hora, disse:
- Pronto, já está…
Ela levantou-se felina, contente e aproximou-se para ver a obra. Mas, ao contemplá-la, soltou um grito de horror.
- Malvado!!! Estás a gozar comigo?
Na tela, estava desenhado um dos bichos mais feios que alguma vez tinha visto. A Deolinda não resistiu à ira. Pegou na tela e, mais uma vez, o Estorietas sentiu na cabeça o peso de uma das suas obras.
- Não vais sair daí, não te liberto até que me desenhes como fizeste à lagartixa do castelo.
Voltou a amarrá-lo. O Estorietas preparou-se para passar mais uma noite sem comer e sem descansar. Nem tinha força para pensar como poderia libertar-se daquela fera…


Pobre Estorietas… Será que alguém o poderá salvar?
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