sexta-feira, fevereiro 24, 2006

O som do silêncio



Caminhávamos em pequenos grupos a partir do Largo da Igreja na direção da cruz do Regato. Aí, uma pequena inflexão para a direita fez-nos tomar o caminho para o nosso objetivo. Pouco depois, chegámos a uma zona de pinhal que resolvemos atravessar para atalhar.
Curiosamente, nos arredores de Ourém, por essa altura, parecia poder ouvir-se o silêncio. Aconteceu-me várias vezes: ao chegar a Peras Ruivas, a caminho do Castelo... uma sensação que não existe nada a perturbar a nossa quietude a nossa capacidade concentração, um envolvimento que nos parece dizer que tudo depende da nossa ação.
Íamos bem municiados. Gira-discos, discos, sandes, bebidas... Já não me lembro quem eram os desgraçados que transportavam tudo. As meninas não eram com certeza, mas o certo é que as coisas chegavam ao seu destino e hoje parece que ninguém recorda essa carga com azedume.
A certa altura, o caminho tornou-se mais íngreme, mas ao fim de algum tempo lá chegámos.
A visão de Ourém, enquanto os preparativos dominavam as ações, a partir dos terraços das torres era única, fabulosa.
Uma sessão do “Lá vai alho” não resultou muito bem, traduzindo-se numa monumental cabeçada do Rui Leitão nesta mãe de aluguer que foi projetada contra a parede.
Mas tudo passou quando se ouviu:
- Meninos, vamos dançar...
Descemos para o local do bailarico onde elas já estavam e a música já se fazia ouvir...
E que belo era aquele som que eu nunca tinha ouvido... nem me parecia ser possível resultar de uma evolução da música anterior que já conhecíamos. Aquelas vozes calmas que nos pareciam trazer o Som do Silêncio... Era a primeira vez que ouvia aquela canção.
- Quem são? – perguntei.
- Simon and Garfunkle – respondeu o Jó.
Aquele dia ficou-me inesquecível. Foi passando, mas o som daquela canção não me largava...
Ao fim da tarde, tudo foi devidamente arrumado e regressámos a Ourém. Eis porque há uns dias (já bastantes) vos disse: “nós tivemos o privilégio de conhecer certas maravilhas e vivê-las no momento em que elas surgiram...”.


quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Sound of Silence


Hello darkness, my old friend,
I've come to talk with you again,
Because a vision softly creeping,
Left its seeds while I was sleeping,
And the vision that was planted in my brain
Still remains
Within the sound of silence.

In restless dreams I walked alone
Narrow streets of cobblestone,
'Neath the halo of a street lamp,
I turned my collar to the cold and damp
When my eyes were stabbed by the flash of a neon light
That split the night
And touched the sound of silence.

And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more.
People talking without speaking,
People hearing without listening,
People writing songs that voices never share
And no one dare
Disturb the sound of silence.

"Fools" said I, "You do not know
Silence like a cancer grows.
Hear my words that I might teach you,
Take my arms that I might reach you."
But my words like silent raindrops fell,
And echoed
In the wells of silence

And the people bowed and prayed
To the neon god they made.
And the sign flashed out its warning,
In the words that it was forming.
And the sign said, "The words of the prophets
are written on the subway walls
And tenement halls."
And whisper'd in the sounds of silence.
Manias

Acabo de ler a resposta daquele maniento que dá pelo nome de Sérgio Ribeiro (o tal que está sempre com manias parvas). E fui surpreendido por um texto engraçadíssimo do Pedro Gonçalves em comentário ao mesmo.
O Sérgio tem outra mania: sublinha e valoriza sempre a amizade como se pode detectar logo à entrada do texto...
A questão das manias não pode ficar por aqui. De acordo com o Sérgio, o retorno a Cesário Verde é constante. Então, vamos até lá e procuremos se ele tem algo sobre o tema:

Manias!

O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, -- hoje uma ossada, --
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.

Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

O Simão e o Garfunkel



Simon era o intelectual, o génio responsável pela concepção. Garfunkel era detentor de invejáveis qualidade vocais bem visíveis em canções como "Bridge over troubled waters".
A união e colaboração foram obviamente sujeitas a espectacular sucesso. A separação levou a que nenhum deles conseguisse a visibilidade anterior, pois sentia-se que a qualquer faltava algo...
Os meus amigos encontram aqui uma ligação aos albuns.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Voz activa

Canta, poeta, canta!
Violenta o silêncio conformado.
Cega com outra luz a luz do dia.
Desassossega o mundo sossegado.
Ensina a cada alma a sua rebeldia

Miguel Torga
Mini Antologia Poética do OUREM

Como noticiámos, estamos a organizar uma mini antologia poética do nosso blog que será integrada no segundo volume do estórias. Acho que já temos excelentes poemas e o espaço também não é muito.
Mas gostaríamos de enriquecê-la.
Com alguém de Ourém. E aqui deixamos o apelo...
Como sabem, a Carmen Zita é filha do Armando Honório, um dos distintos do Poço, está portanto indissoluvelmente ligada ao nosso convívio anual. Ela publicou um belo livro de poemas na Som da Tinta há pouco mais de um ano.
Venho aqui pedir-lhe, publicamente, frente À magnífica assembleia do OUREM, um inédito para o nosso livro. Poderá deixá-lo no comments e eu postarei na semana que se inicia em 5 de Fevereiro. Deixo-lhe o mote: tristezas, mágoas... (não a tristeza ou a mágoa em abstracto) que tem a ver com a fabulosa canção que nessa semana nos acompanhará. Podem tentar adivinhar qual será, mas garanto-vos que poucos a conhecerão...
Manias: ainda muito silêncio

Eu respondi logo no próprio dia ao desafio do Ric Jo. Fui para o tal santo descanso.
Era engraçado alguém estudar o comportamento humano perante estes desafios. O Sérgio respondeu a dizer que ia responder, mas deve estar a preparar um tratado tão completo que nunca mais se lembrou. O Dinis respondeu, mas interrompeu a cadeia. O Abdegas diz que vai responder aqui (estamos todos à espera). O Fred, guardião do Castelo, desapareceu. E o nosso amigo Santa Cita nem os comentários no seu blog lê...
Enfim, uma taxa de insucesso elevadíssima
A aula de Matemática que nunca houve no CFL
A Dra. Nazaré Nunes terá sido talvez um dos melhores professores que encontrei até à entrada na Universidade. A sua influência terá sido de tal ordem que gente amiga confessou-me ter seguido uma carreira nessa área devido ao gosto que as suas aulas lhe deixaram. Eu também nunca a esqueci - a vocação teria aí uma perninha - apesar de me ter vendido ao poder dos cifrões. Imagino o que seria uma das suas aulas se nos tivesse de explicar a Torre de Hanói.
Dir-nos-ia:
Em 1883, o matemático francês Édouard Lucas inventou o famoso puzzle das Torres de Hanoi , também conhecido pelas Torres de Brahma e contado em forma de lenda.
E não se escusaria de recorrer à explicitação dessa lenda:

No grande templo de Brahma em Benares, numa bandeja de metal sob a cúpula que marca o centro do mundo, três agulhas de diamante servem de pilar a sessenta e quatro discos de ouro puro.
Incansavelmente, os sacerdotes transferem os discos, um de cada vez, de agulha para agulha, obedecendo sempre `a lei imutável de Brahma: Nenhum disco se poderá sobrepor a um menor.
No início do mundo todos os sessenta e quatro discos de ouro, foram dispostos na primeira das três agulhas, constituindo a Torre de Brahma. No momento em que o menor dos discos for colocado de tal modo que se forme uma vez mais a Torre de Brahma numa agulha diferente da inicial, tanto a torre como o templo serão transformados em pó e o ribombar de um trovão assinalará o fim do mundo
.
Estabeleceria a relação da lenda com o problema matemático:

A versão original das Torres de Hanoi consiste em três postes e oito discos de diâmetro 1; 2; ...; 8, inicialmente dispostos no primeiro poste por ordem decrescente do diâmetro formando uma estrutura cónica semelhante à da figura 1. O objectivo do puzzle consiste em formar a torre no terceiro poste, movendo um disco de cada vez, não sendo permitido colocar um disco maior sobre um menor.
E, pela certa, permitir-nos-ia também praticar como neste exemplo.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Assalto ao castelo

Manhã magnífica vista aqui do gabinório, sol radiante, tudo convida a usá-la para postar para os amigos ourenenses...
Mas postar o quê?
E se fizessemos uma visita ao castelo?

Até podemos levar música, animais de estimação, dormir uma sesta pelo caminho após excelente refeição...
Tudo convida ao movimento, à fruição. Subir, subir aquela encosta... procurar encontros inesperados... deixar a nossa memória viver o que hoje nos é vedado... imaginar o que seria o presente se, no passado, a direcção fosse outra...
Mas eis que algo nos contraria. Da torre mais alta do castelo, o malvado guardião, apoiado em seus muchachos, barra-nos o caminho...

Desistimos por agora. Ficará para outra altura. Afinal, parece que o dia não está assim tão bom. Ao longe, já vejo algumas nuvens.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga
Mais uma vez silêncio para Ourém

O governo abriu concurso para a construção de 15 centrais termoeléctricas de biomassa florestal.
Sabe-se do monumental interesse desta forma de energia renovável. Curiosamente, Ourém e Leiria, tão afectadas e empobrecidas pelos últimos fogos florestais, sendo Ourém um concelho com uma das mais densas manchas florestais, aparecem esquecidas...
O mais perto de nós estará em Santarém (anúncio) com uma central das ditas pequenas(programa e condições).
Estará o governo a penalizar zonas marcadamente laranja?
Serão estas tão inábeis que não conseguem convencer o executivo de algo estrategicamente vital?
Acerca do nosso projecto para 2006

Como sabem, estamos comprometidos desde Novembro de 2005 com o segundo volume do estórias suportado na edição de um disco revivalista sobre a música que obrigava os amigos oureenses a ouvir...
O texto que será elaborado nessa área, para além de coisas já conhecidas sobre a nossa relação com o vinil nos anos de sessenta e setenta, conta com estórias não publicadas antes e ...
- a Teresa prontificou-se a escrever um texto sobre o Luís Nuno que começa a ser importante ela me fazer chegar (Teresa, quebra o teu silêncio...) e
- estou a organizar, como já devem ter notado, uma mini-antologia poética do OUREM: textos muito simples, curtos, mas profundos de que gosto muito e que darão outra qualidade ao nosso livro ...
Quanto às músicas, posso dizer que já tenho na minha posse todo o material a utilizar e de que semanalmente será divulgado uma unidade (com eventual aceleração, pois são tantos...). Temos ainda intenção de realizar a primeira semana do fado do OUREM (lembram-se daquela canção com que o Ferraz nos torturava na década de sessenta?) e uma ou duas semanas dedicadas à canção de intervenção...
Enfim, tanta coisa... assim tenha engenho e arte...
Torre de Névoa
Subi ao alto, à minha Torre esguia,
Feita de fumo, névoas, e luar,
E pus-me, comovida, a conversar
Com os poetas mortos, todo dia.
Contei-lhes os meus sonhos, a alegria
Dos versos que são meus, do meu sonhar,
E todos os poetas, a chorar,
Responderam-me então: "Que fantasia,
Criança doida e crente! Nós também
Tivemos ilusões, como ninguém,
E tudo nos fugiu, tudo morreu!..."
Calaram-se os poetas, tristemente...
E é desde então que eu choro amargamente
Na minha Torre esguia junto ao céu!...

Florbela Espanca

domingo, fevereiro 19, 2006

CDUporOurém quebra o silêncio

E logo com a publicação de uma intervenção deste vosso blogger servidor na AM em Ourém.
Contrariamente ao que pode depreender-se de algumas posições expressas no Castelo relativamente a esta Assembleia não tenho da mesma qualquer aspecto negativo. Todos ou quase todos foram impecáveis comigo em termos de relacionamento. São os eleitos do povo na proporção que este achou correcta, compete aos descontentes lutar por melhor resultado.
Mas uma coisa que me entristece é, por exemplo, o documento transcrito naquele blog ter matéria relevante em termos de crítica, matéria que deveria agitar a consciência das pessoas e existir monumental silêncio sobre o mesmo.
Serão consequências de cego seguidismo?
Sounds of silence

E será que algum dos meus amigos já experimentou ouvir o som do silêncio? Se conseguiu terá passado por uma experiência bem única que, hoje, já não terá oportunidade de repetir.
A verdade é que quem viveu em Ourém na década de 60 teve esse privilégio. Ouviu o som do silêncio nas suas múltiplas manifestações. Uma ocorreu na torre mais alto do nosso castelo. Breve vos contarei como...
E, se me lembrar, quero recordar-vos alguns sons no silêncio desse tempo...
A semana, essa, será dedicada a torres, ao silêncio e a outros motes que venham em socorro desta terrível ausência de inspiração

Oiça Sounds of Silence
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