sábado, outubro 26, 2019

A aula de Informática no CFL


Isto hoje está muito murcho. Por isso, vou propôr-vos um desafio…
Imaginem-se de novo no CFL, uma escola magnífica com os mais modernos meios informáticos à vossa disposição. O Dr. Armando entra na sala e diz:
- Preciso de descobrir uma menina na Internet. Procedam assim: Vão ao Google; na caixa de diálogo escrevam: menina carrinhos choque; desencadeiem a pesquisa; saltem para imagens; descubram a imagem que deu origem ao post do Estorias. Estou ciente que a encontrarão sem o horroroso disfarce que o Estorietas lhe aplicou: ela é loira, bonita, talvez um pouco gordinha.
Parou para respirar e tirar uma baforada do cachimbo.
- E agora o melhor do desafio: como é que o Estorietas converteu a menina que descobriram no esboço que postou?
Grande Dr. Armando! Sempre à frente no tempo…

A menina dos carrinhos de choque

Sempre que chega esta altura do ano, lembro-me dela, da menina que um dia veio à nossa velhinha Vila Nova de Ourém, integrada na equipa de suporte aos carrinhos de choque.
Era loira, linda, bem-feita e assaz simpática.

Quando a sua voz apregoava as sucessivas viagens, todos parávamos para a escutar. E um fenómeno curioso passou a desenrolar-se na nossa terra. Em vez de pagar a viagem dentro do carrinho a algum canastrão que saltasse para a lateral do mesmo, os jovens, sedentos de paixão, faziam bicha para ir comprar a senha ao pequeno balcão em que ela estava, comprando uma de cada vez, para assim a verem mais vezes, para beneficiarem do seu sorriso, e para tentarem uma conversa…
Ao suave toque da sua mão para entregar a senha ou o troco, sentiam o coração a derreter. Nunca os carrinhos de choque terão tido tanto sucesso.
Mas um dia tudo mudou…
A linda menina saiu do seu balcão e acompanhou um dos nossos numa viagem de carrinho. Que lata a daquele mânfio! Tinha conquistado a menina com a sua conversa de cascavel fedorenta.
A partir de então, nunca mais houve bichas frente ao balcão dos carrinhos. Agora ninguém gastava dinheiro em viagens, entretendo-se a contemplar, invejoso, aquele romance que durou até ao final da Feira Nova. De manhã, à tarde, à noite, a menina estava sempre com ele, um sujeito monopolista, absorvente, devorador…
Curiosamente, nesse ano, os carrinhos permaneceram mais uma semana do que era seu costume. Depois, foram embora, levando com eles a menina a qual nunca mais voltou à nossa terra, deixando esta maravilhosa recordação acerca da sua passagem…

Será que ainda alguém se lembra dela? Tenho a certeza que muitos recordam o seu nome… mas nenhum terá coragem para o pronunciar.

sexta-feira, outubro 25, 2019

O dinheiro que um passarinho forjou

Nas férias, passávamos muitas tardes e noites a jogar King no Café Avenida. Ninguém o sabia, mas o jogo era a dinheiro. Eu era tão viciado naquilo que um dia alguém disse:
- Qualquer dia dá 50 escudos ao filho para depois lhos esfolar ao jogo.
Mas havia outro bem mais viciado…
As perdas do famoso João Passarinho estavam a tornar-se volumosas. Claro que nós lhe dávamos crédito, mas a conta começava a ser tão elevada, já a atingir os milhares de escudos, que um dia tivemos de lhe dizer:
- João, se não pagas, deixas de jogar connosco. Há parceiros que querem entrar para ocupar o teu lugar e têm dinheiro para pagar.
O João ficou abalado. Esteve três semanas sem aparecer e, um dia, chegou todo sorridente.
- Quero ocupar o meu lugar na mesa de jogo.
E distribuiu profusamente dinheiro por todos nós. Eu recebi umas quatro notas de cem, o Kansas uma de mil e o Jó uns trocos.
Fiquei todo contente a pensar no que haveria de fazer com aquele dinheiro que certamente seria para comprar livros de BD e discos. E comecei a gastar as notas…
Ao pagar o Mundo de Aventuras, o Adelino do Central olhou-me com mais atenção.
- Ó Luís, esta nota tem algo de estranho. Não sei se lha posso aceitar…
- Mas porquê? Eu não vejo nada de especial…
- É aqui nesta zona e acho que o papel é demasiado mole quando comparado com o usual.
Ele tinha razão. Vendo bem, aquela nota era mesmo uma cópia de má qualidade. Parecia desenhada à mão e o papel nada tinha a ver com o das notas normais.
E a cena foi-se repetindo com os outros elementos do jogo no Avenida. Começámos a achar estranha a situação até que um dia fomos chamados à Polícia. Aí não pudemos negar a situação: o João tinha-nos pago com dinheiro falso.

Alguns dias depois, a casa onde um dia morara o Dr. Preto, a casa onde ainda morava a Dra. Júlia, a casa onde por vezes o João Passarinho passava férias foi invadida por forças policiais que ali descobriram equipamento especial para proceder à contrafação de notas. 
Ainda vi o João, algemado, a ser levado para os calaboiços. Tive pena dele ao pensar que nunca mais o deixavam sair. E não era mau rapaz, apesar de tudo...
Mas o prestígio dos seus históricos habitantes tudo abafou. Ninguém soube que jogávamos a dinheiro no Avenida, uma formidável caução tirou o João Passarinho da prisão e todos passámos a ter muito mais cuidado com o dinheiro com que ele nos pagava as dívidas.
Mas uma coisa vos garanto: ele pagava… era um homem de honra, de palavra… 

quinta-feira, outubro 24, 2019

A queda da pera

Cheguei de Lisboa com a minha nova pera, fruto de horas de estudo e subversão e fui exibi-la para o Avenida com assinalável êxito.
À saída, o Zé Mineiro, pai do ZéQuim, não se calava em elogios.
-É pá, Luís Manuel! Isso é que é uma pera! E tem mosca e tudo... vê-se logo que és um grande estudante.
Ao nosso lado, o ZéQuim, cerca de meio metro mais para cima de qualquer de nós, acompanhava-nos naquele passo que nos dirigia para nossas casas e olhava a biqueira dos sapatos para estar mais atento à conversa.
Lá chegámos à Rua Santa Teresinha, eles subiram as escadinhas que davam acesso à sua casa, eu dirigi-me para a minha.
Mas, aí, a recepção já não foi tão calorosa.
- Vais imediatamente cortar essa porcaria. Isso não são coisa para nós, humildes...
Eu bem procurei argumentar que os tempos estavam a mudar, que todos tinhamos direito a usar o que quiséssemos. A autoridade paternal não se deixou convencer: aquilo não era para nós. E, de repente, recordei aquela mão enorme que uns quinze anos antes vira descer na minha direcção e preferi mudar de estratégia.
Daí a dias voltaria a Lisboa, com uma semana de mau aspecto e quinze dias de comichões conseguiria a reconstrução.
E a pera caiu...

quarta-feira, outubro 23, 2019

O guarda diligente

Muitas das nossas noites eram passadas num café da Buenos Aires que apelidámos de Gordo devido ao volume de um dos proprietários. Daí, destaco as famosas sandes mistas de um conteúdo indescritível feito de queijo, fiambre, pickles, pasta de fígado e outras iguarias.
Bem comidos e bebidos, descíamos o Quelhas, falávamos, caminhávamos aproveitando a bonomia da noite.
O cigarro era uma boa ajuda.
Mas, naquela noite, faltaram-me os fósforos e lembrei-me de os pedir a um polícia de guarda à Emissora Nacional.
- Senhor Guarda, tem lume?
Ele virou-se para nós, apontou a metralhadora e só disse:
- A minha última palavra é dispersar!!!
Aí fomos nós pela Travessa do Pasteleiro. O homem não era para brincadeiras e estava bem ensinado…

terça-feira, outubro 22, 2019

O impostor


No primeiro ano das Económicas, fui conhecendo novas pessoas. O meu colega de quarto chamava-se Joaquim Morais e tinha um grande lote de conhecidos nas proximidades do Quelhas. Claro que, ao fim de pouco tempo, já o acompanhava até à casa destes.
Uma noite, fomos ter com um tal Vasco. Uma espécie de manager de meninas carentes de companhia que passava o tempo agarrado ao telefone.
- Arranja-me uma garota para eu passear com ela – pediu-lhe o Morais.
O Vasco não se fez rogado. Era bem falante, tinha boa figura e tinha uma invejável lista de garotas. De maneira que lá cantou a canção do bandido a uma série delas.
- Sabes? O meu amigo Morais é de Bragança, chegou agora a Lisboa, não conhece ninguém, precisava de alguém que o orientasse pela cidade.
Nenhuma estava disponível, até que uma se prontificou a tão piedoso papel. O Vasco combinou tudo, deu os devidos pormenores à pequena, incluindo o número de telefone da casa onde estávamos hospedados e ficou combinado que ela o levaria a uma matiné dançante num boite.

***

Jantava-se na Rua Miguel Lupi, junto a Económicas e, de repente, tocou o telefone. Era ela…
- O senhor Morais ao telefone – disse a dona de casa.
Ele lá foi e quando voltou um sorriso iluminava-lhe a cara.
- Era a Lena. Domingo à tarde, vou com ela dançar para o Calhambeque.
Cheios de inveja, lá vimos o ar altaneiro dele. Sempre à frente com uma pequena para ir dançar… e nós outros ali a chuchar no dedo.
Os dias foram passando e a data do encontro cada vez mais próxima. O problema é que, quando o dia chegou, o Morais não estava em condições de se apresentar. Uma crise de ansiedade apoderou-se dele.
- Luís, não posso ir. Tens de ir tu… Não posso deixar o Vasco mal visto.
Bonito serviço aquele! O primeiro encontro com uma miúda em Lisboa a fingir que era outro.
E lá fui em fatinho domingueiro direito à rua Aquiles de Monteverde para uma morada junto à Portugália. Ela não demorou a aparecer. Era morena, bonita, bem feita, talvez um bocadinho forte…
Feitas as apresentações, surgiu a inevitável questão:
- Achei a sua voz um pouco diferente…
- Estava um bocadinho constipado.
E dançámos, dançámos, dançámos. O Calhambeque era um ambiente escuro, com muita bebida que eu enfrentava pela primeira vez. Mesmo assim, tudo correu bem, embora a miúda parecesse um pouco nervosa.
À saída da boite, quem havia de aparecer? A Luzinha…
- Olá Luís, estás bom? Então por aqui?
- É verdade. Apresento-te esta amiga…
- Então, tens ido a Ourém…?
- Não, já há algum que não estou por lá…
A Luzinha foi-se e veio a inevitável pergunta:
- Não me tinha dito que era de Bragança? O seu nome não é Joaquim?
- Efetivamente, sou de Bragança, mas muitas vezes faço férias em Ourém, onde existe um grupo excelente de que a Luzinha faz parte. Por outro lado, chamo-me Joaquim Luis Morais… Como não gosto de Joaquim, os amigos tratam-me por Luís, é mais breve.
Grande aldrabão! Sempre com pinta para a desculpa rápida…
Mais à frente, como por acaso, encontrámos a mãe dela.
- Mãe, venha conhecer o Joaquim Morais…
- Muito prazer, gosto de saber quem acompanha a minha filha.
E fomos a pé até casa da Lena. Houve mais alguns encontros, bastante aproximação...
Um dia, aquela confusão de nomes e de terras criou o desenlace fatal.
- Lena, tenho de dizer-lhe uma coisa…
Ela ficou ansiosa, pensando numa declaração de amor. Mas o que ouviu deixou-a gelada.
- O meu nome é… e sou de Ourém…
Não sei o que ela pensou. Só a vi partir a toda a velocidade, sem eu perceber porquê tanta irritação.
Oh! Como ela ia triste. Como a fiz sofrer…
Nunca mais a vi.


segunda-feira, outubro 21, 2019

Oração do desastre anunciado

O primeiro ano em Económicas foi uma espécie de anúncio do desastre.
A passagem por Leiria já não tinha sido famosa com as notas a caírem de forma abrupta, alguns disparates pouco significativos e uma intensa fixação numa garota, o que terá levado um dia o Dr. Armando a afirmar: «Ele tinha obrigação de ter notas muito melhores».
Em Lisboa, enfiado num local onde ao princípio não conhecia ninguém, sem gostar da primeira imagem colhida do curso escolhido, surgiu de imediato a questão: «o que é que hei de fazer para isto passar o mais depressa possível?». 
E em breve encontrei a solução: de manhã as aulas e, à tarde, uma passagem alternada por dois históricos lugares de projeção de filmes: O Jardim Cinema, a meio caminho entre a Estrela e o Rato, que se tornava notado por umas magníficas e enormes cadeiras de verga que rangiam após qualquer movimento e o Cinearte em Santos. Qualquer dessas duas salas passava sempre dois filmes. Claro que as fitas não eram grande coisa: escaramuças do Kirk Douglas, melodramas do Elvis e coisas para rir do Jerry Lewis; com um bocadinho de sorte, uma fita de cow-boys com o John Wayne ou o Gary Cooper.
À noite, ida ao café e estudar um pouco, mas o pensamento em Leiria ou em Ourém não permitia que o aproveitamento fosse satisfatório. De vez em quando, compensava a solidão com a escrita de cartas. Mas a verdade é que a coisa foi resultando, a vinda nas férias a Ourém atenuava o sentimento de perda provocado pela ausência, novos conhecimentos surgiram e no final do ano passei ao seguinte com duas cadeiras em atraso, entre as quais a famosa Matemática.
Admiro as pessoas que tiraram cursos de Matemática ou Engenharia, porque as dificuldades que senti naquela cadeira e o que eu os via estudar em mesas de café me transmitiam sempre um sentimento de incapacidade. Oh! Como estavam longe os tempos do Fernão Lopes em que me sentia o às do pedal.
Pergunto-me se este percurso terá sido exclusivamente meu ou se as pessoas que leem isto terão sentido algo de semelhante? Como terá sido o seu primeiro ano na Universidade ou a sua primeira experiência bem afastada da proteção dos pais…

domingo, outubro 20, 2019

Vejam o que eles fizeram ao nosso CFL


Recordar os tempos do CFL é um gosto, passar junto dele e examinar o que dele resta é uma tristeza, mais, posso dizer, uma vergonha para os autarcas que têm conduzido os destinos da nossa terra. Será possível que algo que marcou tantas gerações de oureenses esteja naquele estado? Que falta de brio!
Em 2008, segundo o NO, a autarquia, a troco da cedência de algumas facilidades na construção de moradias unifamiliares, era nesse momento detentora do edifício do estórico Colégio Fernão Lopes e projetava requalificá-lo bem como a sua envolvente com o objetivo de ali instalar um local de formação.
Os edifícios em torno surgiram, mas o edifício do CFL é que não foi requalificado. Nem percebo como alguns dos novos edifícios conseguiram ser comercializados com sucesso com esta porcaria em frente. É que nem o diabo das paredes em tijolo totalmente inúteis deitaram abaixo e limparam.
Que se terá passado de 2008 para cá? Nem me atrevo a perguntar quem beneficiou com as facilidades concedidas…
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