sexta-feira, maio 25, 2007

Flores da pedra



Esta foto documenta o estado calamitoso em que encontrámos o nosso espaço em Ourém na última visita. Mas a verdade é que mesmo no mais indómito espaço uma flor pode esperar por nós.
É preciso voltar mais vezes para a erva não fazer estes estragos. Mas o tempo - económico e ambiental - não está nada convidativo.

quinta-feira, maio 24, 2007

Oração de vaidade




Este desenho representa o meu pai. Alguns dos mais velhos lembrar-se-ão dele. Teve um taxi na Praça dos Carros, depois montou uma oficina frente à latoaria do Ferraz e à ourivesaria do João Dias, finalmente deslocalizou para Fátima. Era uma pessoa dura, mas bondosa. Já vos contei o episódio da casa do Largo de Castela em que mão enorme caiu sobre mim. Acho que nunca se arrependeu, mas eu dei-lhe toda a razão. Agora reparem nesta outra característica: lá para 1970, descobrimos um livro onde ele registara todas as dívidas de clientes que não tinha tido coragem para cobrar. Eram contos e contos. Olhando um pouco para trás, não sei se isto era bondade, mas, pelo menos, não era ganância. O desenho foi executado pela Li. Que também fez a minha caricatura de fim de curso.
A queda para a arte está presente em múltiplas formas na família.
O Abelito é o mais produtivo com desenhos e desenhos que distribui generosamente por todos nós. Recordo, da juventude, a sua reprodução em papel cavalinho de uma magnífica capa do Mundo de Aventuras em que o Cisco Kid afagava suavemente o queixo da belíssima Lucy. A minha mãe não se cansava de o gabar.
A Ana, por vezes, dedica-se à poesia. Temos inúmeras conversas sobre este tema e, há anos, consegui que ela dedicasse um poema ao Poço para abrir o primeiro volume do Ourém em estórias e memórias. E, como têm tido ocasião para apreciar, aqui pelo Ourem também se cultiva a arte.
Há uma característica comum em relação a esta família de artistas. Todos somos como que marginais em relação ao sistema. Ligamos muito a tudo o que fazemos, mas, fora do nosso círculo, ninguém nos liga nenhuma o que (aparentemente) não nos rala absolutamente nada. Isso, longe de nos diminuir, na sociedade actual, onde a arte é tão subserviente dos interesses dominantes, liberta-nos para produzir o que quisermos e permite-nos estar o tempo que nos apetecer sem nada produzir, permitindo simultaneamente profunda reflexão sobre as condicionantes do movimento artístico.
Enfim, desculpem, mas eu tinha que dizer isto...

quarta-feira, maio 23, 2007

Nespereira biológica


Aquele é o único cacho de nêsperas que esta árvore com mais de 10 anos me resolveu presentear nos últimos tempos.
Acho-lhe graça porque nasceu por acidente colada à casa e encostada a um limoeiro (que também é avaro nos limões). Cresce, cresce, cresce sem qualquer químico a ajudar, mas dar um frutinho é raro.
Apesar de tudo, as nêsperas são uma delícia. Por isso, não posso deixar de vos ofertar a imagem de um momento que já não existe – deglutidos que estão os frutos...

terça-feira, maio 22, 2007

O Cavaleiro Andante voltou à estante de origem

Há muitos, muitos anos, a tia Elvira teve sábias palavras:
- Luís, os Cavaleiros Andantes são teus. Pega neles e leva-os para tua casa.
Nem quis ouvir outra coisa. Pouco depois, estavam colocados no suporte por trás do selim da bicicleta e a caminho da casa do Largo de Castelo. Acompanharam-me para todo o lado. Agora, repousavam na cave da casa da Parede sem nunca os ver. Há dias, por causa de obras, foram parar dentro de uma caixa...

As obras entretanto cessaram e veio a ideia: "e se os levasse para Ourém, para a estante de onde os retirei há muitos anos?... será uma forma de reviver aqueles tempos, embora me faltem as pessoas e os locais..."
É verdade. Na minha casa em Ourém ainda está essa estante. Como podem apreciar é um estilo bem retro... foi tratada com "reparador" e ganhou uma tonalidade engraçada. Já ostenta algumas coisas antigas, especialmente livros e o rádio. A águia é bem mais recente, oferta de um amigo que todos os anos me goza com a história da águia depenada (e este uma vez mais...)


Quem sabe? Até gostaria de criar neste sala um espaço dedicado aos tempos de juventude. Pôr lá os inúmeros discos que ainda restam daquele tempo. Os EPs, os vinis...
Bom. MAs estou a desviar-me. O que podem ver é que, como pretendia, o magnífico Cavaleiro Andante voltou à sua estante de origem. Amareleceu, escureceu, ganhou inconfundíveis sinais de velhice, mas continua ostentar o sinal que semanalmente no Café Centrallhe era posto para garantir a reserva, continua a ser possível ver nele muitas das estórias e dos heróis que nos entusiasmavam. Há assim mais um motivo para voltar a Ourém...

segunda-feira, maio 21, 2007

Passagem pela Cidade (cada vez mais) Pequena

Já nem pergunto “o que é que eles andarão a estragar?”, calcularão porquê, facilmente. Desço aquela inclinada estrada que nos traz da cidade dos arcebispos. E começam as minhas dúvidas: “são estes os autarcas amigos de Fátima. Tanta gente a pé, tanto peregrino quase no meio da estrada e nem lhes passa pela cabeça tratar dos caminhos que eles usam. Possivelmente é para os ajudar no sacrifício”.
Pouco depois, Ourém. Nos bombeiros, dou a costumeira espreitadela: “estará lá o grande chefe?”. Não estava, encontrei-o mais à frente, junto aos antigos Claras, quase em passo de corrida.
Depois, olhei na direcção da Câmara. Sinais de obras, onde se procede à construção do megalómano monstro amarelo, sinais que nos levaram lembranças de outros tempos...
“E o Sérgio? Estará na Som da Tinta? Deve estar para Porto Santo...”.
Continuo pela confusa avenida. Camionetas e carros por todo o lado. Malvado desenvolvimento! Tudo isto me diz cada vez menos.
Pouco depois, chego a casa. Ena! Que sinais de ausência. Ervas por todo o lado... pequenos arbustos pareciam couves... Como vamos conseguir passar? Nunca mais poderemos estar tanto mês sem dar assistência a isto...
Um dia ao ar livre a dar ao braço, depois de uma sardinhada saborosa. Um vizinho, dos bons, ajudou no corte da erva. Ao fim do dia, o corpo pedia descanso. Mas, quando lá voltarmos, já poderemos levar a Pipopca...
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