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sexta-feira, agosto 16, 2019

Hoje, o meu irmão faria anos

Faria a bonita idade de 82 anos. Ainda poderia gozar mais alguns, mas, apressado, resolveu abandonar um mundo que, em muitos aspetos, não o tratou bem nos últimos tempos, especialmente a partir do momento que uma maldita queda o enviou ao Hospital de Leiria e começou um doloroso percurso e progressiva degradação.
Estou por cá, tal como em anos anteriores em que lhe trazia uma garrafa e lanchávamos ou almoçávamos juntos. Acho que vou privar com ele ao local onde descansa. Depois, faço tal qual como em anos anteriores: um apetitoso convívio com a família. Assim, é quase como se ele cá estivesse…





(Nota: a foto é recordação de passeio à Figueira de Foz proporcionado pelo saudoso relojoeiro João Dias. Apesar da diferença de idades, nota-se que éramos muito novinhos)

segunda-feira, julho 15, 2019

Disse adeus ao companheiro de viagem

Da «Leitura de Férias», eis mais um texto que diz muito. A fonte foi «Tenho medo de partir». Claro que sabem de quem me estou a lembrar...


Álvaro de Campos

Saí do comboio,


Saí do comboio,
Disse adeus ao companheiro de viagem
Tínhamos estado dezoito horas juntos..
A conversa agradável
A fraternidade da viagem.
Tive pena de sair do comboio, de o deixar.
Amigo casual cujo nome nunca soube.
Meus olhos, senti-os, marejaram-se de lágrimas...
Toda despedida é uma morte...
Sim toda despedida é uma morte.
Nós no comboio a que chamamos a vida
Somos todos casuais uns para os outros,
E temos todos pena quando por fim desembarcamos.
Tudo que é humano me comove porque sou homem.
Tudo me comove porque tenho,
Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,
Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira.
A criada que saiu com pena
A chorar de saudade
Da casa onde a não tratavam muito bem...
Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo.
Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração.
E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.

4-7-1934

sexta-feira, julho 12, 2019

O meu irmão


Também tive um irmão.

Era uma pessoa afável, honesta, trabalhadora, equilibrada, imaginária e sempre disponível.

Também gostava de comidinha e ficaram famosas as patuscadas que organizava para deliciar a família e amigos de tal modo que era conhecido pelo «Abelito das comemorações». Diz-se que, lá no Paraíso, quando souberam da sua chegada, os cordeiros, cabritos, leitões, coelhos, frangos, etc., etc. fizeram reunião de emergência e proclamaram estado de sítio, tentando em vão impedir-lhe a entrada.

Foram dele os primeiros livros que ajudei a destruir-lhe na saudosa casa da rua de Castela, livros que ele guardava secretamente na mesinha de cabeceira, com cadeado, e que eu, já promissor rato de biblioteca, procurava e devorava.

Foram dele também as palavras de orientação que me marcaram definitivamente e o esforço para prosseguir estudos para além do normal naqueles tempos longínquos onde a subsistência era o supremo objectivo das famílias de poucas posses.

Foi o meu ídolo quando, no Atlético cá da terra, desafiava os avançados de equipas fortíssimas a passar por ele.

Foi também sempre uma luz aberta ao regresso em qualquer momento que as coisas dessem para o torto, um verdadeiro porto de abrigo.

Separados há mais de cinquenta anos, a sua maravilhosa recordação ficou e é como se permanecesse vivo, apesar de já não estar naquela casa onde tanta vez o procurava.


sexta-feira, março 14, 2008

Luís Euripo contra Red Dowdy

Conseguem recordar aquelas mesas de cabeceira com uma pequena pedra de mármore em cima frente a um espelho quadrado envolvido em madeira, uma gavetinha e uma porta que dava acesso a um penico?
Imaginem que o penico foi à vida e que a porta foi dotada de cadeado.
O Abelito era assim: à quinta-feira comprava religiosamente o Mundo de Aventuras no Central, lia-o e, depois, guardava-o naquele espaço da mesa de cabeceira, fechando-o a cadeado.
Mas esqueceu-se de um pormenor. Retirando a gaveta, havia acesso por cima ao que lá estava dentro. Imaginem a minha sensação a retirar dezenas de livrinhos como o da imagem e a entreter-me durante dias e dias, passados uns cinco ou seis anos sobre a sua edição.
Todos acabaram destruídos. Pouco a pouco, tenho vindo a encontrar em alfarrabistas livros desses tempos e a refazer essa sensação do encontro com a mesa de cabeceira...
A edição pelo MA transmite o prazer de algo que se vê e lê bem ao contrário de outras revistas de formato mais reduzido.
Hoje, o Fanzin'OUREM tem o prazer de, em rigoroso exclusivo, oferecer a todos os seus amigos e outros, esta formidável aventura de Luís Euripo bebida nos números originais do Mundo de Aventuras entre o 209 e o 219.
Reparem como aqueles páginas sabem e cheiram a velhinhas, tão amarelentas estão, tal o receio que temos de lhe tocar e que se desfaçam todas. A imagem captada retrata bem o seu estado e tem muitas mazelas algumas motivadas pelo facto de a edição pelo MA ser um tanto ou quanto desregrada. Por exemplo, as primeiras três páginas ocupavam as duas centrais do número 209 e tivemos de modificar a sequência das vinhetas para a adaptar ao formato do A4. Mas eu penso que com algum produto tipo PhotoShop poderão fazer maravilhas. Ou então peçam ao Manuel Caldas.
A estória é engraçada:


Luís é amigo de Red, actual campeão mundial, por quem já foi derrotado em combate anterior, mas de quem se tornou amigo. Red aceitou a desforra mas os promotores não estão a gostar da boa convivência entre os dois pugilistas, tratando de minar a sua relação. Um dia, após falsas notícias, Red chegou a agredir Luís.
Este não se conformou com o que se passava e conseguiu captar as boas graças da filha de Red, uma miúda con uns quinze anos que, como podem ver, tinha pelo na venta e esta acabou por se revoltar contra o pai o que o enfureceu ainda mais.
No dia do combate, Red recusou o cumprimento de Luís e afastou-o com um empurrão. O combate foi extremamente viril com os dois pugilistas furiosos um com o outro. Luís esteve perto do Knock Out, mas tudo acabou por ter um final feliz e a reconciliação entre os dois amigos acabou por se sobrepor a mal entendidos criados por gente malvada.


Termina aqui o primeiro número do Fanzin'Ourem. As audiências foram descendo pelo que, possivelmente, fica número único.
Logo se verá...



Capa --> Pg01 --> Pg02 --> Pg03 --> Pg04 --> Pg05 --> Pg06 --> Pg07 --> Pg08 --> Pg09 --> Pg10 --> Pg11 --> Pg12 --> Pg13


terça-feira, setembro 25, 2007

Setenta anos



Estas férias tive, mais uma vez, o privilégio de participar na festa de anos do Abelito, o melhor defesa do hóquei oureense de todos os tempos, que defendeu as cores do glorioso Atlético nos fantásticos anos 50/60 do século passado.
Se são de festa para os humanos, estes dias são de terror para a bicharada comestível de quatro patas. Vejam o estado em que ficou um inocente porquito e que a foto documenta...
Apesar de tudo, já estou desejoso pelas comemorações dos próximos anos. Que sejam muitos!

quarta-feira, julho 25, 2007

Raridades...




Mas se não se sabe quem possui a pintura de Amadeo, também é difícil determinar quantos oureenses possuirão alguns exemplares da primeira série da Colecção Cowboy.
Trata-se de um conjunto de livros de texto editados pela Agência Portuguesa de Revistas, a mesma que editava os fabulosos Búfalo, Bisonte e Arizona. O que acontecia é que eram histórias mais pequenas, sensivelmente metade das publicadas naqueles livros, embora os autores fossem os mesmos. Na Ibis, a rival era a colecção Oeste.
A primeira série da Colecção Cowboy tinha maiores dimensões e menor número de páginas e originou nove números. Como podem apreciar, o número dez é substancialmente mais pequeno, cerca de metade, embora tenha o dobro de páginas e enriquecido com seis ilustrações intercaladas com o texto e originou um clone na Colecção Seis Balas, muito apreciada pelo presidente David como podem testemunhar em entrevista deste ao Mirante. Esta série de nove números foi suportada por três excelentes autores: Raf. G. Smith, E.L.Retamosa e Cesar Torre. O Raf era o melhor: o que eu e o meu irmão nos rimos, uma noite, ao desfrutar a leitura das primeiras páginas do primeiro número da colecção - "O Vingador"! Mas alguns nomes de autores também eram dignos de registo: não calculam os meus amigos o que o Jó e o Rui gozavam comigo por causa do El Ratamosa, mas imaginarão...
Penso que é mais fácil encontrar as edições de obras de Eça de Queirós efectuadas na primeira metade do século passado do que exemplares desta primeira série de que vos falo que, como podem apreciar, teve algumas excelentes capas, algumas com mulheres belas, bravas e lutadoras que não se intimidavam de espingarda na mão. Reparem, no entanto, na impressão da penúltima, "exploradores de ouro", com sobreposição desfasada de cores: o meu exemplar deve ser único.
Mas, se estes números são uma raridade, há raridade ainda maior: o número nove. Acontece que lhe embirrei com o título, "A tiro e a murro" e, quando há trinta anos tive de decidir que livros trazia comigo e quais iriam para a fogueira, pois era impossível transportar tudo, ele foi seleccionado para este lote.
O OUREM atribuirá prémio inesquecível ao oureense que primeiro lhe apresentar esse número da Colecção Cowboy. Está prometido.

quarta-feira, julho 11, 2007

Este escapou à voracidade do JOE



Eis uma bela peça de arte contemporânea que não foi parar às mãos do Comendador. Apreciem a sua cor, o tom verde e leitoso das águas. Apreciem a calmaria aparente que a proximidade das casas quase submersas desmente. Reparem em quão difusa é a representação: pode lembrar a região amazónica, mas, se nos disserem que os seus actores tiveram origem na Ásia das monções, acreditamos e poderia até provir de um dia de cheia na ribeira de Seiça no terceiro quartel do século passado. É este carácter global que caracteriza o espírito do artista contemporâneo.
O JOE pode ter muito dinheiro. Pode ter o Centro Cultural de Belém nas mãos. Pode correr com o Mega. Pode ter a vassalagem da classe ministerial. Mas não tem esta obra a qual, neste momento, enriquece a casa dos meus fantasmas. E eu não a largarei por nada tal o respeito que tenho pelo artista.
Por isso, a partir de agora, seguindo o estabelecido por sua Excelência o ministro Sócrates, o roteiro de arte contemporânea não se inicia em Belém, mas em Ourém...

quinta-feira, maio 24, 2007

Oração de vaidade




Este desenho representa o meu pai. Alguns dos mais velhos lembrar-se-ão dele. Teve um taxi na Praça dos Carros, depois montou uma oficina frente à latoaria do Ferraz e à ourivesaria do João Dias, finalmente deslocalizou para Fátima. Era uma pessoa dura, mas bondosa. Já vos contei o episódio da casa do Largo de Castela em que mão enorme caiu sobre mim. Acho que nunca se arrependeu, mas eu dei-lhe toda a razão. Agora reparem nesta outra característica: lá para 1970, descobrimos um livro onde ele registara todas as dívidas de clientes que não tinha tido coragem para cobrar. Eram contos e contos. Olhando um pouco para trás, não sei se isto era bondade, mas, pelo menos, não era ganância. O desenho foi executado pela Li. Que também fez a minha caricatura de fim de curso.
A queda para a arte está presente em múltiplas formas na família.
O Abelito é o mais produtivo com desenhos e desenhos que distribui generosamente por todos nós. Recordo, da juventude, a sua reprodução em papel cavalinho de uma magnífica capa do Mundo de Aventuras em que o Cisco Kid afagava suavemente o queixo da belíssima Lucy. A minha mãe não se cansava de o gabar.
A Ana, por vezes, dedica-se à poesia. Temos inúmeras conversas sobre este tema e, há anos, consegui que ela dedicasse um poema ao Poço para abrir o primeiro volume do Ourém em estórias e memórias. E, como têm tido ocasião para apreciar, aqui pelo Ourem também se cultiva a arte.
Há uma característica comum em relação a esta família de artistas. Todos somos como que marginais em relação ao sistema. Ligamos muito a tudo o que fazemos, mas, fora do nosso círculo, ninguém nos liga nenhuma o que (aparentemente) não nos rala absolutamente nada. Isso, longe de nos diminuir, na sociedade actual, onde a arte é tão subserviente dos interesses dominantes, liberta-nos para produzir o que quisermos e permite-nos estar o tempo que nos apetecer sem nada produzir, permitindo simultaneamente profunda reflexão sobre as condicionantes do movimento artístico.
Enfim, desculpem, mas eu tinha que dizer isto...

terça-feira, maio 08, 2007

Marca #18: Vitor Castanheira

Perante o êxito do Juventude, que saudamos, não podemos deixar de recordar um amigo, hoje estabelecido mesmo em frente ao seu histórico campo, ao lado da alfaitaria do Zé Penso, que tem monumental desejoso de ser recordado como um dos grandes guarda-redes da saudosa equipa do Atlético - embora o Manel não esteja pelos ajustes, mas eu confirmo que um defesa de prestígio o escolhia sempre para aquela posição.
Relembrar o Vitor, é voltar aos tempos do Fernão Lopes, às corridas pela enconta dos moinhos e à que apelidei equipa maravilha (ainda sem conhecer os feitos actuais). É também voltar ao mata-borrão, peça indispensável do nosso património estórico.
O Vítor é outro dos tais que faz com que valha a pena voltar a Ourém...
My God! Há quanto tempo não vou àquela terra... que se está a passar comigo? Será só culpa do senhor dos Prantos?

quarta-feira, agosto 16, 2006

Borreguinho com batatas



Hoje, o Abelito fez anos: 68A, como é costume dizer-se para não haver dúvidas acerca da virilidade dos machos da família.
Por esta altura, nas festas das festas das terras do nosso concelho, aparece sempre o célebre carneiro com batatas. Mas há variações...
O Abelito é um ás em termo de culinária, por isso, brindou este seu devotado irmão com magnífico almoço de que a foto (desculpem a inclinação, o espaço era apertado) só documenta uma parte. O sabor estava divinal...

sexta-feira, abril 21, 2006

O NSU Prinz, carrinho do palhete




Tinha chegado das aulas para almoçar e notei que o meu irmão, estranhamente,  habitualmente tão pontual, não estava.

A minha mãe informou-me logo.

- O Abel foi a Lisboa buscar um carro que lhe saiu no sorteio dos Inválidos do Comércio.

- Um carro? Olha a sorte...

- O pai ainda lhe disse para ele trazer o dinheiro, mas ele insistiu e vem com o carro.

O resto do dia foi à espera daquele terceiro prémio que bafejou a nossa gente. Lá para a década de cinquenta uma viagem Ourém – Lisboa demorava o seu tempo, pelo que, só para o final do dia, a bela máquina chegou ao largo de Castela.

Eu imaginava uma carripana enorme e saiu-me uma miniatura quase mais pequenino que os Morris ou os Austin da época. Era um NSU Prinz, um carrinho ao que julgo alemão, cor avermelhada, e com uma chiadeira no trabalhar que fazia lembrar o choro...

Nesse dia, ainda houve tempo para testar o carro pelas estradas à volta de Ourém. O meu irmão encheu-o de amigos (o Zé Penso, o Pereira, o Félix) e lá fomos que aquilo não dava para muito mais.

Todos apreciaram aquela maravilha, mas não estavam muito de acordo:

- Agarra-se bem à estrada – dizia o Zé Penso.

Mas o Pereira tinha notado alguns pontos negativos:

- Não é carro para estas estradas...

Claro, se vocês vissem aquelas rodinhas tão finas a passar pelos buracões daquele tempo também estariam de acordo com o Pereira.

- Eu acho que dá perfeitamente – dizia o Félix – e até podemos visitar as adegas com mais frequência...

- É vermelho e tudo – respondia o Penso – faz lembrar o palhete...

Pois é, meus amigos. A fama de tal carro e a sua associação ao palhete foi de tal ordem que, ao fim de alguns anos, teve de mudar de cor. Mas a verdade é que a sua longevidade foi notável, com mais de quinze anos, ainda se deslocava perfeitamente e nunca deixou o dono apeado. Às vezes, até parecia que conhecia o caminho...


sexta-feira, julho 22, 2005

Os galãs da Ourém de 50 (2)


O que escrevemos...:
Reconheço o Abel, o Orlando, o Mário Teixeira e, talvez, o Tó Marinho.
É curioso lembro-me claramente da cara do último tantas vezes o vi, mas parece-me escondida lá muito no passado
Admitamos que o esquema seguinte corresponde à disposição dos ditos:
1 2
3 4 5 6
7 8 9

Eis o reconhecimento efectuado:
1 - desconhecido, um tocador do Alqueidão
2 - Mário Teixeira, um grande dinamizador deste tipo de acontecimentos
3 - Abílio Alfaiate, o Abílio do pífaro que tocava saxofone na banda
4 - desconhecido
5 - Léle
6 - Tó Marinho
7 - Abel, o melhor defesa do Atlético de todos os tempos na modalidade Hóquei em Patins, pai do treinador dos putos, e, neste particular, participante por ser tocador de realejo
8 - Orlando
9 - Andrade também tocador de realejo

segunda-feira, julho 11, 2005

Os galãs da Ourém de 50



Reconheço o Abel, o Orlando, o Mário Teixeira e, talvez, o Tó Marinho.
É curioso lembro-me claramente da cara do último tantas vezes o vi, mas parece-me escondida lá muito no passado

quinta-feira, junho 02, 2005

A escrava cristã

Quinta-feira.
Dia de mercado em Ourém.
Há uns cinquenta anos, na casa do Largo de Castela, eu e a minha mãe preparamo-nos para a habitual visita à feira.
A gatinha branca e preta dorme sobre uma almofada no recanto da escada.
Há pouco, o Armindo passou por aqui de bicicleta para trocarmos cromos da bola. De uma assentada, obtive o Vasques, o Rogério e o Carlos Gomes.
Finalmente, saímos de casa, mas ainda tivemos tempo para uma visita à vizinha que prepara a mudança para o bairro dos pobres.
Descemos à Avenida, passámos ao chafariz frente ao Sabino, chegámos à praça dos carros. Frente ao Central, a bicha para comprar o Mundo de Aventuras, atingia quase a loja do Povo. Lá estavam o Abel, o Rui Costa, o Pintassilgo nos seus catorze, quinze anitos.
A nossa primeira visita é ao mercado da fruta. Depois, descemos, frente à igreja para o mercado do peixe. Lembro-me de um conjunto de bancadas em pedra, mais ou menos ao ar livre que depois foi substituído pelo mercado já descontinuado. Sabia que ia ser dia bom com carapau grelhado e tangerinas...
Alguém apregoa um folheto com os versos do Dr. Preto. Ora bolas! Não haverá ninguém em Ourém que me empreste por uns dias uma preciosidade destas? Mas naquele tempo não lhes ligava muito. Eu estava com o sentido naquilo que o meu irmão compraria no Central.
E de repente, uma voz anuncia bem alto:
- Olha a história da escrava cristã! Comprem levem para vossas casas uma história que vai derreter os vossos corações...
Contemplei embevecido aquele livrinho. Tão bonito. Tão fino, se calhar tinha ilustrações, se calhar era de continuação. Mais tarde, vim a descobri-lo neste espólio...

quinta-feira, abril 28, 2005

Louvação ao Fio de Azeite mal amado

Se queres batata e couves
com um sabor divinal
não esqueças o fio de azeite
sabe bem e não faz mal



Publiquei uma foto sobre o antigo cine-teatro de Ourém, porque queria dedicar umas palavras à pessoa que foi o seu responsável, o José Melo.
É que tenho aquela sensação que Ourém nunca foi inteiramente justa com esta figura.
O Melo foi uma das pessoas mais dinâmicas da nossa terra. Talvez tenha tido o azar de nunca ter feito grande fortuna e, portanto, não passou para o rol dos que são sistematicamente mencionados, porque o dinheiro traz credibilidade, respeito.
Mas foi o responsável por, durante muitos anos, termos o melhor cinema a que uma terra de província com um pequeno número de habitantes poderia aspirar.
Montou uma tipografia que ainda funciona (1). 
E, zangado com o Notícias de Ourém, criou um jornal, o Ourém e seu Concelho, que é um modelo em termos de publicação. Repito, é um modelo. O jornal é aberto a todas as correntes de opinião. Podem os meus amigos dizer: "mas o que lá se publica não presta...". Eu aceito, quando leio aquele Pinto e aquele Cavaco (2) até sinto náuseas de tanto facciosismo, mas está lá a possibilidade de existirem bons artigos de qualquer corrente de pensamento. Se não os fazem, a culpa não é do jornal.
Por outro lado, encontro no Ourém e seu Concelho pedaços da história da nossa terra muito interessantes. Como aquele sobre a Igreja de Vila Nova de Ourém. Leiam é excelente, até gostaria de a publicar aos bocadinhos no blog. Mas eles não mo oferecem em texto...
Para além do seu dinamismo, o Melo era uma excelente pessoa. Já nem estou a falar dos dissabores que lhe dei com os artigos do tempo à volta do 25 de Abril e que ele engolia sem queixume. É que, antes, há uma história engraçada.




Um dia, ele convidou o meu irmão para passar com ele uns tempos na Nazaré, em férias. Claro está, fui logo atrás. O acordo era ficar numa pensão, comer por lá e o meu irmão vigiava o bom comportamento. Não levava muito dinheiro, mas a malta amiga ajudava. Um dia almoçava com o Rui, outro com o Zé Manel, enfim havia lá tantos que tinha a agenda quase sempre preenchida.
À noite, ia vê-los.
- Ti no nin , dizia o Melo, já jantaste?
- Ainda não...
- Então jantas connosco...
E ali passei uma bela série de dias, guardando o que tinha amealhado para poder aplicar em discos ou banda desenhada.
Excelente pessoa, o Melo... 


Notas: Fio de Azeita, alcunha do Melo
(1) - Tipografia e Jornal desapareceram pouco depois da publicação deste post
(2) - Perdoem, isto foi do calor da época

domingo, dezembro 19, 2004

AS MINHAS MEMÓRIAS - 3
Por Zé Rito


Entre a saída do Colégio e a entrada no mundo do trabalho mediou o espaço necessário para, como todos os mancebos, cumprir o serviço militar. Na altura era complicado. A necessidade, imposta pelo regime, de ir "defender a Pátria no Ultramar" e algures na Àfrica ser "carne para canhão" assustava qualquer um.

Foi com algum aperto na garganta que os meus Pais assistiram à minha ida, juntamente com o Luís Cúrdia, o Augusto Chapeleiro, vulgo Mina Guta, o Tó Lis, o Portugal, entre outros, até às instalações da Banda, para fazer a inspecção. Saí com a esperança de me safar, já que teria de ir ao Hospital de Tomar, onde, perante o Dr. Tamagnini, era reinspeccionado.

Fomos todos passar o dia na Nazaré tendo voltado com um chapéu de marinheiro para um baile, por nós organizado, que teve lugar no ringue do Atlético.

Guiné, Angola ou Moçambique foi o destino da maioria. Sei que três ficaram isentos de cumprir o serviço militar. Julgo que, para além de "moi même", safou-se o Portugal e o Mina Guta.

Enfim livre deste embróglio passei ao mundo do trabalho, como funcionário público, na Secretaria da Câmara.. Estávamos no fim do ano de 1965.

Foi na altura que foi criado para os velocípedes a obrigatoriedade da chapa amarela (1-VNO-00-01, etc.). E o chefe da Secretaria, de seu nome Hermenegildo Carrilho Escobar, incumbiu-me dessa tarefa.

Lembra-me, como colegas, do Sr. Honório, do Gonçalves, do Zé Félix, do Abel Vieira, da Maria Helena, da Lita, da Maria do Carmo, da Julieta Marçal, para além do meu Pai.

Ao fim do dia lá ia eu com o grande "Livro 8" à Tesouraria, onde com o chefe Baço fazíamos a conferência dos movimentos e das receitas.

Foi então que comecei a juntar o meu "pé de meia".
Em dado momento aventurei-me à aquisição de um gravador. Foi o início dos "Estúdios Trine".
Gravava em bobinas com duas faixas de cada lado em três velocidades. O altifalante estava incorporado na tampa.

Comecei a gravar música em casa mas as condições de recepção não eram as melhores. Foi então que surgiu a oportunidade de gravar a partir do rádio do Zé Alberto. Era um rádio recente que permitia com um cabo a ligação directa entre os aparelhos. O Zé Alberto vivia no Bairro Dr. Trigo de Negreiros. Daí o nome dos "Estúdios" ter o nome das primeiras sílabas do Bairro.

Rio Torto, Gouveia 2004-12-18
José Manuel Rito

quarta-feira, junho 09, 2004

Retorno à equipa maravilha
Há uns tempos escrevemos aqui:
Podem falar nos putos do hóquei, podem falar nas internacionalizações, podem falar no Luís Porto, mas, para mim, a equipa maravilha, aquela que defrontou o Livramento, aquela que quase humilhou o Futebol Benfica com um bem claro 5 a 3, aquela que entusiasmava as gentes de Ourém ao ponto de os seus clamores atingirem e atemorizarem Tomar, Abrantes, Torres Novas, Marinha Grande e Turquel, era a formada pelo Mário, Abel, Rui Prego, Rui Costa, Piriquito e outros que não me lembro, mas que julgo que integraram o Ferraz, o Pintassilgo e, ele o diz, o Vitor Castanheira.
Quando o Abel saiu, o Pintassilgo, talvez o mais habilidoso de todos, entrou, e logo ganharam o distrital. Que magnífico feito!
Que pena não ter uma fotografia desse tempo.
Constato que a tradição do hóquei não se perdeu, independentemente de vir sob o nome Atlético ou Juventude. Mas uma coincidência engraçada é o facto de o treinador dos putos, grandes campeões do século XXI, aquele que os tem conduzido a saborosas vitórias apesar de poucas vezes ser nomeado, ser filho de um desses magníficos que lutavam na equipa maravilha.
E eis que mão amiga me faz chegar duas fotografias desse tempo. Uma delas, nas costas, tem escrito a lápis 1959. São com certeza fotografias desse tempo.

E reconheço, na de cima, o Abel, o Rui Costa, o Rui Silva (Prego), o Borga (inicialmente pensei que era o Fonseca),o Mário e o Armando Pereira (Piriquito). Será que alguém consegue dar uma ajuda quanto ao treinador?
Na de baixo, a ignorância é maior: o guarda-redes é o Setenta, mas não consigo reconhecer o seu substituto. Já aparece o Pintassilgo ao lado de um dos irmãos Costa. Atrás, aparece o Mário sem ser na posição em que o recordo, o Armando, o Abel e um outro jogador, capitão de equipa, que também me é desconhecido.
E aqui fica o convite a distintos oureenses: será que alguém consegue dar uma ajuda no reconhecimento? Ou quer publicar algo sobre isto?

quarta-feira, junho 02, 2004

Estudando perto de um ninho de Bufos


Faz agora quarenta anos (1).
O meu irmão chega a casa para almoçar.
- Sabe, mãe, o Sérgio foi preso. Coisas de política.
- Eu logo vi que isso ia acontecer a esse rapazinho.
Viram-se os dois para mim.
- Luís, ai de ti se te metes na política.
E eu, aterrorizado, ainda sem conhecer as masmorras da PIDE (que felizmente nunca conheci):
- Estejam descansados, eu sei tratar de mim.
Mas o meu irmão ainda parecia saber qualquer coisa mais:
- Consta por aí que foi denunciado por alguém de cá a propósito da Direcção da Casa de Ourém. Ele e o pai são da oposição.
Impressionante. Como é que alguém consegue denunciar outrem por causa de ideias diferentes? Andar ali, a fingir-se amigo e depois dar a estocada...
Anos mais tarde, uns dias depois do 25 de Abril, na EPAM, vi, com um arrepio e espanto, dois irmãos gémeos, que se sentaram ao meu lado em económicas, ser detidos por, também, serem informadores da famigerada polícia política. Felizmente, nunca tinham reparado em mim. 


Notas
(1) Cinquenta e cinco, atendendo à data da crónica

domingo, maio 09, 2004

Revisitar o Avenida a partir da Marina


Ali, no local mais espaçoso que hoje é ocupado pela Marina, existiu, em tempos, um exemplo de bom gosto, algo de maravilhoso, o café Avenida.
Façamos um pequeno exercício com o que, actualmente, lá vemos.
Logo após a entrada, contemplemos o que se situa à esquerda, isto é, o sítio onde hoje se vendem jornais. Esse local era ocupado por cerca de quatro mesas em que as que se situavam mais perto da parede eram apoiadas por um banco corrido. Posso garantir que era o local da preferência dos mais jovens. Ali nos defrontávamos ao King: o Kansas, o Jó Rodrigues, o Rui Leitão, o Jó Alho. Também era um local de espera e de debates, onde preparávamos as farras e os bailaricos.
Mas continuemos à esquerda e vamos até ao fundo, tendo, por exemplo, como referência a estante dos Livros do Brasil. Deparamos com o sítio onde era o fabuloso balcão do Avenida, onde o Ezequiel e o Fernando Fortes preparavam as maravilhosas bicas e refrescos que nos serviam. O acesso à parte de dentro do balcão era do lado direito através de uma porta que ainda lá está.
Viremos à direita e consideremos o espaço para além do arco, antes cor de tijolo, agora embranquecido, descaracterizado. Era onde se situava o Restaurante do café. Com os poucos rendimentos de que dispunha, poucas vezes lá comi, mas consta-me e recordo que os bifinhos não eram nada maus.
O espaço entre um corredor que se segue à porta central, o cantinho da juventude, o balcão e o restaurante, onde actualmente se expõem as máquinas de calcular e outros aparelhos, era ocupado pela zona de jogo. Aí, os mais velhos disputaram renhidos combates de bridge (Fernado Rodriques, arquitecto, Dr. Durão,...?..) e dominó (Abel, Rui Costa, Luís Simões,...?...). Era também uma zona de Relações Públicas, pois bem perto dessas mesas estava a que vulgarmente era ocupada pelos proprietários do café, o Sr. Aguinaldo e esposa, duas figuras muito simpáticas que tinham sempre um sorriso para os clientes, apesar das perseguições políticas de que ele por vezes era vítima.
Consideremos, agora, o lado direito. Logo à entrada, no sítio onde a Alice expõe os perfumes e as loiças de Vista Alegre e outras marcas conceituadas, era o espaço para se ver televisão. Recordo filmes como O Homem Invisível , Sir Lancelot (ena, as histórias da Távola Redonda com a Guinevere, o Rei Artur eram o máximo!), o Robin dos Bosques , o Mister Ed (ver também este) que ali vi continuamente já não sei com que idade.
Apesar de tudo, não me lembro de grandes entusiasmos no interior do Avenida. O espaço era mais fino, mais snob, menos popular, menos ruidoso apesar de mais amplo e mais bonito.
Finalmente, adjacente em relação a esta zona, ocupado actualmente por materiais de pintura (Pelikans, Cisnes, etc.), existe o sítio onde se jogava bilhar bem perto da segunda porta de saída do café. Aí, dizia o João da Quinta, eu punha as bolas a saltar quando me irritava com as tacadas e estas não seguiam o rumo que eu planeava. Aos domingos, enquanto se ouvia o Música na Estrada e o fabuloso Oh Lady!, mais uma vez dos Les Chats Sauvages, nós iludíamos a vigilância dos pais e de outros controladores e lá fugíamos às obrigações sacras, refugiando-nos neste espaço. Depois, assistiamos, como dizia o Jó Rodrigues, ao Santo Sacrifício da Saída.
Ao terminar este roteiro sobre o Avenida, sinto uma certa tranquilidade. Animem-se, Oureenses. A Marina ocupou-o, se calhar esse até foi um meio de o preservar. Eu julgo que, se quisermos e tivermos força e meios para tanto, podemos reconstruir tudo. Sob a ocupação efémera desta empresa nada está destruído, está apenas oculto. Assim, se a Câmara quiser apoiar a reconstituição, pode começar desde já a recordar e projectar a ornamentação e mobiliário do mesmo. As belas mesas negras com vidro por cima, as belas e pesadas cadeiras, a porta giratória...
Força, vamos lá, responsáveis autárquicos, aquela Ourém merece todos os sacrifícios. E ainda existe quem se recorde de tudo, daqui a uns anos pode ser tarde demais.

sexta-feira, maio 07, 2004

A equipa maravilha


Podem falar nos putos do hóquei, podem falar nas internacionalizações, podem falar no Luís Porto, mas, para mim, a equipa maravilha, aquela que defrontou o Livramento, aquela que quase humilhou o Futebol Benfica com um bem claro 5 a 3, aquela que entusiasmava as gentes de Ourém ao ponto de os seus clamores atingirem e atemorizarem Tomar, Abrantes, Torres Novas, Marinha Grande e Turquel, era a formada pelo Mário, Abel, Rui Prego, Rui Costa, Piriquito e outros que não me lembro, mas que julgo que integraram o Ferraz, o Pintassilgo e, ele o diz, o Vitor Castanheira.
Quando o Abel saiu, o Pintassilgo, talvez o mais habilidoso de todos, entrou, e logo ganharam o distrital. Que magnífico feito!
Que pena não ter uma fotografia desse tempo.
Constato que a tradição do hóquei não se perdeu, independentemente de vir sob o nome Atlético ou Juventude. Mas uma coincidência engraçada é o facto de o treinador dos putos, grandes campeões do século XXI, aquele que os tem conduzido a saborosas vitórias apesar de poucas vezes ser nomeado, ser filho de um desses magníficos que lutavam na equipa maravilha.

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