Naquela época, os filmes que chegavam a Ourém eram dominantemente classificados em dois tipos: «Maiores de 12 anos» e «Maiores de 18 anos».
Na sua sofreguidão para fazer dinheiro, o novo porteiro nem pedia o documento de identificação ao espetador. Qualquer lhe servia para aumentar o seu ganho ou o do patrão. Mas a verdade é que existia uma Direção de Espetáculos com o objetivo de zelar para que tudo decorresse de acordo com a ordem vigente. E, um dia, um inspetor chegou a Ourém.
Na sala de espetáculos havia grande expetativa. Todos se preparavam para assistir ao grande filme «Rio Vermelho». A plateia estava bastante composta, assim como o balcão. E a projeção começou, tendo-se iniciado o filme ainda na primeira parte. Ao chegar o primeiro intervalo, todos os espetadores pareciam satisfeitos e ávidos pela continuação do filme.
Mas estava escrito que muitos não assistiriam ao mesmo. Ainda os espetadores não se tinham levantado para esticar as pernas quando um homem acompanhado por dois guardas armados irrompeu pela sala ordenando que todos ficassem nos lugares.
Depois, percorreu o corredor central olhando para um e outro lado com toda a atenção. Chegado à fila L, parou e apontou o Estorietas e os seus amigos:
- Vocês… mostrem os vossos bilhetes de identidade.
Os miúdos apressaram-se a obedecer.
- É o que eu pensava. Nenhum tem idade para assistir a este espetáculo. Mostrem-me os bilhetes…
Eles assim fizeram e o inspetor examinou-os com ar bastante atento.
- É curioso. Estes bilhetes não são iguais aos que vi na bilheteira. Quem foi que vos vendeu?
O Melo apressou-se a esclarecer:
- Não foram vendidos, senhor inspetor. São uma oferta da gestão para a miudagem poder assistir ao espetáculo.
Mas o Estorietas teve de falar:
- Olhe que não, senhor Melo, olhe que não. Cada um de nós pagou um euro por bilhete ao porteiro.
- O quÊ? – gritou o melo lançando as mãos à cabeça.
Naquele momento, ouviu-se o ruído apressado dos passos de alguém. Olharam na direção da porta e viram o porteiro a esgueirar-se a toda a velocidade.
- É o porteiro – dizia o Mário. – Vai a fugir com a receita do espetáculo.
Os polícias foram atrás do homem e, pouco depois, este era apanhado, regressando à sala de espetáculos.
O inspetor voltou-se para o Melo.
- Apesar da sua nobre ação de permitir a divulgação cinematográfica entre os mais jovens, vou ter de o autuar por não ter cumprido devidamente o regulamento dos espetáculos ao não controlar a idade de quem entrava. Mas levaremos em conta as suas boas intenções que ficaram bem patentes na carta anónima que alguém escreveu a denunciar o que se passava.
- Ah! Houve uma denúncia…
- É verdade. Houve alguém que não gostou que a sua boa intenção estivesse a ser aproveitada por um indivíduo sem escrúpulos …
- Nunca pensei… mas para a semana já cá estará o Joia. Isto não voltará a acontecer.
- Terei isso em conta. E agora continuem a ver o filme. Excecionalmente, permito que esses miúdos o vejam até ao fim. Mas essa bagunça acabou aqui hoje.
E as filas de miúdos à entrada da porta do cinema esperando uma borla voltaram a Ourém…
Na sua sofreguidão para fazer dinheiro, o novo porteiro nem pedia o documento de identificação ao espetador. Qualquer lhe servia para aumentar o seu ganho ou o do patrão. Mas a verdade é que existia uma Direção de Espetáculos com o objetivo de zelar para que tudo decorresse de acordo com a ordem vigente. E, um dia, um inspetor chegou a Ourém.
Na sala de espetáculos havia grande expetativa. Todos se preparavam para assistir ao grande filme «Rio Vermelho». A plateia estava bastante composta, assim como o balcão. E a projeção começou, tendo-se iniciado o filme ainda na primeira parte. Ao chegar o primeiro intervalo, todos os espetadores pareciam satisfeitos e ávidos pela continuação do filme.
Mas estava escrito que muitos não assistiriam ao mesmo. Ainda os espetadores não se tinham levantado para esticar as pernas quando um homem acompanhado por dois guardas armados irrompeu pela sala ordenando que todos ficassem nos lugares.
Depois, percorreu o corredor central olhando para um e outro lado com toda a atenção. Chegado à fila L, parou e apontou o Estorietas e os seus amigos:
- Vocês… mostrem os vossos bilhetes de identidade.
Os miúdos apressaram-se a obedecer.
- É o que eu pensava. Nenhum tem idade para assistir a este espetáculo. Mostrem-me os bilhetes…
Eles assim fizeram e o inspetor examinou-os com ar bastante atento.
- É curioso. Estes bilhetes não são iguais aos que vi na bilheteira. Quem foi que vos vendeu?
O Melo apressou-se a esclarecer:
- Não foram vendidos, senhor inspetor. São uma oferta da gestão para a miudagem poder assistir ao espetáculo.
Mas o Estorietas teve de falar:
- Olhe que não, senhor Melo, olhe que não. Cada um de nós pagou um euro por bilhete ao porteiro.
- O quÊ? – gritou o melo lançando as mãos à cabeça.
Naquele momento, ouviu-se o ruído apressado dos passos de alguém. Olharam na direção da porta e viram o porteiro a esgueirar-se a toda a velocidade.
- É o porteiro – dizia o Mário. – Vai a fugir com a receita do espetáculo.
Os polícias foram atrás do homem e, pouco depois, este era apanhado, regressando à sala de espetáculos.
O inspetor voltou-se para o Melo.
- Apesar da sua nobre ação de permitir a divulgação cinematográfica entre os mais jovens, vou ter de o autuar por não ter cumprido devidamente o regulamento dos espetáculos ao não controlar a idade de quem entrava. Mas levaremos em conta as suas boas intenções que ficaram bem patentes na carta anónima que alguém escreveu a denunciar o que se passava.
- Ah! Houve uma denúncia…
- É verdade. Houve alguém que não gostou que a sua boa intenção estivesse a ser aproveitada por um indivíduo sem escrúpulos …
- Nunca pensei… mas para a semana já cá estará o Joia. Isto não voltará a acontecer.
- Terei isso em conta. E agora continuem a ver o filme. Excecionalmente, permito que esses miúdos o vejam até ao fim. Mas essa bagunça acabou aqui hoje.
E as filas de miúdos à entrada da porta do cinema esperando uma borla voltaram a Ourém…