quinta-feira, agosto 19, 2004

Posar para o blogue Ourém
Há dias, ainda em Ourém, convidei uma bela oureense para posar para este blogue.
Tenho já comigo o resultado deste trabalho.
Será que os meus amigos têm interesse na sua visualização? Que seria assim uma espécie de compensação para o abandono em que os vou deixar?
E não vão dizer que este blogue é ordinário?
Mas antes de uma decisão (que deixo para amanhã), uma questão: qual a cor natural do cabelo da bela Kristine?
O eremita
Vou bazar por uns dias. Talvez umas três semanas.
Vou isolar-me, reflectir. Ser como um monge no deserto.
Notícias só de jornais. O dia a dia será areia, água, caminhar e livros.
Deixo-vos entretanto uma nota sobre cada um dos livros que levo comigo.
O blogue será miseravelmente abandonado, exactamente como estiver na hora de partida.
Quanto a regressos, nada sei dizer. Penso que se terão apercebido de uma longa ausência, o ano passado, entre Setembro e Março. Este ano pode acontecer o mesmo devido à concentração de actividade no período que se avizinha.
Por outro lado, estabelecendo uma analogia com os sistemas de informação, acontece que este vosso amigo é muito tipo monoprogramação, isto é, mete-se numa coisa e tem que se lhe dedicar quase por inteiro.
Mas, como em outras coisas, desta já longa existência, o que for é…
O Belo Adormecido
(Lídia Jorge)

De acordo com o editor, este livro, composto por seis contos sobre o desejo, narra momentos especiais vividos por personagens face a situações inesperadas, que de súbito põem à prova sentimentos e resistências ignoradas pelos próprios.
Os contos chamam-se:
- O belo adormecido
- As três mulheres sagradas
- Assobio na noite
- Miss beijo
- Leão velho
- Para além das estrelas
Nunca li Lídia Jorge, já galardoada com vários prémios. Esperemos que esta seja uma boa ocasião para a conhecer melhor.
Conversas com Manuel Castells
(Manuel Castell e Martin Ince)

Castells é um dos mais conhecidos cientistas sociais a nível mundial. Os seus trabalhos são de enorme importância, incluindo as preocupações suscitadas pelo desenvolvimento dos sistemas de informação e da Internet e o seu impacto ao nível social. Neste texto são abordados os temas seguintes:
- Manuel Castells: vida e obra
- Inovação
- O espaço dos fluxos
- Movimentos e organizações sociais
- Identidade
- Política e poder
- A volta ao mundo de Castells
- Um mundo de conhecimento
Como pessoa que tenho visto a informática e a Internet numa perspectiva quase exclusiva de utilizador (e fraco) esta associação ao social será com certeza deveras enriquecedora.
Contos escolhidos
(Eça de Queirós)

Trata-se de um livro da biblioteca Ulisseia com selecção e introdução de Maria das Graças Moreira de Sá.
Em primeiro lugar, devo dizer que aprecio sobremaneira os livros desta colecção. A edição é cuidada e o preço extremamente acessível. Por outro lado, as notas elaboradas por comentadores muito qualificados ajudam-nos a situar o autor na sua época e a compreender o texto em causa. Lembro-me que há dois ou três anos, adorei ler texto semelhante sobre Antero.
E como estão perto de nós autores como Eça e Antero. Nós pensamos "já passou tanto tempo", vamos ler um texto e tem uma actualidade tremenda.
Que vou eu encontrar neste livro?
- A Introdução pela Maria das Graças onde se encontra 1) Breve síntese biográfica, 2) Contexto cultural, 3) Obra literária e 4) Sobre os contos
- Singularidades de uma rapariga loira
- Um poeta lírico
- No moinho
- Civilização
- Frei Genebro
- A aia
- José Matias
- O suave milagre
Isto promete…
Um segredo mal guardado…
(Alexandrina Pipa)

Que giro!
Um livro da Som da Tinta.
Simpatizo muito com os livros desta editora, pois nunca são muito grandes, lendo-se bem. Isto é, ao fim de pouco tempo, temos aquela sensação de que cumprimos, que chegámos ao fim de qualquer coisa.
A autora deixa-nos logo no início o seguinte aviso:" Ao dedicar-me no presente a um assunto que há muito devia pertencer ao passado, quero dar o meu contributo para que crianças e jovens tenham um futuro mais digno".
Ora aqui está um nobre objectivo. Que esta referência possa catalizar a sua concretização
A força das palavras
(José Manuel Pereira Neves)

Mais uma edição da Som da Tinta.
Vejam este pequeno excerto:
O sonho é o motor da vida
pois sem sonho
não há esperança
e sem esperança
o amanhã não existe
O José Manuel é um deficiente motor que sofre de paralisia cerebral e começou a escrever poesia aos 15 anos.
As gentes e as arestas
a memória dos homens em viagem
(António Lains Galamba e Ricardo Brás dos Santos)

Terceiro livro da Som da Tinta para acompanhar este candidato a eremita.
Eis uma passagem sobre Ourém:
"Acordar não é pôr fim ao sonho, é vivê-lo de olhos bem abertos!"
Abandonado por todos
Já não chegava desprezo de longa data manifestado por distintos oureenses.
Agora, os poucos que me ligavam desistiram de o fazer.
Skywatcher, Al Simon, Santa Cita, ZéQuim, Eduardo... todos desistiram de deixar aqui a sua palavrinha.
Tal como o estrunfa-mor, saberei tirar as devidas ilações.

quarta-feira, agosto 18, 2004

A imagem de Santana Lopes
De acordo com o Público de hoje, uma das recentes contratações para o gabinete do primeiro-ministro, Marta Guimarães, vai tratar das questões de imagem de Santana Lopes recebendo a módica quantia de 3000 euros líquidos mensais.
Mas tranquilizem-se os portugueses...
A fachada, porque é disso que se trata, será suportada por mais professores no desemprego e pela travagem das despesas de funcionamento dos ministérios.
Uma nabice completa
É o que se pode dizer da participação olímpica portuguesa.
Apenas o ciclista, com quem ninguém contava, fez alguma coisa de jeito. Os restantes deixaram uma monumental imagem de ausência de profissionalismo, desleixo na preparação e falta de vontade de vencer que em nada orgulham os portugueses.
Então aquela equipa de futebol até me dá arrepios, só de pensar que daqui a uns anos será a equipa principal. Bom, nessa altura, talvez os prémios sejam melhores e eles se mexam um bocado. Agora, nem o bilhete de avião de volta mereciam.
Mais uma vez: há 55 anos…

Há 55 anos, surgiu essa revista magnífica denominada Mundo de Aventuras.
Muitos distintos oureenses terão passado algum tempo à sua espera todas as quinta-feiras, para conhecerem os seus heróis e aventuras. Para mim e para eles, Pacheco diria "criados pelo Mundo de Aventuras".
Pode dizer-se que a revista teve duas séries separadas por um período de curtas semanas. Qualquer das séries passou por várias fases. A série que mais me acompanhou foi a primeira pelo que, neste post, me refiro exlusivamente a ela.
A primeira fase da primeira série aconteceu entre 18-08-1949 e 15-06-1950 e permitiu a publicação dos números 1 a 44.
As dimensões eram enormes para uma revista desta natureza: 280*400. Nesse período teve dois directores: Mário de Aguiar e José de Oliveira Cosme.
Neste primeiro número, apareceram histórias de heróis como Luis Ciclone, Rip Kirby, Roldan (Flash Gordon), Johnny Hazard, Brick Bradford, desenhadas respectivamente por Milton Cannif, Alex Raymond, Mac Raboy , Frank Robbins e Clarence Gray.
A segunda fase estendeu-se por, aproximadamente 8 anos, entre os números 45 e 462. A minha leitura dos números desta fase não foi contemporânea da saída dos mesmos. Conheci-os através da colecção do meu irmão que contribuí para destruir alguns anos depois. É por isso a fase que me deixou mais saudade e que eu considero com as melhores histórias. Há capas e autores de textos que eu considero de antologia. Algumas das capas reproduzo-as à frente. Entre autores de texto não posso deixar de citar Roussada Pinto, um homem que era capaz de escrever um livro por noite e que se disfarçou sob múltiplos pseudónimos que, decerto, distintos oureenses recordarão: por exemplo, Edgar Caygill e Ross Pynn. Lembro a propósito que, em Ourém, foram muito famosos livros da sua autoria publicados na colecção Rififi e tinham títulos como "O caso da mulher nua", "O caso da mulher sádica", etc. Esta capacidade de trabalho de Roussada Pinto permitia-lhe também fazer alguns atentados: um deles é o facto de, muitas vezes, para os desenhos caberem numa página e a revista ter um número de páginas certo, proceder a autênticos cortes na obra, trucidando partes do desenho.
Aqui fica um breve roteiro pelas capas, tentando explicitar a diversidade de heróis e temas, onde se incluem os relativos à nossa história e lendas.

Mal conheci a terceira fase da primeira série que ocupou os números 463 a 511. Mas há lá uma belíssima capa que não pode ser deixada em claro. Já imaginaram a sensação de estar ali com aquele borrachinho a vigiar a passagem dos facínoras? Trata-se, na minha perspectiva, de uma fase de transição para um longo período de agonia.

A quarta fase é marcada por uma decisão incompreensível: publicação exclusivamente de histórias de cow-boys. É nela que se iniciou o meu acompanhamento semanal que durou vários anos. O primeiro número que comprei com a decisão de continuar foi o relativo à história do bandoleiro Jess James. Há algumas histórias engraçadas mas nada da magia da segunda fase.

O Mundo de Aventuras originou algumas revistas irmãs, embora com formatos diferentes. Recordo o Condor popular e a Colecção Águia. Recordo o Policial, o Espaço e as Selecções em momento de fixação nas cowboiadas. Mas este post já vem excessivamente longo.

terça-feira, agosto 17, 2004

Paralelos: mais ou menos há 31 anos no Notícias de Ourém
Olhos postos no Chile

O Chile é, por agora, um caso único na construção da sociedade socialista, porque assenta na legalidade constituída. Uma coligação de forças socialistas conseguiu pacificamente atingir o poder e dar os primeiros passos para a sociedade nova. Os obstáculos são múltiplos desde o imperialismo norte-americano às forças reaccionárias nacionais que, naturalmente, sentindo-se lesadas, impõem os maiores entraves, aproveitando toda a possível margem de manobra.
Algumas medidas de nacionalização e racionamento foram largamente contestadas. Os Estados Unidos, que durante décadas sugaram os rendimentos do povo chileno, tentaram por todos os meios impedir a eleição do presidente Allende e posteriormente moveram um boicote formidável ao desenvolvimento da economia. As classes antes privilegiadas vieram bramar contra o racionamento, tentando confundir o povo chileno, senhor de novas condições de vida, em relação aos seus verdadeiros interesses. Não querem deixar compreender que a escassez determina tal facto quando se pretende a igualdade.
Apesar do seu carácter pequeno burguês e como tentativa de transição pacífica, para o povo chileno vai o nosso calor. Parece que uma revolta militar estalou, que o futuro não será tão brilhante como o prometido, mas, se não houvesse problemas para resolver, ninguém o tentaria. O que interessa é, pelo menos, o gérmen estar lá e lá permanecer, desenvolvendo-se.
A verdadeira história das cassetes roubadas
Já sei que pensam que vou falar de Salvado e companhia.
Enganam-se redondamente.
A verdadeira história das cassetes roubadas tem a ver com Ourém e com quem a governa.
Não sei se já se aperceberam que, ultimamente, sempre que surge alguma notícia para Ourém com relevo, ela é seguida de entrevista ao Notícias de Ourém (NO) do nosso venerável presidente.
O que os leitores do NO não sabem é que muitas passagens acabam por não ser publicadas. O blogue Ourém, aproveitando a distracção de uma gentil repórter do NO, apoderou-se de uma cassete com gravações da mesma ao Presidente e procede aqui à sua divulgação.
- Está lá? É o senhor presidente?
- Sou sim.
- É do Notícias de Ourém. Nós pretendíamos que nos respondesse a algumas perguntas…
- Faça favor…
- Vai haver uma sessão na Som da Tinta com Vasco da Graça Moura. O que é que pensa de tal realização? Vai estar presente?
- Você está doida? Então acha que eu vou entrar naquele antro de comunas? Já estão com sorte se lá mandar o Frazão e a Deolinda…
- Mas não acha que eles vão ficar desprotegidos no meio daqueles comedores de criancinhas? Ainda por cima, os que lá estão são sempre os mesmos, eu vejo lá sempre as mesmas caras.
- Não insista. Eu não entro lá. Quero ter essa liberdade, isto aqui não é Cuba ou a Coreia do Norte…
- Mas, senhor presidente, bastava que lá fosse 1% do eleitorado do PSD para o ambiente mudar. Abafavam-nos logo.
- Já disse o que tinha a dizer…
- O senhor presidente é que sabe. Aquela editora é uma das poucas organizações que procede à divulgação da cultura em Ourém. É intenção da Câmara conceder-lhe algum apoio para prosseguir este objectivo?
- Mas quem é que os mandou divulgar cultura? E logo em Ourém. Isso é uma treta! O que eles querem é expandir o ideário comunista, ganhar as eleições e roubar-me a Câmara. E o Vasco da Graça Moura fez o jogo deles. Vou extingui-los nem que seja pela fome. Cultura é fado. Já viu a nossa realização "Noite de fados para os 200 principais oureenses"? É preciso estar com a realidade oureense. É preciso conhecer os principais e funcionar em função deles. O povo cresce culturalmente ao vê-los passar ao, pouco a pouco, interiorizar os seus hábitos pelo exemplo.
- Diga-me agora o que pensa de a Nestlé Waters estar interessada na nossa água.
- Eu já sabia que tínhamos água das melhores…
- Mas vai fazer alguma coisa para apoiar o projecto?
- O projecto? Que projecto? Já viu a água que vai ser precisa para regar o campo de golfe da cara de cavalo? Eles vão ter necessidade de construir uma fábrica. E onde vai ser a fábrica? Não temos terrenos…
- Como…!?!!
- Talvez haja qualquer coisa lá para Caxarias. Mas já viu o que vai ser concentrar 30 pessoas sob o mesmo patrão? Não acha que podem começar a desenvolver ideias comunas? É operário a mais, tudo junto. Além disso, não há desemprego no concelho. O que precisamos é de um parque de negócios e um campo de golfe para turistas…
- Mas não gostava de ver o nome de Ourém nas garrafas de água?
- Oh menina! A água é um produto sazonal. Você só bebe água no Verão, no resto do ano tem o tintol. No negócio do golfe, não há sazonalidade, nós vamos fazer a ponte entre Algarve e Coimbra…
A cassete interrompia-se aqui, mas a transcrição terá permitido compreender as verdadeiras prioridades do responsável autárquico.
Pão de Ourém
Mas quem goste dos chamados bicos, encontra-os excelentes naquele cafezinho das duas irmãs sob o escritório do Vitor Castanheira.
Antes, vendia-se na loja do senhor Moreira que deu origem ao Centro Comercial, mas transferiu-se para ali e ali ficou.
E como eu adoro a simpatia daquela padeirinha mais pequenina que, quando lá chego, tem sempre novo pãozinho chegado no momento: "quer da segunda cozedura?".
Pão caseiro
Ontem, antes de deixar Ourém, tive o cuidado de adquirir uma unidade de um pãozinho que aprecio muito e me sabe mesmo ao antigamente.
É dito caseiro e vende-se ali para o Intermarché. Delicioso.
Melhor, só o que adquiri há dias no Painel, na Lagoa do Furadoiro.

segunda-feira, agosto 16, 2004

Pela 28ª vez

Sempre admirei essa extraordinária capacidade de organização que se manifesta na festa do Avante.
Estando relativamente afastado do partido, apesar de me rever em muitas das suas ideias objectivo expressas, assisti a algumas das suas concretizações e confesso que me agradaram, sem nunca ter sentido necessiade de uma maior proximidade.
Conforme noticia o Avante de 12 de Agosto:"
No terreno, os trabalhos de montagem das estruturas, das madeiras e de decoração de todos os espaços ocupam muitas mãos voluntárias. Tubos, braçadeiras, pregos, martelos, pincéis e muita força de vontade elevam e embelezam os pavilhões, numa malha que se vai erguendo com mestria e precisão, formando, no seu conjunto, a quadrícula da cidade imaginada. Já cheira a Festa.
As organizações colocam madeiras que vão cobrindo as malhas de ferro, exigindo dos construtores, nesta ponta final da construção, a presença e o entusiasmo que é imagem de marca do maior evento político-cultural do País".
Este ano será dada especial relevânia às potencialidades dos sistemas e tecnologias de informação e do chamado software livre como pode ser constatado pelos meus amigos nestas duas peças:
Espaço novas tecnologias de informação
Komunixemos!
O nosso amigo Sérgio Ribeiro estará presente num dos muitos debates previstos.
Uma traiçãozinha
Hoje estava com pressa e não fui ao Central tomar café. Fiquei ali por um pequeno cafezinho, do lado direito de quem desce, depois da casa da fruta e do peixe congelado, um local que tem algo de tropical.
E, garanto-vos, a bica era excelente (e a 45 cêntimos).
Referendo
Na Venezuela, Chavez, a quem a direita apelida de ditador, sujeitou-se a referendo e venceu com uma diferença relativa de 38% (58% contra 42%).
Antecipadamente, avisou que aceitaria qualquer resultado do referendo.
No entanto, os democratas vêm agora contestar os resultados. Isto é, sujeitaram-se ao referendo, mas só serviria se ganhassem...
Não há aqui qualquer coisa de estranho?

domingo, agosto 15, 2004

Despedida?
"Sinto com emoção que cheguei ao termo da minha peregrinação".
Discordando dele em quase tudo, não posso deixar de me comover com o valor que sempre atribuiu à nossa terra e a uma mensagem de paz por vezes adulterada por interesses comerciais e políticos e recordo, satisfeito, a monumental desanda que, há uns meses, teve a coragem de dar ao famigerado Bush, o das cruzadas do século XXI.
Manhã de Domingo (2)
Vou até ao café Ourém.
Nunca falei neste café no meu blogue. A verdade é que nunca fez muito parte de mim apesar de saber que é venerado por alguns oureenses. Respeito-o e respeito-os, mas digo que, há uns quarenta anos, por cima do Ourém, no local onde funcionava o Grémio do Comércio, disputei renhidas partidas de bilhar.
O Zé Honório ou o Miguel Valdemar controlavam e noite alta lá regressava por todo aquele caminho até à Rua de Santa Teresinha.
Hoje, no Ourém, abasteci-me de jornal e bica. O ambiente estava quente a contrastar com este dia cinzento, um pouco triste. Gosto dos dias cinzentos de Ourém. Mas os verdadeiramente belos são em Novembro, não em Agosto. E sei que o Luís Nuno partilhava este gosto comigo, tanta vez falámos nisso.
Embirro um pouco o café de marca que me foi servido: Buondy, Segafredo não têm para mim o sabor mais simpático. São demasiado agressivos, o seu gosto e o seu efeito estomacal perduram por tempo demais após a tomada de sabor.
Lá volto até ao carro. A avenida parece uma auto-estrada, carros a passar atrás de carros, mas Ourém parece uma terra sem vida, uma terra de passagem.
Manhã de Domingo (1)
No "centro histórico", não se vê vivalma. Com os três cafés fechados, não há quem se atreva a percorrê-lo. No local do fado, já não parece haver resquícios da borga.
Marqueses, barões, condes e condessas já retiraram há longas horas e só lhes resta a recordação daquelas horas de cultura para o povo que teve o privilégio de os ver passar.
O Marquês Cabeça de Vaca, enquanto acerta o laçarote ao pescoço, ensaia algumas passagens do encapuçado que a sua origem castelhana não lhe deixa perceber do melhor modo.
A Condessa do Pé Descalço procura fazer tranças pretas mas a carapinha que herdou dos ancestrais não lhe permite replicar a referência do da Câmara, mau grado o brasão que tinha adquirido a um aristocrata arruinado. Em vão, ela trauteia:
Como era linda
com seu ar namoradeiro
...
O Alcaide contempla os seus cavalos ainda cansados da monumental caminhada sobre o asfalto e enquanto os dirige para o bebedoiro entoa o Agora choro à vontade:
E eu
a quem o fado não quis
vou chorando a cada passo
o grande amor que perdi

Meu coração
perdido à toa
...
Para os lados do Bairro alguém pensa em nova realização para melhorar a cultura do povo de Ourém. "Schubert para os dez principais oureenses"? A quinhentos euros a entrada podia render uns mil contos que mandávamos para as criancinhas pobres de Moçambique.
Isto, meus amigos, não é viver na lua, é tentar compreender o que se passa em Ourém. E não o achar normal por mais normal que vá parecendo.
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