A voz quente, pausada, dominadora, por vezes trémula, propositadamente comovedora, de Läss Carina apoderou-se num instante do espaço da assembleia:
Hino das conferências da cidade dos pioneiros
Golden City, terra forte
Onde cheguei, onde vim
Gado ao sol , vento norte
Quero-te comigo ou sem mim
Terra de estórias dos sem lei
Rainha de luz e esplendores
Golden City, aqui passei
Por tantas lutas e amores
Todos:
Golden City, destruir, destruir
Golden City, cidade maravilha
Golden City, destruir, destruir
Golden City nas mãos da camarilha
Houveram guerras, sonhos, morte
Batalhas e ilusões
Golden City bela e forte
Tens palácio e aldrabões
Tens desfiladeiros rasgados por cavalgada suprema
São sinais de tantas estórias
Onde o povo que já não ordena
Increveu as suas memórias
Todos:
Golden City, destruir, destruir
Golden City, cidade maravilha
Golden City, destruir, destruir
Golden City nas mãos da camarilha
Tens mulheres lindas e belas
Princesas do nosso futuro
O povo cria as suas novelas
Com beijos inscritos no muro
Um muro de amor e vontade
Onde em sangue e tempo novo
Será inscrita a verdade:
Abaixo os que licham o povo!
Todos:
Golden City, destruir, destruir
Golden City, cidade maravilha
Golden City, destruir, destruir
Golden City nas mãos da camarilha
No final, uma lágrima furtiva, traiçoeira apareceu na face de Läss Carina. Alguém esboçou um tímido aplauso. Mas uma voz não deixou as coisas avançarem:
- Quem é que escreveu esta porcaria? - perguntou furibundo Ó Bössta.
Farison não sabia o que havia de dizer.
- Bom, foi um papel que eu encontrei e pensei que se adaptava...
- Pensaste? Mas tu pensas, alimária? Já viste o que está ali escrito? Tu nem sabes ler, certamente. Aliás, eu não acredito que o tenhas encontrado. Diz-me lá quem to deu...
- Foi o Serge Small River...
- Small River... Big Mind - murmurou Would Do.
Mas Ó Bössta não estava contente.
- O agitador. Já estava à espera dessa. Não veio à assembleia, mas esteve presente através da tua pessoa. Por que não me disseste logo? Esse Small River faz-se nosso amigo mas, na primeira oportunidade, tira-nos o tapete. Ele quer correr connosco. Não viste a actuação dele no festival de country no Art Saloon? Aquilo mais parecia uma sessão de propaganda de comunas com mensagens contra a corrupção...
Farison engoliu em seco. Pouco a pouco, a assembleia foi desmobilizando. O final não tinha sido muito feliz para Ó Bössta, mas duas propostas fundamentais tinham sido aprovadas e poderia dar uma lição aos habitantes de Castle Street.
A paz parece estar definitivamente quebrada em Golden City. Ó Bössta prepara-se para correr da cidade pacatos cidadãos cujo único crime foi o de manifestarem-se contra ele. Haverá resistência? E os rancheiros? Nunca tomarão consciência de como foram conduzidos àquela decisão pelo governador?