Havia um estranho ritual entre alguns oureenses baseado no que se lia nas revistas de quadradinhos. Fazer uma pequena incisão no pulso, juntá-lo com o de um amigo de toda a confiança e, a partir daí, ficavam irmãos de sangue.
O Luís Nuno deve ter sido quem reuniu mais irmãos, tendo trazido a essa qualidade o Humberto e o Jó Rodrigues.
Um dia, por trás desta porta, tive uma conversa com ele sobre este assunto. Esperávamos o Manel, já não me lembro o que se guardava por ali, mas era um espaço agradável, talvez o melhor local para se instalar o «Santuária da Irmandade».
O Luís falava em termos de aliciamento para a causa, no que já era um perito, mas eu nunca me senti muito atraído, incisões e outras coisas sempre fizeram impressão e, como sabem, a coragem não abundava. De modo que a nossa amizade continuou sem este ritual um tanto selvagem.
Mas, nessa noite, algo de extraordinário invadiu os meus sonhos. Parecia que uma corrente de sangue fluía do improvisado Santuário para a nossa ribeira que, progressivamente, se ia tingindo de vermelho cobrindo enorme extensão. Houve quem chamasse àquela zona «Red River Valley»...
E, enquanto eu sonhava, parecia ouvir o som de uma harmónica de boca.