quinta-feira, julho 17, 2003

Tenham paciência

Isto vai, mas é devagarinho. Até posso estar uns dias sem me apetecer pôr aqui qualquer coisa.
Vamos até Ourém nos anos de 1972 a 1975.
Agora ainda me encontro lá com alguns como o Julito, o Quim, mas a terra fugiu-me quase completamente.
Vou tentar recuperar artigos do "Notícias de Ourém" e do "Ourém e seu concelho" dessa época. Vou opinar que quem tem governado Ourém estragou aquilo tudo porque não era da terra, faltava-lhe algo como o amor a. Procurarei mostrar algumas coisas que não podem ser destruídas.
E não se esqueçam: ainda estou a aprender utilizar isto
Até breve
A Juventude do Silêncio

De um filme recentemente passado num estúdio de Lisboa retira-se a seguinte ideia: "A juventude de hoje é filha de Marx ou da Coca-Cola(*)'. Se existe grande soma de verdade nessa afirmação, parece-nos que ela esquece os que não são uma coisa nem outra. Isso é natural, pois a frase situa-se num país com determinantes económicas semelhantes ao nosso mas com uma formação ideológica totalmente desigual.
Entre nós é bem diferente. A Coca-Cola já se tornou objecto de consumo corrente não na forma tal qual é mas sim noutras formias mais sofisticadas enquanto o restante permanece ausente muito embora apareçam algumas "ovelhas ranhosas".
É assim que, para a nossa terra, temos de modificar quase total-mente o sentido da expressão. E se por vezes o silêncio coincide com a Coca-Cola, os interesses dos seus portadores levam-nos ao seguinte: entre nós, a juventude é filha do silêncio ou da Coca-Cola. Mas nada de confundir silêncio com a ausência de barulho de motorizadas ou de música pop. Este é bem querido e estará sempre presente.

(*) Masculino - feminino de Godard

LV
Exaltar a Humildade?
PARA CONSERVAR OS HUMILDES SERVOS

Eu creio que se existisse urn para cada oprimido, não haveria habitantes que chegassem para os "Becos da Pouca Sorte". Mas seria boa a existência de pelo menos um para que a consciência se não desanuviasse pelo simples tomar uma bica.
Não gosto de exaltar os humildes nem a humildade. Pelo menos nos termos em que isso usualmente se faz que mais não visam do que manter as pessoas na apatia em relação às suas condições de vida bem real. E isto por uma razão bem simples.
A pouca sorte de uns está muito ligada à boa sorte de outros. Por isso, o "Beco da Pouca Sorte" ficaria em beleza ali mesmo no centro da praça, lugar de passagem quase obrigatório para todos os ourienses. Talvez assim se sentissem mais estimulados a uma actividade social visando os problemas colectivos, em vez de resolverem os problemas dos outros com uma esmolinha ou um prato de sopa.
O Mundo destrói hoje em guerras bens que dariam para alimentar muita gente. A riqueza de hoje daria mesmo para todos terem uma vida decente com os problemas culturais e de distracção bem resolvidos. Mas o fosso vai-se cavando e alargando. E aqueles de que falámos em "figuras de todo o mundo" serão cada vez mais se uma acção colectiva os não elevar a níveis de vida dignos de seres humanos.
Essa acção pode ser só deles ou de todos. Depois não se queixem, porque, apesar de tudo, eles são conscientes.

LV

Nota: Na época Figuras de todo o mundo provocou alguma agitação. Houve uma resposta publicada no Notícias de Ourém cujo autor já não recordo, mas que era muito simpática. Esta é uma contra-resposta: uma saída à revolucionarão da época.


VEGETAR

Era uma vez uma terra.
Havia lá pessoas e tudo. As pessoas trabalhavam durante o dia e descansavam à noite. Algumas não faziam assim mas também não tra-balhavam à noite.
Geralmente mostravam-se assoberbadas com os seus negócios sem compreenderem que eles não seriam possíveis sem o trabalho dos outros.
Estes estavam na fabrica, no escrit6rio ou no campo. Após uma jor-nada de trabalho viam que, com o que recebiam, podiam comprar pelo menos o produto de três horas. Isso não os inquietava muito, porque tinham mais em que pensar.
Assim, nos tempos livres, dedicavam-se aos copos, ao jogo ou à televisão. Se o trabalho as poluía, o mesmo acontecia com os outros elementos. Mas isso não o compreendiam porque eram a sua liberdade, a liberdade possível.
Como já devem ter notado, havia também duas juventudes: a que sonhava com pópós e a das fabricas.
Não se falavam. Naquela terra era um crime olhar para mais alto ou para mais baixo, por isso cada uma aspirava às posições paternais. Com algumas excepções. Excepções que podiam ser o Cavalo de Tróia do marasmo que aí se vivia, e abrir decisivamente o caminho para uma real cooperação entre as pessoas, cimentando a sua amizade em vez de recalcar ódios.
Porque, desculpem que o diga, o que lá se faz, é vegetar.

LV

FIGURAS DE TODO O MUNDO

Em figuras da nossa terra fala-se em doutores, industriais, benfeitores que alguma vida trouxeram ao nosso meio. Não se fala no «Zizi» ou na Amélia Perra. Não se fala porque não são figuras da nossa terra.
Eles são figuras de todo o mundo.
Eles estão na América Latina, na África, na Ásia, nos bairros da lata, nas barracas, nos bidonvilles, nos guetos.
A todo o momento, a sociedade que os criou, os espezinha e os marginaliza.
A sua vida foi uma imensa produção de riquezas. Neste momento, alguns só têm de seu a barriga podre de álcool que os acompanha enquanto esquecem, adormecidos, em qualquer valeta. Outros perdem-se no ocaso de uma vida nobre toda dedicada ao trabalho.
A estes nós esquecemos, nós fazemos por esquecer. Porque são urn desafio à nossa comodidade cheia de individualismo. A nossa consciência não comporta mais problemas que a salvaguarda do lucro e da acumulação.
Na América Latina, de cinco em cinco minutos, morre uma criança de fome. Nos Estados Unidos, em cada cinco minutos, faz-se urn opíparo banquete. Até quando?
Até que todos nós compreendamos que eles também são produto do nosso bem-estar. Produto e obreiros. E os alimentos não param no estômago.

LV
(Notícias de Ourém, lá para 1972)

Esta é para testar texto
Mas aquela terra parece cada vez mais longe de mim.
As pessoas são cada vez mais outras. Apoderaram-se do meu espaço, destruiram quase tudo que me dizia alguma coisa e têm o atrevimento de afirmar que tudo são melhorias.
Os amigos foram desaparecendo pouco a pouco. Primeiro o Zé Manel Depois o Jó Rodrigues, Recentemente o Luis NUno, o Felix. Que raio de vida esta. Anda alguém a divertir-se À nossa conta dando-nos prazer no passado e agora a destruir tudo?????
Comecemos pelo Notícias de Ourém.
Que será feito do famigerado LF?
O homem escrevia, escrevia... imperturbável de todo. Quanto mais lhe desancava, mais refinava o canto de sereia e a minha irritação crescia do lado de cá
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