sexta-feira, março 24, 2006

A canção da(o) outra(o)

Afinal a minha querida Mónica de Sintra não era original na sua tão conhecida canção. A prová-lo temos as excelentes canções da década de sessenta que se dedicaram ao tema e que irão acompanhar os amigos oureenses na próxima semana. Canções de sentimento lancinante. A dor em toda a sua beleza. Garanto-lhes duas maravilhas daquelas de não perder de maneira nenhuma. Aliás serão as duas últimas desta fase já que possivelmente farão a ponte para a primeira semana / quinzena do fado do OUREM, mais uma efémera efeméride a não perder.
Há um pequeno senão. Um saltinho da agulha do gira-dicos provocu uma pequena ferida no início de uma delas e é-me impossível voltar atrás pois já não disponho do original. O meu editor musical também não me faz a passagem de MP3 para WAV pelo que não posso suprimir essa pequena passagem sem perder um CD (custo demasiado elevado para tão pequeno problema). Por isso, contentem-se. Lá para sábado à noite ou domingo de amanhã aqui estará a primeira dessas canções. Qualquer coisa do tipo: Arrete, arrete...
A questão de se saber se Deus existe

Há dias, anónimo amigo publicou este texto excelente:

Perguntou alguém ao senhor K. se Deus existia. E ele respondeu assim:
"Aconselho-te a reflectir, para ver se o teu comportamento se modificaria consoante a resposta que se der à pergunta. Se não se modificar, poderemos esquecê-la. Se modificar, poderei dar-te alguma ajuda dizendo que tu próprio decidiste: precisas de um deus."

(Histórias do senhor Keuner, Brecht, tradução de Luís Bruhein, Hiena Editora, 1993)

Apesar de demolidor, o argumento não me deixa completamente convencido. O problema da existência de Deus não se prende com a vida actual, mas com a eventualidade de uma vida futura, isto é, de uma vida para além da morte. E aí, mais uma vez não tenho qualquer certeza. Minto, tenho uma: a de que teria muito prazer em reencontrar muitos dos que já partiram...

quinta-feira, março 23, 2006

O 25 de Abril é banido da Assembleia Regional da MAdeira

Também ouvi. E a decisão não é só do Reizinho, mas do PSD. Alerta o Skywatcher:

Desculpe ser aqui, mas tinha que manifestar o meu repúdio por aquilo que ouvi há pouco no Telejornal: O Reizinho da Madeira quer proibir as comemorações do 25 de Abril na Assembleia Regional. Será que aquele, a quem há bem pouco tempo chamou jocozamente "O SR SILVA", vai ficar calado, perante tal afronta e continuada guerra à democracia?

É uma espécie de clarificação das águas. Sentem-se mal com a democracia, rejeitam a comemoração do seu estabelecimento. E são coerentes: impõem essa decisão aos outros que fazem parte da mesma Assembleia. E em Ourém alguém pensa: ai seu eu pudesse...
E para quando uma política que salvaguarde, catalogue e disponibilize os despojos da cultura popular oureense do século passado?

Eu sei que a actual vereação não é a única culpada.
A culpa nunca reside solteira e, neste campo, há décadas de desprezo votado a tais realizações. Mas é importante ter em conta este comentário do NA:

Como seria bom se em Ourém, houvesse uma casa/museu, onde podessemos aprender com o que no passado foi bem feito.
Há pouco tempo, alguém me contou que uma senhora que participava nestas peças teatrais tinha guardado os vestidos que usava quando representava e que "pensava dá-los aos pobres, pois já nã serviam para nada".
Se ninguém se mexer...adeus vindima!

Eu sei que a actual vereação não é a única culpada, repito. Mas agora que existe o alerta, se nada fizer será com certeza a principal...

quarta-feira, março 22, 2006

FADO DO MENDIGO

Mendigo desde criança
Porque a minha santa mãe
Não me deixou outra herança
Por ser mendiga também.

Durmo só pelos caminhos
Ladram-me os cães dos casais
Só sei o que são carinhos
Quando entro nos hospitais.

Quando às vezes sem ter pão
Tenho fome peço a Deus
Que me dê por compaixão
Um caminho lá nos céus.

E nem ele me consola
Que é tão negra a minha sorte
Que nem sequer por esmola
Deus tem para mim a morte.
Má Língua

É notável a documentação que o Outrora, pela mão de NA, nos traz sobre a vida cultural de Ourém na década de trinta do século passado. Esta geração que nos precedeu era formidável, deixou tesouros que, na sonolência e até alienação do meu tempo, não conseguimos prosseguir.
Até ao momento estão publicados os seguintes documentos:
- Má Lingua I - um folheto sobre as coplas da revista Má Lingua.
- Má Língua II - As Tremoceiras.
- Má Língua III - Central e Magarefe; foto do elenco das Tremoceiras.
- Má Língua IV - Pensões.
- Má Língua V - Fado do Mendigo; o Mercado; o Repolho.
- Má Língua VI - Varredores.
- Má Língua VII - Festeiros de Santo António.
- Má Língua VIII - O Sacristão; a Cegada.
- Má Língua IX - A Menina do Balão.
- Má Língua X - Os Barbeiros.
O meu irmão diz-me que, no convívio, quando o ambiente animava, o Melo (Fio de Azeite) e o Torrejano eram óptimos intérpretes destas canções populares.
Também possuí alguns exemplares mas o tal imperdoável descuido fez com que tudo se perdesse. Para que tal não volte a lamentar, já fiz uma cópia de segurança destas páginas do Outrora. E agora fico à espera de ler mais maravilhas que o NA nos traga, deixando no post seguinte um extracto que trsnaportarei para a mini-antologia do Ourem.

terça-feira, março 21, 2006

O indomável

Há daquelas pessoas que não perfilham os mesmos ideais que nós, mas a quem admiramos a coragem, a capacidade e a persistência.
Ainda na década de sessenta, o Jó Rodrigues chamou-me a atenção para alguém que utilizando a caricatura, a obscenidade e o texto mordaz fazia uma terrível desmontagem do sistema que nos dominava. Nessa época, tive a sorte de um dia na Marina ainda encontrar um dos livros que a Censura não tinha apreendido.
Refiro-me obviamente a Vilhena, personagem bem conhecida, de que os meus amigos encontrarão notável referência em Tabacaria e que, em 1961, na História Universal da Pulhice Humana, no texto sobre o Egipto, nos brindava com esta alusão:

"O seu regime era de tal maneira sombrio, sinistro e policial, que vós, amados leitores, criados num paraíso de liberdades, não conseguiríeis sequer imaginar. Em Assur, em Ninive e na Babilónia reinavam o terror, o bastão, a denúncia, o boato político, a incerteza do dia de amanhã. A cada esquina postavam-se ferozes Pideteucos armados até aos dentes, espiando os menores ruidos e as mais inocentes vozes"

Deixo-vos com mais duas imagens e me vou porque o tempo escasseia-me...


Um retrato bem actual da nossa economia


A letra R

segunda-feira, março 20, 2006

A auja de Português


Nunca simpatizei muito com o tempo frio. Por isso, quando o Dr. Armando, numa aula de Português, nos encomendou uma redação sobre as estações do ano, não me fiz rogado. Escolhi falar sobre o Inverno e desatei numa ladainha confrangedora.
“Tu, infame, maldito, tu que na floresta afogas o pobre animal que busca alimento, tu que nem poupas a velhinha que tirita de frio junto à lareira na cabana, tu que nos mandas tempestades e mil cataclismos, tu, cobarde, não mereces existir. Vai-te, desaparece e não tentes voltar.”.

***
Passados dias, foi a entrega das redações devidamente corrigidas. Não houve observações de maior até ao meu caso e aí o professor passou algum tempo a ler e a olhar-me.
Em certo momento, o Dr. Armando parou a leitura e olhou gravemente para a turma. Apesar de tudo estava muito calmo. Eu é que não. Comecei logo a pensar que o atrevimento me sairia caro e não escaparia sem sova. Meditou durante algum tempo e depois disse:
- Pois é, Luís... tens esta imagem da velhinha que corresponde bem à realidade, mas não podes ser tão negativo. Lembra-te que o Inverno, tendo todos esses defeitos, deixa nas terras aquilo que vai permitir que, mais tarde, tu vejas florescer o que tanto aprecias... 

Ufa…...

domingo, março 19, 2006

Languidez

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...

E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...

Florbela Espanca
Derniers Baisers
Era inevitável.
Já todos tinham adivinhado certamente. Então não voltaríamos a reproduzir os "Les Chats Sauvages"?
Amigos oureenses, este era mais um dos nossos hinos. Do Avenida, do Central, da praia...
E agora é que estamos quase a chegar ao fim...

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