sexta-feira, abril 28, 2006

O código David

Destruir, destruir, destruir...
Deixar degradar e destruir...
Entregar aos agentes do negócio...

Este é o retrato da miserável política da cambada de urbicidas que tem gerido a autarquia.
Até dá para elaborar um mosaico. E garanto que faltam ali algumas peças entre as que já foram e as que estão programadas.
A legenda fica a vosso cargo.

quinta-feira, abril 27, 2006

O código Picasso

Na lateral direita superior (visão do observador) destaca-se a figura de um homem com os braços levantados, boca aberta e pescoço muito comprido. Essa figura pode simbolizar duas coisas: o homem, que está apavorado, devido aos seus traços torcidos, tenta deter as bombas que são lançadas sobre a cidade. Uma outra hipótese é que essa figura faz analogia a figura principal da obra "Os fuzilamentos" do 03 de maio de 1808 de Goya.


O fato de o quadro de Goya também ser motivado por um ato de brutalidade contra pessoas inocentes reforça essa teoria.

Na lateral direita inferior, pode-se ver a figura de uma mulher que parece sair da escuridão para dentro do cone de luz.

Sua expressão de completo esgotamento, como se carregasse um grande fardo, e seu rosto erguido na direção da luz pode ter uma certa semelhança com as imagens de Jesus Cristo carregando a cruz.

Essa imagem talvez seja uma tentativa de exprimir o sofrimento humano, mas sem simbolizar explicitamente o cristianismo.

No lado direito superior e ao centro, logo ao lado da figura de um homem com os braços levantados, vemos uma figura que parece surgir, suavemente, por debaixo das telhas. Essa figura, com o rosto dominador, e que vem do infinito, olha horrorizada para o cavalo ferido. Repare que ela está boquiaberta, como se não acreditasse no que estivesse vendo.

No centro superior da tela, próximo à cabeça do cavalo, existe um braço, que se parece como uma nuvem. A sua mão disforme segura uma lamparina a óleo, muito comum nas casas de camponeses.
Essa lamparina emana uma luz suave, que talvez represente a luz da consciência

Ao lado da lamparina, sobre a cabeça do cavalo, está uma espécie de lâmpada elétrica. Devido ao seu formato de sol, essa figura pode sugerir o "olho de Deus", que vê tudo vê. Repare ainda que até mesmo essa luz parece "gritar de horror".

Na parte central do quadro, vemos um cavalo em agonia. Repare que ele está caído de joelhos, como se estivesse sentindo as terríveis dores causadas pela lança fincada em seu corpo e por uma enorme ferida ainda aberta.
A cabeça do cavalo está voltada para o touro. Da boca do cavalo parece sair um rugido feroz, um misto de ira e dor. Repare que esse "urro" parece estar direcionado para a figura do touro, ao lado.
O cavalo pode representar a angústia do povo espanhol. No entanto, essa figura é ambígua, pois segundo alguns críticos de arte, o cavalo, devido aos traços rígidos, que beiram o patético, representam o general Franco.
No lado esquerdo da tela encontra-se o touro. Essa é também é uma figura ambígua, pois nele pode estar representada a resistência do povo espanhol. No entanto, o touro, que representa brutalidade, pode simbolizar o general Franco.

Repare que o touro está parado, abanando a cauda, como se, "após um ataque bem-sucedido", recuasse para ver os "estragos feitos no adversário" e se preparasse para o próximo ataque. A presença do touro deve-se também ao fascínio que Picasso sempre teve por touradas, esporte nacional, que aparece freqüentemente em suas obras.
Uma vez questionado sobre a ambigüidade existente entre as figuras do touro e do cavalo Picasso disse: "Este touro é um touro, este cavalo um cavalo (...). É preciso que o público, os espectadores, vejam no cavalo, no touro, símbolos que eles devem interpretar como os compreendem". (extraído da obra Mundo; Homem; Arte em Crise de Mário Pedrosa)
Dentre tantas figuras complexas existentes em "Guernica", a mãe, que carrega uma criança morta nos braços, talvez seja a de mais fácil interpretação.

Nessa imagem percebe-se claramente a dor que sente uma mãe quando perde um filho. Não só essa mãe, ou só as mães da cidade de Guernica, mas sim todas as mães do mundo, ou seja, essa dor é a mesma dor que tiveram as mães americanas e vietnamitas quando perderam seus filhos na guerra do Vietnã.
Janeiro, ao verem seus filhos brutalmente assassinados. É também a dor das mães que viram seus filhos serem covardemente assassinados no atentado do World Trade Center em Nova York.

Voltando a Guernica, o grito da mãe é representado por sua língua pontiaguda, que nos faz lembrar um estilhaço de vidro ou, até mesmo, um punhal. Vale lembrar que "cacos" semelhantes aparecem em outras partes do quadro.
A figura da mãe ainda ajuda a aumentar um pouco a discussão sobre o que pode simbolizar o touro e o cavalo.
Repare que a mãe está quase que envolvida pelo touro e seu grito parece ir praticamente em sua direção. Sob a ótica de que o touro simbolize o povo, a figura da mãe procura a proteção do povo e "grita" para compartilhar a sua dor com ele.

No entanto, sob ótica de que o touro o General Franco, pode-se dizer que a mãe procura fugir, já com seu filho morto, do meio de toda aquela brutalidade, pois ela parece caminhar em direção à porta. No entanto, o touro a impede de concluir seu intento. Essa teoria é reforçada pelo próprio momento histórico: quando os sobreviventes do ataque aéreo tentaram fugir para os arredores da cidade, eles foram alvos das rajadas de metralhadora disparadas pelos caças nazistas. Além disso, a semelhança entre a língua pontiaguda da mãe com a língua, também pontiaguda, do cavalo permite concluir que tanto o cavalo como a mãe "gritam" de forma semelhante, ou seja, ambos são vítimas da brutalidade.


Toda a lateral inferior esquerda do quadro é ocupada por uma figura totalmente mutilada, que pode ser assemelhada uma espécie de guerreiro. Repare que, apesar de ter a cabeça e os braços cortados, o guerreiro está agarrado a uma espada quebrada, simbolizando assim a resistência do povo espanhol. Próxima a sua mão, ainda contraída em torno da espada quebrada, encontra-se uma flor, símbolo da esperança de uma nova era.
A flor, símbolo da esperança, quase que unida à espada, símbolo da resistência, juntas, podem transmitir uma mensagem do tipo: "enquanto houver resistência haverá esperança".


in: Mundo Cultural

quarta-feira, abril 26, 2006

Guernica




A obra Guernica de Pablo Picasso tem como tema o bombardeio à cidade basca de Guernica, no dia 26 de abril de 1937, que culminou com a morte de 1654 pessoas e 889 feridos. Pode-se dizer que a tragédia de Guernica começou em julho de 1936, quando o exército, liderado pelo General Franco, se revoltou contra o governo da II República Espanhola, dando origem à guerra civil espanhola, que terminou em 1º de abril de 1939 com a vitória dos revoltosos. Ainda em julho, mais precisamente na noite do dia 25, Hitler decidiu apoiar o General Franco.
Com a perda de Madrid, os revoltosos necessitavam abalar, de alguma forma, os Republicanos. Para isso, adotaram a estratégia de bombardear, ininterruptamente, um alvo qualquer com bombas de fragmentação e incendiárias. O alvo escolhido, muito provavelmente por Franco, foi à cidade de Guernica. Essa escolha deve-se aos seguintes motivos:

Guernica não tinha população numerosa e nem proteção antiaérea, ou seja, a cidade era um alvo fácil;
A cidade abrigava um velho carvalho (Guernikako arbola). Sob o qual, desde os tempos medievais os monarcas espanhóis juravam respeitar as leis e costumes dos bascos. Destruir a cidade seria uma espécie de castigo a todos os que imaginavam uma Espanha federalista ou descentralizada. Destruir Guernica significava também abalar, moralmente, os adversários.

Em 4 de maio de 1939 a Prefeitura de Guernica, dirigindo-se ao povo espanhol, divulgou o seguinte comunicado:

"Em pé, diante desde microfone, quero contar o que os meus olhos viram no lugar do que já foi Guernica, e tomo Deus como testemunha:
Envergonhados pelo monstruoso crime que cometeram, os rebeldes apelam para a falsidade para camuflar, para negar a mais vil das proezas da História, a total e absoluta destruição da cidade de Guernica.
Aquele dia fatal, 26 de abril, era dia de mercado e a cidade estava cheia de gente. Em Guernica havia milhares de camponeses de toda a vizinhança, numa atmosfera de camaradagem basca, e ninguém suspeitava de que uma tragédia se aproximava.
Pouco depois das quatro da tarde, aviões jogaram nove bombas no centro da cidade. Procurávamos os feridos, quando mais aviões surgiram, jogando todo tipo de bombas, incendiárias e explosivas.
As feras que pilotavam tais aviões, logo que avistavam nas ruas ou fora da cidade uma figura humana, focalizavam nela suas metralhadoras, semeando terror e morte, entre mulheres, crianças e velhos. Tal foi a tragédia de Guernica, cuja verdade, eu, prefeito da cidade, afirmo diante do mundo inteiro.
A Milícia estacionada em Guernica, naquele dia, era exatamente a mesma que havia confraternizado todos esses meses com o povo de Guernica, ganhando sua afeição. Foi a primeira a prestar auxílio naqueles momentos terríveis. Não foi nossa milícia que ateou fogo a Guernica, e se o juramento de um alcaide cristão e basco tem algum valor, juro diante de Deus e da História que aviões alemães bombardearam cruelmente nossa cidade até riscá-la do mapa."
Guernica foi ferida, mas não morrerá. Da árvore brotarão novas folhas verdes em toda primavera; seus filhos a ela retornarão; suas casas serão reconstruídas, suas igrejas escutarão novamente seus hinos e preces...
Guernica, o símbolo de nossas liberdades nacionais, e o símbolo da ferocidade do fascismo internacional, não pode morrer."
Fonte: História do Século 20, volume 4 - Abril Cultural

terça-feira, abril 25, 2006

Traz outro amigo também

Aqui, pelo OUREM, já passaram o ZéBitor, o Santa Cita e o Sérgio todos unidos neste monumental hino à liberdade que é o 25 de Abril que tem notável particularidade de unir pessoas, mesmo que não estejam totalmente de acordo umas com as outras.
Há trinta e dois anos também foi assim. Por esta altura, a vitória parecia assegurada, os que não acreditaram e abandonaram no momento da decisão começaram a regressar ao quartel onde foram recebidos com alegria dando mais força à unidade contra o regime opressivo.
É altura de ouvirmos nova canção do Zeca...

Traz outro amigo também

25 de Abril

Um dia para recordar sempre

Oiça as canções do Zeca no OUREM: "Grandola, Vila Morena"

segunda-feira, abril 24, 2006

Cantares do andarilho

Já fiz recados às bruxas
do caselho à portelada
dei-lhes a minha inocência
elas não me deram nada.

Andei à giesta
ao lírio maninho
na Bouça da Fresta
no Casal Velido
erva cidreira
à erva veludo
na Lomba regueira
no Pinhal do Mudo.

Andei ó licranço
andei ao lacrau
no Monte do Manso
na Espera do Mau
vibra à carocha
ao corujão cego
na mata da Tocha
no rio Lágedo.

Fui andarilho das bruxas
moço de S. Cipriano
já fui morto e inda vivo
vendi a alma ao Diabo.

Era donzel e guardei-me
p´ras filhas da feiticeira
parti-me em metade à loira
noutra metade à morena.

Oiça as canções do Zeca no Ourem: "Cantares do andarilho"
Canto Moço

Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nós vamos
À procura da manhã clara

Lá no cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá no cimo duma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.

Oiça as canções do Zeca no OUREM: "Canto Moço"

domingo, abril 23, 2006

Vejam bem

Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem se põe a pensar
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar

E se houver
uma praça de gente madura
e uma estátua
e uma estátua de de febre a arder

Anda alguém
pela noite de breu à procura
e não há quem lhe queira valer
e não há quem lhe queira valer

Vejam bem
daquele homem a fraca figura
desbravando os caminhos do pão
desbravando os caminhos do pão

E se houver
uma praça de gente madura
ninguém vem levantá-lo do chão
ninguém vem levantá-lo do chão

Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar

Oiça as canções do Zeca no OUREM: "Vejam bem"
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