sábado, abril 30, 2005

Uma questão

Fala-se tanto da cultura em Ourém.
Isto fez-me surgir uma questão: por que é que a Biblioteca Municipal, um excelente espaço, diga-se de passagem, não tem página na Internet onde disponibilize um catálogo com os livros que pode pôr à disposição dos oureenses ou a partir do qual estes possam proceder a reservas? Gasta-se inutilmente tanto dinheiro...
A aliança diabólica

- Presidente, Presidente...
- Mas que queres tu, meu fiel lacaio?
- O meu Presidente não sabe? Eles vão fazer um jantar.
- Eles, quem? Por que estás tão assustado?
- Os liberais, os do Castelo, os da associação...
- Mas que tem isso de especial? São bons rapazes. Até lhes costumamos roubar as ideias. Deixa-os estar, pomos lá um espião e depois pomos em prática o que decidirem como se fosse nosso.
- Mas não estão sózinhos. Os comunas também vão...
- Os comunas?
- Sim, o padrinho já se disponibilizou, de certeza que vão todos. Ainda se unem para o combater...
- Liberais e comunas? Esta terra está doida de todo... onde é que isto se viu? Isto é uma aliança diabólica para eu não poder terminar a minha obra. Dei-lhes o novo mercado, o parque linear, despoluí a fossa de Seiça, quis fazer um centro comercial e são tão injustos comigo... não reconhecem as minhas qualidades...
- Dizem para ir para a sua terra, aqui já estragou mais do que devia...
- O quê? Eles atreveram-se? Trata já de redigir um edital. Quem participar nesse jantar terá os requerimentos atrasados na casa amarela por meses a fio. Quem o servir perderá as licenças de exploração... manda lá a polícia identificar uns e outros... certifica-te que não está lá nenhum laranjinha conspirador.
- É assim mesmo, Presidente, eu sabia que lhes daria a resposta que eles merecem.
- E mais... se eles escreverem para aqui a pedir subsídios para editar livros, trata logo de informar que o orçamento está esgotado. São uns ingratos. Tanto que temos feito em prol da cultura e estão sempre a dizer mal de nós.
Desenhos da infância


Via MegaFauna

Alguns eram assim, não eram?
A travessia do deserto


Via MegaFauna

Uma condenação que Ourém expia há muitos anos...

sexta-feira, abril 29, 2005

Grande Isaltino!

Os meus amigos vão perdoar-me este desabafo.
O homem até pode ter contas na Suíça, quero lá saber.
Mas vai prosseguir numa cruzada autárquica pelo que julga que está certo, contra as ordens do seu partido. Pode perder tudo, não interessa, tem a sua razão.
Ele entende que muito do que bom que existe em Oeiras tem a ver com a sua acção. E quer prosseguir...
É uma pena que, em Ourém, não existam, no PSD, pessoas como Isaltino. Como dizia o outro Sérgio: "mais vale ser um cão raivoso que um cordeiro".

O charme discreto do cine-teatro


O nosso cine-teatro...
A rua por onde levei a gatita branca e preta quando mudei para a casa da rua Santa Teresinha...
A morgue. Em frente, a casa onde conheci o Manel. Lá ao fundo, o atelier do Zé Canoa onde agora funciona a Botica...
Os oureenses permitiram a destruição desta obra prima para construir o mamarracho que ainda vemos crescer.
O Melo era o gestor, o Jóia controlava as entradas, o Mário vendia os bilhetes. No Verão todas aquelas janelas se abriam para o ar poder entrar...
Foi aqui que conheci alguns ídolos da juventude: a Marisol, o Joselito, o John Wayne...
Foi aqui que vi os primeiros filmes: Território Apache, Rio Bravo, Psico, Os dez mandamentos, Ben-Hur e outras maravilhas que a memória já não me permite.
O preto e branco, a magia do cinemascope...
Uma sala com qualidades notáveis, pois toda ela vibrava conforme as sensações das suas plateias como pode notar-se nesta descrição de “A seita do cavalo branco”:
Não sei quantas vezes vi este saudoso filme no cine-teatro da vila, uma magnífica sala onde as plateias (de primeira e segunda), a geral, os camarotes e o balcão reflectiam a estratificação social que se vivia.
Mas, em momento de filme, corridas aquelas belas cortinas verdes que tapavam as portas de saída, tudo isso de esbatia. Detentor de pouco dinheiro, geralmente utilizava aquela plateia quase colada à geral e daí podia assistir à magnífica cavalgada para apanhar os bandidos no momento chave em que o espectador se tornava actor.
A galopada e o seu ruído entravam pela sala dentro. Toda a gente gritava de entusiasmo e saltava nas cadeiras. Sentia-se todo o edifício a tremer pelo arrebatamento desordenado que lhe era transmitido por quem se julgava a viver a monumental perseguição. Finalmente, os bandidos eram capturados.
No dia seguinte, menos tensos, com mais uma boa dose de paliativo para aceitarem a situação social em que viviam, todos comentavam o esplendor do espetáculo e todos pretendiam ter sido aquela figura que, no final, planeava passar o resto dos seus dias com a bela menina que amenizava tão brutais costumes.

Já nem sei como posso agradecer ao NA...

De tantos tempos já fui!Por Sérgio Ribeiro



Deste tempo me lembro/neste tempo vivi/este tempo também eu sou.
De tantos tempos já fui!

Deste tempo/desta praça/destas quintas-feiras/deste mercado/desta gente que eu fui e sou.
Desta gente que nós fomos e somos.

Panelas/“amontolias”/formas para queijo/gente/homens de barrete e jaleco/mulheres de lenço e xaile/(alguns e algumas descalços e descalças)/burros a servirem de montaria/… e de companhia.
Era a vila nova e de Ourém/viva às quintas-feiras.

Uma sardinha assada,/um pedaço de broa e um copo no Manel do Raul/que o ti’Raul era dono da Pensão Santos/ que mais conhecida era pela da Dona Ema;
e/ logo ao lado/a roda de tirar água/ e um jogo da laranjinha/que as laranjinhas eram/então/outras e bem melhores/que as que hoje são/ e tão amargas nos sabem/(não a todos, não a todos.../que alguns bem as saboreiam).

E para casa/nas aldeias ao redor/se levavam as sardinhas/ que da Nazaré vinham/e para toda a semana se mercavam;
de salmoura se guardavam/que até à quinta-feira/da semana que logo viria/era preciso se chegassem.

Nalgumas das casas/em muitas casas/era preciso partir e repartir;
o homem ficava com o melhor bocado/que ele era quem partia e repartia/ainda que fossem as mãos da mulher que partissem e repartissem/porque era ele quem trabalhava de sol a sol…/como se não fosse de sol a sol o trabalho da mulher/que fazia a lida da casa/que tratava do gado e da horta/que cozia o pão/que fazia a vindima/que organizava a descamisada/e tempo lhe tinha que sobrar para ajudar o “sê home” nas fainas que/dizia-se/dele seriam.

Descalços andavam os gaiatos/descalços e ranhosos/pés nus, frios, magoados, feridos/depressa duros, crostas, calejados/preparados para as pedras e as silvas a caminho das escolas/onde escolas havia/e só para aqueles que às escolas iam.

Depois/foi o salto/a fuga para as Franças e Araganças/a recusa da estagnação/da resignação/da pobreza/do cerco/da repressão/da guerra/do que não se queria que continuasse/mesmo sem se saber o que não se queria/e também sem se saber o que se queria/a não ser que era preciso ir/que era vital partir.

E como os tempos mudaram.
Como fizemos/as mulheres e os homens de todos os tempos/mudar os tempos!

De tantos tempos já fui!
Vivi atravessando estes tempos que fomos e somos.
Deste tempo me lembro/e gosto de o lembrar como tempo vivido/Com saudade/com nostalgia/mas olhando-o de frente/Com os olhos de hoje/Dos homens e das mulheres de hoje/e de amanhã.
Sem casaco


Gostava de ter uma quinta assim Posted by Hello

Não os conheço, mas são, pela certa, gente simpática. Um novo blog que também tem um apontador para o OUREM. Com a particularidade de o Tiago, que julgo já teve a amabilidade de nos deixar um comentário, fazer anos no próximo dia 1 de Maio.
Parabéns, Tiago! Nem todos têm a sorte de ter dias duplamente festivos...
Finalmente, é hoje


Outro trabalho de Louro Posted by Hello

A chegada da arte de Luís Louro à Som da Tinta...
E vejam esta excelente capa que parece retratar o que necessitamos em Ourém: alguém que elimine esses horrorosos seres que se têm dedicado impunemente à destruição da nossa Ourém e implantado cogumelos venenosos ou entorpecedores para, sem escrúpulos de qualquer espécie, julgando-se possuídos por espírito de missão, continuarem a usa vergonhosa obra.
Sérgio, o Louro era a pessoa ideal para ilustrar a nossa crónica...

quinta-feira, abril 28, 2005

A Deco ignorou Ourém

Cheguei a casa todo lampeiro para ver o correio.
Ena! A revista da Deco, a Proteste e com um caderno adicional com índices de preços por concelho.
Ocorreu logo a ideia. Como será em Ourém? Viverão mais barato ou mais caro do que nós aqui pela Parede?
Era legítima a questão. Em Ourém existe o Intermarché e a Ulmar.
Acreditem numa coisa. Estavam lá os concelhos todos: Tomar, Abrantes, Torres Novas, Leiria, Pombal...
De Ourém, nem rasto.
Será que a Deco acredita na versão do presidente David que diz que os oureenses fazem as compras em Leiria? Se fazem, mais valia estarem quietos porque o índice de preços, por lá, não é muito convidativo.

Louvação ao Fio de Azeite mal amado

Se queres batata e couves
com um sabor divinal
não esqueças o fio de azeite
sabe bem e não faz mal



Publiquei uma foto sobre o antigo cine-teatro de Ourém, porque queria dedicar umas palavras à pessoa que foi o seu responsável, o José Melo.
É que tenho aquela sensação que Ourém nunca foi inteiramente justa com esta figura.
O Melo foi uma das pessoas mais dinâmicas da nossa terra. Talvez tenha tido o azar de nunca ter feito grande fortuna e, portanto, não passou para o rol dos que são sistematicamente mencionados, porque o dinheiro traz credibilidade, respeito.
Mas foi o responsável por, durante muitos anos, termos o melhor cinema a que uma terra de província com um pequeno número de habitantes poderia aspirar.
Montou uma tipografia que ainda funciona (1). 
E, zangado com o Notícias de Ourém, criou um jornal, o Ourém e seu Concelho, que é um modelo em termos de publicação. Repito, é um modelo. O jornal é aberto a todas as correntes de opinião. Podem os meus amigos dizer: "mas o que lá se publica não presta...". Eu aceito, quando leio aquele Pinto e aquele Cavaco (2) até sinto náuseas de tanto facciosismo, mas está lá a possibilidade de existirem bons artigos de qualquer corrente de pensamento. Se não os fazem, a culpa não é do jornal.
Por outro lado, encontro no Ourém e seu Concelho pedaços da história da nossa terra muito interessantes. Como aquele sobre a Igreja de Vila Nova de Ourém. Leiam é excelente, até gostaria de a publicar aos bocadinhos no blog. Mas eles não mo oferecem em texto...
Para além do seu dinamismo, o Melo era uma excelente pessoa. Já nem estou a falar dos dissabores que lhe dei com os artigos do tempo à volta do 25 de Abril e que ele engolia sem queixume. É que, antes, há uma história engraçada.




Um dia, ele convidou o meu irmão para passar com ele uns tempos na Nazaré, em férias. Claro está, fui logo atrás. O acordo era ficar numa pensão, comer por lá e o meu irmão vigiava o bom comportamento. Não levava muito dinheiro, mas a malta amiga ajudava. Um dia almoçava com o Rui, outro com o Zé Manel, enfim havia lá tantos que tinha a agenda quase sempre preenchida.
À noite, ia vê-los.
- Ti no nin , dizia o Melo, já jantaste?
- Ainda não...
- Então jantas connosco...
E ali passei uma bela série de dias, guardando o que tinha amealhado para poder aplicar em discos ou banda desenhada.
Excelente pessoa, o Melo... 


Notas: Fio de Azeita, alcunha do Melo
(1) - Tipografia e Jornal desapareceram pouco depois da publicação deste post
(2) - Perdoem, isto foi do calor da época
Adorava esta Ourém (4)



Hoje é dia de mercado em OUrém e isso deu-me a ideia de relembrar a foto disponibilizada no Outrora.
Já repararam como a arrumação daquelas panelas contrasta com o que se passa agora lá em baixo? O espaço não era muito, mas as pessoas podiam apreciar, fazer as suas compras. Há um que leva até o automóvel para o meio daquilo.
Algumas pessoas conversam e apreciam. Como é diferente de agora, sempre a receber empurrões...
E tenho um pressentimento. Andaram a fazer aquele magnífico parque linear, mas, mais dia menos dia, as arvorezinhas do estacionamento vão todas à vida. Esperem para ver e não as protejam.
Há dias pus-me a olhar para aquelas lojas empoleiradas em cima do mercado. Será que alguém vai arriscar naquilo? É longe para se lá chegar, deve ser um sufoco com o Sol a bater de chapa.
Esta OUrém...
... de que nunca conseguimos dizer bem...
Valham-nos as recordações do Outrora: a propósito não há uma foto com a imagem de uma feira do mês? E não esqueça, NA, do cine-teatro da Avenida...
Contrastes


A arte de Luís Louro Posted by Hello

Não esqueçam. É já amanhã na Som da Tinta, a partir das 17 horas.
Prosseguir com a bola de neve

Amigos oureenses, esta semana deparei com mais uma fiel leitora do Ourem: a Januária que já está entusiasmada com uma visita a fazer à Som da Tinta.
Ela manifestou interesse no inquérito literário que propusémos ao Sérgio, ao Fred e ao Santa Cita e a que os primeiros dois já tiveram o prazer de responder.
Vou fazer de "intelectual tonto".
Isto é, vou deixar este conjunto de perguntas da treta, que se fazem a crianças de 10 a 12 anos para a Januária responder no seu blog e prosseguir a cadeia. É uma espécie de eterna meninice. Como não me parece nenhuma presunçosa alimentada a água benta, satisfará este inofensivo desafio sem me insultar.
E as perguntas são:
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro querias ser?

Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por uma personagem de ficção?

Qual o último livro que compraste?

Que livro estás a ler?

Que livros (cinco) levarias para uma ilha deserta?

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

E os vencedores são...
Ourém precisa de mudança no poder autárquico

Esta semana, não recebi qualquer comunicado da CDU, a única organização concorrente em Ourém que me dá alguma atenção, pelo que resolvo eu dedicar uns minutos ao tema.
E a observação principal é que, podendo discordar muitas vezes da mesma, de onde não vem mal nenhum ao mundo, desta vez, centrando-me no título deste post, estou plenamente de acordo.
Não sei se os meus amigos já viram a prestação de contas dos nossos autarcas eleitos, mas aquilo é o cúmulo da desfaçatez. Gastam o que querem, como querem, em projectos de destruição da nossa terra e continuamos a tolerá-los.
Dirão "o povo é quem mais ordena e o povo escolheu-os". Mas estarão os concorrentes das forças adversárias a fazer correcta e persistentemente a denúncia dos actos de Catarino e companhia?
Depois, há coisas que gostava de ver esclarecidas no seio dos adversários do poder estabelecido. Por exemplo:
1) O que é que José Alho pensa da candidatura do Sérgio à Assembleia Municipal? Não é importante? Por que é que o PS não a apoia?
2) O que é que o Sérgio e a CDU pensam da candidatura de José Alho à presidência da Câmara? É uma pessoa que dá garantias. Eu sei que o problema é das políticas e não das pessoas, mas também sei que as políticas são elaboradas pelas pessoas. Por que não a apoiam? Têm um candidato melhor? Quem é?
Desculpem a provocação, mas como sei que são suficientemente maduros em termos democráticos, tenho a quase certeza que me vão responder perante a multidão que diariamente lê o Ourem...

quarta-feira, abril 27, 2005

Führer



Não é demais relembrar que Luís Louro estará na sexta-feira na Som da Tinta pelas 17 horas.
Aqui está uma capa por ele desenhada na minha revista de eleição, o fabuloso Mundo de Aventuras, em 1-8-1985, de que na altura era director António Verde e coordenador Jorge Magalhães.
Eis o conteúdo deste número:
[-] Führer
Arte: Louro, Luis
Texto: Simões, Tózé
[Ric Hochet] Festa de Detectives
Arte: Tibet (Gilbert Gascard)
Texto: Duchateau, André-Paul
[* separata *] Passatempo Batalha Espacial
[-] Veneno da Cólera
Arte: Franz
Texto: Duval, Yves
[* destacável *] Clássicos da BD - IV série (36/59)
[Tarzan] - (36/57)
Sócios à força do Estado Social

Também o sou, há mais de trinta e dois anos.
Sempre com aquela ideia de que descontamos mais do que aquilo que recebemos. Mas na espectativa de um dia receber aquilo a que tiver direito. Foi o que me garantiram.
Não sou abertamente contra os liberais. Tantas vezes amaldiçoei o serviço nacional de saúde por não me atender, os serviços públicos pelo péssimo exemplo de eficência e eficácia, a polícia por não me proteger dos facínoras e bater em estudantes e desempregados, o ensino público por ensinar mal os meus filhos, os do rendimento mínimo por sustentarem vícios e não o garantirem a quem efectivamente dele carece, as finanças por nem me darem uma cadeira para esperar nas monumentais bichas, a companhia das águas por, mal chegar a Ourém, deixar romper os canos ou interromper o abastecimento...
Mas acredito que, se todos cumprirmos o nosso dever, o Estado Social pode, naquilo que tem uma especial natureza, funcionar melhor do que a iniciativa privada e que, se tal não acontece, é porque alguém se demite da função e permite a bandalheira que reconheço existir.
Aceito a mudança do paradigma se quiserem, mas então reponham a situação tal como ela seria se não me levassem no barco: devolvam-me o que me pertence devidamente actualizado e que seria meu daqui a alguns anos. Se fizerem as contas, verão que, possivelmente, não ficarão a ganhar. Mas não escondam a monumental dívida que acumularam perante os sócios de longa data. Caso contrário, originarão uma monumental legião de espoliados.

Via TóColante


Efectivamente, fomos mais um castelo de cartas do que uma muralha de aço.
Mas isso não impede a imensa estima que mantemos por esta pessoa por mais e poderosas que sejam as vozes que sistematicamente tentam denegrir a sua imagem.
Mais informação sobre o ciclo de BD na Som da Tinta


O Ciclo de BD
Inaugura na próxima sexta-feira a última das exposições do ciclo de BD da Som da Tinta.
Sendo um dos pontos do diversificado programa que assinala o quinto aniversário da livraria/editora oureense, este ciclo de BD está a trazer até Ourém o melhor da obra de três dos mais conhecidos autores da BD portuguesa, cada um deles representando uma geração e todos eles com vínculos ao concelho.
O ciclo, que iniciou com José Garcês, encerra com uma exposição de Luís Louro, embora ainda proporcione, até ao meio dia de Sexta, uma visita às obras de Rui Pimentel (com, entre outras histórias, uma inédita que tem por tema o 25 de Abril).

A Exposição de Luís Louro
A exposição de Luís Louro inaugura já na próxima sexta-feira, pelas 17 horas, exibindo, em 15 pranchas , um pouco de várias histórias do autor.
Algumas dessas histórias: Jim del Mónaco, Roques & Folque, O Corvo, Alice, Coração de Papel, Halo Casto, umas com desenhos e argumento do próprio Luís, outras com argumento de António Simões ou Rui Zink.

Quem é Luís Louro
Após ter concretizado o curso de Técnico de Meios Audiovisuais na Escola António Arroio, Luís Louro entra no panorama nacional da BD mediante diversas colaborações com o argumentista Tozé Simões, publicando, em 1985, O Mundo de Aventuras (5ª série). Nesse mesmo ano, os dois apresentam Jim del Mónaco em periódicos dedicadas à BD, lançando no ano seguinte o primeiro álbum da série, que se tornou mítica na história da BD portuguesa. Quando já contava três outros tomos, a série despertou a atenção de Edições ASA, que a relançou em cores, prosseguindo com quatro novos volumes.
De seguida, a dupla assinou a trilogia Roques e Folque.
A partir daqui, Luís Louro iniciou a produção de álbuns a solo, sempre na Asa. O resultado foi os célebres O Corvo, Alice e Coração de Papel.
Já num lugar cimeiro da BD lusitana, Louro começou a publicar pranchas em várias revistas, fazendo paralelamente cartazes e ilustrações, e vendo por fim todo o seu esforço recompensado quando em 98 integrou a comitiva “Perdidos no Oceano”, que levou a expor no Festival de BD em Angoulême alguns dos melhores autores nacionais.

A costela oureense de Louro
Com 40 anos de idade, Luís Louro é o mais novo dos autores do ciclo de BD que agora encerra na Som da Tinta, todos eles possuidores de afinidades com Ourém; no caso de Luís Louro, porque casou com uma Valetravessense, circunstância que justifica que venha, com alguma regularidade, dar os últimos toques nos seus trabalhos enquanto que respira os ares de Vale Travesso.
Luís Louro é um dos mais prestigiados autores portugueses da sua geração.

Nota (quase) Final
Para além da exposição dos seus trabalhos, que inaugura às cinco da tarde da próxima Sexta (dia 29), Luís Louro participará em pessoa numa conversa com o público acerca da aventura de viver desenhando aventuras. E tudo o mais que vier à baila.

Colaboração do CNBDI
O Ciclo de BD da Som da Tinta contou com a colaboração do CNBDI – Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem da Amadora.



Resposta ao questionário (3)
A resposta do Fred


Aceito o desafio, Luis, mas aviso já que sou um amador nestas coisas. O mais certo era responder no meu blog pessoal (leia-se, tasca) mas como o convite foi feito ao "Fred d'O Castelo", achei bem publicar aqui. Espero que não vos enfade. Então vamos lá.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro querias ser?

Pergunta inteligente e logo com um Ray Bradbury para assustar. Mas quase impossível de responder. Talvez gostasse de ser irónico como o Admirável Mundo Novo do Aldous Huxley. Louco e futurista como o Congresso Futurológico do Stanislaw Lem. Ou imparável como o Snowcrash do Neal Stephenson.

Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por uma personagem de ficção?

Apanhadinho? Bem, eu não sou desses. Mas confesso, sinto um fascínio pelo Enoch Root, o misterioso membro do Societas Eruditorum no Cryptonomicon.

Qual o último livro que compraste?

Ah, essa é fácil. Comprei o Pêndulo de Foucault do Umberto Eco.

Que livro estás a ler?

Estou a tentar acabar de ler o Quicksilver, do Neal Stephenson. Só me faltam 200 páginas. É pena os dias terem apenas 24 horas. O problema é que os blogs roubam-me grande parte do tempo de leitura. Manias do RSS.

Que livros (cinco) levarias para uma ilha deserta?

Muito provávelmente todos os da colecção dos Cinco, Sete, toda a BD do mundo, todos do Philip K. Dick (shame on me, só li um), John Le Carré, Philip Roth, Neal Stephenson, Millôr Fernandes, o Cus de Judas do Lobo Antunes que ando para ler já vai uma década. Já me perdi, só podem ser mesmo cinco? E o resto, pago o excesso de bagagem? Posso levar a Playboy?

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Vou passar o testemunho ao Pedro (pfig) e aos danados do Albergue! Façam bom proveito. Porquê? Porque me apetece. :)

E os vencedores são...

There's nothing to winning, really. That is, if you happen to be blessed with a keen eye, an agile mind, and no scruples whatsoever.
Alfred Hitchcock

Ah, como eu gosto de citações.
Resposta ao questionário (2)
A resposta do Sérgio

Normalmente, não respondo a questionários “literários” ou “culturais”. Ou, quando respondo, não vejo publicadas as respostas, por extensas ou… impublicáveis. Aliás, bastas vezes me irritam, por serem uma exibição de atributos culturais próprios em molho de snobeira.
Desta vez, respondo e publico (!) porque o Luís me desafiou (é um desafiador), porque é sobre livros… e Som da Tinta oblige. Vou (tentar) ser objectivíssimo quanto ao passado, e verdadeiro quanto ao futuro e ficcionado.

No espírito (prefiro esta formulação, traduzida da Tabacaria, da “não podendo sair” que está no Ourém) do Farhenheit 451, que livro querias ser?

“Como um romance”, do francês Daniel Pennac (que li no original, e tanto me impressionou que sou incapaz de o ler na tradução), porque é uma exemplar escrita pedagógica sobre livros e leitura.

Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?

Quantas vezes!
Fui-me “fazendo” a imitar personagens de ficção que me “apanharam”.
Claro que fui cowboy (cóbói!), aviador de largos céus, médico de complicadas cirurgias e de missões humanitárias, advogado de nobres causas, herói em suma.
Depois, comecei a ser revolucionário e continuo a querer (ajudar a) transformar o mundo, misturando personagens de ficção com tantos que fui conhecendo bem reais e a exigirem ficções a partir das suas vidas.

Qual o último livro que compraste?

Ontem, comprei “Fado – estórias da noite”, banda desenhada do Rui Pimentel, “Caminho errado”, de Elisabeth Badinter (para oferecer à companheira… et pour cause; conheço a autora e a capa alertou-me: “a mulher é, por natureza uma vítima?, o homem, por definição, um verdugo?” e “uma denúncia corajosa dos caminhos errados do feminismo”), “Don Giovanni ou o dissoluto absolvido”, de José Saramago.

Qual o último livro que leste?

Acabei o 4º volume de “Dias Comuns”, do José Gomes Ferreira e, ao mesmo tempo, “O violino de Auschwitz”, de uma autora catalã de que não tenho aqui o nome, e que li abusivamente (mas autorizado), na noite de um dia para o outro em que o cliente que o encomendara o foi buscar (e já o encomendei para mim!).

Que livro estás a ler?

“Teatro de Sabath” para terminar um ciclo do norte-americano Philip Roth (depois de “Casei com um comunista”, “Pastoral americana”, “A mancha humana”… e escreveria laudas sobre esta tetralogia!) e os que estão sempre a ser lidos…

Que livros (cinco) levarias para uma ilha deserta?

Recuso-me a ir assim, sem mais aquelas, para uma ilha deserta!
Por condenação? A que pena? Por que crime?
Por quanto tempo? Acompanhado por quem?
Entro no jogo, embora tudo condicionando às respostas às mais que pertinentes perguntas, e não é por serem minhas…
Assim, de repente, e fazendo alguma batota, levaria a “Alma encantada”, de Romain Rolland (são 4 volumes!) para me (re)encantar; levaria as “Obras escolhidas em três tomos de Lenine” e “O capital” (3 volumes), de Karl Marx, na tradução de José Barata Moura/Francisco Melo, para não “perder o pé”; levaria “D. Quixote de La Mancha”, de Miguel Cervantes, na tradução do Aquilino Ribeiro (e haveria de o fazer, acompanhar, como separata, pelo livro “perdido” do Aquilino “No cavalo de pau com Sancho Pança) e “Beethoven”, de Romain Rolland, traduzido por Fernando Lopes Graça, para me deleitar na releitura/leitura destes dois calhamaços, compromisso que tomei para quando me reformasse… só que o Zambujal não é uma ilha deserta.
Parece que não poderia levar mais nenhum livro mas, apesar de ter batoteiramente alargado até 13 a conta de 5, ainda haveria de conseguir levar, clandestinamente, o que pudesse do Ruben Fonseca, do Pennac, do Zé Gomes, sei lá de quantos amigos mais.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Não vou passar a ninguém, mas vou pedir a que respondam a este questionário, aqui, neste blog da Som da Tinta, que é de livros e de leituras.
Em particular, peço à Zé, minha companheira… porque sim; à Cármen Zita e à Teresa Perdigão porque me lembrei delas; ao Nuno Silva porque me lembrei dele e está a ser um cliente especial pela idade e não só.
E a todos os de que me não lembrei mas de que me estou a lembrar, ou me irei lembrar.

E os vencedores são:

Todos os que lêem!

Sérgio Ribeiro
Resposta ao questionário (1)

Apenas recebemos duas respostas ao questionário literário. Não sei que se passa com o bispo do Porto. Possivelmente, anda deseperado com os resultados sportinguistas e já vê o título a fugir-lhe para o outro lado da segunda circular.
Ou achou que era um questionários de treta, daqueles que se faziam na primária e que não deveria misturar-se com gente tão básica. Honra a quem respondeu e que assim permite que pessoal tão ignorante participe nestas coisas.
Vamos então às respostas do Sérgio e do Fred...

terça-feira, abril 26, 2005

Prossegue o ciclo de BD na Som da Tinta


A arte de Luís Louro Posted by Hello

Na próxima sexta-feita, pelas 17 horas, Luís Louro estará na Som da Tinta para falar sobre o seu trabalho e dar continuidade a este ciclo de BD.
Como eu gostaria de estar em Ourém para assistir.
Os meus amigos oureenses são uns privilegiados.
E já viram aquelas fotografias em que fica bem patente a amizade com que eram recebidos no dia dos cravos?
O vómito

Ontem, uma breve passagem pelas Quinta das Celebridade fez-me ouvir Gonçalo da Câmara Pereira dizer que tinha vontade de vomitar sempre que ouvia falar em cravos e no 25 de Abril.
Coitado! Tinha ido ao Ultramar e, quando voltou, tinham-lhe ocupado as terras.
Os miseráveis! Aqueles do pé descalço a quem ele generosamente dava trabalho!
Até parece que o fascismo não tinha uma base social e económica de apoio. Os senhores da terra, aqueles grupos económicos à sombra do proteccionismo.
Já nem lhe perdoo mesmo que alguém da família tenha criado aquela maravilha: “como era linda com o seu ar namoradeiro...”.
Estes da Câmara, acompanhados do Viramilho e certos Antónios são efectivamente joio nesta sociedade. Gente cheia de preconceitos que justifica a exploração e a dominância retrógrada do presente à conta de fantasmas em que acreditam de tanta vez os repetirem.

A insustentável leveza dum quiosque





Quero beber um copinho
De palhete, pois então
Temos ali o QUIOSQUE
Do ti’ Batista, um amigão


 ... cuja imagem, mesmo degradada, me é trazida pelo Ourém Outrora. O quiosque era muito mais bonito do que parece nesta recordação. Ali estava a ajudar a passar o tempo àqueles que esperavam qualquer coisa do poder representado pela Câmara.
Foi testemunho de muitas feiras e de muitas festas e, quem sabe?, balcão para muitos terem um momento de desabafo e de fuga a uma existência dura.

Quase que me atrevo a deixar novo pedido ao NA: uma foto do desaparecido cineteatro de Ourém, o da Avenida, frente ao Torrejano...

segunda-feira, abril 25, 2005

25 de Abril

Olha bem p'ra esta terra
Que explora quem trabalha
Mandam-nos a todos p'rá guerra
Não há perdão que lhes valha

O pensar é uma afronta
p'ra quem já não tem razão
é preciso um mundo novo
que não seja uma prisão

O quartel abriu-me as portas
deixou-me entrar, aderir
e ilusões que eram mortas
puderam então florir

Faz comigo a revolução
Tenho milhares de homens bravos.
Poupa os teus homens, irmão
Vamos vencer com cravos
Pequeno, chocho, pobre, mas autêntico
... porque é meu

O primeiro verso retrata o elemento principal que ajudou na transmissão de consciência à juventude: aquela guerra conduzida pela manutenção das colónias e que fez perceber os interesses que estavam por trás da mesma o que era muito mais importante do que qualquer sentimento de patriotismo que se manifestava a nível ideológico.
O segundo retrata o terror do regime perante novas ideias, perante os livros que não fossem aprovados. Tudo era sujeito à censura. Ainda me lembro um dia de estar na Marina que era então aquela papelaria reduzida ao bocadinho junto à loja de frangos e entrar um inquisidor à procura de livros do Jorge Amado. Não teve sorte, foi de mãos à abanar.
O terceiro lembra a minha chegada em 25 de Abril à EPAM, em plena revolução. Acolheram-me, convidaram-me a aderir, tranquilizaram-me:"isto não é um golpe da extrema direita. Queremos instaurar uma democracia".
No quarto o carácter universal e libertador de Abril. Ninguém ou quase ninguém queria o que existia, por isso, a aderência foi quase total e imediata. A própria burguseia se sentia espartilhada no condicionamento industrial e ideológico do regime e queria mais liberdades, fora do paternalismo salazarento que ainda não nos largou...

domingo, abril 24, 2005

Há 31 anos

O Sérgio traz-nos, no blog da Som da Tinta, duas estórias do 25 de Abril em cem palavras. Gosto muito da que reproduzo aqui. Vejam:

Cumpri o ritual.
Com a unha, risquei na parede uma nova manhã acordada em Caxias.
Noutras salas, em Peniche, noutros lugares, camaradas actualizavam as suas séries. Todas, somavam 48 anos. De fascismo.
“Mais um dia, menos um dia”.
Lembrei, como cada manhã, o servente do Aljube que, anos antes, assim anunciava o dia nascido.

Não adivinhava é que aquele dia, 25-de-Abril, iria ser O DIA.
O dia em que as portas dos tarrafais se abririam pelo lado de fora. Pelo povo. Para todos sairmos das prisões com 48 anos contados a riscos de unha em paredes brancas, sujas.

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