sexta-feira, maio 22, 2020

Encontro com uma lenda do comércio de Ourém

Deixemos o João e a Teresinha e sigamos as três miúdas que ficaram junto ao Central. O primeiro local onde se dirigiram foi à Farmácia Leitão onde colocaram o cartaz na parede de entrada. Depois prosseguiram para a tipografia do Melo, passaram à taberna do Manuel do Raul e dali atravessaram na direção da loja do senhor Pina. Pouco depois entravam na loja do sr. Oliveira e a primeira pessoa que se lhes deparou foi o sr. Manuel Cartuxo.
- Olha que lindas flores aqui estão! Hoje é o meu dia de sorte…
- Meninas, apresento-vos o sr. Manuel Cartuxo, o comercial mais falador e simpático de Ourém – começou por dizer a Mari’mília. – Senhor Manuel, o seu nome escreve-se com “x” ou “ch”.
O sr. Manuel pôs um ar muito sério e a resposta não desiludiu.
- Com “x”, com “ch” é de polvora e não quero cá cartuchos de pólvora…
Riram com gosto e a Mari’mília fez a apresentação das amigas ao sr. Manuel. Ele virou-se para a Ciete e propôs-lhe uma charada:
- Ah! A menina é filha do Bragança e vai estudar Matemática. Então, veja lá se me ajuda a resolver um problema como este: há doze casas para distribuir a treze pessoas, como é que vamos reparti-las de modo que todos fiquem satisfeitos?
A Ciete ficou boquiaberta e ele continuou.
- Sabe? O que economistas e matemáticos aprendem é o modo de enganar o povo. Eu vou-lhe dizer.
E desenhou doze quadrados que preencheu com números: 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 - 11 – 12. Depois disse:
- Para a primeira casa, vão dois. Depois o terceiro vai para a segunda e por aí fora. Quando uma das casas vagar, o que está a mais na primeira passa para essa.
Continuaram a rir, mas a Mari’mília interrompeu:
- Senhor Manuel, vimos pedir-lhe uma coisa. Deixe-nos colocar este cartaz na loja.
Ele olhou para o cartaz e lembrou-se da visita que tinha tido.
- É curioso… muito curioso…
Elas ficaram ansiosas.
- O quê, sr. Manuel?
- Hoje, esteve cá aquela menina muito bonita que teve um caso com ele na banda. Levava material de desenho num saco e comprou comida para um batalhão o que não era habitual nela.
- Isso é muito suspeito – afirmou a Luzinha.
- Eu diria mais – respondeu a Ciete. – Isso é muito suspeito.
- Sr. Manuel, ajudou-nos muito. Vamos colar o cartaz e combinar novas ações.
Voltaram à zona do Central, esperando os que tinham ido à parte de cima da vila e, pouco depois, combinavam.
- Amanhã, eu e a Ciete vamos de bicicleta até à cabana da Deolinda e tentaremos falar com ela. Logo veremos a reação. Encontramo-nos aqui às quatro da tarde…



Que irão encontrar as duas miúdas? Correrão perigo com a sua ação aventureira?

Continua na próxima segunda-feira

quinta-feira, maio 21, 2020

A ajuda dum interesseiro

No CFL, trabalhava-se afincadamente para produzir os cartazes de procura do Estorietas. O Dr. Armando cedera o equipamento de reprografia e três meninas dedicavam-se a redigir o texto que iria acompanhar a fotografia do desaparecido.
- Vejam lá se fica bem – dizia a Teresinha. – “Procura-se rapaz de 13 anos conhecido por Estorietas. Residia na Rua de Castela e já não é visto há uma semana, sendo referenciado, pela última vez, na zona dos moinhos. Por favor, informe para o CFL ou para o telefone 42402”
- Acho bem – dizia a Mari’mília.
- Eu acho que devias referir que o indivíduo está louco – acrescentou a Ciete. – As pessoas precisam de ser protegidas dos excessos dele, não vá fazer alguma maluqueira.
- Não sejas revanchista – respondeu a Teresinha. – Compreendo que tenhas ficado marcada pelos actos dele, mas conhecemo-lo desde pequeno.
- Sempre foi meu amigo – reconheceu a Mari’mília. – Não vamos enxovalhá-lo num momento difícil para todos.
Chegaram a acordo e, pouco depois, dispunham de 50 exemplares do cartaz. Olharam umas para as outras felizes com a obra. A Terezinha ainda disse:
- E se a gente visse o que está naquela gaveta? Pode ser o próximo teste de Matemática…
- Nem penses  - respondeu a Ciete. – Se descobrirem a fuga de informação, o Dr. Armando perceberá que fomos nós as autoras. Tens sempre ideias suicidas.
- Então vamos planear a distribuição de cartazes…
Pouco depois, andavam pela vila a colar cartazes nas árvores e nas paredes. Começaram pelo Central e, à saída, depararam com o João e a Luzinha.
- Oh! Oh! Oh! Oh! – fez o João – Que lindas meninas aqui estão. Que andam a fazer?
- Andamos a afixar cartazes relativos ao desaparecimento do Estorietas. Precisamos de informação para o encontrar – respondeu a Terezinha.
- Esse facínora devia era estar preso. Jejejjjejjjjje. Não achas, Cietezinha?
- Eu acho, mas, para isso, temos de saber onde ele está…
- João – disse a Mari’mília. – toma vinte cartazes e vai colá-los com a Luzinha na zona da tua morada, do Zé Domingos e do Estorietas. Passa também pela Câmara e pelo Bairro. Nós ficamos na parte de baixo.
- Só vou se a Teresinha for comigo…
- Farsante. Chantagista! – berrou a Mari’mília.
- Deixa lá – disse a Teresinha. – Eu vou com ele.
- Não digam que eu sou mau – respondeu o João. – Agora, cedo-vos a minha irmã para ir convosco.
E assim o João aproveitou a busca ao Estorietas para passar o resto da tarde com a Teresinha…
- Encontramo-nos aqui às seis da tarde… - combinaram.

quarta-feira, maio 20, 2020

Uma jovem faz compras em Ourém

Ainda no mesmo dia, uma bela figura de mulher de cabelos loiros saracoteava-se por Ourém. A primeira visita que fez foi à Marina.
- Bom dia, Fernando. Está bom?
- Bom dia, menina Deolinda. Em que posso servi-la?
Ela sorriu encantadora.
- Eu queria duas telas grandes e material para pintar…
O Vieira sorriu todo solícito.
- Vai dedicar-se à arte? Olhe que é muito difícil encontrar esse material em Ourém. Por acaso, tenho algum que tinha encomendado para o Estorietas, mas, como ele desapareceu, posso dispensar-lho.
- Ainda bem. Sabe, resolvi pintar. Tenho um retrato meu, mas acho que tenho mãos para fazer melhor. Que acha? Ficarei bem?
E sorriu toda coquete.
- Eu acho que ficará maravilhosa. E, se precisar de modelo…
Aviou o que a rapariga pretendia e ela, depois de pagar, saiu, passou junto ao Central e dirigiu-se a uma loja junto da “Loja do Povo”.
- Bom-dia, senhor Manuel. Precisava que me aviasse esta lista de coisas.
- Bom-dia, menina. Vou já tratar disso.
Consultou a lista e olhou para a rapariga.
- São muitas coisas. É tudo para a menina?
- Claro. Neste momento, eu vivo sozinha…
- A menina era a namorada do Estorietas, não era?
- Eu? Por que pergunta isso? Mal o conheço…
- Custa-me a crer. Sabe?....
E durante mais de meia-hora desbobinou tudo o que sabia acerca do Estorietas, do seu caso na banda com uma miúda encantadora e o caso dos quadros. Rematou dizendo que ele fugira e ninguém sabia dele.
A rapariga já bufava quando ele terminou e só disse:
- Não sei para que me conta isso tudo. Como lhe disse, mal o conheço…
- Não me leve a mal, mas não é isso que consta por aí. Dizem que ele gostou muito dos seus encantos. E a menina tenha cuidado. Há muito malandro nesta terra. Já ouviu falar no neto mais novo do Dr. Preto? Anda a dizer que tem de a conhecer.
- Bahhh! Depenava esse passarito com água fria em três segundos. O Estorietas é bem mais estimulante.
- Mas olhe que o menino João tem cada história de encantamento…
- Nããããooooo. Nem quero ouvir…
- Tenha paciência, menina. São muitas coisas para aviar e eu preciso de me distrair com qualquer coisa. Pronto, já está…
Preparou um saco enorme com as coisas, ela pagou e saiu.
«- Bem engraçada o diabo da rapariga. Há estorietas com muita sorte.»

terça-feira, maio 19, 2020

O início do cerco

Os dias foram passando e os verdadeiros amigos do Estorietas começaram a preocupar-se com a sua ausência.
- Onde andará essa alma do diabo? Raios o partam – dizia a Mari’mília para a Cietezinha.
- Já quase estou arrependida de lhe partir os quadros na cabeça. Mas ele mereceu. Estava louco de todo.
Continuaram a passear lado a lado no recreio do CFL e a Mari’mília disse:
- Eu acho que devíamos fazer qualquer coisa para o procurar. Estou preocupada.
- Não sejas assim. Ele tem sete vidas como os gatos. Se nos encontra, ainda faz alguma partida das dele.
- Cietezinha, de certeza não é o teu coração que fala. Ele nem é mau rapaz. Passa-se de vez em quando.
- Olha, vem aí a Teresinha. Vamos falar com ela.
Efetivamente, a Teresinha aproximava-se e elas puseram-na ao corrente da sua preocupação. Ela teve logo uma ideia.
- Eu hoje vou fazer bolinhos para os presos. Vocês podem vir comigo e falamos com o comandante. Ele pode saber mais qualquer coisa.
E, terminadas as aulas, as três meninas dirigiram-se ao posto da GNR onde foram recebidas pelo comandante a quem puseram a par da sua preocupação.
- Todos os dias mandamos um jeep à procura dele. Sabemos que não está em casa e parece que andou nos moinhos. Há quem afirme que ele tinha a mania que estava a voar e a ir para Peras Ruivas ou para os Castelos. Em Ourém, houve quem ouvisse o Flying dos Beatles parecendo que o som vinha dos moinhos.
- Que horror! Estás a ver? – dizia a Ciete – Continua maluco de todo…
- Nós vamos continuar a procurá-lo – rematou o comandante. – Tem de pagar pelo que fez e, para além disso, é um perigo para a sociedade.
- Acha que podemos pôr uns cartazes pela vila a pedir que nos informem se o virem.
- Apesar de não gostar muito de jornais murais, por esta vez, não me oponho.
E as ruas de Ourém encheram-se de cartazes a pedir que informassem uma das três meninas se alguém deparasse com o Estorietas. O contacto podia ser para o CFL ou para um telefone.
Estava iniciado o cerco…

segunda-feira, maio 18, 2020

O desaparecimento do promissor artista

Naquela noite escura, junto aos moinhos, enquanto o vento sibilava quase gelado, o Estorietas, evidenciando formidável desorientação, caminhava sem rumo.
«Oh! O que aquela malvada me fez… nunca mais lhe perdoo.»
A sua cabeça não conseguia concentrar-se num rumo.
«Isto já me parece O Vendaval:
Para onde vou, não sei
O que farei, sei lá…
Ah! Mas não me consigo encontrar
Eu já não sou eu… sou um farrapo»
Levava consigo alguns parcos haveres, os necessários para mudar de roupa de quando em quando e alguma comida. Mas tinha largado tudo… tudo o que desfrutava na sua boa vida.
As árvores escuras com os seus ramos abertos pareciam-lhe fantasmas.
- Olha aquele… parece que está a olhar para mim… que me vai a engolir.
Atravessou uma estrada para o outro lado. De repente, as luzes dum automóvel iluminaram o caminho.
«Não posso ser visto.»
E saltou para a berma.
Mas as coisas não correram bem. Havia um buraco e estatelou-se ficando inconsciente e à mercê do que desse e viesse.
O carro parou um pouco mais à frente e dele saiu uma figura escultural.
«É ele… calculei logo que andava por aqui.»
A muito custo levantou o Estorietas e pô-lo dentro do carro. Fez inversão de marcha e voltou pelo caminho por onde viera.



Quem seria a misteriosa figura?
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