quinta-feira, maio 06, 2004

O café Central


Ali, entre a loja do Sr. David e a Ex-CGD do Sr. Costa ou a ex-biblioteca da Anita, fica uma pérola neste mundo de destruição. Honra ao Adelino porque, apesar das óbvias dificuldades que tal acarreta, conseguiu manter o Central com as características que lhe conhecemos noutro tempo.
Entremos.
Logo ao lado esquerdo, encontramos o balcão e o expositor de revistas, em tudo semelhantes, se não os mesmos, aos que lhe conhecemos. Para testar este aspecto, experimentámos colocar alguns livros e revistas do tempo, eventualmente adquiridos no café, no local que ocupariam na altura. E vejam um dos primeiros números do Mundo de Aventuras que me chegou às mãos (data de 18-08-1960), um exemplar do Condor Popular que não sei datar, uma aventura de Lance na colecção Tigre e um livro da magnífica colecção Búfalo que me entusiasmava. Admirem como ficam bem no expositor. Reparem como os diversos compartimentos têm o tamanho ideal para receber tão simpáticos elementos.
Olhemos em frente. Lá ao fundo, existe o túnel que dá passagem para o local onde antes era a sala de bilhar, onde disputei dezenas de partidas com o Quim, o Jó Rodrigues, o Génito. Sala de entusiasmos, de alegrias e derrotas. Mas, eis que, ao me dirigir para a mesma, noto a falta de um elemento de outros tempos.
Falta o cantinho dos doutores. Era ao lado esquerdo, sensivelmente passados dois metros após a entrada. Foi substituído por um balcão frigorífico. Antes, o espaço era ocupado por três ou quatro cadeiras destinadas ao Dr. Armando, ao Dr, Nini e ao Dr. Oliveira que dali dominavam toda a sala. Imaginem o nosso acabrunhamento ao passar em frente de tão importantes personagens quando nos dirigíamos para a sala de bilhar. No dia seguinte, no CFL seria ralhete pela certa.
Reparemos, agora, naquele belo exemplar de telefonia dos anos 50 e 60, à esquerda do túnel e acima da máquina de café. Ah!, quantas vezes ouvi ali os Les Chats Sauvages nos Dernires Baisers ou o António Prieto em La Novia, lamechices que nesse tempo alimentavam o nosso ego. Será que ainda toca?
E há fotografias: o velho jardim de Ourém junto à Câmara, o saudoso jardim da já famosa Eira das Pedras, O Vicente...
Vejamos agora a sala de outro ângulo: a partir da zona da máquina do café, apreciamos as mesas e o local da televisão.
Há a mesa do Sol, há o cantinho para dois sobre a actual sala de jogos e lá está aquela outra bem à frente da televisão a dois passos dela, onde eu vi as primeiras emissões, onde ajudei a procurar o Maneta quando era a hora do Fugitivo, onde vi o Benfica bater o Barcelona naquele maravilhoso dia do 3 a 2 com o Águas, o Zé Augusto, o Costa Pereira.
E era o Torrejano a gritar que nem um perdido, era o Zé Penso a saltar de alegria. Era eu e a malta amiga a não acreditarmos naquele feito que parecia tão longe das nossas capacidades. Grande Benfica, Glorioso! Tão parecido com o nosso Atlético. E, tal como ele, tão carecido, hoje, de inebriantes vitórias.
Volto ao nosso tempo. Felizmente o Central ainda existe para tudo não se reduzir a recordações e fantasmas.








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