sábado, setembro 06, 2003

Mas por que acabam as férias?
E cá estamos de novo...
Nós próximos dias, introduziremos mais texto neste blog agora que terminou esse magnífico período de descanso.
Este ano, mais uma vez, como é tradição de há quinze para cá, lá fomos até Cabanas, terra de mau cheiro, sem passeios para peões, onde alguns restaurantes se dão ao luxo de não servir clientes quando estão completamente vazios embora com as mesas marcadas. Esta é uma daquelas terras que um ano deveria ser boicotada até ficar em condições de receber bem quem a visita...
Mas o fascínio que exerce, faz com que deseje sempre voltar...

segunda-feira, agosto 18, 2003

Visado pela Comissão de Censura
Alguns artigos destinados ao Notícias de Ourém e ao Ourém e seu Concelho tiveram problemas com a censura. Aqui reproduzimos alguns dos que terão contribuído mais para as dificuldades dos que planeavam esses jornais.
O primeiro deles, A verdade da Ciência, é uma descrição de transformações ocorridas no meio universitário em finais dos anos sessenta início de setenta. Estou ainda a ver o Eduardo Graça a levantar-se no meio de uma sala cheia de estudantes atentos e a interpelar o sábio de momento. Recordo a luta imensa do Félix Ribeiro, do Ferro Rodrigues e de outros cujos nomes o esquecimento já levou para a transformação do ensino em Económicas numa altura em que era frequentemente visitada pelas forças da repressão.
A Faca e o Bolo é o modo como mais gosto de analisar a inflação: uma luta entre dois grupos sociais para se apossarem de uma fatia maior de um produto real que só pode pode aumentar pelo trabalho e não pela expressão monetária. Este artigo foi mesmo cortado pela comissão de censura vindo a ser publicado no Notícias de Ourém pouco depois do 25 de Abril.
Também escrevi algo sobre a situação política internacional, onde o socialismo, a ameaça de guerra nuclear e outros temas ofereciam perspectivas de reflexão.Uma das que me impressionou mais foi o exemplo do Chile. Apesar de não acreditar muito no socialismo em liberdade, tinha a secreta esperança… Tudo se veio a desmoronar com o canalha do Pinochet. Agora estou convencido que não podemos enveredar por este tipo de processos sem que exista um grande enriquecimento cultural entre as massas populares: provou-o o Chile, provou-o Portugal onde felizmente o contragolpe não foi tão violento. E depois de tudo aquilo, como me custou, quando estava na tropa e comentava o acontecido com o mancebo Amorim, algum tempo depois um militante trotskista, ouvir da boca dele: o que se passou no Chile foi uma miserável traição…
Termino com um artigo que nem viu a luz do dia em qualquer dos jornais da terra. Já não me lembro porquê. Também já não recordo os fundamentos do artigo embora reveja nele as paredes de Mafra e o magnífico retorno da semana de campo quando estávamos na EPAM e o 25 de Abril se avizinhava. Eu cantava, o Boisano dava o tom, o Sílvio era o político que sabia de tudo, estava também lá o Reis do futuro PS, o grande amigo Albino…

A verdade da ciência
Os sábios manifestavam-se por cima de um estrado desenhando estranhos arabescos numa pedra escura e ai daqueles que manifestassem qualquer dúvida pois logo encontrariam uma razão para o pôr na rua e tomar de ponta como se dizia na gíria onde o chumbo era o pra-to numero um e o terror dos condenados à situação de ouvintes classificados de bons e maus melhores e piores o que contribuía para os isolar mais uns dos outros guardando só para si as descobertas que as suas mentes opacas conseguiam atingir para no final mostrarem as habilidades esquecidas logo que passassem as grandes provas mas era assim que os sábios queriam desejosos de encontrarem entre a carneirada o sucessor directo da imagem e posição.
Um dia alguém ousou manifestar-se e foi o fim. O sábio logo o quis pôr na rua mas outros lhe seguiam as pisadas afirmando não quererem mais individualismo não acreditarem em verdades eternas a que só ele teria acesso odiarem o marranço quererem participar transformando aquelas sessões numa discussão onde o sábio seria orientador e eles participantes na busca da verdade pois esta não basta ser enunciada tem de ser demonstrada e discutida.
Foi assim que a terra passou a girar em torno de si própria e o sol se transformou numa estrela com movimento aparente.
Mas não se ficou por ai.
Os estudiosos de isolados reuniram-se em grupos transmitiram uns aos outros os conhecimentos granjeados discutiam entre si o que hoje era uma verdade cientes que amanhã ela se transformaria na discussão com outros grupos das conclusões atingidas.
E os sábios.
Pois os sábios de início desorientados a breve trecho com-preenderam estarem perante uma verdade desconhecida e sentiram que traçando directi-vas aos menos experimentados os seus esforços eram bem mais compensados pela alegria posta no trabalho e pelos seus resultados bem mais profícuos muito embora imensas vezes tivessem de descer do pedestal para aceitar conclusões melhor formuladas as quais em última análise contribuíam para aprenderem bastante mais.
Não terá sido tão fácil como se conta mas foram anos bem proveitosos para quem os viveu transmissores de um potencial critico que a carneirada nunca alcançaria.
L V

A FAcA e o BOLO
Ei-los prontos à repartição.
São dois homens: um produziu o bolo, o outro encomendou-lho.
As condições-em-que são sociais e pré-estabelecidas.
Mas para a repartição ambos acordaram uma coisa - ela far-se-ia por uma relação entre preço e peso.
o passado ensinou-os: aquele bolo que pesa 1 kg vale 2$00.
Qualquer deles precisa de parte do bolo, um para subsistir, outro para subsistir e mandar fazer outros bolos.
o primeiro pelo seu trabalho recebeu 1$00: por isso teve direito a metade do bolo.
Ei-lo que agora se dirige ao segundo para receber a sua parte.
Mas tem uma surpresa, o bolo já não custa 2$00 mas sim 3$00.
o seu espanto cresce ao mandar pesar o bolo: ele tem apenas l kg.
Resigna-se e leva para casa 1/3 do bolo.
Durante a noite matuta: como é possível que o seu trabalho valha menos que antes se o esforço foi o mesmo.
o cansaço apesar de tudo deixa-o vislumbrar uma saída.
E no próximo dia quando fez novo contrato já não quis um escudo mas sim dois.
E que esse dinheiro representa a divida que a sociedade tem perante ele, perante o seu trabalho; ela deverá ser paga com parte da riqueza que produziu.
A outra parte perante a alternativa de ganhar algo ou não ganhar nada acedeu.
Pagar-lhe-ia dois escudos pelo trabalho que ele incorporaria no bolo.
E este surgiu.
Pesava exactamente o mesmo, tinha o mesmo aspecto, forma e essência.
o dia da repartição.
Com Os seus 2$00, o-que-produziu-o-bolo dirigiu-se ao que lho encomendou.
Espanto!
O bolo já ndo custava 2$00 mas sim 6$00.
Tudo o mais era igual.
Ele desesperou: como era possível que recebesse mais e recebesse menos?
A noite pensaria no assunto.
Mas será que compreenderia que a sua parte não mudaria enquan-to o outro tivesse a faca e o... bolo na mão?
Mistério: porque sobem os preços?

NOTA Este artigo esteve para ser publicado no número 1920 de 12-5-73. Todavia, motivos de Censura impediram que, nessa data, viesse a público.

MURUROA
Apesar de toda a repulsa manifestada pela opinião pública, a França realizou mais uma experiência nuclear no Pacífico.
As suas elites defendem-na jogando com as necessidades de defesa e da construção de uma grande nação. A verdade é que há mais um candidato. ao rol das superpotências imperialistas.
Alguns jornais de direita classificaram os protestos de hipocrisia. O partido revisionista francês deu-lhes o Seu apoio verbal - mas uma vez no poder faria o mesmo.. Pois não segue ele as concepções de Brezner que foi há pouco aos Estados Unidos discutir a partilha das zonas de influência?
A paz nunca se construirá pelo medo, mas pela destruição das causas da guerra. Que são, no fim de contas, a exploração do homem pelo homem e de uma nação por outra.
De quem tem medo a classe dominante francesa? Pois dos países que explora, bem como dos seus operários em quem penetra a chama socialista. É contra eles que se constrói a bomba.
LV

Os dissuasores
Na cena política mundial, a China e a França resolveram assumir um novo papel. Assim enquanto as imperialistas dos Estados Unidos e os social - imperialistas (*) da União Soviética resolveram fazer um acordo para limitar as armas nucleares porque as que têm já lhes dão para se derreterem e derreterem os outros, o realismo daquelas duas potências levou-as a prosseguir a carreira por eles iniciada, argumentando pretenderem com isso dissuadir os grandes em relação à utilização de tão condenáveis instrumentos.
É como quem diz: se há fogo na floresta, deitem-lhe mais mato, porque arde mais depressa.
Aqui fica a questão: será que tal política vem impedir ou acelerar uma guerra nuclear?

(*): Social-imperialismo= socialismo nas palavras, imperialismo nos actos
LV

Olhos postos no Chile
O Chile é, por agora, um caso único na construção da sociedade
socialista, porque assenta na legalidade constituída. Uma coligação de forças socialistas conseguiu pacificamente atingir o poder e dar os pri-meiros passos para a sociedade nova. Os obstáculos são múltiplos desde o imperialismo norte-americano às forças reaccionárias nacionais
que, naturalmente, sentindo-se lesadas, impõem os maiores entraves, aproveitando toda a possível margem de manobra.
Algumas medidas de nacionalização e racionamento foram largamente contestadas. Os Estados Unidos que durante décadas sugaram os rendimentos do povo chileno, tentaram por todos os meios impedir a eleição do presidente Allende e posteriormente moveram um boicote formidável ao desenvolvimento da economia. As classes antes privilegiadas vieram bramar contra o racionamento tentando confundir o povo chileno, senhor de novas condições de vida, em relação aos seus verdadeiros interesses. Não querem deixar compreender que a escassez determina tal facto quando se pretende a igualdade.
Apesar do seu carácter, pequeno burguês e como tentativa de transição pacífica, para o povo chileno vai o nosso calor. Parece que uma revolta militar estalou, que o futuro não será tão brilhante como
o prometido, mas se não houvesse problemas resolver ninguém o tentaria. O que interessa é pelo menos o gérmen estar lá e lá permanecer, desenvolvendo-se.

A morte de Salvador Allende
O Chile caiu sob o jugo do fascismo. As forças reaccionárias que, sob a tutela dos Estados Unidos, tomaram ilegal e violentamente o poder, causando mais de um milhar de mor-tos, não tardaram muito a afirmar que o povo chileno estava farto da liberdade política. Por isso, vai de lhe oferecer a ditadura dos monopólios que o presidente sempre combatera e acabaria por o derrubar.
Sobre esse homem notável alguém disse: foi um político honesto, um marxista convicto e um homem integralmente bondoso.
Que o seu exemplo e os seus erros sirvam a todos os que se batem pela felicidade e libertação dos povos.
LV

A vi(o)la da loucura
Praguejante a viola ouvir-se-ia em toda a vila contando da tensão das vidas dos que nela se empenhavam (e não eram poucos admitindo estarem neles também os que a escutavam) não fossem as conventuais paredes brancas abertas ao meio por quebras que as separavam de outras iguais (vidas) numa simetria rígida que só as consciências de tão desiguais podiam quebrar apesar do empenhamento entendido como meio de chacota, libertação, frustração…
Viola, ó vila, ouvi-la.
Os corpos, sequestrados e doridos, lançavam para o ar o que no passado aprenderam por no presente o interesse ser reduzido, testemunho da sua aversão às novidades oferecidas as quais contudo os dominavam numa inutilidade só aparente para alguns e bem real para todos os outros que eram os que lá estavam por conta desses, violando na vila sem ouvi-la, lá onde as paredes eram mais grossas e vigiadas por gendarmes cuja missão era não deixar entrar ou sair sem todos os preceitos bem dedilhados agora em cordas que não se partiriam a não ser por revoltosos e vitoriosos.

Não há machado que corte
a raiz ao pensamento
porque é livre como o vento
porque é livre…


Libertas, as vozes conduziam sonâmbulos para mundos bem diferentes cujos povos eram a antítese daquilo que eles eram, povos que paz-avam, onde a rádio quase diariamente diria "Rebentou a paz" e as crianças brincariam não com pistolas e tanques mas trocando frases de amor que, num Natal que só não se comemorava a 25 do 12, os pais lhes ofereceriam.
Tristes viram então: só rebenta a paz onde haja a guerra.
E a minha voz bem real trouxe-os ao momento que todos queríamos abandonar: "está na hora".
Fomos em direcção ao presente.
LV

segunda-feira, agosto 11, 2003

E nesta data começam os problemas. Os erros de archive sucedem-se. Parece que já não tenho mais espaço para guardar esta obra-prima. É sempre assim com os maganos da informática: ao princípio, prometem tudo, depois,quando já estamos habituados e pensamos que vamos em velocidade de cruzeiro, entalam-nos.
Qui mais mírá mi acontecer-mi????
As redacções da Guidinha
Por aquela altura, tornaram-se célebres textos sem pontuação, publicados no Diário de Lisboa e conhecidos como redacções da Guidinha. Já não me lembro o que me deu para reproduzir a ideia no «Notícias de Ourém» e no «Ourém e seu Concelho». O certo é que bombardeei os leitores com alguns textos do mesmo género, que reflectiam algumas das minhas preocupações do momento, mas que, confesso, agora tenho alguma dificuldade em justificar.
Também é de acreditar que o facto de estar a cumprir serviço militar me tivesse criado a necessidade de tudo ser mais obscuro. Aliás, um dos textos, «Os Abutres» é um relato da instrução militar que fazia em Mafra e das paragens para descanso e "matar o bicho" que nos eram concedidas.
Confesso que tive um serviço militar que se pode considerar uma maravilha. Na instrução, com imenso receio, tive a sorte de calhar com um instrutor bem formado detentor de grande respeito por todos os elementos do pelotão. Na especialidade, mais tranquilo, começámos a sentir os cheirinhos que a revolução do 25 de Abril nos enviava: tal ocorreu na semana de campo e em muitos contactos com colegas e militares mais graduados. Depois, foi o magnífico período da revolução onde tive a sorte de participar e de viver praticamente até ao famigerado 25 de Novembro que transformou a revolução popular em revolução democrática, isto é, em algo, que dando alguma voz aos explorados e oprimidos, permitia a sua exploração pela classe detentora dos meios de produção.
Se "Os Abutres" é o caso mais explícito, para os outros textos não consigo mesmo qualquer justificação, sendo que num deles existe uma referência a avisos que lia no Notícias de Ourém quando algum texto era mais forte, «Cuidado com o fogo», e outro é uma recordação dos vendedores da banha da cobra na feira nova que se realizava no largo da feira do mês, junto à casa do Sr. Manuel Raul, pai do Cúrdia, em tempos de meninice…

O charlatão da feira nova
o charlatão chegou à cidade com os mesmos produtos rótulos diferentes tentando impingi-los mais uma vez ao povo que estava farto deles mas sempre que o via subir para cima duma banca se aglomerava em seu torno dando aso a que ele tecesse todo o elogio que a sua mente de crocodilo habilmente preparara ao longo de tantas sessões de treino de que aquela era mais uma elogio que tinha o condão de tocar os pontos vitais integrantes do desejo e você leva mais uma pelo mesmo preço da anterior além do sabonete aqui tem a esferográfica não costuma escrever a namorada (?) agora vejam este magnífico detector de bombas que os árabes mandam em cartas aos judeus tenham cuidado pois podem ter tido um parente judeu e os agressores árabes não perdoam como o prova o dayan ter um olho tapado e o henrique não sei quantos ter sido assassinado por um fanático- vocês levam ainda um magnifico televisor para assistir aos belos filmes que a televisão dá toda impregnada de teatro popular música popular anúncios populares os meus produtos são muito melhores que os que ela anuncia não preciso de um teleganhando para os meter na cabeça de quem me ouve e se alguém houver que queira reclamar pois eu devolvo todo o dinheiro o senhor está aí a fazer barulho tome lá todo o seu dinheiro leve tudo o que lhe dei para casa - e em voz baixa os patos estão a cair - já tenho todos os produtos vendidos mas na próxima feira trago mais muitos mais para este povo maravilhoso que tão bem me soube receber mais uma vez.
L V.

O Encontro
na cidade reuniram-se industriais bairristas cidadãs aenepistas oposicionistas camponeses campistas a erretêpê charlatões latifundiários poetas reaccionários reformistas revolucionários capas para dar às suas vidas um bocado de interesse que andava muito por baixo dados os maus programas que a televisão transmitia para povo ver o qual faltou ao encontro mas mandou alguns representantes os que tinham mais interesse em representar o povo feito de trabalhadores embebidos em emplastre de álcool e inconsciência que fez do encontro um falhanço espectacular pois cada um foi para o café que já conhecia trancou-o com cilindros de ferro e não deixou entrar mais ninguém a não ser no final tal e qual no género dos banquetes que se fazem e cujas recei-tas são destinadas aos pobres os quais no entanto não ficam com a pança cheia que isto de ser poeta com a pança va-zia não dá nada e a cabeça ficava fraquinha sem poder pensar em novas lucubrações e em novos banquetes que a televisão transmitiria para abrir o apetite aos que em casa só tinham côdeas mas na etiópia nem isso tinham pois só numa semana morreram 10.000 ficando durante dias às moscas algum tempo depois de os estados unidos e união soviética terem vendido mais uns quilos de armas a árabes e judeus que se fartaram de matar-se mutuamente enquanto os outros se riam como uns perdidos consolidando as suas posições junto aos poços de petróleo os desinteressados os tais da paz mundial e da redução das armas nucleares.
L V.

QUEDA NO ABISMO
A folha de papel totalmente em branco, num branco que Se destruía enquanto a preenchia, recordava-me as palavras de Zaratustra que ontem li e me disseram «o homem é um abismo entre o macaco e o super-homem».
Também ela era um abismo dada a incapacidade para exprimir qualquer coisa, um abismo no qual se afundam ideias muitas vezes condenadas ao es-quecimento por parte daqueles a quem se dirigem se bem que em determina-do momento se possam considerar agressivas e avisem «cuidado com o fogo» pois a avó é uma instituição que quase desapareceu do seio da família.
Na sexta-feira estive com uma avó e com o ente que lhe dava sentido, brinquei, ouvi-os «que estás a fazer?», «um cão», «não há cães encarnados», «mas os índios são encarnados, «os índios não são cães», «mas há cães índios'.
Não fosse a prevenção da avó e o mas bem explícito da criança e eu julgar-me-ia regressado da colonização americana, onde os direitos dos povos Índios foram sempre espezinhados numa eficácia de tal ordem que hoje se podem considerar como desaparecidos na totalidade à parte os que se disfarçam para turista ver ou para a erretêpê transmitir sem o mínimo respeito pela verdade da sua história.
Para todos nós o super-homem ain-da está demasiado longe.
L V.

Os ABUTRES
estavam por trás do muro oferecendo o que tinham para vender numa ânsia que lhes arregalava os olhos não os deixando pensar em porque estariam ali onde seres esfomeados e necessitados de humanidade procuravam pão e algo como o leite materno para se alimentarem e continuarem numa senda repetitiva que faria voltar os abutres já que o negocio era fabuloso e eles teriam assim forma de encontrar na cidade os géneros que necessitavam para a sua auto-subsistência muito embora maldissessem os impostos que pagavam percebendo que eram para obras colectivas e não das prontas só para eles seres cujos filhos também iam a escola talvez de mà vontade ansiando pela liberdade de se tornarem úteis e servirem um povo sofredor e amante do traba1lho produtivo para assim poderem estar participando na repartição do bolo.
eram dez minutos e o seu decorrer cheio de palavrões e boca cheia saltitando de vala em vala do muro para ali dali para o muro onde estavam os pães as bebidas e tudo o mais que o esfomeado consumiria pensando estar a fazer algo pelo seu corpo para desenvolver uma formidável musculatura enquanto os olhos arregalados e as vozes li-vres os procuravam numa con-fluência. de fins que se materia-lizava no exposto.
o dinheiro brilhou e à falta de trocos uma carteira de fósforos serve para aumentar o negócio.
o abutre tinha na realidade algo de estranho.
L. V.

quarta-feira, agosto 06, 2003

Um verdadeiro tiro no pé…
Foi o que me aconteceu com a história do Castelo dos Sonhadores. Afinal eu até gostava do castelo (vivi numa casa parecida com um castelinho à entrada da rua de Castela) e achava um piadão à terra ali entalada entre o castelo e os moinhos. Mas as lamúrias constantes nos jornais da terra irritavam-me solenemente. Então, um ente superior como eu,um marxista-leninista dos puros, tolerava aquelas coisas execráveis????.
É claro que levei tareia até dizer chega. Aos poucos tentei recuperar e a bondade dos meus adversários que viram nas minhas palavras a irreverência da juventude ou sonhos utópicos permitiu-me sair da crise. Mas o Postigo de Alberto Pinheiro não merecia ser tão maltratado como eu o fiz e, afinal,o UM OURIENSE até tinha alguma razão.
Aqui fica a história quase toda. Já não sei é como começou…
LV


O Castelo dos Sonhadores
Com mais EoIo menos Hades, mais escaravelho menos abelha, os nossos cronistas provincianos vão desviando as atenções do povo ouriense para os restos de umas muralhas sitas na antiga vila.
É lastimável!
Pois será esse o único problema que afecta (?) os trabalhadores da nossa terra e havendo outros será ele prioritário?
Sinceramente, estão a tomar-se enfadonhos. Por acaso ainda não viram que as "entidades competentes" a quem esmolam ajudas ou me-didas se estão nas tintas?
Não viram o fluxo emigrat6rio?
Não viram o abandono dos campos?
Não viram o atraso industrial?
Não viram a necessidade de cooperativas?
Não viram a exploração da criança?
A escravização da mulher...
As cadeias dos trabalhadores...
O racismo nos Estados Unidos...
A transição para o socialismo!
Não viram nada, mesmo nada?
Por favor, senhores sonhadores, acordem. De contrário, enquanto vão vociferando sobre o castelo, o mundo ultrapassa-os e só lhes resta um tiro nos miolos.

LV

Coisas do Nosso Tempo…
Enquanto houver dois homens, terá de haver opositores, visões diferentes, caminhos diferentes. . e tantas, tantas diferenças e critérios, quantos os homens, afinal de contas.
E não vamos condenar nem pretos nem brancos, nem gregos nem troianos, já para respeitar direitos que todos têm, apenas sujeitos às normas duma ética justa, já para podermos admirar a policromia humana, cujos tons inspiram poe-tas e sonhadores.
Pois é verdade, «UM OURIENSE» admite ser apelidado de «sonhador dos castelos», e confessa que felizmente não é o castelo de Ourém, nem problema e muito menus o único problema deste concelho, como também admite e verifi-ca com tristeza que não é com duas penadas que alguém se arvora em salvador ou mentor infalível dos destinos dum concelho.
Já sabemos que para os europeus os africanos são pretos e, vice-versa, para os africanos os europeus são brancos; mas também sabemos que cada um é o que é e tem valor no seu ser, relativo sim, mas real. Ambos vêem, ambos sentem, e ambos reagem a seu modo, mas validamente. Provincianos ou alfacinhas, serranos ou campesinos, todos têm direi-to a sentir, a amar e a sonhar. Uns sonham com castelos e outros fazem caste-los no ar; uns sonham com as grande-zas do passado e outros com as utopias do futuro.
Uma coisa, porém, é certa, em todos os tempos e hoje mais que nunca, e em todos os lugares sempre os homens, na impossibilidade talvez de ver o futuro, se voltam para o passado, admiram as suas obras e guardam ciosos os seus valores. Na sua ânsia de desvendar o pas-sado percorreu-se séculos já vividos, re-cua-se em anos aos milhares e até aos mi1hões, revolve-se a terra, põem-se a descoberto ossadas, túmulos, grandes necrópoles, cidades e civilizações, joei-ram-se poeiras, entulhos, enriquece-se a hist6ria e a ciência, e não vamos conde-nar tais iniciativas porque há doenças a tratar, caminhos a abrir, escolas a cons-truir e crianças a educar, ou porque há correntes a enfrentar, ventos a soprar em rajadas ciclónicas ou em pachorren-tas brisas, ou ainda porque há couves a plantar!
Não, caro amigo! Não! As pedras sa-gradas do nosso castelo de Ourém, as suas torres altaneiras e os seus pergami-nhos da mais antiga nobreza, nem im-pedem a marcha ao progresso do nosso concelho, talvez pelo contrário a ajudem, nem tiram a importância aos problemas que afectam os nossos tempos, e nem os resolvem ou impedem a sua solução.
Que tem que ver o nosso desprezado e pacato castelo com o racismo dos Es-tados Unidos ou com os socialismos co-loridos dos nossos dias? Ou, que relação e influencia teria esse vetusto castelo, reparado ou par reparar, no fenómeno universal das migrações, na montagem dos grandes impérios comerciais ou indus-triais, ou no abandono dos campos que hoje se processa?
Apenas parece que o desprezo votado ao castelo de Ourém prefigura o aban-dono dos vastos campos que o rodeiam, desde o extremo norte da Freixianda ao fundo Sul da Serra de Aire.
Então a exploração da criança - diga-mos antes matança tão criminosa como generalizada e até legalizada em tantas paragens, ditas progressivas, do mundo, e a escravização da mulher - digamos antes destruição do seu destino e dos seus valores femininos que a própria natureza, pródiga como o seu Criador, lhe conferiu, - são problemas, são males que se remediariam, se o castelo de Ourém, não fosse restaurado?
Se é o caso, provem-no, que eu sou o primeiro a pegar na picareta e a desfazê-lo pela raiz, apesar de sonhar com castelos, cujas muralhas se situam na «antiga Vila».
Para tanto não são precisos «tiros nos miolos», pois o Castelo, pobre e velho, nem já miolos tem. Tiros, sim! Eles que venham para acordar e fazer surgir quem jaz na sombra da morte: o castelo e aqueles que o mataram ou não querem que ressuscite.
Se quem não ama permanece na morte, e a palavra é inspirada, parece que permanecem na morte os ourienses que não amam o seu castelo; por isso precisam de acordar. Tiros que acordem, é que são precisos. Que façam ressuscitar o que está sepultado há séculos e que enriqueceria o presente de hoje e o de amanhã. Esses que são precisos! Que venham.
UM OURIENSE


O Meu Postigo
Por Alberto Pinheiro

Dois artigos publicados no "Notícias de Ourém"1 "o crime do Castelo de Aurém" e "o Castelo dos Sonhadores", posso entendê-los como discordantes da análise histórica respeitante a Ourém que costumo fazer, na imprensa local. O primeiro não merece qualquer apreciação dada a sua forma irónica e descabida de comentar o assunto, mas o segundo, confesso, presto-lhe atenção dada a franqueza da opinião exposta e a simpatia que me merecem as pessoas que aparecem cara a cara a dizer o que pensam, pois essa atitude os concilia com a minha maneira de ser.
As considerações que vou expor não se dirigem exclusivamente ao autor do artigo em referencia.
Existem também aquelas pessoas que são de opinião diferente e me têm felicitado por eu diligenciar expurgar da história de Ourém, as lendas, as confusões e os erros de que está inquinada.
Tenho muita admiração pelos jovens com personalidade e que consoante as suas ideologias
lutam pelo futuro que melhor satisfaça os anseios de valorização das suas qualidades e virtudes sem condicionalismos que molestem a sua dignidade.
Creio que não existem sociedades perfeitas mas é certamente possível, limar arestas para que as desiguladades sociais não sejam tão chocantes como as que a cada passo se observam, e tendem a desenvolver-se em ambiente favorável.
Sigo os seus passos, embora um pouco atrasado.
A minha idade não me permite acompanhar a rapidez da sua marcha.
Mas não adormeci nem me deixei ultrapassar pela marcha do tempo, não corro portanto o risco de ter de "dar um tiro nos miolos".
Já um dia, num dos meus artigos sobre o Castelo de Ourém, esclareci que quando olhava aquele monte e aquele Castelo, o admirava como um símbolo de grandeza e como berço do concelho, ou antes, dum condado, que foi dos mais importantes e cobiçados do país.
O Castelo de Ourem para mim não é só um monumento histórico é também uma testemunha de acusação para os Ourienses que têm administrado o concelho e orientado o seu desenvolvimento, e lentamente o deixaram chegar à apagada de vil tristeza dos dias de hoje que por todo o lado se lamenta.
Houve desenvolvimento económico? Certamente que sim, mas, mais por iniciativa particular do que por diligência das autarquias locais.
Não veja pois o articulista que me critica qualquer adesão da minha parte com a organização social da época medieval.
Não posso à distância ver em pormenor ou analisar com segurança Os problemas Ourienses e não devo portanto criticá-los, sem me sujeitar a ser injusto:
A critica tem de ser serena fria e objectiva.
Envolvo quase sempre as pessoas que por negligência incapacidade ou muitas outras razões,
não procederam como em nossa opinião deviam ter procedido.
Essa crítica para ser honesta e construtiva tem de alicerçar-se em factos devidamente com-6vados. Fazer o contrário é ofender a dignidade das pessoas comprometidas e a própria dignidade do crítico.
Para aqueles que vivem mais perto dos factos e Os conhecem na verdadeira dimensão, é mais fácil apreciá-1os e discuti-los apresentando mesmo sugestões válidas que contribuam para uma concre-tização satisfatória.
A noção da responsabilidade aliada ao bom senso leva-me na apreciação histórica do concelho dentro das minhas possibilidades, e mesmo al procuro abordar apenas Os assuntos para que me julgo
preparado e de bom grado aceito que me digam que estou errado e me demonstrem porque.
Agradar a todos creio não ser possível, nem aos génios, e não haverá portanto razão para me sentar à beira da estrada. Irei seguindo o meu caminho;

Lisboa, 25 de Outubro de 1975,


O postigo da História
Escreve: Luís Vieira

Em artigo publicado no 'Noticias de Ourém' metemos no mesmo saco "historiadores", palradores e sonhadores. 'Ores" que pela intensa actividade exercida entendemos estarem a conduzir o povo Ouriense para uma condição de alienado em relação ~s determinantes reais da existência.

A reacção a este artigo não se fez esperar. Todas as posições que encontram eco na nossa sinceridade tendem a afirmar-se quando combatidas e eis os seus portadores, com maior ou menor razão, bramando contra o cretino que faz da Hist6ria uma coisa a construir e não um altar a adorar.

Em artigo que enviámos ao "Notícias de Ourem" definimos a nossa posição em relação ao assunto. Não valera a pena repetirmos o que então dissemos porque nada acrescentaria a matéria em discussão. Mas eis que surge em cena um novo ofendido, um homem cuja vida tem contribuído para "expurgar da história de Ourém, as lendas, as confusões e os erros de que está inquinada" e que considera o "Castelo dos Sondadores" como "discordante da análise histórica respeitante a Ourém" que costuma fazer.

Evidentemente, o "Castelo dos Sonhadores" nada tem a ver com os que honestamente pro-curam conhecer o passado da nossa terra, ele é apenas uma critica aos que choramingam o passado esquecendo os problemas presentes, tentando transformar Ourém numa monarquia de sonhadores. E uma estatística a artigos dessa natureza provaria que quase de quinze em quinze dias aparecia uma aberração dessas ocupando um jornal quase por inteiro numa extensa e enfadonha lengalenga que, se os mortos lessem, faria levantar o D. Afonso-quaIquer-coisa da cova para lhes dar o destino que merecem numa lixeira.

Ora, a História não tem culpa nenhuma em ser tão maltratada e é por isso que não a conde-namos nem aos esforços que se façam para a c6nhecer. Desse modo, o que nos une a Alberto Pinheiro é bastante superior aquilo que nos separa. Os seus artigos permanecem imunes a critica que nós formu-lamos pois constituem um contributo válido para o domínio em causa. É evidente que nos estamos marimbando para que no tão falado e abandonado castelo tivesse vivido uma princesa Oureana, Pratiana ou lá como lhe quiserem chamar que era multo boazinha para o Zé. No entanto, já nos atrai saber que aquele Castelo foi dos mais importantes e cobiçados do Pais.

Importante porquê e cobiçado per quem?

Estas as interrogações que neste momento nos acodem e em certa medida podem abrir um capitulo das costumeiras paginas de Hist6ria:

Na realidade, o Castelo de tão concreto que parece é uma abstracção. É-o enquanto se esquece aqueles que o tornaram possível. aqueles que na sociedade medieval estavam envolvidos em re1ações de servidão, cujo trabalho era sugado pelos nobres que habitaram o Castelo à custa de uma precária protecção, e sem cuja existência era impossível a de todos os demais.

Mas se o estudo dessas relações é importante, também o é o das condições que as levaram a modificar-se e tornaram possível a marcha da História até aos nossos dias com todos os dissabores que a humanidade conhece.
Por tudo isto, pela sua necessidade e oportunidade afirmamos que Alberto Pinheiro deve seguir o seu caminho, continuar atento no seu postigo.

Lisboa, 10 de Novembro de 1975.

sexta-feira, agosto 01, 2003

A vaidade dos intelectuais
O "Ourém e seu Concelho" também sofreu o ataque do sábio LV cada vez mais detentor da verdade absoluta, com a arrogância que a quase licenciatura lhe dava.
Mas estou a ficar chateado com isto. O blogger.com arruma-me os artigos mais engraçados no fim.
LV





Contribuição para a história do país que eu conheço
Na escola ensinaram-me que a minha terra era um produto do país onde vivia. Ensinaram-me que as relações que lá havia eram determinadas por relações mais complexas capazes de lhes conferirem um lugar e uma função.
Apesar de tudo vou seguir o caminho inverso. Ciente de que aquilo que conheço é senbor de uma especificidade notável, tomá-lo-ei como característica essencial do geral ao qual pertence. E irei falar em todas as relações que Iá se manifestam, pois são elas que fazem História mesmo que o seu conteúdo se mantenha anos sem conta.
A História é o produto da luta do homem pela vida, luta que se manifesta em todos o campos: no trabalho, no intelecto, na sociedade...
Vocês poderão dizer-me algo sobre a vossa luta? Eu direi o que me fazem lembrar, contar-Ihes-ei como os vejo, como vejo a vossa vida e só desejo que alguém me demonstre que estou errado.
LV

A cidade
Vive-se numa Vila que poderia ser uma cidade ou uma aldeia.
Aí se encontram todos os vícios que o desenvolvimento é pródigo em gerar: o individualismo, a clubite, o enfarte, a alienação...
Cada família faz de sua casa um castelo. Encontra-se com outras no café de preferência onde vê televisão e fala de tudo menos do que na realidade teve interesse. Elege-se um conjunto de banalidades que serão o prato forte de um papaguear cada vez mais técnico.
"Eusébio uma banalidade! ?"
Claro! Eu sou do contra. Imaginem que em vez de 40.000 a verem um jogo de futebol queria 40.000 a jogarem futebol.
Mas há também a indústria. Umas fabriquetas de madeira que o processo de concentração capitalista atirará para a ruína ou para as mãos dos que já tem tudo. Apesar de os seus donos terem muito. Mas a pequena indústria não e rentável.
Rentabilidade é lucro, taxa de lucro, recuperação do investido.
Será que algum dia pensarão em organizar-se de modo diferente?
LV

O CAMPO
Não é o de futebol ou de hóquei em patins, é sim o da agricultura, desportiva ou não.
Pois lá no campo vive-se mal, cada vez pior (a grande maioria). A minoria, a que vivia bem já não está lá, veio para a cidade juntar se aos manos burgueses industriais e dos serviços, deixando lá, para garantir a ubiquidade, alguns olhos e ouvidos As bocas essas continuaram a ser muitas.
Hoje sabe-se que quem lá trabalha são velhos, mulheres e crianças. Nada tenho contra o trabalho das mulheres, mas a sua situação na nossa sociedade continua a ser quase de escravidão. Adiante.
Os fortes esses não estiveram para aturar aquilo por mais tempo. As cooperativas chegaram tarde e ao conceIho nem chegaram. Eles. puseram-se a milhas na cidade ou no estrangeiro, não querendo perpetuar a exp1oração de que foram vítimas os ancestrais.
E tudo segue na mesma. Mas não será possível uma jornada em favor das cooperativas?
LV

quarta-feira, julho 30, 2003

Eu, marxista me confesso
Lá para 14 de Julho, talvez de 1972 (ou 1973?) enviei mais uma provocaçãozinha para o Notícias de Ourém: um artigo condenando as sociedades baseadas na exploração do trabalhador e convidando à participação na construção de uma sociedade em que todos participassem na decisão e no trabalho.
Houve quem não gostasse e reagisse. Aqui vai a história toda.
LV

A LENDA DO IMPERADOR LUCRO
Em terras infinitamente longínquas, vivia um imperador com extensos domínios povoados e trabalhados pelos seus servos. Da riqueza produzida, uma parte ficava para eles viverem como porcos, outra ia para o palácio onde a imensa corte se divertia em lautos banquetes.
Um dia, estalou uma revolta num desses domínios. Incapaz de agir sópor si, o imperador mandou servos de outros domínios lutar contra os seus irmão de classe. Mas aí a riqueza deixou de aparecer e os banquetes pararam de se realizar. O imperador espasmou de fome e, um dia, não pôde deixar comida aos servos que faziam a sua guerra. Então, logo eles também se revoltaram o imperador caiu.
Em seu lugar, quiseram eles construir uma nova sociedade em que todos participassem. Uma sociedade cujo motor não fosse o lucro, mas a utilidade social do trabalho de todos e dos bens de cada um.
E era verem-nos contentes transportar para o património comum tudo o que haviam produzido e, depois, decidirem colectivamente o uso a dar a cada coisa. Feito isto, planeavam o trabalho futuro e distribuíam entre si as tarefas.
Vocês desculpem, tudo isto foi uma lenda passada em terras infinitamente distantes. Mas pensem na sociedade nova e da outra tragam o que puderem.
LV

O QUEIXINHAS
O nosso Correio
Senhor Director
Anda por cá uma verdadeira euforia marxizante em que com pezinhos ora de lã, ora de pólvora se faz uma doutrinação subversiva sem nada de construtivo em troca.
«A Lenda do Imperador Lucro», publicada em 14 de Julho, no vosso simpático jornal, condena o lucro. Eu também condeno o lucro que vai parar às algibeiras de quem faz pouco e deixar à míngua de recursos essenciais os que fazem qualquer coisa. Mas a condenação pura e simples do lucro não conduz a nada de construtivo. Ou conduzirá?
Gostava muito que o autor da lenda explicasse um pouco mais o seu pensamento. Assim sem mais é o bota abaixo. E como será o bota acima?
Seu o leitor assíduo
Gastão da Cunha Ferreira

Bota Abaixo, Bota Acima
De D. Gastão a sua rima

Insinuações e calúnias são as armas de quem nada pode demonstrar. No dia 14 de Julho, disse-se o seguinte no «Notícias de Ourém»: "Em seu lugar quiseram eles construir uma nova sociedade em que todos participassem. Uma sociedade cujo motor não fosse o lucro, mas a utilidade social do trabalho de todos e dos bens de cada um.
E era verem-nos contentes transportar para o património comum tudo o que haviam produzido e, depois, decidirem colectivamente o uso a dar a cada coisa. Feito isto, planeavam o trabalho futuro e distribuíam entre si as tarefas".
O artigo terminava com um convite à reflexão sobre essa sociedade e, no caso de se decidirem por ela, a aproveitarem tudo o que de bom encontravam naquela onde viviam.
Uma coisa é certa: a debilidade mental do sr. Gastão da Cunha Ferreira não poderá fazer parte dessa sociedade. Porque depois de me dar roda de marxista, falinhas mansas e bombista, necessitou de mentir para justificar essas qualificações.
Em conclusão: desprezo aos executantes de tão ruim ofício. E se lhe respondemos foi pelo respeito que nos merecem os leitores do «Notícias de Ourém»
LV

quinta-feira, julho 17, 2003

Tenham paciência

Isto vai, mas é devagarinho. Até posso estar uns dias sem me apetecer pôr aqui qualquer coisa.
Vamos até Ourém nos anos de 1972 a 1975.
Agora ainda me encontro lá com alguns como o Julito, o Quim, mas a terra fugiu-me quase completamente.
Vou tentar recuperar artigos do "Notícias de Ourém" e do "Ourém e seu concelho" dessa época. Vou opinar que quem tem governado Ourém estragou aquilo tudo porque não era da terra, faltava-lhe algo como o amor a. Procurarei mostrar algumas coisas que não podem ser destruídas.
E não se esqueçam: ainda estou a aprender utilizar isto
Até breve
A Juventude do Silêncio

De um filme recentemente passado num estúdio de Lisboa retira-se a seguinte ideia: "A juventude de hoje é filha de Marx ou da Coca-Cola(*)'. Se existe grande soma de verdade nessa afirmação, parece-nos que ela esquece os que não são uma coisa nem outra. Isso é natural, pois a frase situa-se num país com determinantes económicas semelhantes ao nosso mas com uma formação ideológica totalmente desigual.
Entre nós é bem diferente. A Coca-Cola já se tornou objecto de consumo corrente não na forma tal qual é mas sim noutras formias mais sofisticadas enquanto o restante permanece ausente muito embora apareçam algumas "ovelhas ranhosas".
É assim que, para a nossa terra, temos de modificar quase total-mente o sentido da expressão. E se por vezes o silêncio coincide com a Coca-Cola, os interesses dos seus portadores levam-nos ao seguinte: entre nós, a juventude é filha do silêncio ou da Coca-Cola. Mas nada de confundir silêncio com a ausência de barulho de motorizadas ou de música pop. Este é bem querido e estará sempre presente.

(*) Masculino - feminino de Godard

LV
Exaltar a Humildade?
PARA CONSERVAR OS HUMILDES SERVOS

Eu creio que se existisse urn para cada oprimido, não haveria habitantes que chegassem para os "Becos da Pouca Sorte". Mas seria boa a existência de pelo menos um para que a consciência se não desanuviasse pelo simples tomar uma bica.
Não gosto de exaltar os humildes nem a humildade. Pelo menos nos termos em que isso usualmente se faz que mais não visam do que manter as pessoas na apatia em relação às suas condições de vida bem real. E isto por uma razão bem simples.
A pouca sorte de uns está muito ligada à boa sorte de outros. Por isso, o "Beco da Pouca Sorte" ficaria em beleza ali mesmo no centro da praça, lugar de passagem quase obrigatório para todos os ourienses. Talvez assim se sentissem mais estimulados a uma actividade social visando os problemas colectivos, em vez de resolverem os problemas dos outros com uma esmolinha ou um prato de sopa.
O Mundo destrói hoje em guerras bens que dariam para alimentar muita gente. A riqueza de hoje daria mesmo para todos terem uma vida decente com os problemas culturais e de distracção bem resolvidos. Mas o fosso vai-se cavando e alargando. E aqueles de que falámos em "figuras de todo o mundo" serão cada vez mais se uma acção colectiva os não elevar a níveis de vida dignos de seres humanos.
Essa acção pode ser só deles ou de todos. Depois não se queixem, porque, apesar de tudo, eles são conscientes.

LV

Nota: Na época Figuras de todo o mundo provocou alguma agitação. Houve uma resposta publicada no Notícias de Ourém cujo autor já não recordo, mas que era muito simpática. Esta é uma contra-resposta: uma saída à revolucionarão da época.


VEGETAR

Era uma vez uma terra.
Havia lá pessoas e tudo. As pessoas trabalhavam durante o dia e descansavam à noite. Algumas não faziam assim mas também não tra-balhavam à noite.
Geralmente mostravam-se assoberbadas com os seus negócios sem compreenderem que eles não seriam possíveis sem o trabalho dos outros.
Estes estavam na fabrica, no escrit6rio ou no campo. Após uma jor-nada de trabalho viam que, com o que recebiam, podiam comprar pelo menos o produto de três horas. Isso não os inquietava muito, porque tinham mais em que pensar.
Assim, nos tempos livres, dedicavam-se aos copos, ao jogo ou à televisão. Se o trabalho as poluía, o mesmo acontecia com os outros elementos. Mas isso não o compreendiam porque eram a sua liberdade, a liberdade possível.
Como já devem ter notado, havia também duas juventudes: a que sonhava com pópós e a das fabricas.
Não se falavam. Naquela terra era um crime olhar para mais alto ou para mais baixo, por isso cada uma aspirava às posições paternais. Com algumas excepções. Excepções que podiam ser o Cavalo de Tróia do marasmo que aí se vivia, e abrir decisivamente o caminho para uma real cooperação entre as pessoas, cimentando a sua amizade em vez de recalcar ódios.
Porque, desculpem que o diga, o que lá se faz, é vegetar.

LV

FIGURAS DE TODO O MUNDO

Em figuras da nossa terra fala-se em doutores, industriais, benfeitores que alguma vida trouxeram ao nosso meio. Não se fala no «Zizi» ou na Amélia Perra. Não se fala porque não são figuras da nossa terra.
Eles são figuras de todo o mundo.
Eles estão na América Latina, na África, na Ásia, nos bairros da lata, nas barracas, nos bidonvilles, nos guetos.
A todo o momento, a sociedade que os criou, os espezinha e os marginaliza.
A sua vida foi uma imensa produção de riquezas. Neste momento, alguns só têm de seu a barriga podre de álcool que os acompanha enquanto esquecem, adormecidos, em qualquer valeta. Outros perdem-se no ocaso de uma vida nobre toda dedicada ao trabalho.
A estes nós esquecemos, nós fazemos por esquecer. Porque são urn desafio à nossa comodidade cheia de individualismo. A nossa consciência não comporta mais problemas que a salvaguarda do lucro e da acumulação.
Na América Latina, de cinco em cinco minutos, morre uma criança de fome. Nos Estados Unidos, em cada cinco minutos, faz-se urn opíparo banquete. Até quando?
Até que todos nós compreendamos que eles também são produto do nosso bem-estar. Produto e obreiros. E os alimentos não param no estômago.

LV
(Notícias de Ourém, lá para 1972)

Esta é para testar texto
Mas aquela terra parece cada vez mais longe de mim.
As pessoas são cada vez mais outras. Apoderaram-se do meu espaço, destruiram quase tudo que me dizia alguma coisa e têm o atrevimento de afirmar que tudo são melhorias.
Os amigos foram desaparecendo pouco a pouco. Primeiro o Zé Manel Depois o Jó Rodrigues, Recentemente o Luis NUno, o Felix. Que raio de vida esta. Anda alguém a divertir-se À nossa conta dando-nos prazer no passado e agora a destruir tudo?????
Comecemos pelo Notícias de Ourém.
Que será feito do famigerado LF?
O homem escrevia, escrevia... imperturbável de todo. Quanto mais lhe desancava, mais refinava o canto de sereia e a minha irritação crescia do lado de cá
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