Não resisti…
Por razões óbvias fiquei comovido ao ler este texto de MEC.
Resolvi faná-lo ao jornal Público e integrá-lo no meu espaço, espero que não me levem a mal.
O meu irmão
Miguel
Esteves Cardoso
Ainda ontem
O meu irmão
chama-se Paulo e é a pessoa masculina que mais amo nesta vida.
Hoje almocei
com ele na Praia das Maçãs e fartou-me de fazer rir. O meu irmão é o meu
cúmplice mais antigo, o meu amigo mais velho, se eu medisse os meus amigos por
velhice. O meu irmão é o riso que nasce de ser ele, o riso que nasce de sermos
nós, o riso que nasceu só da sorte de nos encontrarmos. Só tenho um Irmão -
deveria dar-lhe mais valor. Isto sou eu a dar-lhe mais valor; só tenho um
irmão, estou a dar-lhe mais valor.
Num dia
aceso, feito dos nossos desejos, as pessoas que estão próximas de nós deveriam
ser devidamente agradecidas. Não são. Somos nós que pagamos a irresolução.
Eu adoro o
meu irmão. A única coisa que me limita é que quase nunca estou com ele:
desgraça-me uma deficiência de comparência.
Na vida,
afinal, é sempre melhor exigir. Ser desiludido é o nosso estado natural. O meu
irmão Paulo faz-me rir.
O meu irmão
Paulo faz-me pensar. O meu irmão Paulo enche-me de palavras e de amor.
O dia é
sexta-feira e o mês é julho. Estou na Praia das Maçãs com o meu irmão Paulo e
como Chico, o nosso melhor amigo desde 1970. Estou feliz e cheio de riso. É
tudo graças ao meu irmão e ao Chico.
É uma grande
tristeza da vida não conseguirmos dar valor ao que já temos, sem mérito algum
da nossa parte. Metade da alegria da vida é reconhecer que se teve sorte.
É a sorte de
ter tido este irmão e não outro, é a sorte de ter escolhido bem os amigos que
se têm. A alegria é sempre mais simples do que pensamos: é estar com as pessoas
que. amamos, a fazer as coisas que mais nos apetecem.