Também tive um irmão.
Era uma pessoa afável, honesta, trabalhadora, equilibrada, imaginária
e sempre disponível.
Também gostava de comidinha e ficaram famosas as
patuscadas que organizava para deliciar a família e amigos de tal modo que era conhecido
pelo «Abelito das comemorações». Diz-se que, lá no Paraíso, quando souberam da
sua chegada, os cordeiros, cabritos, leitões, coelhos, frangos, etc., etc.
fizeram reunião de emergência e proclamaram estado de sítio, tentando em vão
impedir-lhe a entrada.
Foram dele os primeiros livros que ajudei a destruir-lhe na saudosa
casa da rua de Castela, livros que ele guardava secretamente na mesinha de
cabeceira, com cadeado, e que eu, já promissor rato de biblioteca, procurava e devorava.
Foram dele também as palavras de orientação que me marcaram
definitivamente e o esforço para prosseguir estudos para além do normal
naqueles tempos longínquos onde a subsistência era o supremo objectivo das
famílias de poucas posses.
Foi o meu ídolo quando, no Atlético cá da terra, desafiava os
avançados de equipas fortíssimas a passar por ele.
Foi também sempre uma luz aberta ao regresso em qualquer
momento que as coisas dessem para o torto, um verdadeiro porto de abrigo.
Separados há mais de cinquenta anos, a sua maravilhosa
recordação ficou e é como se permanecesse vivo, apesar de já não estar naquela
casa onde tanta vez o procurava.
2 comentários:
Bonita e sentida homenagem ao falecido irmão.
Soube há poucos dias, daí a...
Sentidos pêsames, Luís Manuel.
Obrigado! É assim a vida...
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