Boa vizinhança
Andava desesperado com a minha recente vizinhança. Uns gastavam-me a água do jardim sem autorização. Outros estoiraram-me com o mosquiteiro e abriram-me a janela. Aqui, mais perto do mar, é uma degradação da vivência que só pode compreender quem a sente perante a constante chegada de pessoal para a nobre arte do sexo, da erva e do pó branco vendidos sob total indiferença de quem de direito.
Mas eis que algo mudou em tudo isto. Duas vizinhas novas...
Chegaram pelo início do mês. Os dias foram passando. Elas interessaram-se por nós e, de quando em quando, apareciam para se saber como estavam e falar um pouco.
Ontem, foi demais.
-Temos a canalização entupida...
A prestável e tagarela companheira foi logo a correr, mas não tratou de nada. Pouco depois, voltou.
- Enfiaram arroz pelo cano e agora está tudo entupido. Tens de lá ir dar uma ajuda...
- Eu? Já não tenho idade para desentupir canos...
Mas lá fui para avaliar a situação. Lá estavam elas, as novas vizinhas, olhando-me cheias de esperança.
- Ai, faça-nos esse jeitinho...
O meu coração bondoso não resiste a estes apelos.
Fui mudar de roupa para não apanhar com algum jacto e, perante os calções vestidos, toda a gente aproveitou para gozar um bocado com a ridícula figura do candidato a canalizador.
- Ele tem razão. Não tem nada que ir de fato e gravata...
E lá fui cumprir a minha missão munido de toda a vontade. Apalpei a parte debaixo do cano, forcei um pouco e, pouco depois, tudo aquilo esguichou para dentro do balde ali colocado previdentemente. Desobstruí tudo, voltei a tapar e, pouco depois, a circulação de água era perfeita.
- Muito obrigado! Amanhã, já vamos rezar por si...
É verdade, esqueci-me de dizer. As vizinhas eram duas freiras de avançada idade que foram distrair-se a passar uns dias na casa ao lado da minha. Não calculam os agradecimentos no final.
E, hoje, já o sei, espera-me magnífica garrafa de um JB15 com que elas ousaram presentear-me antes de irem embora.
E andava eu tão descontente com vizinhos cada vez mais sujeitos a adornos electrónicos. Desta vez, eram duas deliciosas velhotas que me fizeram recordar aquela vizinhança antiga e saudosa que se viveu muitos anos em Ourém...
Andava desesperado com a minha recente vizinhança. Uns gastavam-me a água do jardim sem autorização. Outros estoiraram-me com o mosquiteiro e abriram-me a janela. Aqui, mais perto do mar, é uma degradação da vivência que só pode compreender quem a sente perante a constante chegada de pessoal para a nobre arte do sexo, da erva e do pó branco vendidos sob total indiferença de quem de direito.
Mas eis que algo mudou em tudo isto. Duas vizinhas novas...
Chegaram pelo início do mês. Os dias foram passando. Elas interessaram-se por nós e, de quando em quando, apareciam para se saber como estavam e falar um pouco.
Ontem, foi demais.
-Temos a canalização entupida...
A prestável e tagarela companheira foi logo a correr, mas não tratou de nada. Pouco depois, voltou.
- Enfiaram arroz pelo cano e agora está tudo entupido. Tens de lá ir dar uma ajuda...
- Eu? Já não tenho idade para desentupir canos...
Mas lá fui para avaliar a situação. Lá estavam elas, as novas vizinhas, olhando-me cheias de esperança.
- Ai, faça-nos esse jeitinho...
O meu coração bondoso não resiste a estes apelos.
Fui mudar de roupa para não apanhar com algum jacto e, perante os calções vestidos, toda a gente aproveitou para gozar um bocado com a ridícula figura do candidato a canalizador.
- Ele tem razão. Não tem nada que ir de fato e gravata...
E lá fui cumprir a minha missão munido de toda a vontade. Apalpei a parte debaixo do cano, forcei um pouco e, pouco depois, tudo aquilo esguichou para dentro do balde ali colocado previdentemente. Desobstruí tudo, voltei a tapar e, pouco depois, a circulação de água era perfeita.
- Muito obrigado! Amanhã, já vamos rezar por si...
É verdade, esqueci-me de dizer. As vizinhas eram duas freiras de avançada idade que foram distrair-se a passar uns dias na casa ao lado da minha. Não calculam os agradecimentos no final.
E, hoje, já o sei, espera-me magnífica garrafa de um JB15 com que elas ousaram presentear-me antes de irem embora.
E andava eu tão descontente com vizinhos cada vez mais sujeitos a adornos electrónicos. Desta vez, eram duas deliciosas velhotas que me fizeram recordar aquela vizinhança antiga e saudosa que se viveu muitos anos em Ourém...