sexta-feira, janeiro 11, 2008

Aeroporto

Eu sei que vou chatear os ribatejanos essencialmente muitos oureenses (anda para aí um que diz que não se sente ribatejano, mas já fez mal que chegue na cidade pequena e, em breve, estará de partida...). Mas mandam a economia e os altos interesses do capital que o aeroporto seja em Alcochete. O que é que os capitalistas com interesses na Ota têm a mais do que os que apostam em Alcochete? Nada, absolutamente nada. Pelo contrário, ali, bem perto do deserto, vamos construir uma verdadeira cidade aeroporto. Uma cidade que se dizia “Jamais...”. A especulação vai disparar e eu vou poder cobrar mais receitas. Que me interessa que umas avezitas viessem passar uns tempos ao estuário? Vão saber-me muito bem assadinhas no forno com puré de batata e agriões... Não era o tal que dizia que a comidinha estava toda feita antes de tirar a tampa? Esta está guardada para depois e vai-lhe fazer muita inveja... E já viram, com a capacidade de rápida decisão que me caracteriza, o que se pode vir a ganhar com a Portela? É preciso estar atento a todos os sinais do mundo que nos rodeia... vindos do que foi e do que será...

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Referendo?...

Ó meus amigos, isso era apenas uma promessa eleitoral e, como sabem e é muito bem aceite pelo meu povo, eu não costumo cumprir promessas eleitorais.
Mas permitam-me que vos chame a atenção para mais um pormenor: o que eu prometi foi referendar a Constituição. Ora, o que está em causa não é uma Constituição, é apenas um tratado. E há uma diferença. As constituições referendam-se; os tratados aprovam-se especialmente em assembleias onde haja maioria absoluta.
Referendar o tratado? Já viram o péssimo exemplo de imaturidade democrática que daríamos aos nossos parceiros europeus? E se eles se lembrassem de fazer o mesmo?
Triagem de Hipócrates

Urgências?...
Meu caro amigo, já falámos tanto sobre isso que já o posso tratar assim e acredite que estou a ser sincero. Eu quero servi-lo melhor. Se é urgente, deve vir mais cedo... para poder realizar a sua triagem e esperar pelos corredores comodamente deitado na maca. Com um bocado de sorte, consegue morrer sem se sujeitar a qualquer tortura.
E, sempre que estiver atrapalhado, para chegar mais cedo, aqui tem uma ambulância novinha em folha, capaz de fazer muitos quilómetros, de dia ou de noite, na planície ou na serra, equipada com bloco para partos, bombeiro parteiro e tudo...
Indisciplina de idoso

Pagar o aumento extraordinário por inteiro?
A reformados?
Já viu o péssimo hábito que lhes criávamos? A ilusão monetária torná-los-ia compulsivos gastadores! No próximo ano, estariam a exigir novo extra ordinário aumento.
Não, senhor...
Os nossos reformados querem-se bem domesticados, bem disciplinados. Vão receber e agradecer 12 maravilhosas prestações de 68 cêntimos. Quem é bom, quem é?

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Um mundo pequeno

...
Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu, a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena. Toco com o pé numa rosca de carne meiga e macia: é a pernita da Lina, que dorme à minha frente. Apago a luz, cansado de ler parvoíces que só em português é possível ler, e viro-me para o lado esquerdo: é um hálito levemente soprado, pedindo beijos no escuro que me embala até adormecer. Voltamo-nos, remexemos, tomados pelo medo de estarmos vivos, pela alegria dos sonhos, quem sabe!, e encontramos, chocamos carne, carne que não é nossa, que é um exagero, um a-mais do nosso corpo mas aqui, tão perto e tão quente, é como se fosse nossa carne também: agarrada (palpitante, latejando) pelos nossos dedos; calada (dormindo, confiante) encostada ao nosso suor.
...

Este terá sido um dos primeiros livros que li na fase de intensa, acelerada e amaldiçoada formação. De quando em quando, acode-me à memória sempre com uma sensação de amargura e estranheza. Não segui o percurso do autor, apesar de não lhe ter esquecido o nome. Agora, vou relê-lo e guardá-lo de forma a nunca mais voltar a sentir que o tinha perdido.
Ontem, chegou a notícia da sua morte e a inevitável e letal homenagem da RTP que em vida passa o tempo a esquecer-se de gente com valor. Afinal, era um nome importante, um dos maiores do século XX, de acordo com testemunhos como o de Saramago e Soares, apesar de pequenas diabruras como a feita com a tradução do Voltaire...
Curiosamente, soube ainda que um dos seus filhos, o João Miguel, tinha sido meu colega de trabalho numa petrolífera, onde convivemos na área de informática, a qual abandonámos exactamente no mesmo dia e pelo mesmo motivo.
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