sábado, outubro 14, 2006

A retoma que vem, mas não convem

Ontem, sua excelência, o ministro Pinho, anunciou o fim da crise, mais, garantiu a retoma.
Mas foi uma gaffe...
É que haver retoma há, mas não convem que se saiba.
O governo do engenheiro Sócrates, orientado por sua excelência o ministro dos Prantos, quer ter os benefícios da retoma e os benefícios do emagrecimento e do aperto do cinto: é uma espécie de acumulação primitiva...

sexta-feira, outubro 13, 2006

"Envelhecimento da população ameaça finanças públicas"



É um título do jornal Público inserto na sua primeira página.
Um título com água no bico, acrescentamos. Da leitura do artigo, infere-se, dada a impossibilidade de aumentar a natalidade e a falange de desempregados, a necessidade de continuar a reduzir direitos sociais muitos deles garantidos pelos descontos que as pessoas fizeram.
É também uma ajuda ao PSD no seu braço de ferro com o ministro da Segurança Social sobre a reforma desta. Aquelas conclusões quase parecem o gráfico que os discípulos do Ganda Nóia inventaram para, na televisão, ilustrar a situação com uma linha amarela a descer, descer, como que para o abismo...
Claro que a situação é só para 2050. Mas com tanto que se quer tirar às pessoas excessivamente acomodadas a determinada forma de existência, não será de pensar que o que se anuncia tem mais a ver com a crise geral do capitalismo e que não tem solução dentro do sistema?

quinta-feira, outubro 12, 2006

O obcecado

Aquele olhar, aquela persistência não enganam. Depois, as palavras: “é a nossa política ou ficar como estávamos”.
O engenheiro Sócrates está profundamente enganado. Apesar do mérito de algumas das suas propostas, a sua crueldade social, o seu autismo relativamente a outras posições com algum mérito fazem com que pouco a pouco vá afastando todos os que o apoiaram ou lhe deram o benefício da dúvida.
Todos?
É capaz de não ser bem assim. Quer-me parecer que o detentor das finanças é um dos seus mais firmes apoios. Tanto repetem um ao outro aqueles disparates anti-sociais e a sua autoproclamada missão de salvadores que acabam por acreditar neles...
O engenheiro pode não se importar com o crescente descrédito tão confiante que está da missão, mas a organização que representa vai certamente sofrer as consequências...
Da forma e do conteúdo

É um mar de gente.
Milhares e milhares de pessoas envolvem S. Bento protestando contra a política do Governo.
Aqui e ali alguns cartazes com um carácter um tanto insultuoso: "Mentiroso", "Kamikase", "Nabo" e "Carrasco" passaram-me várias vezes pela frente.
Apesar disso, o tom dos condutores da manifestação é cordial, por vezes, divertido sem perder a acutilância.
Um pouco afastadas, junto ao ISEG, há quase uma dezena de carrinhas cheias de polícia pronta a actuar caso o protesto suba de tom. Veem-se os escudos, as viseiras, os cacetetes.
- Só do Porto vieram 102 camionetas...
A manifestação é grande, muito grande. Pelas 17 horas, São Bento já estava cheio e a cauda ainda estava longe.
O governo de Sócrates parece apostado em virar o povo contra ele. Gozam com as pessoas, são indiferentes ao seu sofrimento... tudo sob o argumento da legitimidade da tecnocracia e do liberalismo.
O governo esquece que transporta consigo a palavra socialismo. Como se ela nada significasse. Como se a mesma forma (a palavra) pudesse ter qualquer conteúdo (a péssima política social) que o seu desejo de protagonismo insiste em aplicar...
Diabo de dificuldade

É-me sempre difícil conviver com governos do PS. Quando lá estava Barroso ou Santana, as coisas tinham piada porque pareciam tão disparatadas e vinham de uma área política pouco simpática que, atacá-las, surgia como o mais natural deste mundo. É porreiro estar a direita no poder para podermos dar livre expressão à nossa capacidade crítica.
Mas com os actuais...
Aparece a nova lei das finanças locais. Traz limitações ao endividamento, traz auditorias regulares aos municípios, coisas que eu até apoio. Por exemplo, o endividamento: que legitimidade tem um autarca de atirar para a responsabilidade do seu sucessor os disparates que andou a fazer? Por exemplo, as auditorias externas e regulares por entidades independentes e credíveis... mas haverá alguma organização a quem isso faça mal? O meu mal estar está em que os meus mais tradicionais amigos dizem cobras e lagartos desta lei...
Vejamos agora a saúde. Parece que quem for internado num unidade de saúde pública vai pagar cinco euros por dia. Até parece pouco... mas há pessoas que nem isso têm. Portanto, como não têm, não têm o direito de ser internadas e tratadas. Está certo não está? Bem podem falar na diferenciação das taxas em função dos rendimentos... é que isso só beneficia os que aldrabam os rendimentos...
Depois, vem a educação. Então não está certo que haja um período de adaptação a um novo emprego onde quer a pessoa quer a organização determinam as auas qualidades para a função? Então não está certo que as pessoas sejam avaliadas? Eu estou de acordo... mas pôr na avaliação o interessado na facilitação é que me parece que nem lembra ao diabo, é excesso de democracia, isto é, balda.
Tudo isto demonstra que, antes de se estar no poder, aquela fase de namoro, engrandecida até pelo romantismo da oposição, promete-nos o melhor dos mundos e, depois, perante os problemas, as acções não correspondem ao enunciado e fazem-nos duvidar de tudo o que acreditámos... eram ilusões, dirão, mas temos de acreditar que as coisas podem melhorar um bocadinho.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Acordo e desacordos quando os recursos são escassos

Em tudo o que fazemos há acordos e desacordos amigos.
Vem isto a propósito do nosso post sobre a reunião de autarcas motivada pela nova lei das finanças locais.
Alguns comentários amigos mostraram-me o seu desacordo, mas eu, relendo o que está escrito, hesito...
Sempre tenho adoptado uma posição de que é possível modificar as coisas para o melhor mesmo num contexto em que se preconize uma mudança mais radical da sociedade.
Neste caso concreto, está em causa a utilização do que nos foi retirado pelo Estado em termos do rendimento que era nosso. É óbvio que aceito que os senhores autarcas, democraticamente eleitos e democraticamente transparaentes, têm todo o direito de afectarem os recursos que lhe são confiados ao que melhor entenderem. Isto é devem escolher, prioritizar procurando o melhor para a sua região e sujeitando-se à crítica dos que os elegeram.
Mas não é de todo incorrecto aceitar que a melhor perspectiva de conjunto é aquela que o governo - também democraticamente eleito, democraticamente transparente e democraticamente dialogante (até parece que estou a gozar, mas não...) - em determinado momento possui e que, se de acordo com o mesmo, só é possível atribuir a uma região ou distrito determinada verba, garantido que esteja o funcionamente corrente do órgão autárquico, o melhor que os senhores autarcas têm a fazer é escolher a sua melhor aplicação, mesmo que isso lhes traga perdas eleitorais e sem comprometer o futuro dos que se lhe seguirem. Uma atitude como esta, mais do que acusar sempre o poder central de boicote e insuficiência, o que faz é chamar a atenção para as escolhas em função de recursos que, por definição e realmente, são escassos.
Finalmente, não me sinto a atacar o poder local quando digo que muito do investimento que concretiza é podre (destinado a satisfazer clientelas ou com fins eleitoralistas). Bem pelo contrário, isto é visível no nosso concelho e em muitos outros e a sua denúncia só serve para o reforçar, extirpando-o deste monstro que lhe transforma completamente a natureza...
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