Celestiais permutações
Hesitei no título deste post. Seriam mesmo permutações? Ou seriam estas modificações melhor designadas por arranjos? Ou combinações?
Habituei-me a ver na CGD administrações com pessoal de indiscutível competência: João Salgueiro, António Vilar, António de Sousa...
Mas a notícia de hoje deixou-me estupefacto. Que habilitações especiais terá aquela senhora? Será a arrogância? Será que se prepara algum celestial tratamento para o pessoal?
quinta-feira, setembro 23, 2004
200 000 euros
Foi, de acordo com a RTP, o montante que o ME pagou à Compta por aquela coisa.
Será que se justificaria?
Apesar de sabermos que o PPD/PSD representa os interesses da média e alta burguesia, sempe nos habituámos a considerar nele uma competência elevada, própria de alguém que não toma decisões sem as estudar em todos os aspectos, própria de quem explora o trabalho assalariado para produzir riqueza.
Neste caso particular, era legítimo que o Governo tivesse analisado até que ponto aquele montante era justificado por benefícios.
Façamos umas contas, naturalmente incorrectas porque não dispomos de toda a informação.
Trabalhemos em contos, é mais sugestivo, ainda é difícil ter a dimensão do euro.
Admitamos que os custos eram só aqueles, portanto 40000 contos. Admitamos que não houve mais trabalho imputado por pessoas do ME, que não houve mais qualquer custo.
Ao que parece, foi a senhora ministra quem o disse, o resultado pretendido vai ser feito à mão pela equipa da casa. Quantos serão eles? Quanto ganharão?
Como não temos uma resposta, vamos pôr hipóteses. Admitamos que cada um daqueles funcionários públicos ganha 400 contos por mês e admitamos que o exército que vai tratar o problema é constituído por 100 elementos que terão alocação integral a esta tarefa na semana em causa. Virá:
Custo da solução ME: 400 contos / 4 * 100 = 10000 contos
Isto é, nas novas condições o ME só gastará 10000 contos. Portanto, se aquele salário estiver correcto (e parece-nos demasiado elevado), terá uma margem de manobra que lhe permitirá utilizar até 400 funcionários para gastar o mesmo que gastou com a Compta.
O que isto significa é que o ME não fez previamente contas que, a não existirem outros benefícios claramente expressos, levariam à rejeição daquele fornecedor.
O governo PSD/CDS aparece-nos assim como uma coligação liberal no pior sentido da palavra. Liberal não para produzir riqueza, mas em termos de deixa andar, desde que isso se traduza em os dinheiros públicos serem canalizados para empresas da média e alta burguesia.
O PSD vê-se assim mergulhado no turbilhão de mediocridade que caracteriza a política em Portugal.
Foi, de acordo com a RTP, o montante que o ME pagou à Compta por aquela coisa.
Será que se justificaria?
Apesar de sabermos que o PPD/PSD representa os interesses da média e alta burguesia, sempe nos habituámos a considerar nele uma competência elevada, própria de alguém que não toma decisões sem as estudar em todos os aspectos, própria de quem explora o trabalho assalariado para produzir riqueza.
Neste caso particular, era legítimo que o Governo tivesse analisado até que ponto aquele montante era justificado por benefícios.
Façamos umas contas, naturalmente incorrectas porque não dispomos de toda a informação.
Trabalhemos em contos, é mais sugestivo, ainda é difícil ter a dimensão do euro.
Admitamos que os custos eram só aqueles, portanto 40000 contos. Admitamos que não houve mais trabalho imputado por pessoas do ME, que não houve mais qualquer custo.
Ao que parece, foi a senhora ministra quem o disse, o resultado pretendido vai ser feito à mão pela equipa da casa. Quantos serão eles? Quanto ganharão?
Como não temos uma resposta, vamos pôr hipóteses. Admitamos que cada um daqueles funcionários públicos ganha 400 contos por mês e admitamos que o exército que vai tratar o problema é constituído por 100 elementos que terão alocação integral a esta tarefa na semana em causa. Virá:
Custo da solução ME: 400 contos / 4 * 100 = 10000 contos
Isto é, nas novas condições o ME só gastará 10000 contos. Portanto, se aquele salário estiver correcto (e parece-nos demasiado elevado), terá uma margem de manobra que lhe permitirá utilizar até 400 funcionários para gastar o mesmo que gastou com a Compta.
O que isto significa é que o ME não fez previamente contas que, a não existirem outros benefícios claramente expressos, levariam à rejeição daquele fornecedor.
O governo PSD/CDS aparece-nos assim como uma coligação liberal no pior sentido da palavra. Liberal não para produzir riqueza, mas em termos de deixa andar, desde que isso se traduza em os dinheiros públicos serem canalizados para empresas da média e alta burguesia.
O PSD vê-se assim mergulhado no turbilhão de mediocridade que caracteriza a política em Portugal.
quarta-feira, setembro 22, 2004
Cuidado com o Multibanco
Hoje, já não era para voltar, mas informação que recebi por mail, obriga-me prestar serviço público.
Cada vez mais, estamos sujeitos a ficar sem o que nos pertence de maneiras que não nos apercebemos.
É o que pode acontecer no multibanco. Não matam, não dão tareia, mas são extremamente eficazes.
Aqui fica uma demonstração do que pode acontecer a qualquer de nós, incautos cidadãos.
Hoje, já não era para voltar, mas informação que recebi por mail, obriga-me prestar serviço público.
Cada vez mais, estamos sujeitos a ficar sem o que nos pertence de maneiras que não nos apercebemos.
É o que pode acontecer no multibanco. Não matam, não dão tareia, mas são extremamente eficazes.
Aqui fica uma demonstração do que pode acontecer a qualquer de nós, incautos cidadãos.
Desperdícios (8)
Mas acreditem que não há desperdícios apenas na área de informática.
Ainda há pouco, ali, na Rua Miguel Lupi, três polícias, a ler o jornal, comodamente sentados dentro de um carro estacionado em cima do passeio frente à embaixada...
... e, na Parede, o pessoal a ser assaltado e a não poder andar na rua...
Até amanhã...
Mas acreditem que não há desperdícios apenas na área de informática.
Ainda há pouco, ali, na Rua Miguel Lupi, três polícias, a ler o jornal, comodamente sentados dentro de um carro estacionado em cima do passeio frente à embaixada...
... e, na Parede, o pessoal a ser assaltado e a não poder andar na rua...
Até amanhã...
Desperdícios (7)
Não me move qualquer má vontade relativamente às empresas que prestam serviços na área de sistemas e tecnologias de informação.
Actualmente, os conhecimentos requeridos são de tal ordem que é impossível que toda e qualquer empresa tenha os recursos necessários ao tratamento dos seus problemas informáticos. Por isso, é necessário que existam muitas e boas empresas naquela área de actividade.
O que me irrita são as situações mafiosas em que muitas delas por vezes se deixam atolar.
Todos se recordam por exemplo do caso do GTI com os seus fornecimentos ao Ministério da Saúde onde o responsável informático tinha sido um gestor daquela organização.
No caso da Compta, acontece que até é uma empresa que tenho em boa conta.
Conheci um dos seus responsáveis, há muitos anos, o Dr. Caliço Grosso, que foi meu professor em Económicas e com quem colaborei em 1982 na organização de um Seminário sobre a Informática nos Transportes e Comunicações, patrocinado por aquela empresa, pela Norma, pela Carris, CP, CTT...
Ficou claro em algumas horas de trabalho que a Compta não estava ali para se insinuar perante potenciais clientes, mas mesmo para colaborar no seminário.
Será que mudou? Será que a crise a atirou para estes golpes do faz que desenvolve que o pagamento é certo?
Esperemos que não. Nestes casos, a culpa geralmente não morre solteira.
Não me move qualquer má vontade relativamente às empresas que prestam serviços na área de sistemas e tecnologias de informação.
Actualmente, os conhecimentos requeridos são de tal ordem que é impossível que toda e qualquer empresa tenha os recursos necessários ao tratamento dos seus problemas informáticos. Por isso, é necessário que existam muitas e boas empresas naquela área de actividade.
O que me irrita são as situações mafiosas em que muitas delas por vezes se deixam atolar.
Todos se recordam por exemplo do caso do GTI com os seus fornecimentos ao Ministério da Saúde onde o responsável informático tinha sido um gestor daquela organização.
No caso da Compta, acontece que até é uma empresa que tenho em boa conta.
Conheci um dos seus responsáveis, há muitos anos, o Dr. Caliço Grosso, que foi meu professor em Económicas e com quem colaborei em 1982 na organização de um Seminário sobre a Informática nos Transportes e Comunicações, patrocinado por aquela empresa, pela Norma, pela Carris, CP, CTT...
Ficou claro em algumas horas de trabalho que a Compta não estava ali para se insinuar perante potenciais clientes, mas mesmo para colaborar no seminário.
Será que mudou? Será que a crise a atirou para estes golpes do faz que desenvolve que o pagamento é certo?
Esperemos que não. Nestes casos, a culpa geralmente não morre solteira.
Desperdícios (6)
Outra situação engraçada tem a ver com a minha passagem pela área informática de uma escola superior.
Uma coisa que sempre notei foi que os órgãos de informática deste tipo são, em geral, pouco dotados em recursos. Aqui não havia mais do que dois analistas programadores que controlavam aplicações de gestão de alunos, recursos humanos, aprovisionamente, contabilidade, serviço docente, etc.
Em conversas com os técnicos descobri que, em horas de menor ocupação, um deles tinha desenvolvido em ambiente Windows (com aquelas caixinhas que abrem e fecham listas e a gente pode escolher) uma nova aplicação de recursos humanos. Mas que não a punha em produção por não haver receptividade do lado do utilizador que fazia as coisas mais ou menos à mão.
Tivemos a sorte de haver uma mudança e ao fim de algum tento implementou-se a aplicação que ficou um brinco. Era de tal maneira boa que chegou a ser implementada noutras escolas onde ainda corre.
Mas a má notícia estava para vir. Mudam os cabecilhas, vêm os mais finórios doutorados em universidades internacionais e lá vem o argumento do costume: "nós não queremos desenvolvimento interno". Assim, para não haver desenvolvimento interno e, apesar de o técnico ainda esperar alguns anos pela reforma, deitaram fora a aplicação e adquiriram uma outra, chamada Meta qualquer coisa (por dezenas de milhar de euros) que, de vez em quando, dá umas broncas jeitosas.
Outra situação engraçada tem a ver com a minha passagem pela área informática de uma escola superior.
Uma coisa que sempre notei foi que os órgãos de informática deste tipo são, em geral, pouco dotados em recursos. Aqui não havia mais do que dois analistas programadores que controlavam aplicações de gestão de alunos, recursos humanos, aprovisionamente, contabilidade, serviço docente, etc.
Em conversas com os técnicos descobri que, em horas de menor ocupação, um deles tinha desenvolvido em ambiente Windows (com aquelas caixinhas que abrem e fecham listas e a gente pode escolher) uma nova aplicação de recursos humanos. Mas que não a punha em produção por não haver receptividade do lado do utilizador que fazia as coisas mais ou menos à mão.
Tivemos a sorte de haver uma mudança e ao fim de algum tento implementou-se a aplicação que ficou um brinco. Era de tal maneira boa que chegou a ser implementada noutras escolas onde ainda corre.
Mas a má notícia estava para vir. Mudam os cabecilhas, vêm os mais finórios doutorados em universidades internacionais e lá vem o argumento do costume: "nós não queremos desenvolvimento interno". Assim, para não haver desenvolvimento interno e, apesar de o técnico ainda esperar alguns anos pela reforma, deitaram fora a aplicação e adquiriram uma outra, chamada Meta qualquer coisa (por dezenas de milhar de euros) que, de vez em quando, dá umas broncas jeitosas.
Desperdícios (5)
A história das redes que ligam interesses dos que compram e fornecem pode passar-se, como eu disse, também em empresas privadas.
Há uns quinze anos, passei por uma dessas empresas e conheci um chefe de projecto que ficou entalado entre o fornecedor e o responsável informático.
Inicialmente foi responsável pela parte conceptual do projecto, depois fez a passagem ao fornecedor e tinha por missão receber e testar os programas e apresentá-los a utilizadores.
Mas o fornecedor era uma espécie de máquina de produção de facturas. Ainda o programa não tinha chegado à empresa, já a factura lá estava à espera de pagamento com pressões sobre a tesouraria.
Quando se fala em testar um programa significa que no mesmo é possível encontrar erros alguns dos quais podem ser extremamente graves por não respeitarem as especificações. Não vem daí mal nenhum ao Mundo, é preciso é corrigir os erros.
Estranhamente, o responsável da área informática não aceitava o resultado dessa actividade. O que ele pretendia era entregar os programas aos utilizadores como se estivesses bons e pagar ao fornecedor. Isto gerou um ambiente péssimo com o chefe de projecto que culminou com o seu afastamento.
Mas porquê aquele interesse?
A história das redes que ligam interesses dos que compram e fornecem pode passar-se, como eu disse, também em empresas privadas.
Há uns quinze anos, passei por uma dessas empresas e conheci um chefe de projecto que ficou entalado entre o fornecedor e o responsável informático.
Inicialmente foi responsável pela parte conceptual do projecto, depois fez a passagem ao fornecedor e tinha por missão receber e testar os programas e apresentá-los a utilizadores.
Mas o fornecedor era uma espécie de máquina de produção de facturas. Ainda o programa não tinha chegado à empresa, já a factura lá estava à espera de pagamento com pressões sobre a tesouraria.
Quando se fala em testar um programa significa que no mesmo é possível encontrar erros alguns dos quais podem ser extremamente graves por não respeitarem as especificações. Não vem daí mal nenhum ao Mundo, é preciso é corrigir os erros.
Estranhamente, o responsável da área informática não aceitava o resultado dessa actividade. O que ele pretendia era entregar os programas aos utilizadores como se estivesses bons e pagar ao fornecedor. Isto gerou um ambiente péssimo com o chefe de projecto que culminou com o seu afastamento.
Mas porquê aquele interesse?
Desperdícios (4)
Há uns vinte anos contaram-me uma história digna de registo passada numa empresa pública bem conhecida.
O responsável informático conseguiu convencer a administração que não tinha capacidade de desnvolvimento interno e que era necessário encomendar duas aplicações novas.
A encomenda foi feita e, mais tarde, veio a descobrir-se que o responsável informático era um dos proprietários da mesma empresa.
Mas, mais grave do que isso, uma auditoria interna veio a revelar que os programas desenvolvidos (ainda por cima cheios de erros) o foram por técnicos da própria empresa que fez a encomenda, dentro e fora das horas de serviço e, quando neste caso, com horas extraordinárias justamente pagas.
O responsável informático acabou por ser convidado a sair, mas quantos haverá por aí que são um pouco mais cuidadosos?
Há uns vinte anos contaram-me uma história digna de registo passada numa empresa pública bem conhecida.
O responsável informático conseguiu convencer a administração que não tinha capacidade de desnvolvimento interno e que era necessário encomendar duas aplicações novas.
A encomenda foi feita e, mais tarde, veio a descobrir-se que o responsável informático era um dos proprietários da mesma empresa.
Mas, mais grave do que isso, uma auditoria interna veio a revelar que os programas desenvolvidos (ainda por cima cheios de erros) o foram por técnicos da própria empresa que fez a encomenda, dentro e fora das horas de serviço e, quando neste caso, com horas extraordinárias justamente pagas.
O responsável informático acabou por ser convidado a sair, mas quantos haverá por aí que são um pouco mais cuidadosos?
Desperdícios (3)
A moda do desperdício por causa dos sistemas e tecnologias de informação já vem de longe e afecta tanto o Estado como empresas públicas e privadas.
Ela tem de certa maneira a ver com redes de influências que têm capacidade de produzir efeitos em organizações fortemente hierarquizadas.
Normalmente, em determinado momento, traduz-se em equipas mistas. De um lado, os técnicos do fornecedor, em geral bastante motivados pelo aliciante de uma aplicação nova, do outro os conhecedores do sistema, desconfiados, que olham os primeiros como alguém que lhes vai roubar o trabalho. Se esta situação não for gerida com extremo cuidado, a passagem de conhecimento não se dá e, quando surge um problema, a resposta é inevitavelmente: "mas o senhor não perguntou..."
A agravar o clima de desconfiança pode existir a convicção da parte dos que recebem o serviço que o mesmo poderia ser feito sem aquele dispêndio louco no interior da organização e que só não o é por mania, moda, por não ser politicamente correcto.
A moda do desperdício por causa dos sistemas e tecnologias de informação já vem de longe e afecta tanto o Estado como empresas públicas e privadas.
Ela tem de certa maneira a ver com redes de influências que têm capacidade de produzir efeitos em organizações fortemente hierarquizadas.
Normalmente, em determinado momento, traduz-se em equipas mistas. De um lado, os técnicos do fornecedor, em geral bastante motivados pelo aliciante de uma aplicação nova, do outro os conhecedores do sistema, desconfiados, que olham os primeiros como alguém que lhes vai roubar o trabalho. Se esta situação não for gerida com extremo cuidado, a passagem de conhecimento não se dá e, quando surge um problema, a resposta é inevitavelmente: "mas o senhor não perguntou..."
A agravar o clima de desconfiança pode existir a convicção da parte dos que recebem o serviço que o mesmo poderia ser feito sem aquele dispêndio louco no interior da organização e que só não o é por mania, moda, por não ser politicamente correcto.
Desperdícios (2)
E para quê concursos monstruosos todos os anos que afectam milhares e milhares de profissionais que passam a vida com a mobílias às costas?
Não seria preferível uma solução para um período mais longo e concursos controlados manualmente para as vagas que entretanto se manifestassem por saídas do sistema? O que permitiria também que o número de professores necessário a uma escola diminuisse através de revisões periódicas do sistema e se libertassem dos excedentes no fim do período.
E para quê concursos monstruosos todos os anos que afectam milhares e milhares de profissionais que passam a vida com a mobílias às costas?
Não seria preferível uma solução para um período mais longo e concursos controlados manualmente para as vagas que entretanto se manifestassem por saídas do sistema? O que permitiria também que o número de professores necessário a uma escola diminuisse através de revisões periódicas do sistema e se libertassem dos excedentes no fim do período.
Desperdícios (1)
Será que é legítimo pensar que o ME já pagou dezenas, senão centenas de milhares de euros por aquele programa?
E que estaria programada actividade de manutenção que anualmente se cifraria em dezenas de milhares de euros?
E que obrigaria a um acompanhamento mensal por dois ou três técnicos do fornecedor cada um deles pago na ordem das dezenas de milhar de euros?
E que, neste momento, a Compta já recebeu pelo menos 70% do valor orçamentado para o projecto?
O quadro pode ser um tanto exagerado, mas reflecte o panorama de muitas destas encomendas e, o que é mais grave, de muitas cuja transparência nem é a da que caracterizou o problema da colocação de professores.
E, depois de tudo isto, depois de meses e meses de erros informáticos, vêm dizer-nos que o trabalho pode ser feito à mão, numa semana, pelo pessoal do ME. Não há aqui qualquer coisa que soa mal?
Será que é legítimo pensar que o ME já pagou dezenas, senão centenas de milhares de euros por aquele programa?
E que estaria programada actividade de manutenção que anualmente se cifraria em dezenas de milhares de euros?
E que obrigaria a um acompanhamento mensal por dois ou três técnicos do fornecedor cada um deles pago na ordem das dezenas de milhar de euros?
E que, neste momento, a Compta já recebeu pelo menos 70% do valor orçamentado para o projecto?
O quadro pode ser um tanto exagerado, mas reflecte o panorama de muitas destas encomendas e, o que é mais grave, de muitas cuja transparência nem é a da que caracterizou o problema da colocação de professores.
E, depois de tudo isto, depois de meses e meses de erros informáticos, vêm dizer-nos que o trabalho pode ser feito à mão, numa semana, pelo pessoal do ME. Não há aqui qualquer coisa que soa mal?
terça-feira, setembro 21, 2004
A dúvida
Será que o estrunfa-mor armadilhou o país quando se pirou enraivecido com a derrota eleitoral?
E deixou cá o ministro do bago para nos atentar com a ameaça fiscal?
E prometeu uma retoma que a OCDE já desmente?
E brindou pais, alunos e professores errantes com a famosa crise de colocação?
Que mais nos terá reservado? É melhor não os deixar fugir para ficar tudo bem clarinho. Não à demissão da senhora ministra!
Será que o estrunfa-mor armadilhou o país quando se pirou enraivecido com a derrota eleitoral?
E deixou cá o ministro do bago para nos atentar com a ameaça fiscal?
E prometeu uma retoma que a OCDE já desmente?
E brindou pais, alunos e professores errantes com a famosa crise de colocação?
Que mais nos terá reservado? É melhor não os deixar fugir para ficar tudo bem clarinho. Não à demissão da senhora ministra!
Bolinhas de naftalina (6)
Os bailaricos
Há dias, no mail, aparece-me esta provocação de distinto oureense:
"Eh pá, Luís! E não te lembras dos nossos bailaricos?"
Confesso que nunca fui grande pé de dança, mas como, na época, a grande maioria das músicas dançáveis não exigia grandes e sincronizados passos, a atrapalhação não foi grande. Era pior a abordagem...
Mas é preciso responder à provocação.
Oh! Se me lembro...
Recordo aquele magnífico sótão do Luís Filipe, mais ou menos por cima da Moderna, ao som do "Whiter Shade of Pale". Recordo as garagens do ZéQuim e do padrinho do Rui Themido. Recordo os castelos, habitualmente alvo das nossas visitas, onde ouvi pela primeira vez o "Sounds of silence".
E uma noite os mais velhos vieram ter comigo.
- Queres ir com a gente a Caxarias? Levas os teus discos, a caixa de música...
Interesseiros!
Eu percebi perfeitamente que não era um problema de companhia, mas de logística. No entanto, resolvi aceitar o desafio e lá fui pendurado na motorizada com o Quim Vaz, na noite escura, às vezes tendo de passar por cima da linha de comboio.
O pior foi convencer aquela malta a dançar ao som da minha música, habituados que estavam aos franceses e italianos, quando o que eu dispunha era das últimas beatladas saídas...
- Não tens o Perdoname do Marino Marini?
Comecei a ficar mal disposto. Então os meus discos de vanguarda eram assim desconsiderados por aqueles indivíduos sem gosto que só veneravam as lamechices da altura?
Mas Caxarias era incontornável! Que lindas meninas lá havia!
Os bailaricos
Há dias, no mail, aparece-me esta provocação de distinto oureense:
"Eh pá, Luís! E não te lembras dos nossos bailaricos?"
Confesso que nunca fui grande pé de dança, mas como, na época, a grande maioria das músicas dançáveis não exigia grandes e sincronizados passos, a atrapalhação não foi grande. Era pior a abordagem...
Mas é preciso responder à provocação.
Oh! Se me lembro...
Recordo aquele magnífico sótão do Luís Filipe, mais ou menos por cima da Moderna, ao som do "Whiter Shade of Pale". Recordo as garagens do ZéQuim e do padrinho do Rui Themido. Recordo os castelos, habitualmente alvo das nossas visitas, onde ouvi pela primeira vez o "Sounds of silence".
E uma noite os mais velhos vieram ter comigo.
- Queres ir com a gente a Caxarias? Levas os teus discos, a caixa de música...
Interesseiros!
Eu percebi perfeitamente que não era um problema de companhia, mas de logística. No entanto, resolvi aceitar o desafio e lá fui pendurado na motorizada com o Quim Vaz, na noite escura, às vezes tendo de passar por cima da linha de comboio.
O pior foi convencer aquela malta a dançar ao som da minha música, habituados que estavam aos franceses e italianos, quando o que eu dispunha era das últimas beatladas saídas...
- Não tens o Perdoname do Marino Marini?
Comecei a ficar mal disposto. Então os meus discos de vanguarda eram assim desconsiderados por aqueles indivíduos sem gosto que só veneravam as lamechices da altura?
Mas Caxarias era incontornável! Que lindas meninas lá havia!
segunda-feira, setembro 20, 2004
O Trombone de Ourém
Herdeiro do defunto Gaiteiro, parece que já temos um trombone para defender os interesses das gentes de Ourém.
Aqui ficam os meus votos de sucesso e bom trabalho.
Herdeiro do defunto Gaiteiro, parece que já temos um trombone para defender os interesses das gentes de Ourém.
Aqui ficam os meus votos de sucesso e bom trabalho.
Camacho
Tenho uma certa pena do homem.
Como eu o compreendo. Ali, naquele ninho de lacraus, rodeado de malta com mais dinheiro do que ele, mais importante, que só joga quando lhe apetece...
Na vida profissional, conheci muitas estrelas destas o que me levou sempre a preferir gente normal para o relacionamento.
Ali, o pobre homem estava sujeito a monumental diálogo oblíquo.
E o resultado está à vista. Não aguentou, demitiu-se...
Mas ainda há hipótese de voltar a bom porto.
Tenho uma certa pena do homem.
Como eu o compreendo. Ali, naquele ninho de lacraus, rodeado de malta com mais dinheiro do que ele, mais importante, que só joga quando lhe apetece...
Na vida profissional, conheci muitas estrelas destas o que me levou sempre a preferir gente normal para o relacionamento.
Ali, o pobre homem estava sujeito a monumental diálogo oblíquo.
E o resultado está à vista. Não aguentou, demitiu-se...
Mas ainda há hipótese de voltar a bom porto.
A alegria dos cemitérios
Aqui ao lado, no Castelo, o Fred está todo irritado com o tédio em Ourém.
Ele é um privilegiado comparado com a rapaziada no meu tempo. Enumerando, vi os Corsários de Apolo uma vez no Liceu de Leiria, vi o conjunto Mistério num festival no Casino da Nazaré e, em Ourém, de vez em quando lá aparecia a Suzy Paula (aquela do Areias é um camelo) e o Belo Marques.
Mas esse tédio, essa pasmaceira nunca fez que não gostasse da terra exactamente tal como ela é. Aliás, até a aprecio mais por causa disso. Graças a isso, eu tive mesmo aquela sensação de dias realmente grandes, daqueles em que, por mais que se quisesse, não se achava verdadeiramente nada para fazer.
Aqui ao lado, no Castelo, o Fred está todo irritado com o tédio em Ourém.
Ele é um privilegiado comparado com a rapaziada no meu tempo. Enumerando, vi os Corsários de Apolo uma vez no Liceu de Leiria, vi o conjunto Mistério num festival no Casino da Nazaré e, em Ourém, de vez em quando lá aparecia a Suzy Paula (aquela do Areias é um camelo) e o Belo Marques.
Mas esse tédio, essa pasmaceira nunca fez que não gostasse da terra exactamente tal como ela é. Aliás, até a aprecio mais por causa disso. Graças a isso, eu tive mesmo aquela sensação de dias realmente grandes, daqueles em que, por mais que se quisesse, não se achava verdadeiramente nada para fazer.
Som da Tinta
O maroto do Sérgio, há dias, falou-me em examinar o projecto de blog para o Som da Tinta, mas não me deixou o endereço do menino.
À partida, quero dizer que acho uma ideia excelente. Porque permite interactividade, porque permite que as edições sejam comentadas por pessoas que as adquiriram ou outras interessadas nas mesmas.
Força, rapazes!
O maroto do Sérgio, há dias, falou-me em examinar o projecto de blog para o Som da Tinta, mas não me deixou o endereço do menino.
À partida, quero dizer que acho uma ideia excelente. Porque permite interactividade, porque permite que as edições sejam comentadas por pessoas que as adquiriram ou outras interessadas nas mesmas.
Força, rapazes!
Ver testes
Passados aqueles posts iniciais, esta manhã tem sido um horror. Imaginem que a passei a ver testes e ainda tenho aqui mais uma montanha.
Eu nem sei o que é pior: se é a actividade de ver, se é o que se vê, se é a disposição com que se fica depois de ver...
Pergunto-me muitas vezes: como é possível pessoas que entram no ensino superior escreverem tão mal? Como é possível que façam uma letra que parece de propósito para não percebermos nada? Será que julgam que lhes vou dar a cotação para me livrar do trabalho de saber o que dizem? É bem mais provável o contrário...
E o conhecimento...? Há exercícios nas aulas, há exercícios na Internet, há dúvidas esclarecidas pelo telefone, há horas de assistência, mas, especialmente nestas épocas de recurso, e naquelas especiais para associativos, é razia quase total. Parece que arriscam uma visita à sala do teste para tentar que, por uma obra do acaso, o dez lhes seja oferecido...
Passados aqueles posts iniciais, esta manhã tem sido um horror. Imaginem que a passei a ver testes e ainda tenho aqui mais uma montanha.
Eu nem sei o que é pior: se é a actividade de ver, se é o que se vê, se é a disposição com que se fica depois de ver...
Pergunto-me muitas vezes: como é possível pessoas que entram no ensino superior escreverem tão mal? Como é possível que façam uma letra que parece de propósito para não percebermos nada? Será que julgam que lhes vou dar a cotação para me livrar do trabalho de saber o que dizem? É bem mais provável o contrário...
E o conhecimento...? Há exercícios nas aulas, há exercícios na Internet, há dúvidas esclarecidas pelo telefone, há horas de assistência, mas, especialmente nestas épocas de recurso, e naquelas especiais para associativos, é razia quase total. Parece que arriscam uma visita à sala do teste para tentar que, por uma obra do acaso, o dez lhes seja oferecido...
Época de caça (3)
Ou será a caça algo semelhante ao desporto para o desportista de bancada? Especialmente para aquele que vai ali insultar tudo e todos, agredir outros espectadores ou o pessoal da comunicação de quem não goste? Como aqueles valentões do Boavista fizeram este fim de semana...
Exacto, um local onde se vão expelir as frustações que a malvada sociedade nos impõe.
Assim, os animais seriam uma espécie de escape. Eles levam o tiro que, intimamente, era destinado ao político, ao chefe, ao patrão, ao vizinho...
Ou será a caça algo semelhante ao desporto para o desportista de bancada? Especialmente para aquele que vai ali insultar tudo e todos, agredir outros espectadores ou o pessoal da comunicação de quem não goste? Como aqueles valentões do Boavista fizeram este fim de semana...
Exacto, um local onde se vão expelir as frustações que a malvada sociedade nos impõe.
Assim, os animais seriam uma espécie de escape. Eles levam o tiro que, intimamente, era destinado ao político, ao chefe, ao patrão, ao vizinho...
Época de caça
Ela aí está de novo com as inevitáveis manifestações de inveja entre praticantes organizados em classes diferentes o que justifica a sua presença junto à residência oficial do primeiro ministro. Como eu admiro a paciência de PSL.
Confesso que não consigo perceber a paixão que move estas pessoas por uma actividade lúdica que é pura e simplesmente uma descarga de crueldade relativamente a outros seres vivos.
De onde vem isto?
Será algum gene que ficou proveniente daquelas sociedades primitivas em que se vivia da caça e da pesca? Serão as pessoas tão primitivas quanto isso?
Quando era puto, também andei à caça, também tive a minha pressão de ar. Felizmente, a pontaria era do pior. Mas o pouco que acertei serviu para me sentir tão mal quanto fiquei com aquele pobre ser na mão, cabecita a cair, sem vida, que sinto quase vontade de vomitar quando o recordo.
Uma vez deparei com um coelhito de poucos meses à frente, aí a uns dez metros. Levei a arma à cara, desfechei, mas nada consegui, ele desatou a fugir e persegui-o a correr.
Pouco depois, fui descobri-lo na toca. Tive pena, não lhe dei qualquer tiro adicional, levei-o para casa dos meus tios que o criaram. Pelo caminho, aquelas patitas de trás provocaram-me vincos de sangue no braço. Foi bem feita.
O bicho lá foi crescendo, eu ia vê-lo quase todas as semanas, até que um dia já não o encontrei. Desapareceu no prato.
Eu é que não me perdoo por o ter retirado do seu ambiente.
Ela aí está de novo com as inevitáveis manifestações de inveja entre praticantes organizados em classes diferentes o que justifica a sua presença junto à residência oficial do primeiro ministro. Como eu admiro a paciência de PSL.
Confesso que não consigo perceber a paixão que move estas pessoas por uma actividade lúdica que é pura e simplesmente uma descarga de crueldade relativamente a outros seres vivos.
De onde vem isto?
Será algum gene que ficou proveniente daquelas sociedades primitivas em que se vivia da caça e da pesca? Serão as pessoas tão primitivas quanto isso?
Quando era puto, também andei à caça, também tive a minha pressão de ar. Felizmente, a pontaria era do pior. Mas o pouco que acertei serviu para me sentir tão mal quanto fiquei com aquele pobre ser na mão, cabecita a cair, sem vida, que sinto quase vontade de vomitar quando o recordo.
Uma vez deparei com um coelhito de poucos meses à frente, aí a uns dez metros. Levei a arma à cara, desfechei, mas nada consegui, ele desatou a fugir e persegui-o a correr.
Pouco depois, fui descobri-lo na toca. Tive pena, não lhe dei qualquer tiro adicional, levei-o para casa dos meus tios que o criaram. Pelo caminho, aquelas patitas de trás provocaram-me vincos de sangue no braço. Foi bem feita.
O bicho lá foi crescendo, eu ia vê-lo quase todas as semanas, até que um dia já não o encontrei. Desapareceu no prato.
Eu é que não me perdoo por o ter retirado do seu ambiente.
domingo, setembro 19, 2004
Bolinhas de naftalina (5)
Lugar vazio
Naquele recanto que já vos falei, nasceu alguém com uma voz de ouro que só foi reconhecida muito mais tarde. Hoje, é figura desejada em reuniões do Poço, em festas, em sessões de fados a que também estão presentes consagrados e surge inseparável de uma viola para poder actuar.
Mas tive o prazer de o ouvir muito mais cedo que todos os outros, uma noite naquela reunião circular junto à casa do Luís Cúrdia.
É de noite que me lembro
de tudo o que tinha,
ao deixar-te abandonada
deitada, sózinha
lembro aquela felicidade
que, um dia, foi minha
Chego a julgar-me a teu lado
contigo, deitado
Procuro na escuridão,
mas o teu lugar vazio
estão tão vazio e tão frio
como esse teu coração
Olhando a tua moldura
de tudo por ti (??)
que ambos sofremos o mesmo
destino ruim
falta nela o teu retrato
e faltas-me tu a mim
Chego a julgar-me a teu lado
contigo, deitado
Procuro na escuridão,
mas o teu lugar vazio
estão tão vazio e tão frio
como esse teu coração
Lugar vazio
Naquele recanto que já vos falei, nasceu alguém com uma voz de ouro que só foi reconhecida muito mais tarde. Hoje, é figura desejada em reuniões do Poço, em festas, em sessões de fados a que também estão presentes consagrados e surge inseparável de uma viola para poder actuar.
Mas tive o prazer de o ouvir muito mais cedo que todos os outros, uma noite naquela reunião circular junto à casa do Luís Cúrdia.
É de noite que me lembro
de tudo o que tinha,
ao deixar-te abandonada
deitada, sózinha
lembro aquela felicidade
que, um dia, foi minha
Chego a julgar-me a teu lado
contigo, deitado
Procuro na escuridão,
mas o teu lugar vazio
estão tão vazio e tão frio
como esse teu coração
Olhando a tua moldura
de tudo por ti (??)
que ambos sofremos o mesmo
destino ruim
falta nela o teu retrato
e faltas-me tu a mim
Chego a julgar-me a teu lado
contigo, deitado
Procuro na escuridão,
mas o teu lugar vazio
estão tão vazio e tão frio
como esse teu coração
Bolinhas de naftalina (4)
O vendaval
À noite, Ourém era silenciosa, escura, triste. Mas, por vezes, as noites eram quentes e isso convidava distintos oureenses a abandonarem o jogo de cartas ou bilhar. Então caminhavam pelas ruas, por vezes sem muito assunto para conversar.
Façamos uma dessas caminhadas.
Por exemplo, subamos a rua de Castela, antes uma calçada, daquelas que magoava quando se caia e o joelho ia ao chão. De um lado e doutro, pequenas casinhas davam-nos um pouco da vida, pobre, dos oureenses. Mas as vozes, dentro de casa, revelavam alguma alegria, enquanto as luzes, das velas ou das lâmpadas, indiciavam que também era difícil dormir por ali.
À falta de televisão, a melhor companhia era a rádio, com aqueles folhetins intermináveis em que o Rui de Carvalho, a Carmen Dolores e a Eunice transportavam os portugueses para outros mundos e outros tempos.
Ultrapassada a rua de Castela, entrava-se na estrada que liga a Avenida ao magnífico Colégio. Aí, o ambiente mudava radicalmente. O Julito, muito mais pequenito que nós, então com doze ou treze anos, dormia, pachorrentamente, naquela casinha do lado esquerdo. Do mesmo lado, o magnífico pinhal que nos acompanhou na juventude enquanto educação. Do lado direito, se não me engano, uma vinha.
Mas aquela vida era mesmo defícil de passar. Desejávamos como que um vendaval que mudasse tudo aquilo.
- Não há ninguém que saiba cantar?
E, nesse momento, uma voz elevou-se no meio daquele grupo e revelou algumas horas de treino e audição na clandestinidade.
O vendaval passou nada mais resta
a nau do meu amor tem novo rumo
igual a tudo aquilo que não presta
o amor que me prendeu desfez-se em fumo
Navego agora em mar de calmaria
ao sabor da maré em verdes águas
ao leme o esquecimento e a alegria
vai deixando, para trás, as minhas mágoas
Para onde vou não sei
o que farei sei lá
só sei que me encontrei
e que eu sou eu enfim
e sei que ninguém mais rirá de mim
Longe no cais ficou a tua imagem
mal a distingo já esmanhecida (??)
comigo a alegrar-me a viagem
vão andorinhas de paz de nova vida
Sigo o tranquilo rumo da esperança
buscando aquela paz apetecida
para ti eu fui um lago de bonança
ai e tu um vendaval na minha vida
Para onde vou não sei
o que farei sei lá
só sei que me encontrei
e que eu sou eu enfim
e sei que ninguém mais rirá de mim
Foi a estupefacção total. Depois, veio o aplauso. Ali estava um distinto oureense que conseguia imitar o magnífico cantor latino, o romântico que nunca teve a honra de ser considerado fadista apesar de algumas das suas canções valerem mais que mil fados.
A sessão repetiu-se várias vezes, mas tudo acabou por acabar inclusivamente aquela voz que nunca conheceu qualquer sinal de consagração. E testemunhas quase que não há, pois dois dos poucos que lá estavam, infelizmente, já partiram.
O vendaval
À noite, Ourém era silenciosa, escura, triste. Mas, por vezes, as noites eram quentes e isso convidava distintos oureenses a abandonarem o jogo de cartas ou bilhar. Então caminhavam pelas ruas, por vezes sem muito assunto para conversar.
Façamos uma dessas caminhadas.
Por exemplo, subamos a rua de Castela, antes uma calçada, daquelas que magoava quando se caia e o joelho ia ao chão. De um lado e doutro, pequenas casinhas davam-nos um pouco da vida, pobre, dos oureenses. Mas as vozes, dentro de casa, revelavam alguma alegria, enquanto as luzes, das velas ou das lâmpadas, indiciavam que também era difícil dormir por ali.
À falta de televisão, a melhor companhia era a rádio, com aqueles folhetins intermináveis em que o Rui de Carvalho, a Carmen Dolores e a Eunice transportavam os portugueses para outros mundos e outros tempos.
Ultrapassada a rua de Castela, entrava-se na estrada que liga a Avenida ao magnífico Colégio. Aí, o ambiente mudava radicalmente. O Julito, muito mais pequenito que nós, então com doze ou treze anos, dormia, pachorrentamente, naquela casinha do lado esquerdo. Do mesmo lado, o magnífico pinhal que nos acompanhou na juventude enquanto educação. Do lado direito, se não me engano, uma vinha.
Mas aquela vida era mesmo defícil de passar. Desejávamos como que um vendaval que mudasse tudo aquilo.
- Não há ninguém que saiba cantar?
E, nesse momento, uma voz elevou-se no meio daquele grupo e revelou algumas horas de treino e audição na clandestinidade.
O vendaval passou nada mais resta
a nau do meu amor tem novo rumo
igual a tudo aquilo que não presta
o amor que me prendeu desfez-se em fumo
Navego agora em mar de calmaria
ao sabor da maré em verdes águas
ao leme o esquecimento e a alegria
vai deixando, para trás, as minhas mágoas
Para onde vou não sei
o que farei sei lá
só sei que me encontrei
e que eu sou eu enfim
e sei que ninguém mais rirá de mim
Longe no cais ficou a tua imagem
mal a distingo já esmanhecida (??)
comigo a alegrar-me a viagem
vão andorinhas de paz de nova vida
Sigo o tranquilo rumo da esperança
buscando aquela paz apetecida
para ti eu fui um lago de bonança
ai e tu um vendaval na minha vida
Para onde vou não sei
o que farei sei lá
só sei que me encontrei
e que eu sou eu enfim
e sei que ninguém mais rirá de mim
Foi a estupefacção total. Depois, veio o aplauso. Ali estava um distinto oureense que conseguia imitar o magnífico cantor latino, o romântico que nunca teve a honra de ser considerado fadista apesar de algumas das suas canções valerem mais que mil fados.
A sessão repetiu-se várias vezes, mas tudo acabou por acabar inclusivamente aquela voz que nunca conheceu qualquer sinal de consagração. E testemunhas quase que não há, pois dois dos poucos que lá estavam, infelizmente, já partiram.
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