Por Zé Rito
Antes de entrar na época dos "Estúdios Trine" não queria deixar passar em claro a época do Fernão Lopes.
Durante a chamada instrução primária fomos "instruidos", e muito bem, diga-se, pela D. Aninhas durante quatro curtos anos.
Tínhamos como sala de aula o primeiro andar do edifício do Colégio com acesso exterior pelo recreio, em frente ao ginásio, através de dois lanços de escada.
Era nessa sala de aulas que aprendi muito do que ainda hoje sei, como se diz "de cor e salteado". Rios e afluentes, Serras ou linhas de caminho de ferro.
Era no recreio que jogávamos, sobretudo, à bola e em que eu, habituei-me a ir para a baliza talvez porque, para mim, dominar o esférico não era grande atributo.
Passei de seguida para o domínio do Dr. Armando. E o que deveria ser cinco risonhos anos tornaram-se, para mim, sete anos muito compridos.
Em termos de aproveitamento escolar fui um aluno q.b.. O pior era a voz autoritária, a mão pesada e a presença intimidatória do Dr. Armamdo.
Foi um excelente professor. Com ele, como professor de história, parecia que vivíamos os acontecimentos. Estou a ver o Gungunhana não querendo ajoelhar-se argumentando que o chão estava sujo ...
Passei por outros excelentes professores como a D. Nazaré, professora de matemática, alta, magra, sempre de bata branca, que lhe valeu o nome de "pau de giz". Em dada altura ela saiu por, alegadamente, problemas de vencimento. Sei que, manifestámos a nossa vontade em que ela voltasse. E apesar da rigidez do sistema os alunos acabaram por vencer. No ano seguinte voltava a ser a nossa professora. Penso que quem, na altura, a substituiu foi o Dr. Preto.
Passei também por um professor que só sei o none porque ficou conhecido. Veio de Àfrica e ensinava português. Vivia na Avenida, junto do Melo. Era o "Zebú". Para começar uma frase tinha que usar a expressão "Da..da..."
Em relação a ele lembro-me de quando chamou o Amílcar ao quadro e lhe disse "Da...da..., Amílcar escreve aí" . E o Amílcar escreveu "Da...da... Amílcar escreve aí!.
Também há que contar que era um excelente ... fotógrafo. Só que não vimos qualquer fotografia. Tirava, com a sua máquina fotografias a toda a gente. Em grupo ou separado. E quando pedíamos para ver essas fotografias,respondia invariavelmente. "Da... da perdi as chaves da gaveta onde as meti."
Quero lembrar, sem menosprezo para os outros alunos, o Barroso. Talvez porque quando chegava ia logo à sua procura. Talvez porque era o meu colega de carteira. Lembra-me que adivinhava sempre a altura exacta em que o Sr. Nunes tocava a campainha para sairmos. Talvez porque nunca mais o vi. Já lá vão quarenta anos.
Quero recordar ainda a Sâozinha Nunes. Por um facto que entristeceu a sua família. Decorria uma aula, na sala do lado do recreio, quando a sirene tocou. Passado algum tempo o Sr. Nunes bateu à porta solicitando a saida da Sãozinha. Viemos a saber que a avó tinha morrido carbonizada. Vivia numa casa entre os armazéns dos Pereira e a casa do Dr. Amândio.
Em acontecimentos elejo uma situação que se passou comigo e o meu irmão. Estávamos a fumar, às escondidas, por trás do ginásio. Ao atirar as beatas fora para junto de um silvado que ali havia originou o inevitável. Começou a arder. Fugimos para a encosta dos moinhos. Sorrateiramente démos a volta e chegámos ao local do crime vindo do lado oposto. Toda a gente com baldes conseguiu apagá-lo. Alguém nos viu e denunciou-nos. Démos uma desculpa e atribuimos a autoria ao "Natureza" rapaz que vivia na Rua da Castela. Durante muito tempo estive sempre à espera de ser chamado ao gabinete e prestar contas, que seriam pesadas, ao Dr. Armando.
Rio Torto, Gouveia 2004-12-11
José Manuel Rito