sexta-feira, março 09, 2007

David contra Golias a 45Km/hora

Apesar da força do Ministério e do Governo, o PSD e o presidente David já ganharam com a guerra das urgências. O NO relata que "o presidente da Câmara de Ourém enviou já ao ministro uma carta a pedir uma reunião de urgência e caso o ministro não conceda esta audiência entretanto, o autarca deslocar-se-à a Lisboa para fazer a entrega em mãos. Nesta altura, um movimento de cidadãos está a organizar-se para acompanhar Catarino em acção de protesto. Se isso chegar a acontecer, a deslocação far-se-à por auto-estrada, a 45 km à hora e este movimento apela ao empenho da população para acompanhar esta viagem".
O blog do NO continuará a informar nesta matéria.
Lindo!
Os oureenses a caminho de Lisboa contra a política de Correia de Campos... se calhar contra tudo que vem deste Governo!
À frente, David Catarino, o presidente, impávido e sereno, no carro de serviço novo, combustível pago pelo povo..
Ao seu lado esquerdo, o anunciado sucessor, o fiel garanhão da serra, armadura reluzente e lança bem apontada, sempre pronto para a guerra.
Do lado direito, a simpática presidenta distribui sorrisos a toda a gente.
Mais atrás, a massa, a populaça, pronta para arruaça, a carne para canhão.
“Vamos contra eles! Contra os mouros! Se for preciso, virão as donas de casa batendo com os tachos... (parece-me que já ouvi isto em qualquer lado).
Todos instrumentalizados por David, pessoa que nada de bom fez pela nossa terra!
Mas a verdade é que os socialistas só devem queixar-se de si próprios (e de quem votou neles, pois claro... fazendo-os sair de preferível hibernação).

quinta-feira, março 08, 2007

Fala do homem nascido

Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém


Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci

Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham


Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu

Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar

(António Gedeão)

quarta-feira, março 07, 2007

Poema da malta das naus

Não foi a interpretação de Adriano que conheci originalmente relativamente à "Lágrima de Preta", disponibilizada há uns dias. Lembro-me de uma obra em disco chamada "Fala do Homem Nascido", surgida em 1972, composta por 12 poemas de António Gedeão, onde essa canção aparecia na voz de Duarte Mendes. Um álbum muito forte que merecia uma reedição bem documentada e publicitada. Vou fazer uma pesquisa lá em casa a ver se descubro mais alguma canção para ripar e oferecer aos amigos oureenses. Eis os versos de uma outra, interpretada por Samuel, denominada "Poema da malta das naus":
Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do Sol.

Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.

Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das prais
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.

Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me a gengivas,
apodreci de escorbuto.

Com a mão esquerda benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.

Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.

Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.

Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
do sonho, esse, fui eu.

O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.

(António Gedeão)
in "Teatro do Mundo", 1958
A acta 8 da Casa Amarela #2: o auditor externo

Nos termos da lei, o presidente David vai nomear um auditor externo que, de acordo com a Lei das Finanças Locais, vai permitir verificar as contas do município e ajuizar sobre a conformidade do funcionamento dos serviços que dirige com os procedimentos definidos(?). É uma medida que sempre reclamámos, mas...
Não está em causa o auditor escolhido...
Não está em causa a nomeação pelo presidente...
Não está em causa a unanimidade com a oposição...
No entanto, há algo que fica de fora e, por isso, é possível deixar uma questão: e quem audita o presidente e a actual vereação?
A acta 8 da Casa Amarela #1: Promiscuidade informática

A Casa Amarela e a Compagnie des Eaux, empresa com interesses da iniciativa privada cuja designação nos lembra terras de França, vão partilhar ficheiros sobre os oureenses e os problemas que os afectam. A descrição da partilha termina num etc. como pode notar-se neste extracto da acta relativo à partilha:
Os dados e programas a partilhar seriam:
a) Bases de Dados de Ficheiros de Clientes da CGE(P) e CMO actualizáveis ON-LINE;
b) A consulta do GEOPORTAL (Sistema SIG) da CMO;
c) A actualização do Cadastro de Água, no sistema SIG da CMO, pela CGE(P);
d) A utilização do SPO para o parecer do projecto de redes prediais de águas (Projecto de Especialidades);
e) A informação ON-LINE dos embargos;
f) Etc.
o que significa que toda a nossa vida constante dos mesmos está à disposição das duas entidades. Aprovaria a Comissão Nacional de Protecção de Dados este Simplex saloio à escala de Ourém?
E quem nos garante que, saído da Casa Amarela, o presidente David não partilhe com esta os ficheiros da mesma?
Em honra do anunciado presidente - 3
Seu garanhão e cabritinho branco com armação

Seu garanhão, um dia, naufragou e foi dar a uma ilha quasi diserta. Aí, encontrou cabritinho de avantajada armação que lhe ajudava a sentir-se menos só. Escreveu muitas cartas que meteu dentro de garrafas e lançou ao mar, até que, um dia, minina de impressionante beleza, atraída pelos seus apelos, chegou também à ilha.
São indescritíveis as cenas de amor então vividas.
Mas cabritinho de avantajada armação não ficou contente. Ele ganhou ciúme e um dia, quando garanhão menos esperava, lhe aplicou com ela castigo pela sua infidelidade.
Há fotografias de tão edificante estória. Mesmo que Comissão de Ética e Bons Costumes corte a imagem, há sempre possibilidade de enganar censura. Ora experimente (cuidado! São cenas mui chocantes...) e diga como...

terça-feira, março 06, 2007

Autarquias na NET #2: Vencer a anarquia e a insegurança

Ao fim de uma semana de trabalho, a confusão impera nas hostes estudantis. O trabalho não é favas contadas, a aparente simplicidade esconde a necessidade de muitas decisões a tomar perante problemas que antecipadamente são desconhecidos. E o acesso às páginas é demorado e gera problemas dos mais variados
Claro que cabe ao docente ir aliviando muitas tarefas penosas, mas já há sinais de desespero materializados em alguns abandonos. Em contrapartida, outros, mais bravos, dizem: “esteja descansado que vou até ao fim”.
Entretanto, vou coleccionando dados sobre o inquérito feito às câmaras. Ao todo, já responderam 55 o que é francamente melhor que no ano passado. Já não farei mais qualquer tentativa nem relativamente ao venerado presidente David que, como era de esperar, engrossa as fileiras dos silenciosos. Brevemente, dar-vos-ei uma panorâmica associada às respostas a este inquérito...
Poema da Auto-estrada

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta
Vai na brasa de lambreta.

Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio nao é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pelo cintura.
Vai ditosa, e bem segura.

Como rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demonio com asas.

Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
sao ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa de lambreta.

(António Gedeão)

segunda-feira, março 05, 2007

Lágrima de preta

Os oureenses são os sortudos. Desta vez vão poder ouvir falar de António Gedeão, autor de alguns dos poemas mais bonitos postos em canção. Quem vai falar dele é Manuel Freire na Som da Tinta no próximo sábado pelas 16 horas.
Será que vão perder mais esta oportunidade de conviver numa tarde cultural intensa? Deixo-vos com um desses poemas e uma das suas interpretações:

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhai-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão)
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...