sexta-feira, novembro 10, 2006

Algumas personagens da estória

Ao ritmo a que avançamos no argumento, é difícil apresentar todas as personagens da novela. Há muitas ideias, falta a ligação entre algumas, há também uma preocupação de dar um tratamento mais ou menos uniforme a cada capítulo e isso é contrariado pela consciência de que muitas ideias se esgotam no seu enunciado e outras podem ter imensas palavras a desenvolvê-las.
Repetimos que tudo não passa de ficção com menor ou maior aderência à realidade envolvente. Apresentamos, em seguida, algumas das personagens já identificadas. Faltam outras como, por exemplo, o grande, o verdadeiro amor de Branca Flor que ela veio a encontrar tardiamente já em pleno processo de lançamento de maldições sobre os seus semelhantes. Era um velho conhecido que já encontrara em criança e lhe mostrava os seus livros de aventuras numa casa da rua de Castela, mas estivera muitos anos sem o ver. Pensamos também em lançar um detective na estória para tentar decifrar quem assassinou Branca Flor e com que motivações.

Branca Flor – a nossa heroína, uma menina que teve o azar de frequentar o estudo no colégio onde foi encontrada e enganada por um professor sem escrupulos que a lançou prematuramente na vida sexual e num conjunto de orgias que mostravam o seu (dela) carácter um tanto desequilibrado.

Luisinho das Caveiras – um amigo de branca Flor que se envolveu com ela na fase de dedicação a rituais satânicos, apoindo-a com instrumentos para a prática e lançamento de maldições a todos os que se serviram de Branca Flor

Eufrázio dos Bons Costumes – director do colégio, mais um que tentou abusar da nossa heroína, expulsando-a no culminar do processo para manter as boas graças da mulher. Acabou por morrer em desastre automóvel quando, após uma travagem para não atropelar um cão frente ao campo de futebol do Lagarinho, o carro derrapou e foi bater violentamente contra um choupo centenário, apercebendo-se então do pelo de gato que simbolizava a maldição e estava sobre o tablier.

Leontina – esposa do Eufrázio. Desconfiava do marido e, por isso, andava sempre a vigiá-lo. Um dia, apanhou-o com Branca Flor e pressionou a expulsão da formosa menina.

Miguel do Pincel Curto – miúdo oureense com uma fixação doentia no volume do orgão genital o que o levava a propor sistematicamente comparações aos amigos e a considerar uma efémera erecção como um tamanho já adquirido, sentindo-se desesperado quando não a conseguia aguentar.

David das Orelhas Moucas – o presidente da câmara em todo o período relativo à nossa estória. Fazendo jus ao nome, nunca tinha em conta os anseios populares e chegou a ser vexado em plena Ourém quando tentou descontinuar os poços da utilização colectiva que os habitantes lhe davam na lavagem de roupas para construir uma nova urbanização. Foi salvo pela GNR que, a cavalo, de espada na mão, investiu contra os populares e assim o livrou e aos seus colaboradores mais directos de um mau bocado.

Fagundes – um vigilante do colégio que cumpria com todo o zelo a obrigação de garantir um ambiente sem pecado no mesmo e nas suas imediações. Chegou a apanhar Branca Flor com um colega, mas o seu bom coração, associado a uma boa dose de machismo, fez com que fingisse não ter reconhecido o parceiro dela.

Zé da Hélice – mais um miúdo pertencente ao grupo de Branca Flor na sua fase pré-satânica. Percorria os castelos, os moinhos, o açude, sempre a correr, em busca de aventures e tinha um estranho corte de cabelo que fazia lembrar a vela de um moinho, daí a alcunha.

Eduardinho Arameiro – um dos galãs de Ourém que também teve um curto relacionamento com Branca Flor na altura da Feira, abandonando-a em seguida. Foi encontrado enforcado na escada do depósito de águas e junto à mesma foi possível ver um pelo de gato preto.

Vitorino Falinhas Mansas – professor do colégio responsável pela assistência aos miúdos em momento de estudo. Sentiu-se atraído pelos encantos de Branca Flor e, um dia, mandando os outros embora mais cedo, fechou-se com ela na sala e seduziu-a, deixando-a louca de prazer e vontade de repetição. Mas Branca Flor acabou por se aperceber do seu cinismo e vingou-se: pereceu vitima de ataque de vampiros numa noite em que circulava junto ao chafariz perto da casa do Administrador. Quando o encontraram tinha dezenas de picadas no pescoço, todas com sangue coalhado mostrando que a vitima tinha sido totalmente sugada. Colado entre duas dessas picadas apareceu um pelo de gato preto...

quinta-feira, novembro 09, 2006

Pormenores do projecto de edição

"A história triste de Branca Flor" será também uma homenagem a essa fabulosoa colecção de boa literatura, a colecção Búfalo, que nos acompanhou nos anos de juventude cuja contribuição para a nossa formação muitos sábios convencidos teimam em não reconhecer.
Encetámos contactos com os seus representantes e tornou-se possível fazer um número especial que incluirá o seu interessantíssimo símbolo, fazendo com que, em momento de entrega, os meus amigos tenham uma sensação semelhante à que tinham quando, no Central, o Adelino ou, na Marina, o Vieira ou o Zé lhes entregavam o exemplar do mês.
Sim, eu sei que haverá reclamações.
A colecção Búfalo, tal como as suas "clones" Bisonte, Arizona, Pólvora, Kansas, Califórnia, apenas editava novelas do Oeste, mas não era Ourém o local privilegiado das nossas cowboiadas?
Penso que faremos ainda novo sacrilégio. Para reduzir os custos de edição, o livro não será encadernado, mas constituído por um único caderno, agrafado em ponto de dobra e com dimensões sensivelmente iguais a metade de um A4 para aproveitar a possibilidade de imprimir duas páginas em uma. Assim, o formato aproximar-se-á do da também famosa colecção Cowboy nos seus primeiros dez números. E agora tenho de ir trabalhar no argumento. Até amanhã!

quarta-feira, novembro 08, 2006

A história triste de Branca Flor



O título desta obra poderia ser “Quem matou Branca Flor?” e aí os meus amigos reconheceriam imediatamente que terá sido inspirada na monumental seca que anualmente me infligem com a pergunta “Quem matou o cão do Roque?”.
Pensei em decifrar este último mistério, mas creio que não teria graça e exporia demasiado os meus amigos. Assim, povoei Ourém de personagens imaginárias na mesma época em que por lá passámos.
Branca Flor era uma bela menina nascida e criada na nossa terra, no seio de uma família humilde e honesta, que também frequentou o colégio onde teve a sua iniciação sexual.
Após uma adolescência errante, encontrou o amor da sua vida, mas foi tarde demais...
Foi encontrada morta, abandonada, num banco de jardim frente ao Central com uma faca espetada no coração. Admite-se que terá sido vítima de um crime passional. Mas quem terá sido o assassino? O director do colégio? O presidente da câmara? O Zé da Hélice? O Eduardinho Arameiro? Alguma esposa ciumenta? A verdade nunca chegou a ser descoberta.
A sua história nunca foi esquecida. Mas o que os meus amigos não sabem é que conseguimos seguir todos os factos relevantes do seu passado e trazer neste estória ordinária uma contribuição para esclarecer o mistério da sua morte...

terça-feira, novembro 07, 2006

Ourém em estórias e memórias: a terceira peça

O nosso projecto vai prosseguir.
Ainda não sei o que resultará disto, mas a ideia é a seguinte: voltamos à Ourém de cinquenta e sessenta do século passado. Os mesmos locais, a mesma vivência, a mesma doçura, mas também o mesmo cinismo silencioso. Tudo isso vamos povoar com gente diferente. Isto é, imaginem o mesmo espaço e tempo ocupado por outras pessoas, podendo dizer-se que qualquer semelhança é mera coincidência.
É verdade, vamos fazer uma incursão na ficção tendo Ourém por pano de fundo e a ordinarice como instrumento de comunicação...
Contrariamente às peças anteriores (o livro e o disco) nada será revelado no blog para além da sinopse, estrutura e andamento da obra...
A oferta, edição artesanal, manual, de autor, será obviamente para os amigos do Poço...

domingo, novembro 05, 2006

Um Poço sem grande círculo



Olha que manhã triste, cinzenta, pardacenta hoje está!!...
- Ainda não chegou ninguém. O melhor é esperarmos no carro.
- O que vai por aqui... como é que estas casinhas escaparam?
Ao fim de algum tempo chamaram-nos.
- Venham. O Cúrdia abriu a adega... podemos esperar lá.



As fotos não conseguem testemunhar o magnífico espaço que ainda ali resta e que o assomo de devastação que tem vindo a arrasar Ourém não conseguiu engolir. Todas sentimos a amargura que essa devastação provova especialmente os mais velhos que um dia contribuiram para o levantamento destes espaços.
Encontro o Avião:
- É pá, dizes cada coisa àqueles gajos! Ainda não te processaram?
- Estou cá para ver... até ficaria mais famoso.
Aos poucos, os membros do Poço foram chegando.



Houve ausências muito notadas: o Genito, O Duarte, o Arnaldo...
Outras começam a ser estranhamente normais: O Jó Alho, o Zé Quim, o Ferraz...
Bem podem ir desistindo. O Julito já garantiu: "enquanto houver um que cá venha neste dia, eu faço-lhe companhia". Mas esta foto mostra que muitos não desistem e que, por vezes, até trazem mais novos para a confraria.
O grande chefe fez a chamada. Depois...
- Meus amigos, vamos tomar o pequeno almoço à quinta de Maxiais...
Maxiais? Onde será isso? O que faz a ignorância de quem vive tão longe.
E partimos para Penigardos.
A prova da água-pé



- Venham! É lá em baixo.
- Já sinto o magnífico cheirinho das iguarias...
É um dos melhores bocados deste convívio: o pequeno almoço com aquelas conversas de quem não se vê há um ano e teve um passado longo em comum.



Pouco a pouco, fomos chegando e aproximando do local desejado.



Somos menos, mas tantos que ainda demoramos a chegar. Mas a quinta é grande, dá para arrumar muitos carros.



Claro que fui logo cumprimentar os amigos de quatro patas. Recordo que, à saída, houve um que seguiu o nosso carro, em monumental correria sobre o muro que separa a quinta da estrada. Negro, feio, mas belo pela sua imponência e com uma voz que impunha respeito a partir do primeiro momento.
- Depositem os guarda-chuvas. É ali dentro...



O pessoal está cada vez mais velhote, entristecido, mas não tarda muito o famoso néctar obrigará à animação.



Olhem esta bela atitude de brinde.
- Esta água-pé está fabulosa. Como é possível alguém fabricar coisa tão boa!!??
Reparem naqueles olhos onde já há outra animação. Aos poucos, a fealdade do dia vai sendo esquecida. Vale o convívio, vale a recordação e vale muito o momento que ali se partilha.



- Acreditem meus amigos, esta água-pé é cem por cento natural. Não lhe juntei qualquer produto. Ela vai desaparecer em poucos dias.
Que pena não trazer um garrafão para ajudar ao esgotamento...



... eis que mais um amigo se acerca admirado com tanto movimento.
- Que seres esquisitos de duas patas e tão altos serão estes? E que barulho fazem! O que contribui para tanta animação?
- Estes pastelinhos estão divinais...
- E as brindeiras? Uma maravilha.
- Fui eu que as amassei - garantiu o grande chefe...



À medida que as barriguinhas ficavam satisfeitas, formavam-se os pequenos grupos de conversa.
- Olha aqueles conspiradores! Que estarão para ali a combinar?
Ao fim de algum tempo, toca a reunir...
- Vamos ver o local onde estão os nossos amigos já desaparecidos. Depois, meus amigos, vamos tomar a estrada de Caxarias e partir direito a Rio de Couros. O almoço vai ser no Zé da Mula.
Ensopado de borrego



A caminhada para Rio de Couros não teve problemas de maior. Chovia um pouco, mas, não havendo grande pressa, tudo decorreu bem. Nada fazia adivinhar o dia que se iria pôr mais para o meio da tarde.

Este sítio é uma maravilha. Parece sentir-se um cheiro a seiva de pinheiro impossível de se encontrar noutros locais. Será assim todos os dias...?
Ao longe, o edifício da igreja vigia e procura que as suas fieis ovelhas tenham sempre um local de abrigo

- Venham depressa. Está a chover cada vez mais.
Começam a ouvir-se trovões. A chuva torna-se cada vez mais forte. Há alguma preocupação na cara do Julito. De quando em quando, contacta alguém...

- Entremos. O almoço já está à nossa espera.
Apesar da temperatura ambiente, este sítio paracia um pouco frio. Havia cinco mesas à nossa espera e dispersas a alguma distância umas das outras.
O som também não era dos mais famosos. A enorme ressonância fazia que nos ouvíssemos mal uns aos outros. Contrariámos um pouco a dispersão associando oito pessoas a cada mesa, mas mantinha-se a distância.
- Meus amigos, - anunciou o grande chefe - vamos provar uma "soupe de la vache" e segue-se um belo ensopado de borrego.
O ensopado até não estava mau...

Esta foto que parece obtido à noite, ilustra uma situação de constância quebra na alimentação eléctrica. O pessoal comia, apesar de tudo. O Jóia aparece em profunda meditação. A trovoada parecia longe. Lá fora, chovia, chovia...
E o tempo foi passando e nada disso mudava.
Acabada a comida, houve um período livre até à hora de jantar. Uns preferiram o pavilhão do Pinheiro, outros vieram até Ourém. Outros...
- Vamos à Olaia...
O grande susto

A caminhada para a Olaia não foi das mais pacíficas.
Em Rio de Couros, já se anunciava algo de preocupante, depois as coisas melhoraram.
Mas, mais ou menos na zona do Mosqueiro, há um corte para Seiça.
- Vamos por aqui. Atalhamos e vemos as quintas...
O percurso iniciou-se bem, mas ao fim de algum tempo, algo de insólito aconteceu. Um grande pedaço de terra pareceu surgir no ar e despojar-se sobre a estrada.
- Pára, que horror. Que foi aquilo?
- Uma barreira que veio por ali abaixo.
- Mas eu vi-a no ar. Podia ter-nos apanhado.
Mais abaixo, havia carros parados. As águas lamacentas pareciam encher os terrenos que circundavam a estrada, às vezes atravessavam-na.
- Estou a ficar cheia de medo. Não é melhor voltar para trás?
- Já estamos a chegar a Seiça. Agora é um saltinho.
Seiça estava coberta de água que parecia ir na direcção da ribeira. Algumas pessoas tentavam afastar as àguas das suas casas.
- Que horror!
Fomos avançando e, de repente, vimos o caminho barrado por vegetação e terra.
- Não podemos passar.
- Voltemos para trás e vamos por Vale dos Ovos.
Mas, mais à frente, vimos novos carros a fazerem inversão de marcha.
- Não se consegue passar...
Houve receio. Derrocadas em cima, águas a correr e a encher a estrada ali em baixo...
- Tentemos a estrada de Ourém.
E foi o melhor. Pouco a pouco a intempérie foi abrandando, a passagem por Ourém já não teve qualquer problema.
Pouco depois, na Olaia, houve quem bebesse chá de camomila e outros que beberam outro chá...
A tarde foi passando. O Vitor e o Cúrdia recordavam as peripécias com bicicletas em tempos de cheias na infância.
Alguém recordou que as árvores mortes nos incêndios de verão permanecem nos locais onde nasceram em enorme risco de serem arrastadas para a estrada e causar alguma desgraça. Bem vimos na descida do Vale uma despenhada sobre a estrada. E não é difícil encontrar uma série delas na estrada de Alvega, na encosta onde também ocorreram fogos.
O Julito continuava em contacto com os seus. Mais abaixo, ouvia-se claramente o ruído de águas a correr por percursos pouco habituais. Um ruído, apesar de tudo agradável, calmo, que parecia dizer que o pior já tinha passado.
E foi essa convicção que fez com que todos voltássemos a Rio de Couros para a jantarada apesar do mau bocado que a última deslocação tinha proporcionado.
A sessão da noite



A viagem para Rio de Couros decorreu sem qualquer incidente. Os que tinham ido ao Pinheiro trouxeram a má notícia.
- Perdemos por 5-4.
- Bolas! Não ganhamos uma...
- Com o Oliveirense não é de admirar, são muito fortes...
Pouco depois, na sala, vimos que a disposição era diferente.
- Ena! Juntaram as mesas.
Efectivamente, a nova disposição permitia melhor diálogo, as pessoas estavam muito mais perto. A ressonância continuava a ser prejudicial, mas estávamos todos mais perto.
A prometida vitelinha mais parecia um "touro sete vezes lidado", tão dura era. O têmpero também não tinha sido famoso. No entanto, a "soupe de poisson" estava muito agradável e uma pequena falha desculpa-se a todos.
Chegou o momento das contas.

O grande chefe tomou a palavra.
Gosto de o ouvir. É muito afável, vê-se que gosta destes momentos e tem sempre uma palavra para brincar. Após as contas, exibiu o que iria constituir o grande momento.

- Meus amigos, temos aqui um CD edição comemorativa do XXI almoço/convívio do Poço e todos levarão um exemplar para casa. Na compilação, encontramos músicas que já não ouvimos há muito tempo...
E mostrou o disco com a capa da torre que existiu na quinta dos Poços.
Foi a ovação. Pena que não existisse ali um leitor de CDs que haveria baile até às tantas.

- Tens que me pôr aqui um autógrafo.
- Eu? mas eu só seleccionei e gravei. As canções já existiam...
Ao princípio foi difícil, mas, pouco a pouco, a caneta escrevia cada vez com mais facilidade.

- Quero captar este momento - dizia a Teresa.
E agora? Como vai ser no próximo ano, no dia 3 de Novembro de 2007, tão mal habituadinhos que eles estão a uma prenda cá do rapaz? Preparar é um prazer, mas este momento também. Vamos lá ver a ideia maluca que para aí vai surgir...
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