"É pá, Luís! E não te lembras dos nossos bailaricos?"
Confesso que nunca fui grande pé de dança, mas como, na época, a grande maioria das músicas dançáveis não exigia grandes e sincronizados passos, a atrapalhação não foi grande. Era pior a abordagem...
Mas é preciso responder à provocação.
Oh! Se me lembro...
Recordo aquele magnífico sótão do Luís Filipe, mais ou menos por cima da Farmácia Moderna, ao som do "Whiter Shade of Pale". Recordo as garagens do ZéQuim e do padrinho do Rui Themido. Recordo os castelos, habitualmente alvo das nossas visitas, onde ouvi pela primeira vez o "Sounds of silence".
E recordo que, uma noite, os mais velhos vieram ter comigo.
- Queres ir com a gente a Caxarias? Levas os teus discos, a caixa de música...
Interesseiros!
Eu percebi perfeitamente que não era um problema de companhia, mas de logística. No entanto, resolvi aceitar o desafio e lá fui pendurado na motorizada com o Quim Vaz, na noite escura, às vezes tendo de passar por cima da linha de comboio.
O pior foi convencer aquela malta a dançar ao som da minha música, habituados que estavam aos franceses e italianos, quando o que eu dispunha era das últimas beatladas saídas...
- Não tens o Perdoname do Marino Marini?
Comecei a ficar mal disposto. Então os meus discos de vanguarda eram assim desconsiderados por aqueles indivíduos sem gosto que só veneravam as lamechices da altura?
Mas Caxarias era incontornável! Que lindas meninas lá havia!