sábado, janeiro 28, 2006

Tudo a postos



Para assistir a mais uma vitória da Fabulosa Águia Real sobre o Temível Lagartão.
A propósito: alguém se lembra do resultado no ano em que foram publicados estes dois números do Cavaleiro Andante (1960)?

sexta-feira, janeiro 27, 2006

A tacada


Jogava-se bilhar no Central.
Formidável partida em que Pintassilgo, Génito, Manel e Vitor Guerra se enfrentavam organizados em pares de forma a disfarçar a eventual superioridade de algum.
À volta, eu e outros distintos assistíamos àquela lição de bem jogar e tentávamos aprender para aproveitar em futuros embates.
Ao fundo, o rádio tocava uma melodia da época:
...
Lady,aaaahhhh
La-La- Lady,
Vous êtez plus que jolie,
Oh Lady!,
Que soudain
J'ai decouvert
Une autre vie...
...
O Génito pousou o cigarro na borda do bilhar, encostou o taco à parede, despiu o casaco e começou a exibir-se.
Agarrou uma cadeira, daquelas de metal que ameaçava durar mais uns quarenta anos, apoiou as mãos nas laterais, dobrou-se para a frente e, lentamente, foi erguendo as pernas aproximando-as do tecto.
Todos ficaram suspensos do que ia acontecer. O contador de tempo com indicador de montante em dívida acoplado continuou a funcionar, mas ninguém se preocupou com ele.
As pernas do Génito continuavam a subir na direcção do tecto. Por pouco não lhe acertavam, já que ele não era muito elevado. Chegaram a ficar perfeitamente a prumo.
E quando parecia que o objectivo estava cumprido eis que se ouviu monumental ruído e o conjunto corpo cadeira desfez a sua unidade, indo cada um para seu lado.
O Génito caiu pelo chão e ficou um pouco atordoado. O Adelino veio a correr, apressado, julgando que vândalos tinham invadido a sala de bilhar.
Pouco a pouco, ele recuperou. Pegou no taco, extraiu mais uma fumaça e calmamente perguntou:
- É a minha vez?

É altura de ouvir Oh Lady!

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Les chats sauvages

Cara de anormais como todo o bom conjunto que se prezePosted by Picasa

Foram um conjunto muito apreciado na Ourém do meu tempo e, tal como já disse, em momento em que a música nos chegava fundamentalmente pela rádio. Os anos de glória foram de 61 a 63, sendo originalmente formados por Dick Rivers, Willy Taieb, Armand Molinetti, Gérard Jacquemus, John Rob, James Fawler.
Tiveram duas canções marcantes: "Oh Lady!" e "Derniers Baisers", esta divulgaremos numa das próximas semanas. Outras foram famosas mas são, hoje, desinteressantes de ouvir (Sherry, est ce que tu le sais, Twist à Saint Tropez, Ma P'tite Amie est Vache) .
Tal como relativamente a outros icons da canção francesa, italiana e espanhola, da época, não é fácil arranjar compilações suas em Portugal, apesar de as mesmas existirem nos seus países de origem como prova qualquer pesquisa no google.
A partir do mesmo é possível conhecer um pouco mais sobre eles.
- Um pouco de história
- Letras de algumas canções



A música que estamos a utilizar é proveniente de uma colectânea em vinil da década de oitenta, já passados muitos anos sobre o seu sucesso.
Apreciem esta engraçadíssima capa.

Gato escondido com o rabo de fora

Prepara-se novo assalto à bolsa do contribuinte cumpridor
Desta vez, tem a ver com a modificação do financiamento das autarquias locais.
Reconheço que o esquema actual é péssimo pois leva ao interessamento na especulação de construtoras e autarcas. É obviamente necessário modificá-lo.
Uma proposta que hoje vai estar em discussão é a possibilidade de lançamento pelas autarquias de uma derrama sobre o IRS.
Imaginam...
... o contribuinte cumpridor vai passar a financiar as autarquias. Antes era a especulação, agora quem paga IRS...
... portanto, quem não paga IRS fica isento, designadamente os que nada têm – o que é justo – mas também os que fogem por todos os meios à declaração de rendimentos...
... e também os que lucram no ramo habitação e pagam IRC...
... beneficiando assim as negociatas com a habitação que passará a estar a preços mais convidativos.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

É preciso rever os fundamentos da estratificação social



Será que a contradição principal ainda é a que opõe patrões a assalariados? A avaliar pelo relato do CM, uma nova casta de assalariados, emergente no local de trabalho que mais tem contribuído para degradar o poder de compra dos portugueses, parece destacar-se dos restantes agentes e ganhar particular solidez no nosso país.
É uma vergonha!!!

A aula de Ciências Naturais



Naquela manhã, a Dra. Lurdes Moreira arrumou cuidadosamente o seu carro junto ao muro do CFL e dirigiu-se apressadamente para a sala de aula onde a esperávamos à porta. Estava um pouco atrasada devido talvez à lentidão do seu bólide.
- Podem entrar...
Lá fomos. Que matéria nos traria hoje, uma vez que tínhamos acabado o manual de Botânica? Ela não tardou a esclarecer.
- Vamos começar a estudar Zoologia. Penso que já terão adquirido o livro que vos recomendei no início do ano. É um livro aprovado oficialmente no Diário de Governo nº 147, II Série, de 25 de Junho de 1960 como livro único.
Por acaso tínha-o comigo já que no início do ano, devido à dificuldade em arranjar livros em Ourém o tinha adquirido aproveitando uma deslocação a Tomar de alguém que se prontificou a adquiri-los para a turma toda.
- Se quiserem podem dar uma vista de olhos ao meu livro ou ao vosso se aí tiverem. Vamos proceder ao estudo morfológico dos Vertebrados ilustrando-o com o coelho bravo, o pombo, o lagarto, a rã, o barbo e as lampreias. Depois vamos dar noções de sistemática com a distribuição em ordens dos animais de cada classe.
Comecei a achar alguma graça ao que ela estava a dizer e folheei rapidamente o livro.
- Veem? Reparem entre a página 12 e 13. Têm aí uma estampa com a organização interna do coelho. No texto, encontram o nome de alguns órgãos, procurem observar a sua posição relativa.


Coelho de barriga abertaPosted by Picasa

Pobre bicho. O que terá sofrido para chegarem àquele conhecimento. Tenho a certeza que existem pessoas que não conseguirão olhar para estas estampas que ilustram como nos servimos dos animais com muito pouco respeito...
- Mais à frente, continuou a professora, encontram as noções de sistemática, na página 88. Chamo a vossa atenção pois têm de saber rigorosamente esta caracterização em classes. Por exemplo, em relação à classe I – Mamíferos – não devem enganar-se e dizer “vertebrados como o coelho, que respiram por pulmões, que têm o corpo coberto com pelos e que nos primeiros tempos de vida se alimentam de leite materno. Têm temperatura constante, e a maior parte são vivíparos”. Vamos ver estas classes uma por uma. Daqui a três semanas faremos um teste para ver o que aprenderam...
E a aula continuou tendo a professora ajudado a arrumar, nesse dia, uma boa porção de matéria.

Os incomensuráveis segredos do livro de Zoologia



O livro Posted by Picasa

Terminada as aulas, já em casa, fui observar mais detalhadamente o livro recomendado. O autor era Augusto C. G. Soeiro e chamava-se “Compêndio de Zoologia”. O preço de capa era de 18$00. Tinha 88 páginas numeradas, algumas estampas e algumas páginas não numeradas com texto relativo às estampas.
Logo numa das primeiras páginas, deparei com um pormenor interessante: “Todos os exemplares são numerados e autenticados pelo Ministério da Educação Nacional”. E, mais abaixo, o número do exemplar que me coubera: 27503 e o resultado de um carimbo com a expressão Livro único.
Mas o mais engraçado estava para encontrar lá à frente com todas aquelas estampas relativas às várias ordens e deliciosas descrições das mesmas. Apreciem só:
Os Primatas são Mamíferos unguiculados, con os olhos dirigidos para diante e com o polegar oponível aos outros dedos, pelo menos num par de membros. E lá apareciam o Mandril e o Chimpazé. 


O mandril Posted by Picasa

Depois vinham os quirópteros, os insectívoros, os roedores, os carnívoros, os artiodáctilos, os perissodáctilos, os proboscídeos, os cetáceos, os sirénios, os desdentados, os marsupiais e os monotrématos. 


Os marsupiais Posted by Picasa

Que trabalheira! Como iria decorar tudo aquilo? E depois ainda vinham as aves, os peixes...
Apreciem... apreciem algumas das estampas do livro para verem o que me esperava... 


O mocho Posted by Picasa

Batem à porta. E oiço aquela voz salvadora: 
- Boa tarde, Dona Maria. O Luís Manel está? 
Era o Jó Rodrigues. A tarde de estudo ficou por ali interrompida por um programa muito mais importante que o da aula de Ciências Naturais
O teste de Zoologia


A preguiça Posted by Picasa

Durante aquelas três semanas, estudei que nem um desalmado. Quando ia para a rua, tentava relembrar todo aquele texto de caracterização das classes e das ordens e recordava-o através da fotografia dos bichos. Nem as tardes na Marina eram as mesmas, parecia que andava assombrado.
Para além do Mandril, simpatizava especialmente com a Preguiça, pertencente à ordem dos desdentados, perceberão facilmente porquê, com a Zebra, por me lembrar um burro às riscas e com os estranhos Ornitorrinco e Equidno, provenientes da Austrália, mas que eu jurava que já tinha visto em qualquer lugar.
Lá chegou o teste e os nervos eram muitos nesse dia. Parecia que todos aqueles nomes e caracterizações se baralhavam. Mas passou-se. Que nota iria ter?
Alguns dias depois, a Dra. Lurdes trouxe os testes.
- Vê-se logo quem estudou e quem não estudou. X tem um 20...
X era a minha arqui-rival. Sempre em despique por causa das notas... sempre em competição, nada que se comparasse à doçura daquelas coleguinhas que ficavam bem perto nas carteiras à minha frente. Fiquei logo a ver que, mais uma vez, tinha sido batido. Sim, eu tinha consciência, havia uma série de coisas que eu não tinha escrito da melhor maneira.
- E o Luís penso que também tem...
Não pude crer! A bondade da professora! Ela com certeza que me beneficiou, pois eu tinha cometido alguns erros. Mas não quis desmotivar-me e a caderneta lá passou a exibir aquele magnífico resultado. Ao menos, uma vez na vida...

terça-feira, janeiro 24, 2006

Sylvester, the cat


Em acção Posted by Picasa

Olá, amigos oureenses.
O dia de hoje é exclusivamente dedicado ao nosso amigo Sylvester, gato cujas peripécias são um manifesto de tenacidade, improviso, loucura...
Um verdadeiro gato, ao contrário de outros que passam o tempo em marradinhas e lamúrias.
Em casa, a Pipoca tem algum destas qualidades. Por volta das cinco da manhã, acorda (após ter passado vinte e duas horas a dormir, interrompidas por suculentas refeições) e então tudo faz para exigir que me levante: deita o relógio para o chão, as fotografias, salta para cima da cómoda, passeia-se por cima da mesa de cabeceira, vê-se ao espelho e arranha-o, joga à bola... até conseguir que este pobre ser que procura umas horas de descanso se levante para lhe servir o pequeno almoço e alguma água matinal...
E está tudo dito.
Deixo-vos com algumas imagens do Sylvester...

Ainda em esboço... Posted by Picasa

Vou ser uma vedeta Posted by Picasa

Por vezes, sou uma doçura Posted by Picasa

Outras, uma fera... Posted by Picasa

Nada me atrapalha. Chego a todos os pontos que quero:
- Estou tão alto como tu... Posted by Picasa

Às vezes, sinto que uma sombra me persegue... Posted by Picasa

Altos e baixos... Posted by Picasa

Que pombinhos! Posted by Picasa

Olá...
Junto de mim não há esconderijo seguro Posted by Picasa

... mas um pássaro como tu, lavadinho, todo nu... Posted by Picasa

O acrobata Posted by Picasa

Em paz... Posted by Picasa

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Gato que brincas na rua


Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa, 1-1931

(mais Pessoa)
Poema do gato

Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?

Sempre que pode
foge prá rua,
cheira o passeio
e volta pra trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva
desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.

Quando abro a porta corre pra mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.
Repito a festa,
vagarosamente.
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas.
e rosna.
Rosna, deliquescente,
abraça-me
e adormece.

Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?


António Gedeão

in Os gatos e a poesia
Gatos

"Um gato vive um pouco nas poltronas, no cimento ao sol, no telhado sob a lua. Vive também sobre a mesa do escritório, e o salto preciso que ele dá para atingi-la é mais do que impulso para a cultura.

É o movimento civilizado de um organismo plenamente ajustado às leis físicas, e que não carece de suplemento de informação.

Livros e papéis, beneficiam-se com a sua presteza austera. Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da vida intelectual."

(«Perde o gato» - crónica de Carlos Drummond de Andrade)
MAGNIFICAT



Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?
É esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!


Álvaro de Campos, 7-11-1933

domingo, janeiro 22, 2006

Toca o telefone

Ministro Sócrates, amanhã, às nove, no meu gabinete!
D. Sebastião está morto


Pessoa descobre o cadáver de D. Sebastião Posted by Picasa

Breve, descobrirão o logro em cairam...
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