sexta-feira, junho 29, 2007

Adeus, ó terra do dragaüm


Desci os Aliados de malas na mão. Pouco depois, o interior da magnífica (e degradada) estação de São Bento estava perante mim. A espera pelo comboio foi fria e desagradável. Por toda a parte o nosso país é assim. Gastador inveterado em obras de fachada, mas incapaz de criar um pouco de comodidade para os que utilizam os serviços públicos, apesar de nos mesmos desperdiçar rios de dinheiro.
O comboio veio por ali abaixo e eu revia os dias passados. Gostei daquela gente. Simpáticos, acolhedores, muito diferentes da imagem que a alienação colectiva do desporto profissional nos transmite. Igualmente explorados, embora conseguindo manter um cunho de tradicionalismo difícil de encontrar noutros locais e, nesse contexto, preservando algumas actividades antigas.
E, agora, voltemos ao trabalho...

quinta-feira, junho 28, 2007

Encontros imediatos de dragaüm

Passeio-me pela cidade.
Tinha um objectivo bem definido com coordenadas estabelecidas a partir de um recorte de uma reportagem do Expresso de há alguns meses. Mas a necessidade de aliviar papelada e bagagem fez com que me esquecesse desse precioso auxiliar. Recordava qualquer coisa como Rua Nova do Almada, banda desenhada, Retro, mas a cansada cabecinha já não ajuda. Um circuito de autocarro despertou mais umja possibilidade: rua da Conceição. Depois, o percurso das livrarias acabou por ajudar.
- Suba esta rua e vá até à praça. Vire à direita, tomando a rua José Falcão e percorra-a até ao fundo. Quando lá chegar, é fácil de encontrar...
Assim fiz. O Porto está transformado em estaleiro ao que me disseram para repor os circuitos de eléctricos. Não foi fácil chegar lá. Mas, a certa altura, estava na rua da Conceição, 32 e frente aos meus olhos surgiram aquelas figuras que me acompanham desde os quatro ou cinco anos: o Timtim, o capitão Rosa, o Professor Pintadinho e a RomRom (podem não ser os nomes por que os conhecem, mas estes foram os primeiros que o regime determinou que lhes atribuissem...).

TimTim por TimTim! Um projecto de um licenciado em Matemática que encontra aqui o "segundo emprego". Horas a fio de espera, avaliação, conversa com clientes. Uma loja única, talvez a única que sobrou de tantas que existiram para receberem a banda desenhada que possuíamos e já não queríamos, permitindo-nos trocá-la por outra para voltarmos à leitura. Um espaço magnífico.

A autorização para fotografar foi imediata. Era o Mundo de Aventuras, o Cavaleiro Andante, o Condor Popular, o Mosquito, tudo a desfilar frente aos meus olhos como se tivesse recuado no tempo. A conversa decorreu facilmente...
- Cada Cavaleiro Andante vendo por 2 euros e meio. Mas não compre assim. Compre os primeiros oitenta que são talvez os mais difíceis e vá continuando a colecção. Ainda há dias acabei de vender uma ao Pacheco Pereira...
O maroto do Pacheco Pereira que se gabava no blog de a ter completa já há uns dois anos...

Ali passei um bom bocado e só a limitação do cartão de memória fez com que não captasse para os amigos oureenses outras preciosidades...

quarta-feira, junho 27, 2007

Fascínio de dragaüm

Dizem-me que um senhor do dragão, um apaixonado da grande música, quis construir um espaço onde pudesse desfrutar esse prazer. Para isso, obteve apoios do poder político, mobilizou as parcas posses das empobrecidas massas populares e, após grandes derrapagens de prazos e finanças, a obra viu a luz do dia.
Não foi egoísta. Permitiu a sua frequência pela plebe, embora os grandes acontecimentos fossem moderados pela capacidade de cada um.
Lá dentro, avisaram-me desde logo que as visitas guiadas tinham terminado. Tinha chegado demasiado tarde apesar de me ter parecido três estaçoes de Metro antes que elas se realizariam hora a hora por todo o dia. Mas permitiram-me uma visita em livre circulação. Que também aprecio muito.
Fui por ali dentro portador do fascínio que o lugar em si me trazia. Espreitei. Apreciei. Uma porta entreaberta convidava a entrar e não deixei de o fazer. Cheguei a um enorme auditório. Lá ao fundo, três jovens ensaiavam alguns sons que enchiam o espaço


Deixei-me estar por ali. Tudo parecia que me pertencia pois não tinha concorrência na audição. Sozinho contemplava embevecido e o som descansava-me da caminhada feita até àquele momento. O que gastara para ali chegar, o que o motivara, já não era importante. Desde o primeiro dia, eu tinha querido estar ali e finalmente parecia que aquele espaço me pertencia completamente.

terça-feira, junho 26, 2007

Do sino do dragaüm ao chafariz oureano



Noutros tempos, este sino chamava os fiéis servos do dragão para rituais litúrgicos ou para a resistência ao invasor. As estórias de dedicação e bravura são imensas.
Hoje, a liturgia já não é tão apelativa e os vizinhos são mais pacíficos. Os chamamentos tornaram-se menos intensos e foram substituídos por convites à sardinhada e ao desfrutar de música popular. O sino que se ouvia no Bulhoum, na Trindade, nos Loios, nas Fontainhas, na Ribeira perdeu a sua função. Foi apeado da formidável estrutura que o suportava e repousa no cimo desta escadaria na Sé. Tornou-se documento histórico.
O chafariz da nossa criação, em Ourém, teve um destino bem mais triste. Jaz, abandonado, no estaleiro que rodeia as ruínas da casa do Administrador...

segunda-feira, junho 25, 2007

O OUREM na cidade do dragaüm

Livre das obrigações académicas, esta passagem transformou-se numa agradável surpresa. E não foi durante pouco tempo, acreditem.
A conferência era de âmbito tão amplo que assistir às contribuições de outros era uma espécie de sacrifício insuportável. Ainda tive a sorte de ter umas quinze pessoas a assistir, mas houve casos em que eu era quase o único presente. E houve muitos casos em que quem tinha a obrigação de apresentar nem sequer apareceu. Feio, mito feio...
Assim na sexta-feira, dei por mim a vaguear pelo Poêrto. Uma verdadeira cidade repositório de comércio e profissões de há uns cinquenta anos. Uma maravilha... ao contrário do que nos fazem crer as reportagens sobre a claque do famigerado FCP, as pessoas eram de uma simpatia e suavidade de trato extremas. As informações surgiam com toda a facilidade, às vezes acompanhavam-nos aos sítios.
O sistema de transfortes é bom, embora de informação mal elaborada e deficiente. Entra-se na estação de Metro e, sem se dar por isso, estamos em transgressão e com os carrascos em cima. O maquiavélico Rio adjudicou a uma empresa privada o controlo de utilização pelo que apanhar uma multa e aguentar um processo é um destino muito provável.
A festa de São João foi espectacular. Não pela devoção ao santo já que ninguém se lembra dele, nem de abrir a igreja, nem de ter uma imagem para venda. Mas pela festa em si, quase pagã... no local onde estava, ainda vi parte do concerto do Cid. Está em boa forma, mas é uma pessoa muito estúpida e mal educada como o demonstram referências que faz a outros especialmente à “mulher espanhola”. Esquecido isso, a passagem pela Ribeira nessa noite foi inesquecível e coroada de marteladinhas, suaves marteladinhas na cabeça ofertadas por dragões e lindas dragonas de gema...
Já se ouve cá em casa: “pró ano, quando lá voltarmos...”.
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