sábado, maio 16, 2020

De regresso a casa

Quando o carro dos bandidos passou perto da farmácia, o Rui Leitão estava à porta e pareceu reconhecer o carro.
«É curioso. Parece o carro de ontem.»
Chegou à Teófilo Braga e reparou que o carro parava junto ao hospital.
«Não perco nada se telefonar à polícia ou a GNR. Eles sabem o que podem fazer.»
O carro dos bandidos parou frente ao hospital e eles começaram a transportar o cúmplice ferido para o mesmo. Um pouco à frente, perto da casa do Dr. Durão, parou o carro das maninhas que começaram a abrir a porta para retirar o cãozito.
Nesse momento, ele reconheceu os assaltantes da farmácia e, como se sentia protegido, atirou-se a eles, mordendo-os furiosamente.
- Agarrem esse cão – gritava um dos meliantes.
Entretanto, dois jeeps da GNR vinham a toda a velocidade na direção do hospital, mas em sentidos opostos de forma a não deixarem escapatória possível.
O Rui Leitão tinha avisado a Livinha e corriam ambos na direção do hospital.
E todos puderam assistir ao modo como o Ferraunha dominou os assaltantes da farmácia. Eram três, mas o facto de estarem a apoiar o mais ferido e não terem armas fez com que, a breve trecho, estivessem dominados.
- Meu Ferraunha… - gritava a Livinha.
O cãozinho já tinha recuperado a sua doçura e lambeu-lhe a cara. Depois, conduziu-a às maninhas.
- Foi ter a nossa casa muito magoado – explicou a Céu – e vínhamos trazê-lo ao Dr. Durão.
- Nem sabem como estou grata. O Ferraunha é único. Agora, pode voltar a casa para abraçar os seus filhotes...
- Ferraunha? Chama-se Ferraunha? Nós íamos chamar-lhe Tejo, mas pelo que vemos era mais apropriado chamar-lhe Ferra-o-Dente.
- Eu cá gostava mais de Pestaninhas - respondeu a Céuzinha à irmã.
- Não se zanguem - disse a Livinha - Há mais dois cachorrinhos, filhotes do Ferraunha e iguais a ele. Posso oferecer um a cada uma e assim escolhem os nomes à vossa vontade. Terei todo o prazer nisso.
A Céuzinha e a Cietezinha ficaram todas contentes e louvaram o dia em que o Ferraunha tinha desmaiado à porta delas.
Entretanto, os bandidos, já presos pela GNR, teciam ameaças.
- A culpa foi toda desse malvado cão.
- Se fossem honestos, não vos acontecia nada de mal – respondeu a Livinha. – E agora quero saber onde está o que roubaram, pois levaram o meu dinheiro para medicamentos.
- Nós vamos encarregar-nos disso – prometeu o guarda Ernesto – O que tiverem será devolvido aos legítimos donos.





FIM


Nota Final: os cãezinhos da juventude do autor foram o Tejo, o Mondego, o Nero, o Ferraunha e o Faro. O Tejo era supermeigo e há uma foto do autor a lavá-lo. O Mondego era um belo exemplar em castanho escuro. O Nero era velhote, mal disposto, e um dia mordeu a mão do autor (que lhe terá feito?). O Ferraunha era o mais brincalhão. E o Faro era branquinho, superdivertido.



sexta-feira, maio 15, 2020

Novos donos para o Ferraunha

A Ceuzinha e a Ciete recolheram o Ferraunha e trataram-no o melhor possível. O cãozito foi recuperando. De qualquer modo, elas combinaram:
- Pedimos ao pai para nos levar mais cedo para Ourém e passamos pelo Dr. Durão para ele o observar.
No dia seguinte, a excitação era grande lá em casa.
- Eu é que lhe vou dar o nome – dizia a Ceuzinha – Ele tem ar de imperador. Vou chamar-lhe Nero.
- Eu acho que ele tem um ar que me faz lembrar um rio. E se fosse Tejo?
Falaram mais algum tempo sem chegarem a acordo. O pai veio chamá-las para irem para o CFL. Pegaram no Ferraunha com todo o cuidado e puseram-no no carro. Pouco depois, estavam a caminho de Ourém.
Entretanto, o meliante que tinha sido mordido na perna não estava nada bem. Os dentes do cão tinham entrado profundamente na massa muscular e ele não se conseguia mexer. Telefonou por isso aos cúmplices.
- Rapazes, têm de me levar ao hospital de Ourém. Não consigo mexer a perna por causa daquele malvado cão. Um de vocês tem de conduzir o carro.
Apesar de serem uns bandidos, aqueles homens eram solidários entre si. Pouco depois, estavam a caminho do hospital e, curiosamente, após passarem pela Carapita, o carro das maninhas seguia atrás deles. No seu interior, o Ferraunha começava a alegrar-se por estar em tão boa companhia, embora não conseguisse esquecer a sua querida Livinha o que lhe conferia uma certa tristeza. Mas ficou um pouco agitado ao reconhecer o carro à sua frente.

quinta-feira, maio 14, 2020

Fuga audaciosa

Entretanto, dentro do carro, o Ferraunha continuava a esperar uma ocasião para se pirar.
«Não podem perceber que eu estou aqui – pensava – mal abram a parto, zarpo…».
Continuava muito encolhido atrás do banco dianteiro o que lhe provocava uma dor acentuada no local onde tinha sido pontapeado.
«O malvado que me deu o pontapé há de pagá-las. Os meus dentes vão-lhe ficar marcados na barriga da perna».
Pensou na sua dona, a Livinha. Que doçura de pessoa! Que sorte tinha tido ao ser adotado por ela. Comidinha a horas, uma casota e uma caminha especial para as sonecas. Claro que abusavam um pouco ao mandá-lo fazer tantos recados, mas era imperioso pagar os bons cuidados com que o brindavam. Será que algum dia conseguiria voltar para junto dela?
De repente, sentiu que a porta da casa se abria e que alguém se aproximava do carro. Passos de uma só pessoa…
«É agora – pensou».
Mas não. O indivíduo limitou-se a abrir a bagageira e tirar qualquer coisa, voltando depois para casa.
E o tempo foi passando. Desesperadamente… muito lentamente…
O dia começava a escurecer.
«Já não vou ficar hoje na minha caminha. Estes malvados nunca mais abrem a porta do carro».
A certa altura, ouviu a porta da casa abrir-se e uma voz dizer para o interior.
- Foi um bom golpe rapazes. Amanhã, às dez da manhã, encontramo-nos no Central.
O indivíduo vinha sozinho para o carro, decerto para tomar lugar ao volante e dirigir-se a qualquer outro sítio. O cão preparou-se para saltar.
«Já não me levas para mais nenhum sítio hoje, não…».
A porta esquerda dianteira abriu-se e o meliante iniciou o procedimento de entrada. Nisto, sentiu que alguém passava por ele como uma flecha, cravando-lhe com muita força os dentes na perna.
- Ai…
O Ferraunha escapou a toda a velocidade. Num instante percebeu que estava na zona de Santo Amaro, perto do Castelo, onde tantas vezes a Livinha o levava a passear e tomou a direção de Ourém. Ao fim de correr uns dois quilómetros, sentiu que não estava nas melhores condições. As dores do pontapé que tinha levado eram lancinantes…
«Não consigo… não consigo lá chegar…».
Ainda logrou atingir a Carapita. Muito cansado, titubeante, encostou-se à porta de uma casa. E desmaiou. Já não ouviu uma voz muito doce a dizer:
- É um cãozito, parece doente. Vamos recolhê-lo.
Era a Ceuzinha…

quarta-feira, maio 13, 2020

Uma notícia desagradável

O tempo foi passando e, em casa da Livinha, esta começava a preocupar-se.
- Que estranho! Nunca demorou tanto tempo. Que terá acontecido?
Esperou mais um pouco e, como o cão não aparecesse, decidiu ir ver o que se passava. Vestiu rapidamente um casaco, avisou a mãe e partiu na direção da farmácia.
Já na Silva Carvalho, notou que havia algo de estranho no ambiente, uma agitação nada habitual na vila. Ao chegar junto à farmácia, notou que havia um cordão policial e algumas pessoas a ver o que se passava. Viu então o Rui Leitão:
- Que se passou aqui?
- Assaltaram-nos a farmácia. Três indivíduos mascarados – respondeu ele passando a mão pela cabeça, um pouco agitado.
- Tinha enviado cá o meu cão para levar uns medicamentos…
- Sei que eles lhe deram um pontapé e ele fugiu. Mas não o vi mais. Há quem diga que foi no carro com eles.
- O quê?...
E sentiu-se sufocar…
O seu Ferraunha… o seu cãozinho mais amigo de todos os tempos… como iria agora voltar a vê-lo?
Desesperada, ainda olhou para todos os locais da praça procurando vislumbrá-lo e voltou para casa a soluçar. Pobre coração daquela menina que tanto gostava do cãozinho.
Será que o voltaria a ver?

terça-feira, maio 12, 2020

No carro com os bandidos

À porta da farmácia estavam três homens mascarados e armados que não deixavam a menor dúvida relativamente àquilo a que vinham.
O empregado ficou petrificado ainda com o dinheiro na mão. Um dos assaltantes chegou-se a ele com um saco:
- Vamos, põe aqui tudo o que tens em caixa.
O outro assaltante ia roubando medicamentos enquanto o terceiro ficava à porta de arma em punho, ameaçador.
O empregado hesitou.
- Mas este dinheiro é para o cão…
- Qual cão? – e olhou o Ferraunha ameaçador.
O cãozito não gostou da sua expressão e respondeu mostrando os dentes bem desenvolvidos e rosnando:
- GRRRRR!!!!!!!!...
O homem não se conteve. Tentou dar-lhe um pontapé, mas o cão escapou e atirou-se-lhe à mão, mordendo-a.
- Ai! Malvado…
O que estava a roubar os medicamentos conseguiu pontapear furiosamente o cão e este desatou a fugir, passando para o exterior, sem que o que estava armado criasse qualquer obstáculo.
Mas o Ferraunha, escapando daquele horroroso ambiente, não estava satisfeito. Ele tinha de cumprir a sua missão. Por isso, resolveu esperar escondido. Cá fora, viu um carro com a porta vazia. Refugiou-se lá dentro à espera que tudo passasse.
Nem foi preciso mais um minuto. Os assaltantes saíram da farmácia com o produto do roubo e enfiaram-se no mesmo carro onde o Ferraunha já estava escondido atrás do banco dianteiro do lado esquerdo. Percebeu logo que estava metido num grande sarilho pelo que encolheu-se o mais que pôde, tentando não ser visto pelos bandidos.
Pouco depois, o carro arrancava a grande velocidade. Os assaltantes estavam excitados e pareciam satisfeitos.
- Grande colheita! Felizmente, não tinham depositado o dinheiro. Aqui em Ourém são muito descuidados.
O carro andou cerca de um quarto de hora. Nessa altura, abrandou e entrou num caminho estreito que os levou junto de uma casa que parecia abandonada. Os assaltantes saíram do carro e levaram o produto do roubo para a casa. Estavam muito satisfeitos.
Dentro do carro, o Ferraunha analisou a situação. Não podia sair, pois não tinham deixado nenhuma janela aberta. Tinha de esperar pela ocasião propícia…
E refugiou-se o melhor possível para não ser visto por aqueles malvados.


segunda-feira, maio 11, 2020

Meu nome é Ferraunha

O Ferraunha era um cãozito super afável e esperto adotado pela Livinha. Tinha sido ensinado a ir fazer algumas compras aos donos e todos ficavam encantados com a sua eficácia a satisfazer os seus desejos.
Naquela manhã, o sr. Lains levantou-se, deu-lhe a ração matinal e disse-lhe:
- Ferraunha, vai buscar o jornal ao Café Central.
O cãozito partiu em alta velocidade. Subiu aquela que é agora a Rua 25 de Abril, virou à direita na 5 de Outubro e prosseguiu pela Silva Carvalho até chegar à praça dos carros. Pouco depois, entrava no Café Central e pôs-se em pé, apoiando as patitas dianteiras no balcão.
Um cliente pouco amistoso refilou:
- Está aqui um cão. Vou correr com ele.
Mas o sr. Joaquim Espada deteve-o.
- Não faça isso. Sabemos o que ele pretende.
E o brutamontes ficou banzado a ver o dono do café a pôr o jornal na boca do cãozito e este a partir a toda a velocidade de regresso a casa.
- Formidável. Nunca tinha visto uma coisa destas.
- Há muitos animais que são mais espertos que os humanos – replicou o sr. Espada, olhando significativamente para o cliente.
O homem não percebeu e abandonou o café.
Entretanto, o Ferraunha chegava a casa, depois de fazer o caminho inverso, e preparava-se para fazer novo recado agora à Livinha.
- Ferraunha, vai à farmácia aviar estes medicamentos.
E pôs-lhe um saquinho à volta do pescoço que no interior levava a receita médica e uma nota de mil escudos para pagar os medicamentos.
Mais uma vez, o Ferraunha saiu a toda a velocidade e, pouco depois, estava na farmácia Leitão, aguardando a sua vez de ser atendido.
- Olha o Ferraunha – dizia o empregado. – Que é que te traz por cá?
O cãozito pôs-se a jeito e ele retirou-lhe o saco com a receita e dinheiro.
- Hum… bactrim…paracetamol… ibuprofeno… umas injeções. O Dr, Preto está a receitar muita coisa.
- Béu.. béu… – respondeu o cãozito.
A farmácia quase não tinha clientes e o empregado pôs-se a aviar calmamente a receita. Depois, pegou no dinheiro e começou a fazer o troco.
De repente, o sossego deste quase bucólico espaço foi quebrado por uma voz ameaçadora:
- Todos quietos! Mãos ao ar! Isto é um assalto…

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