quarta-feira, julho 30, 2003

Eu, marxista me confesso
Lá para 14 de Julho, talvez de 1972 (ou 1973?) enviei mais uma provocaçãozinha para o Notícias de Ourém: um artigo condenando as sociedades baseadas na exploração do trabalhador e convidando à participação na construção de uma sociedade em que todos participassem na decisão e no trabalho.
Houve quem não gostasse e reagisse. Aqui vai a história toda.
LV

A LENDA DO IMPERADOR LUCRO
Em terras infinitamente longínquas, vivia um imperador com extensos domínios povoados e trabalhados pelos seus servos. Da riqueza produzida, uma parte ficava para eles viverem como porcos, outra ia para o palácio onde a imensa corte se divertia em lautos banquetes.
Um dia, estalou uma revolta num desses domínios. Incapaz de agir sópor si, o imperador mandou servos de outros domínios lutar contra os seus irmão de classe. Mas aí a riqueza deixou de aparecer e os banquetes pararam de se realizar. O imperador espasmou de fome e, um dia, não pôde deixar comida aos servos que faziam a sua guerra. Então, logo eles também se revoltaram o imperador caiu.
Em seu lugar, quiseram eles construir uma nova sociedade em que todos participassem. Uma sociedade cujo motor não fosse o lucro, mas a utilidade social do trabalho de todos e dos bens de cada um.
E era verem-nos contentes transportar para o património comum tudo o que haviam produzido e, depois, decidirem colectivamente o uso a dar a cada coisa. Feito isto, planeavam o trabalho futuro e distribuíam entre si as tarefas.
Vocês desculpem, tudo isto foi uma lenda passada em terras infinitamente distantes. Mas pensem na sociedade nova e da outra tragam o que puderem.
LV

O QUEIXINHAS
O nosso Correio
Senhor Director
Anda por cá uma verdadeira euforia marxizante em que com pezinhos ora de lã, ora de pólvora se faz uma doutrinação subversiva sem nada de construtivo em troca.
«A Lenda do Imperador Lucro», publicada em 14 de Julho, no vosso simpático jornal, condena o lucro. Eu também condeno o lucro que vai parar às algibeiras de quem faz pouco e deixar à míngua de recursos essenciais os que fazem qualquer coisa. Mas a condenação pura e simples do lucro não conduz a nada de construtivo. Ou conduzirá?
Gostava muito que o autor da lenda explicasse um pouco mais o seu pensamento. Assim sem mais é o bota abaixo. E como será o bota acima?
Seu o leitor assíduo
Gastão da Cunha Ferreira

Bota Abaixo, Bota Acima
De D. Gastão a sua rima

Insinuações e calúnias são as armas de quem nada pode demonstrar. No dia 14 de Julho, disse-se o seguinte no «Notícias de Ourém»: "Em seu lugar quiseram eles construir uma nova sociedade em que todos participassem. Uma sociedade cujo motor não fosse o lucro, mas a utilidade social do trabalho de todos e dos bens de cada um.
E era verem-nos contentes transportar para o património comum tudo o que haviam produzido e, depois, decidirem colectivamente o uso a dar a cada coisa. Feito isto, planeavam o trabalho futuro e distribuíam entre si as tarefas".
O artigo terminava com um convite à reflexão sobre essa sociedade e, no caso de se decidirem por ela, a aproveitarem tudo o que de bom encontravam naquela onde viviam.
Uma coisa é certa: a debilidade mental do sr. Gastão da Cunha Ferreira não poderá fazer parte dessa sociedade. Porque depois de me dar roda de marxista, falinhas mansas e bombista, necessitou de mentir para justificar essas qualificações.
Em conclusão: desprezo aos executantes de tão ruim ofício. E se lhe respondemos foi pelo respeito que nos merecem os leitores do «Notícias de Ourém»
LV

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