quinta-feira, julho 17, 2003

FIGURAS DE TODO O MUNDO

Em figuras da nossa terra fala-se em doutores, industriais, benfeitores que alguma vida trouxeram ao nosso meio. Não se fala no «Zizi» ou na Amélia Perra. Não se fala porque não são figuras da nossa terra.
Eles são figuras de todo o mundo.
Eles estão na América Latina, na África, na Ásia, nos bairros da lata, nas barracas, nos bidonvilles, nos guetos.
A todo o momento, a sociedade que os criou, os espezinha e os marginaliza.
A sua vida foi uma imensa produção de riquezas. Neste momento, alguns só têm de seu a barriga podre de álcool que os acompanha enquanto esquecem, adormecidos, em qualquer valeta. Outros perdem-se no ocaso de uma vida nobre toda dedicada ao trabalho.
A estes nós esquecemos, nós fazemos por esquecer. Porque são urn desafio à nossa comodidade cheia de individualismo. A nossa consciência não comporta mais problemas que a salvaguarda do lucro e da acumulação.
Na América Latina, de cinco em cinco minutos, morre uma criança de fome. Nos Estados Unidos, em cada cinco minutos, faz-se urn opíparo banquete. Até quando?
Até que todos nós compreendamos que eles também são produto do nosso bem-estar. Produto e obreiros. E os alimentos não param no estômago.

LV
(Notícias de Ourém, lá para 1972)

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