quinta-feira, abril 28, 2005

Louvação ao Fio de Azeite mal amado

Se queres batata e couves
com um sabor divinal
não esqueças o fio de azeite
sabe bem e não faz mal



Publiquei uma foto sobre o antigo cine-teatro de Ourém, porque queria dedicar umas palavras à pessoa que foi o seu responsável, o José Melo.
É que tenho aquela sensação que Ourém nunca foi inteiramente justa com esta figura.
O Melo foi uma das pessoas mais dinâmicas da nossa terra. Talvez tenha tido o azar de nunca ter feito grande fortuna e, portanto, não passou para o rol dos que são sistematicamente mencionados, porque o dinheiro traz credibilidade, respeito.
Mas foi o responsável por, durante muitos anos, termos o melhor cinema a que uma terra de província com um pequeno número de habitantes poderia aspirar.
Montou uma tipografia que ainda funciona (1). 
E, zangado com o Notícias de Ourém, criou um jornal, o Ourém e seu Concelho, que é um modelo em termos de publicação. Repito, é um modelo. O jornal é aberto a todas as correntes de opinião. Podem os meus amigos dizer: "mas o que lá se publica não presta...". Eu aceito, quando leio aquele Pinto e aquele Cavaco (2) até sinto náuseas de tanto facciosismo, mas está lá a possibilidade de existirem bons artigos de qualquer corrente de pensamento. Se não os fazem, a culpa não é do jornal.
Por outro lado, encontro no Ourém e seu Concelho pedaços da história da nossa terra muito interessantes. Como aquele sobre a Igreja de Vila Nova de Ourém. Leiam é excelente, até gostaria de a publicar aos bocadinhos no blog. Mas eles não mo oferecem em texto...
Para além do seu dinamismo, o Melo era uma excelente pessoa. Já nem estou a falar dos dissabores que lhe dei com os artigos do tempo à volta do 25 de Abril e que ele engolia sem queixume. É que, antes, há uma história engraçada.




Um dia, ele convidou o meu irmão para passar com ele uns tempos na Nazaré, em férias. Claro está, fui logo atrás. O acordo era ficar numa pensão, comer por lá e o meu irmão vigiava o bom comportamento. Não levava muito dinheiro, mas a malta amiga ajudava. Um dia almoçava com o Rui, outro com o Zé Manel, enfim havia lá tantos que tinha a agenda quase sempre preenchida.
À noite, ia vê-los.
- Ti no nin , dizia o Melo, já jantaste?
- Ainda não...
- Então jantas connosco...
E ali passei uma bela série de dias, guardando o que tinha amealhado para poder aplicar em discos ou banda desenhada.
Excelente pessoa, o Melo... 


Notas: Fio de Azeita, alcunha do Melo
(1) - Tipografia e Jornal desapareceram pouco depois da publicação deste post
(2) - Perdoem, isto foi do calor da época

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