O nosso cine-teatro...
A rua por onde levei a gatita branca e preta quando mudei para a
casa da rua Santa Teresinha...
A morgue. Em frente, a casa onde conheci o Manel. Lá ao fundo, o
atelier do Zé Canoa onde agora funciona a Botica...
Os oureenses permitiram a destruição desta obra prima para
construir o mamarracho que ainda vemos crescer.
O Melo era o gestor, o Jóia controlava as entradas, o Mário vendia
os bilhetes. No Verão todas aquelas janelas se abriam para o ar poder entrar...
Foi aqui que conheci alguns ídolos da juventude: a Marisol, o
Joselito, o John Wayne...
Foi aqui que vi os primeiros filmes: Território Apache, Rio Bravo,
Psico, Os dez mandamentos, Ben-Hur e outras maravilhas que a memória já não me
permite.
O preto e branco, a magia do cinemascope...
Uma sala com qualidades notáveis, pois toda ela vibrava conforme
as sensações das suas plateias como pode notar-se nesta descrição de “A seita
do cavalo branco”:
Não sei quantas vezes
vi este saudoso filme no cine-teatro da vila, uma magnífica sala onde as
plateias (de primeira e segunda), a geral, os camarotes e o balcão reflectiam a
estratificação social que se vivia.
Mas, em momento de
filme, corridas aquelas belas cortinas verdes que tapavam as portas de saída,
tudo isso de esbatia. Detentor de pouco dinheiro, geralmente utilizava aquela
plateia quase colada à geral e daí podia assistir à magnífica cavalgada para
apanhar os bandidos no momento chave em que o espectador se tornava actor.
A galopada e o seu
ruído entravam pela sala dentro. Toda a gente gritava de entusiasmo e saltava
nas cadeiras. Sentia-se todo o edifício a tremer pelo arrebatamento desordenado
que lhe era transmitido por quem se julgava a viver a monumental perseguição.
Finalmente, os bandidos eram capturados.
No dia seguinte, menos
tensos, com mais uma boa dose de paliativo para aceitarem a situação social em
que viviam, todos comentavam o esplendor do espetáculo e todos pretendiam ter
sido aquela figura que, no final, planeava passar o resto dos seus dias com a
bela menina que amenizava tão brutais costumes.
Já nem sei como posso agradecer ao NA...
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