sexta-feira, abril 29, 2005

O charme discreto do cine-teatro


O nosso cine-teatro...
A rua por onde levei a gatita branca e preta quando mudei para a casa da rua Santa Teresinha...
A morgue. Em frente, a casa onde conheci o Manel. Lá ao fundo, o atelier do Zé Canoa onde agora funciona a Botica...
Os oureenses permitiram a destruição desta obra prima para construir o mamarracho que ainda vemos crescer.
O Melo era o gestor, o Jóia controlava as entradas, o Mário vendia os bilhetes. No Verão todas aquelas janelas se abriam para o ar poder entrar...
Foi aqui que conheci alguns ídolos da juventude: a Marisol, o Joselito, o John Wayne...
Foi aqui que vi os primeiros filmes: Território Apache, Rio Bravo, Psico, Os dez mandamentos, Ben-Hur e outras maravilhas que a memória já não me permite.
O preto e branco, a magia do cinemascope...
Uma sala com qualidades notáveis, pois toda ela vibrava conforme as sensações das suas plateias como pode notar-se nesta descrição de “A seita do cavalo branco”:
Não sei quantas vezes vi este saudoso filme no cine-teatro da vila, uma magnífica sala onde as plateias (de primeira e segunda), a geral, os camarotes e o balcão reflectiam a estratificação social que se vivia.
Mas, em momento de filme, corridas aquelas belas cortinas verdes que tapavam as portas de saída, tudo isso de esbatia. Detentor de pouco dinheiro, geralmente utilizava aquela plateia quase colada à geral e daí podia assistir à magnífica cavalgada para apanhar os bandidos no momento chave em que o espectador se tornava actor.
A galopada e o seu ruído entravam pela sala dentro. Toda a gente gritava de entusiasmo e saltava nas cadeiras. Sentia-se todo o edifício a tremer pelo arrebatamento desordenado que lhe era transmitido por quem se julgava a viver a monumental perseguição. Finalmente, os bandidos eram capturados.
No dia seguinte, menos tensos, com mais uma boa dose de paliativo para aceitarem a situação social em que viviam, todos comentavam o esplendor do espetáculo e todos pretendiam ter sido aquela figura que, no final, planeava passar o resto dos seus dias com a bela menina que amenizava tão brutais costumes.

Já nem sei como posso agradecer ao NA...

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