terça-feira, agosto 17, 2004

A verdadeira história das cassetes roubadas
Já sei que pensam que vou falar de Salvado e companhia.
Enganam-se redondamente.
A verdadeira história das cassetes roubadas tem a ver com Ourém e com quem a governa.
Não sei se já se aperceberam que, ultimamente, sempre que surge alguma notícia para Ourém com relevo, ela é seguida de entrevista ao Notícias de Ourém (NO) do nosso venerável presidente.
O que os leitores do NO não sabem é que muitas passagens acabam por não ser publicadas. O blogue Ourém, aproveitando a distracção de uma gentil repórter do NO, apoderou-se de uma cassete com gravações da mesma ao Presidente e procede aqui à sua divulgação.
- Está lá? É o senhor presidente?
- Sou sim.
- É do Notícias de Ourém. Nós pretendíamos que nos respondesse a algumas perguntas…
- Faça favor…
- Vai haver uma sessão na Som da Tinta com Vasco da Graça Moura. O que é que pensa de tal realização? Vai estar presente?
- Você está doida? Então acha que eu vou entrar naquele antro de comunas? Já estão com sorte se lá mandar o Frazão e a Deolinda…
- Mas não acha que eles vão ficar desprotegidos no meio daqueles comedores de criancinhas? Ainda por cima, os que lá estão são sempre os mesmos, eu vejo lá sempre as mesmas caras.
- Não insista. Eu não entro lá. Quero ter essa liberdade, isto aqui não é Cuba ou a Coreia do Norte…
- Mas, senhor presidente, bastava que lá fosse 1% do eleitorado do PSD para o ambiente mudar. Abafavam-nos logo.
- Já disse o que tinha a dizer…
- O senhor presidente é que sabe. Aquela editora é uma das poucas organizações que procede à divulgação da cultura em Ourém. É intenção da Câmara conceder-lhe algum apoio para prosseguir este objectivo?
- Mas quem é que os mandou divulgar cultura? E logo em Ourém. Isso é uma treta! O que eles querem é expandir o ideário comunista, ganhar as eleições e roubar-me a Câmara. E o Vasco da Graça Moura fez o jogo deles. Vou extingui-los nem que seja pela fome. Cultura é fado. Já viu a nossa realização "Noite de fados para os 200 principais oureenses"? É preciso estar com a realidade oureense. É preciso conhecer os principais e funcionar em função deles. O povo cresce culturalmente ao vê-los passar ao, pouco a pouco, interiorizar os seus hábitos pelo exemplo.
- Diga-me agora o que pensa de a Nestlé Waters estar interessada na nossa água.
- Eu já sabia que tínhamos água das melhores…
- Mas vai fazer alguma coisa para apoiar o projecto?
- O projecto? Que projecto? Já viu a água que vai ser precisa para regar o campo de golfe da cara de cavalo? Eles vão ter necessidade de construir uma fábrica. E onde vai ser a fábrica? Não temos terrenos…
- Como…!?!!
- Talvez haja qualquer coisa lá para Caxarias. Mas já viu o que vai ser concentrar 30 pessoas sob o mesmo patrão? Não acha que podem começar a desenvolver ideias comunas? É operário a mais, tudo junto. Além disso, não há desemprego no concelho. O que precisamos é de um parque de negócios e um campo de golfe para turistas…
- Mas não gostava de ver o nome de Ourém nas garrafas de água?
- Oh menina! A água é um produto sazonal. Você só bebe água no Verão, no resto do ano tem o tintol. No negócio do golfe, não há sazonalidade, nós vamos fazer a ponte entre Algarve e Coimbra…
A cassete interrompia-se aqui, mas a transcrição terá permitido compreender as verdadeiras prioridades do responsável autárquico.

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