O fogo, essa besta insaciável,
não brota do nada,
mas da ignorância que se estende,
como o fumo que se espraia sem vergonha.
E não venham com a ladainha
de que o calor é imprevisível,
quando o verdadeiro crime está em quem deixa a terra
à mercê da morte, sem nunca a preparar.
Ah, se soubessem que o inverno
é o tempo da guarda, da ação antecipada,
mas não. Preferem esperar pela labareda,
depois que a terra já chora sua cinza,
depois que os bombeiros, esses heróis acidentais,
têm de enfrentar o inferno que poderia ser evitado,
se ao menos alguém tivesse feito a lição antes.
Pois que importa a neve que cai,
se a terra queimada não conhece o inverno?
Mas ninguém se importa com isso.
Os que podem prevenir preferem olhar para o lado,
dar o ombro aos esquemas sujos,
e, quando a tragédia chega,
vem com a desculpa de que é impossível evitar.
Mas é apenas falta de vergonha,
de quem aproveita do fogo o que o fogo não pede.
Os bombeiros não têm culpa,
eles fazem o que podem,
mas a culpa está em quem não vê
que o inverno é o tempo de fazer
o que a razão exige,
antes que o fogo comece,
antes que a terra clame pela sua alma perdida.
Mas ninguém, claro, se importa com isso.
Deixam arder e depois,
cheios de um falso arrependimento,
dizem que o fogo veio do nada.
E nós, que ficamos,
só temos as cinzas e as farpas da desilusão.
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