sábado, abril 01, 2006

Não haverá semana de fados no OUREM


Dificuldades de ordem técnica, insuperáveis, fizeram com que não tenhamos possibilidade de, amanhã, dar início à semana / quinzena de fado no nosso blog. Esperemos melhor ocasião...

sexta-feira, março 31, 2006

O ironista

A peça que vos deixo abaixo é notável, tinha que a roubar para o OUREM tão escondida anda em espaço anónimo. Sem ironia, Ourém ouvirá falar muito dele no futuro...

sem obséquio, mas com disposição, disponibilidade e abraço à urso. o uso da palavra «ironia» hoje aparece frequentemente associado à paródia, à comédia, ao humor. na origem, porém, a ironia traduzia uma atitude, calibrada filosoficamente. o desgraçado do Sócrates, com aquela converseta «só sei que nada sei», formalizou pela primeira vez o mote da seita - que nunca foi seita como outras, como por exemplo as dos xisistas. e a base dessa atitude é a assunção do limite do que se conhece ou consegue conhecer. daí que um irónico tenda à humildade, mais do que a fazer palhaçadas para se armar ao pingarelho ou para fazer rir os outros. o riso do irónico é o riso dessa humildade perante outras atitudes mais fortes, assentes na convicção, na fé ou na força bruta. claro que um irónico também faz as suas opções, mas com a consciência disso, de que as opções são opções fundadas e orientadas através de si, de critérios e coordenadas que ele assumiu, referências essas que não são necessariamente – muito pelo contrário - apenas suas. ou seja, a ironia é uma forma de condução individual em comunidade. neste sentido, é uma das raízes da atitude liberal, coisa com configuração moderna e que, por isso, é um produto muito mais recente. outra propriedade dos irónicos é não serem propensos à doutrinação ou ao catecismo. mais do que fazerem propaganda a um destino ou a um fim, exercitam e exortam à utilização de um método: a provocação. provocação no sentido de colocar questões. provocação no sentido do exercício maiêutico. como me parece, isto é diferente de comédia ou humor. na prática, um irónico, no sentido clássico do termo, é um desgraçado encharcado em desassossego. faz muitas perguntas, tanto a si quanto aos outros. é por isso que, para viver, se recomenda temperar a ironia com uns laivos de cinismo. lá está, não o cinismo moderno. também não o cinismo de cão. mas o cinismo do desgraçado do Diógenes. o tal que, em plena luz do dia, andava com uma candeia acesa à procura do verdadeiro homem. o tal que, quando Alexandre, o maior, lhe perguntou o que podia fazer por ele, lhe ordenou que se afastasse porque lhe estava a roubar o sol. parece anedota, mas é também osso. e agora, depois de todo este parlapié, desculpa lá, pá, mas tenho que ir trabalhar mais um bocado.

in Anónimo do século XXI
Continua a publicação da Má Língua

O NA, no Outrora, tem continuado a publicar páginas da vida cultural de Ourém da primeira metade do século passado. Recentemente, fomos brindados com:
Má Língua XI - Petróleo e luz eléctrica
Má Língua XII - 2º Acto - Coro do Rancho
Má Língua XIII - Criada; Criada e Caixeiro; Fado do Preso; A Alcoviteira; Motores; O Político; D. Elvira; Romão e a Sopeira; Tesoura e Faca.
Anúncio - Má Língua

Procedi à cópia de segurança para não voltar a perder estas maravilhas...
...e já agora, caro NA, cuja disciplina eu admiro para digitar tudo isto, não havia também uns versos para os condutores dos taxis?

quarta-feira, março 29, 2006

Johnny lui dit adieu
Podem citar a Carmen, a Susana, a Florbela, a Sofia, o Miguel ou o Luís. Mas não têm qualquer razão. Nenhum deles tratou melhor a dor de ver a nossa namoradinha partir com outro, definitivamente, do que o autor da letra desta canção. Vejam só esta passagem sublime:

Alô, bom dia, minha senhora
Daqui é o Johnny
Estou a telefonar
Porque me disseram amigos meus
Que a sua filha vai casar
Que ela parte hoje
Não, não lhe quero falar
O que eu quero é chorar
Mas diga-lhe que a amo
E que o Johnny lhe diz adeus.

Aliás, o tema do Adeus é recorrente nas canções da nossa geração. Ele é uma constante da canção francesa, do fado... Talvez lá voltemos.

Castanhola traiçoeira


Tinha uns sete anos quando participei numa encenação que teve lugar no cine-teatro de Ourém. A recordação já é muito ténue, mas pode ser que alguns amigos tragam mais algum elemento. Tratava-se de uma acção em que um grupo de meninos e meninas, vestidos a rigor, à antiga, eles com uma capa negra, entravam por um dos lados do palco ao som de uma música do tipo "Amor, amor, amor..." dispunham-se na perpendicular relativamente ao público e aguardavam. Depois, chegava um coche e lá de dentro saía uma princesa de inigualável beleza: a oureana mais linda dessa época. Os meninos estendiam as capas no chão e a princesa, graciosamente, aproximava-se do extremo do palco, saudando o público...
Mas chegar aqui não foi tão pacífico como podem julgar.
Tinham-me oferecido uma castanhola e eu divertia-me à brava com ela. Chegava ao Central e fazia "click, clack...", chegava à Marina e repetia a gracinha.
O meu par na peça era, de início, uma adorável oureana que, à ida para o colégio, parava frente à minha casa para irmos os dois. Era uma menina muito simpática, linda...
Já não me recordo porquê, mas penso que a preparação da encenação era numa casa nas traseiras da igreja. Lembro-me de lá estarmos, formando duas ou três filas, enquanto o encenador, Dr. Manuel Afonso (?, eis mais uma dúvida) nos dava mais uns conselhos para tão importante acto.
- Vocês têm de ter muita atenção ao momento em que chega o coche para que o movimento de estender a capa seja um só...
Eu ouvia-o com atenção. Mas, de repente, lembrei-me daquilo... levei a mão ao bolso e... "click".
O encenador calou-se imediatamente. Ao fim de algum tempo, disse:
- Agradeço que sejam obedientes e disciplinados. É impossível fazerem uma boa representação se o vosso comportamento continuar assim...
O problema é que eu só tinha feito metade do movimento. Naquele momento, a minha mão pressionava a castanhola, mas eu não conseguiria aguentar a posição por muito mais tempo.
E aconteceu: "clack...".
Senti como que uma clareira a abrir-se à minha frente na direcção do encenador. Todos a olharem para mim, virados de lado e, lá à frente ele, com ar de poucos amigos. Não consegui disfarçar.
- Luís, não esperava que fosses tão mal-educado. Sai. És indigno de pertencer ao nosso grupo. Sai!
Saí acabrunhado, envergonhado. Fui triste para casa, amaldiçoando o meu acto. Nem sei como consegui explicar à minha mãe ter sido expulso de um ambiente tão recomendável e saudável. O certo é que ela lá me fez apresentar as inevitáveis desculpas e eu voltei à encenação. O problema é que o meu par já não era o mesmo. Dançava bem, dizia-se, mas não era a minha oureana adorável.
A partir daí, nunca mais utilizei a castanhola...

terça-feira, março 28, 2006

Fantômas chegou a Ourém


Confesso que nunca li qualquer destes livros apesar do monumental fascínio que me provocavam.
Fantômas era um criminoso sempre em interactividade com o seu perseguidor (irmão?) Juve que despertava paixões em lindas meninas e prosseguia feitos grandiosos na senda do mal. Os amigos oureenses encontram em seguida alguns pormenores das edições estrangeiras (holandesa, turca...) que demonstram o impacto que teve na literatura policial de início/meados do século passado e na própria banda desenhada. Aliás disponho de uma capa de um album em que ele faz lembrar o malvado Olrik idealizado por Jacobs...






Em Portugal, podemos apontar 3 edições: 1914, um volume; 1952-1958, 32 volumes; 1956-1964, 30 volumes.
A segunda edição passou pela casa do largo de Castela, se não estou em erro ao preço de 12$50 cada volume (que julgo avultado para a época, e aqueles livros faziam parte do meu dia a dia na pequena estante onde também guardadva o Mundo de Aventuras e a outra literatura mais a meu gosto.
Penso que o tal imperdoável descuido também fez a Fantômas aquilo que a polícia durante muitos anos não conseguiu.
Em seguida, deixo-vos algumas capas da edição portuguesa, só possíveis porque contrariamente ao que se passa no nosso país, os franceses fizeram a acatalogação do obra...








mais informação aqui, uma página engraçadíssima.

domingo, março 26, 2006

Arrête, arrête...

Chamava-se "Demain tu te marries" uma das canções que mais ouvimos naquela década fabulosa do nosso crescimento. A intérprete era Patricia Carli, uma rapariguita com a cara cheia de sardas, não muito engraçada, mas com uma voz muito expressiva.
É curioso, lembro-me de um episódio em Leiria. Estava por lá no sexto ou sétimo ano, a estudar obviamente. Passeava-me na Avenida Heróis de Angola onde, frente às camionetas dos Claras, surgiu uma loja de discos: a Silis. Na montra, vi um disco em que se tapava a cara da rapariga e se prometia a sua (do disco) oferta caso a identificássemos.
Então eu, insigne conhecedor daqueles agentes da frivolidade, não haveria de concorrer? Preenchi o postalinho, pu-lo por baixo da porta e, dias depois, soube que tinha sido o premiado com um disco da Patrícia...

Oiça Demain tu te marries
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