sexta-feira, agosto 23, 2019

Suicidária encantadora

Paula 
Dolce Paula 
Não queira nunca mais 
saltar de sua jaula 


A nossa querida e belíssima Paula Fernandas que, ainda em Junho do ano corrente, nos encantou e deliciou com as suas canções, revelou já ter sentido a tentação do suicídio na sequência de uma depressão. 
Ela quis saltar pela janela de um edifício altíssimo para a rua. Quem a salvou foi a mãe que ameaçou fazer o mesmo se ela concretizasse a ameaça. 
Abençoada senhora que assim nos permite continuar a contemplação de um ser tão dotado... 


(Calma, leitores do Ourem. Não vamos torturar-vos com nenhuma canção da pequena)

quinta-feira, agosto 22, 2019

Postal de Kiev


O homem e o seu amigo 
perpetuados para memória futura... 
aqui preza-se a amizade


quarta-feira, agosto 21, 2019

O silêncio interior


Desloco-me para Ourém a pensar que vou ter repouso, mas estou muito enganado. Pior que a praga de emigrantes que me inunda o povoado, o vizinho adjacente é barulheira constante. 
Até arranjou uma espécie de papagaio de plástico com uma gravação barulhenta a imitar o bicho. Os cães não se calam noite e dia e fazem movimentos pelo meio da vegetação que assustam quem quer dormir. 
E o gajo, a alimária, que não para de fazer muros e estradinhas, arranjou uma mota barulhenta para se treinar ao fim  da tarde. É altura de dar a palavra ao MEC...




São os cães a ladrar, sempre a ladrar a mesma coisa, sem variações.

São os pombos que moram e cagam na nossa casa, a arrulhar aos gritos, mesmo por cima da janela do quarto onde uma noite gostaria de dormir.

São as motas de escape propositadamente furado para se saber a qualquer hora do dia que estão a fazer-nos o favor de acelerar a fundo. Como acelerando passam mais depressa e não querem que fiquemos a perder, fazem questão de voltar de cinco em cinco minutos — até porque são motoqueiros adolescentes que têm medo de se afastar aqui da aldeia, onde se sentem seguros e ninguém os manda prender.

Temos a sorte de morar mesmo em frente de três caixotões do lixo e gostamos muito de brincar às garrafinhas: quantas irão estilhaçar? Serão duas? Ou vinte e três? Ou, já aconteceu várias vezes, adegas inteiras?

Tenho tampões para os ouvidos feitos à medida que me tornam completamente surdo mas não são confortáveis. Desconfio que o meu canal auditivo está a encolher. A minha salvação são as bolinhas de cera da Ohropax. Por pouco mais de 4 euros, numa caixinha giríssima, obtém-se uma dúzia destes maravilhosos empecilhos. Desde 1907 que trazem a paz a um mundo conturbado. Também há para tomar banho — adeus otites de nadador — e para apanhar aviões, para ir a concertos, para suportar gélidas ventanias e para todas as agressões aos nossos ouvidos. Os alemães da Ohropax têm tudo previsto, muito obrigado. Quando se é novo, o silêncio também maça. Felizmente essa inquietação passa — e já não se quer outra coisa.

terça-feira, agosto 20, 2019

Um elevador com muita graça



Apita óscensor
Já está a apitar
não abriu a porta 
no segundo andar


No local onde habito, também existe um elevador. Claro que não preciso muito dele, pois vivo no rés-do-chão. Mesmo assim, sou obrigado a pagá-lo de acordo com a permilagem o que, muitas vezes, acho assaz injusto.
Mas este elevador é muito especial. Entregue aos cuidados de uma empresa credenciada, há perto de dois anos que não funciona corretamente. Por exemplo, para reforçar a minha inaptidão para a sua utilização, não abre a porta no piso em que moro, mas se o chamarem para a cave ou para o terceiro, aí vai ele todo galhordas e quase a cantar o «apita o comboio». Por vezes é traiçoeiro e para antes ou depois do piso pretendido, mas a boa vontade do administrador, dalgum vizinho ou do próprio 112 logo acorre a resolver a situação.
Tem um contrato de manutenção religiosamente pago. Está certificado por quem de direito. E, tantas vezes, não anda…
E surge a velha questão de Ulianov: Que fazer? A minha vontade é fazer denunciar o contrato. A minha vontade é pôr toda a gente a andar a pé. Mas não é que há pessoas que preferem a situação como está? A mente humana é muito esquisita...

segunda-feira, agosto 19, 2019

Inês Armand - Uma mulher na revolução (2)


Vladimir Ilyich, o pai da pátria soviética, mesmo depois da sua morte que ocorreu quatro anos depois de Inês, tinha de permanecer num pedestal.

A historiografia soviética e estalinista não podia admitir, e ainda menos revelar, que viveu um amor fora do casamento e assumir que não fora o fiel marido de Nadja Krupskaja. Não podia permitir que a imagem de quem tinha como único pensamento os destinos do proletariado fosse manchada por uma história de amor.

Falar da relação entre Inês e Vladimir Ilyich significaria revelar muitos factos e muitas circuns-tâncias, os quais não era nada oportuno trazer à luz: que Lenine, também Lenine, fora arrastado pelos sentimentos e sentira a falta da mulher que amava, que sofrera por outra coisa além da dificul-dade de pôr o socialismo em prática, e qualquer momento vivido sem ela o fizera sentir-se perdido.

Além disso, a Rússia estalinista não podia aceitar uma ligação do chefe da Revolução proletária a uma mulher da burguesia, com uma autonomia cultural, e cuja família de industriais progressistas fora uma das fontes de financiamento dos bolcheviques.

Quando o conheceu pela primeira vez em Paris, Inês tinha trinta e cinco anos e uma personalidade formada. Tinha quatro filhos, separara-se do marido (com o qual aliás manteve ótimas relações) para se unir ao cunhado de quem tivera um outro filho. Era uma militante bolchevique, uma revolucionária convicta e audaz, sempre disponível para tudo em prol da Causa.

Também ela, como Lenine, queria a Revolução do proletariado e um novo futuro para o seu país. Também ela participou na grande ilusão da construção do país dos Sovietes.

Morreu antes de viver em pleno a desilusão, mas antecipou-a e entendeu antes de outros aquilo que não funcionava. Era social, cultural e economicamente autónoma, podia até contribuir para as caixas do partido, mostrara uma certa autonomia de julgamento e, quando foi necessário, uma oposição aberta às ideias do líder supremo.

Inês era a favor do amor livre, contra a paz de Brest-Litovsk, era simpatizante do grupo de Baugy, crítico de Lenine. Em suma, apresentava uma biografia de militante política e feminista que se distinguia, por vezes polemicamente, da do seu líder. Se estes são os motivos do obscurecimento da figura de Inês na historiografia soviética, menos claros são os motivos da difícil compreensão da figura de Inês por parte da história ocidental. É certo que dependia, em grande medida, de fontes soviéticas que, apesar de tudo, a influenciava.

Mas, provavelmente, existe uma outra razão. Inês não é fácil de enquadrar nos estereótipos femininos que abundam na melhor cultura ocidental. É dificil para um historiador ou um académico, inevitavelmente sujeito a esquemas masculinos, retratá-la e orientar-se na história e na psicologia de uma mulher que reunia em si, e na sua vida, tantas paixões e inclinações.

Inês era uma revolucionária convicta que conhecia a prisão e o exílio, mas também era a mãe afetuosíssima e presente de cinco filhos.

Era dedicada a Lenine, mas prezava a sua liberdade. Era uma «bolchevique», mas consciente dos limites do seu partido sobre a «questão feminina». Viveu o início da decadência trágica dos projetos revolucionários, mas aos quais ficou ligada. Era rica, contudo nunca receou a pobreza e morreu pobre.

Foi uma boa esposa, mas praticou e teorizou o amor livre. A sua ligação a Vladimir Ilyich, sólida até ao fim, não a impediu de ser amiga de Nadja Krupskaja. Tinha relações por todo o mundo, mas quando podia refugiava-se na solidão. Era uma idea-lista e tinha abraçado a utopia do mundo novo, mas também uma dirigente realista e mediadora.

A sua maneira de ser, complexa, contraditória, sujeita a todas as fraquezas humanas, aos entusias-mos e à depressão, à abnegação e à rebelião, a sua capacidade de amar a política, os filhos, o amor e a amizade e de viver tudo com paixão, faziam dela uma figura excêntrica, não catalogável.

domingo, agosto 18, 2019

Last of the moihcans



Na Biblioteca de Ourém, passei alguns dias, algumas horas excelentes a ler um famoso livro com o mesmo nome. Agora, aqui fica mais um instrumental do nosso amigo Geoff. A apresentação é muito bem feita com constantes referências à civilização índia que a ânsia dos europeus civilizados ajudou a destruir.
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