O poder do pensamento
Não se atreveu a contar a todos os colegas, porque podiam gozá-lo. Mas contou ao seu grande amigo, o Barroso.
- Não sabes o que me aconteceu ontem na pista dos carrinhos de choque – e desbobinou a estória toda.
- Não posso acreditar… - e o Barroso batia com a mão na cabeça.
- Ainda gostava de passar por lá esta noite para ver se acontece o mesmo.
- Se quiseres, eu vou contigo. Aquilo até deve fechar mais cedo, porque não é um dos dias principais.
E, efetivamente, por volta das onze e trinta, o silêncio voltou à Feira Nova e iniciaram-se as arrumações.
O Zé Avião foi fazer as suas 20 voltas, enquanto o Barroso o esperava sentado num banco do jardim. Sempre que ele lhe passava à frente, somava um a um contador mental e assim ia controlando o tempo que tinha de esperar.
- Só eu… só eu tenho paciência para aturar este avião.
O treino do Zé Rito lá terminou e ele aproximou-se do Barroso. Parecia fresco como uma alface, não se notando nada do esforço que tinha feito.
- Já está. Vamos até lá para ver.
E dirigiram-se na direção da pista de carrinhos de choque. Nem sonhavam que essa noite o espetáculo ia ser muito mais completo.
Ainda não tinham chegado junto à pista quando as luzes se reacenderam e o Zé Avião viu repetir-se o espetáculo da noite anterior. Os dois miúdos estavam banzados com o movimento do carrinho, aparentemente sem condutor, mas que exibia uma condução que aparentemente deliciaria quem o conduzia.
Desta vez, não houve qualquer esboço de paragem junto ao Zé Avião. O carrinho seguia pela pista, muitas vezes em zig zag, gozando o momento. Passadas algumas voltas, parou e foi arrumar-se no local onde estava inicialmente.
O Zé Rito e o Barroso contemplavam tudo aquilo de boca aberta. Mas ainda não tinham visto tudo. De repente, uma espécie de fumo começou a sair de dentro do carro, parecendo algo de gelatinoso. O fumo parecia dirigir-se para o exterior da pista, parecia estar a formar uma figura conhecida.
E, então, como por encanto, viram que o Mina Guta se materializava junto deles.
- Oh! Também vieram ver a pista – dizia ele. – Esta noite, estive sempre a pensar nos carrinhos. E imaginem que até me imaginei a conduzir um deles e a andar de um lado para o outro sem mais ninguém me incomodar. É engraçado, não é?
Olharam-no aterrorizados. Que estranho poder teria aquele miúdo para conseguir fazer deslocar um carrinho de choque…
- Sim… sim… é engraçado. – e desataram a fugir na direção de casa como se tivessem visto um fantasma.
O Mina Guta contemplou-os admirado. Deitou uma última olhadela à pista e foi dormir com a convicção de que ali voltaria no dia seguinte.
Quanto ao Zé Avião, não fez mais voltas ao jardim enquanto a pista de automóveis ali estava. Ele e o Barroso combinaram não divulgar esta estória para não serem tidos como maluquinhos… mas o Estorietas tem provas de que ela realmente se passou. Talvez um dia as divulgue.
FIM