segunda-feira, julho 23, 2007

As diferentes idades de um blog



Reparem na ilustração. Não lhe critiquem o mau estado, ela tem mais de cinquenta anos.
Nela revejo o meu percurso. Recordo o primeiro acordar consciente na casa do largo de Castela, no quarto frente à rua da Olaria, com as unhas a raspar a parede. Depois, o arco parece tirado a papel químico daqueles que nós usávamos; faltam talvez os carros de pau que os prisioneiros junto à câmara nos faziam ou as carretas que inventávamos para descer a rua. Recordo o enamoramento, os dias de nascimento dos filhotes, a alegria que eles me transmitiram. Nunca fui grande caçador embora tivesse cometido algumas malfeitorias de que logo me arrependi e, é verdade, até já tentei o discurso político sem qualquer êxito. Agora, parece que me sinto naquela fase descendente que culmina naquele velhinho que já não dá acordo de si e que tem à sua frente o paraíso. Olho aqueles animais, de certeza a Pipoca não poderá estar lá, tão má que é, tão disponível que está sempre para a mordidela ou para espetar as unhas. A ilustração mostra assim a sequência do nosso percurso na unidade de contrários vida e morte...
Um blog é um pouco diferente. Sem dúvida tem a sua fase infantil, de adolescência, de maturidade, de adormecimento progressivo. Mas a unidade contrários é permanente. Por exemplo, na última semana, tivemos, de novo aqui, a tragédia e a comédia. A tragédia personificada no autoritarismo, na arrogância, na ineficiência e até na falsidade de um governo que se autoapelida de socialista, mas que é um dos mais ferozes adeptos do despedimento e que elege os trabalhadores como o seu inimigo principal. Do outro lado, a comédia, no principal partido da oposição que se degladia em infrutíferas tentativas para mudar a liderança, mas com candidatos de que todos já sabemos o que se pode esperar.
Mas este exemplo não é o único. Vamos, por exemplo, até Ourém onde é bem clara a tragédia dos Paços de Concelho com derrapagens sucessivas, com uma indefinição incompreensível e que, vos garanto, breve mostrará disfunção sobre disfunção. Do outro, a comédia com o presidente a fazer as malas, o partido que ali domina a definir sucessor à altura e o povo que no mesmo vota a assistir impávido e sereno e até a apoiar, fazendo-nos quase acreditar: o povo tem aquilo que merece pois foi avisado em momento próprio...

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