terça-feira, julho 24, 2007

Leituras da juventude...
... e de todos os tempos





Passeando os olhos pela estante, revejo alguns livros que li noutros tempos e cuja influência não acabou.
Penso que o primeiro texto de Marx que li foi o chamado "Salário, Preço e Lucro", lá para os finais da década de sessenta. Não foi difícil compreendê-lo, ao contrário do que vulgarmente se dizia da sua escrita. Efectivamente, pouco tempo depois, ao tentar ler textos da juventude, julgo que a "Ideologia Alemã", a desistência acabou por ser o destino.
Entre os livros que os meus amigos podem apreciar na ilustração existe um que tem um prefácio fabuloso: é o texto de Engels "Do socialismo utópico ao socialismo científico". Aliás, Engels era mais acessível.
Hoje, para muitos, o pensamento de Marx está desactualizado. Não creio que seja bem assim: a contradição principal na nossa sociedade é a mesma, resolvida essa, os fenómenos dela decorrentes que parecem dominantes e desajustadores do seu pensamento, estarão resolvidos.
Querem exemplos de que não está assim tão desajustado? Consideremos então Ourém e o novo Modelo a abrir no Vale da Aveleira. Que vai acontecer? Com certeza, um enorme efeito de concentração em que o peixe grande vai comer os pequeninos, isto é, vai contribuir para que o comércio tradicional em Ourém entre ou se mantenha em colapso.
Também, em múltiplas empresas do país é visível a contradição patrão * assalariado. Considerem-se, por exemplo, as últimas recomendações da confederação de patrões ao Governo: despedir mais facilmente, cortar em outros direitos... ao actuarem deste modo eles estão a assumir a contradição que ideologicamente tentam negar.
Mas não haverá desajustamentos, novidades? Com certeza que sim e são bem importantes e talvez ainda não tenham tido a resposta devida: as empresas produtivas têm o seu processo produtivo cada vez mais repartido pelo mundo; com facilidade, fecham uma unidade num país e o deslocalizam para outro. Este problema ainda não tem uma resposta satisfatória... nem a nível sindical, nem a outros níveis. Depois, há o modo como se "cria riqueza" hoje em dia através de mecanismos especulativos. O empresário capitalista (produtor e comerciante) é um santo comparado com os tubarões da especulação que, paralelamente ao processo produtivo, conseguem apoderar-se da riqueza sem terem tido o menor contributo para a mesma e destruindo muitas vezes empresas através dos seus jogos. Efectivamente, Marx não deu por estes agentes que hoje condicionam significativamente a vida das sociedades; se o tivesse feito, talvez tivesse sido mais benevolente com os "capitalistas produtivos" e nos tivesse deixado algo mais consistente para tratar da saúde aos que vivem de negócios especulativos...

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