Distintos Oureenses
Conheceram-me pouco depois de ter aparecido neste mundo. Jogámos à bola no magnífico Largo de Castela e na feira do mês. Disputámos corridas bem cronometradas no interior do belíssimo jardim junto da Câmara, já desaparecido. Esfolaram-me e foram esfolados ao King no Avenida e no Parque da vila. Enfrentaram-me ao bilhar no Central e no Grémio do Comércio. Tal como eu, esperaram pelo Mundo de Aventuras e pelo Condor Popular e, se eram bem comportados, chegaram a ler o Cavaleiro Andante. Tiveram o privilégio de ouvir os Animals, os Beatles, os Stones, os Bee Gees e os Moody Blues exactamente no momento em que as suas músicas surgiram. Acompanharam-me para quebrar a solidão nas noites de Ourém onde o maior ruído era o que provinha dos Mééé de inocentes carneirinhos ali para os lados da casa do sr. Lúcio.
Um deles, mesmo sem alguma vez conversarmos, teve influência decisiva na formação do meu pensamento. Elaborou cadernos de Política Económica Economia Política. Escreveu O que é o Mercado Comum que li com sofreguidão. O mesmo interesse manteve-se em O que é o Comecom. Colaborou no Notícias da Amadora com o Carvalhas, o Blasco, o Eugénio, quando escrever era um exercício de risco e aquele jornal formava com o Comércio do Funchal e o Jornal do Centro um bloco fortíssimo na ataque à ditadura e suas manifestações.
São estes os distintos oureenses. Distintos porque, por qualquer acção, ultrapassarm o limiar da indiferença na minha perspectiva. É deles que, muitas vezes, falo, é para eles que, muitas vezes, escrevo. É isso o que acontecerá em próximos posts.
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